Nos perdemos muitas vezes em fluxo e contra fluxo das ilusões, desejos e histórias entrelaçadas em textos, poemas, olhares, desejos e suspiros. O que há de paz na inquietude de um sentimento é o que perpetua através do tempo a história de cada um. Ora outra hora certa, sentimos a tentação de pronunciar Jeder für sich und Gott gegen alle, mas lembramos de Kaspar e de como sutilmente podemos expandir como o universo, no silêncio, felizes.
O certo está em fazer o que se quer, seguindo o desejo sobre qualquer padrão social ou lógica moral, ou o certo está em fazer o que moralmente se espera de um ser humano? O cinto do que é aceitável cada dia novo tem um outro furo.
A estrutura da pergunta possibilita muito mais do que tentativas de respostas, mas sobretudo torna inquieta a reflexão sobre o que somos, para onde vamos e como vamos.
No ínterim de compreendermos nossa identidade e realizarmos sonhos, por favor não se declare (sentimentos e ideologia) em hastags, mas em atitudes contínuas, que manifestam o aspecto volúvel de seu caráter à medida em que o tempo passa. Permita que sua essência seja espontaneamente semeada em seus gestos e atitudes, transpondo até mesmo as palavras.
A forma como lidamos com os fatos da vida é determinante para definir as marcas a serem deixadas pela nossa trajetória e demonstra em gestos as nuances de nosso caráter. Entre as pegadas que ficam, e a "pegada" que temos, melhor narrador não há do que aquele que consegue observar a superfície de dentro, a terceira margem de cada indivíduo e ser também estrangeiro, completando a narrativa com a visão mais abrangente do quadro. Ver o detalhe e toda a paisagem.
Os meios de comunicação vieram para facilitar e intensificar o relacionamento, as narrativas, a emissão e percepção de mensagens. Eles facilitaram; o acesso ultrapassa a porta de banheiros; eles confundiram; a percepção oscila da latrina recheada à límpida água ao rosto em cachoeira pela manhã. Cristais. As reticências de uma estrela morta dependurada na orelha de um anjo, ou no dedo de uma flor; cristais. O reluzir em uma madrugada sem cantos e uivos.
Diante dos fatos, é importante saber como se relacionar com a existência de múltiplas perspectivas e o respectivo poder de relevância para o público. Seja pela facilidade estética ou pela complexidade reverberante. Os mecanismos de comunicação disponíveis escravizam-nos à ansiedade de consumir e produzir conteúdo. A inteligência artificial, criada para ser o piloto automático do ser social, aos poucos nos domina, domestica e castra.
O calendário dita o ritmo dos acontecimentos que se renovam. As características semelhantes nos tornam invisíveis. As peculiaridades dos sorrisos nos provoca reticências. Fechar os olhos também funciona. O processo de identificação e satisfação alterna como a agenda dos noticiários. O enredo é o mesmo, agimos da mesma forma, a mesma metalinguagem, a crítica, as análises, os artigos, as orações; mudam-se nomes e o tempo. Repetimos, nos orgulhamos e achamos necessária esta repetição.
Receite aí: momentos de carinho, filmes, caminhadas, corridas, sorrisos, cheiros e sabores. Movidos a prescrição, insistimos no leito da civilização infeliz. Entretanto, conhecemos os artifícios para sermos felizes. Ditados, jargões e ponta de faca. Haja punhos. Nossa essência é revelada pelos farelos que dispersamos no ambiente.
Publicado também em minha página na obvious: http://obviousmag.org/rumos/2015/08/nossas-pegadas.html#ixzz3hqUNMVTo
Boa reflexão , e gostei das receitas. Precisamos praticar mais isso no nosso dia a dia com nosso próximo.
ResponderExcluirLembrei do livro do Pedro Burgos "Conecte-se ao que Importa" ele também fala disso, essa escravidão do eletrônico, rede social, ,"modernidade" que nos afasta muitas vezes de quem está ao nosso lado.
Significantes reflexões aqui.
Sigam esses Passos.