domingo, 18 de dezembro de 2011

Findaera




Tudo converge, até mesmo poemas em fragmentadas linhas retas. Nas nuvens estão muito mais do que sonhos e devaneios daqueles que arriscam olhar para o céu. A cultura do sebo foi lacrada em alguns grupos, a cultura do download substituída aos poucos pela do upload (tudo está na nuvem). A globalização trouxe novas possibilidades para o processo de produção. Cada vez mais a produção e o consumo digital proporciona facilidade ou manutenção ao fluxo contemporâneo, onde as pessoas desejam saber mais e estar em diversos lugares ao mesmo tempo. O cidadão compra acesso a conteúdo e não mais um produto conforme anos atrás. O automatismo sobrepõe gerações, se há pouco já era comum entrar em um cômodo e automaticamente esticar o braço para acender a luz, agora é natural tocar uma tela e ela responder aos seus comandos. No mundo digital, 30 segundos de espera é uma eternidade e aguardar pela edição de amanhã é coisa de doido.

As principais transações humanas já podem ser feitas pela rede. Compras, movimentações bancárias, contatos profissionais, produção de texto, vídeo, distribuição de informação, início e fim de relacionamentos (e tudo registrado, com gostos, desgostos, endereços e fotos). Afora os super backups físicos, muitas informações são geradas e armazenadas diretamente em mídia digital. Cofres na parede estão vazios enquanto HDs têm cada vez mais espaço, e ainda assim insuficientes. A apuração de notícias, algumas vezes, abandona até mesmo o contato direto, ou por telefone e ancora seus argumentos na oficialização por email, ou no imediatismo do SMS e chats.

Após considerar as vantagens e dificuldades do novo fazer jornalismo, onde as narrativas recebem interferência do público e a interatividade vai da produção ao consumo, é interessante atentar como estamos dependentes dos meios eletrônicos e das mídias digitais. Ao perceber isso, podemos levar as discussões a respeito do Código Florestal, Belo Monte e outras questões ambientais para universo menos polarizado. De onde vem a energia que nos mantém sustentavelmente online e a modernidade na palma das mãos?

O jornalismo busca estratégias para manter-se o menos parcial possível e ainda continuar viável economicamente para os proprietários. A era digital trouxe um caos para a saúde financeira dos veículos de comunicação, que viram um movimento panfletário da internet alterar o modo de fazer e comercializar. Embora o audiovisual ainda sofra nas mãos de políticos que detêm a concessão de emissoras de TV e Rádio; e o impresso tenha problemas de estrutura, distribuição e às vezes linguagem.

Todavia, e quando apagar a luz? Quando as ditas renováveis fontes não aguentarem alimentar os sete bilhões de La bella verte? Caso não seja o desenfreado consumo, ou o colapso no sistema de produção e distribuição de recursos, e se aquela famigerada tempestade magnética solar chegar aqui e apagar ou desorientar tudo (a NASA anuncia desde 2006 e cientistas estimam para 2012, 2013, ou 2014)? “Onde está seu coração está sua riqueza”. Longa vida aos blocos; jornalistas ainda sabem arranhar o papel com traços? Qual será a lamparina a guiar o olhar do narrador que precisará desaprender as facilidades de um mundo moderno e aprender a apurar e narrar em um universo truncado? O faro não poderá ser digitalizado e o Google deixará de ser o pauteiro e fonte oficial das matérias.

O processo de comunicação é colaborativo desde sempre, o nível de ruído ganhou agora novas dimensões, ao estabelecer outras mensagens. Além de saber lidar com as novas mídias e consolidar o processo de comunicação no mundo contemporâneo, o jornalista precisa desenferrujar a habilidade fora destes meios e resgatar o fazer orgânico, capaz de construir mensagens que invoquem reflexão, mudança de postura, evolução do “humano, demasiado humano”. Dialogar é mais do que sobrepor argumentos e se perder nas facilidades do falar ao vento.


Sua seco seus poros lacrados.
Sua harmonia disseca meus pensamentos
enquanto seus movimentos mantêm-me são;
Sua ternura sobre meus olhos
o elixir do sorriso.




Leia o artigo novamente no Observatório da Imprensa
http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed673_fim_da_era_digital

2 comentários:

  1. Vale ouvir o Notícia em Foco da CBN http://cbn.globoradio.globo.com/programas/noticia-em-foco/NOTICIA-EM-FOCO.htm A tecnologia tem alterado o exercício jornalístico

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  2. Saiu também no Observatório da Imprensa http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed673_fim_da_era_digital

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