sábado, 22 de agosto de 2015

nossas pegadas

Nos perdemos muitas vezes em fluxo e contra fluxo das ilusões, desejos e histórias entrelaçadas em textos, poemas, olhares, desejos e suspiros. O que há de paz na inquietude de um sentimento é o que perpetua através do tempo a história de cada um. Ora outra hora certa, sentimos a tentação de pronunciar Jeder für sich und Gott gegen alle, mas lembramos de Kaspar e de como sutilmente podemos expandir como o universo, no silêncio, felizes.

O certo está em fazer o que se quer, seguindo o desejo sobre qualquer padrão social ou lógica moral, ou o certo está em fazer o que moralmente se espera de um ser humano? O cinto do que é aceitável cada dia novo tem um outro furo.

A estrutura da pergunta possibilita muito mais do que tentativas de respostas, mas sobretudo torna inquieta a reflexão sobre o que somos, para onde vamos e como vamos.

No ínterim de compreendermos nossa identidade e realizarmos sonhos, por favor não se declare (sentimentos e ideologia) em hastags, mas em atitudes contínuas, que manifestam o aspecto volúvel de seu caráter à medida em que o tempo passa. Permita que sua essência seja espontaneamente semeada em seus gestos e atitudes, transpondo até mesmo as palavras.

A forma como lidamos com os fatos da vida é determinante para definir as marcas a serem deixadas pela nossa trajetória e demonstra em gestos as nuances de nosso caráter. Entre as pegadas que ficam, e a "pegada" que temos, melhor narrador não há do que aquele que consegue observar a superfície de dentro, a terceira margem de cada indivíduo e ser também estrangeiro, completando a narrativa com a visão mais abrangente do quadro. Ver o detalhe e toda a paisagem.

Os meios de comunicação vieram para facilitar e intensificar o relacionamento, as narrativas, a emissão e percepção de mensagens. Eles facilitaram; o acesso ultrapassa a porta de banheiros; eles confundiram; a percepção oscila da latrina recheada à límpida água ao rosto em cachoeira pela manhã. Cristais. As reticências de uma estrela morta dependurada na orelha de um anjo, ou no dedo de uma flor; cristais. O reluzir em uma madrugada sem cantos e uivos.

Diante dos fatos, é importante saber como se relacionar com a existência de múltiplas perspectivas e o respectivo poder de relevância para o público. Seja pela facilidade estética ou pela complexidade reverberante. Os mecanismos de comunicação disponíveis escravizam-nos à ansiedade de consumir e produzir conteúdo. A inteligência artificial, criada para ser o piloto automático do ser social, aos poucos nos domina, domestica e castra.

O calendário dita o ritmo dos acontecimentos que se renovam. As características semelhantes nos tornam invisíveis. As peculiaridades dos sorrisos nos provoca reticências. Fechar os olhos também funciona. O processo de identificação e satisfação alterna como a agenda dos noticiários. O enredo é o mesmo, agimos da mesma forma, a mesma metalinguagem, a crítica, as análises, os artigos, as orações; mudam-se nomes e o tempo. Repetimos, nos orgulhamos e achamos necessária esta repetição.

Receite aí: momentos de carinho, filmes, caminhadas, corridas, sorrisos, cheiros e sabores. Movidos a prescrição, insistimos no leito da civilização infeliz. Entretanto, conhecemos os artifícios para sermos felizes. Ditados, jargões e ponta de faca. Haja punhos. Nossa essência é revelada pelos farelos que dispersamos no ambiente.

Publicado também em minha página na obvious: http://obviousmag.org/rumos/2015/08/nossas-pegadas.html#ixzz3hqUNMVTo

Um comentário:

  1. Boa reflexão , e gostei das receitas. Precisamos praticar mais isso no nosso dia a dia com nosso próximo.
    Lembrei do livro do Pedro Burgos "Conecte-se ao que Importa" ele também fala disso, essa escravidão do eletrônico, rede social, ,"modernidade" que nos afasta muitas vezes de quem está ao nosso lado.
    Significantes reflexões aqui.
    Sigam esses Passos.

    ResponderExcluir