segunda-feira, 23 de maio de 2016

Entrelaços

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Entre os homens lealdade é uma moeda de troca; simpatia é o forro da mesa onde esperanças são estraçalhadas. O mercado de trabalho é voraz. Desassossego. As mentiras despencam silenciosamente, apenas com um suave assovio. Resíduos no chão tornam o caminhar cuidadoso, para não tropeçar, para não perfurar os pés. O impacto assola a alma, entretanto, mantém esteticamente sadias as relações humanas. That’s life Blue Eyes; again. O Ego rege os homens com o chicote da competição, as esporas da vaidade, o chapéu do sucesso (levado pelo vento forte).
 
Entremeio a variedade de discursos, interpretações de ideias e relatos de acontecimentos, sempre existem aqueles que fazem jus à finalidade de sua produção. Encontrá-los é um desafio cada vez maior. Relatos. O umbigo fala. Todos. Corrompemos o bom silêncio. Tornamos ébrias as palavras. O clichê é verdadeiro. Os questionamentos movimentam a sociedade, aperfeiçoa. Questionar é inquietar-se, manter acesa a chama. Todavia, qual o combustível? Há fogo em sarça que não se consome. Eterno.
 
Entre tremores, temores e reflexões. Rosas e algodão. A espinha dorsal permeia algo. Ser tocado pela leveza dos significados, significantes e coisas. Independente das pessoas e das lagartas. O som do bater de asas de borboletas cravadas na pele. Embora muitas vezes “a razão” seja um pingente utilizado ao pescoço e visualizado por nós pelo espelho, hoje um salto de roupa na piscina é o suspiro da sanidade. “A Roseira já deu rosa, e a rosa que ganhei...”.
 
Sabes o homem o que ele deseja. Entretanto vive ele com o que escolheu ou com o que aceitou? Com sentimentos que ultrapassam o tempo, duração e lógica persisto por não saber ser outro senão este que se alimenta do que é. Sensibilidade e certa ingenuidade, outrora crueldade. Apenas mais um tijolo no muro, ou na fundação de uma ponte.
 
Impressiona como a constatação de um instante nos faz compreender os ciclos. A alternância do compasso de cada um em seus ciclos (amorosos, profissionais, existenciais) é o que desenha a paisagem contemporânea de desejos, relações, encontros e colisões. Todos estamos inseridos em ciclos. Seja enquanto ser social, integrado a um sistema de relacionamento coletivo ou enquanto indivíduo, em seu aspecto peculiar e introspectivo. Buscar compreender o compasso de nossos ciclos e as possibilidades de movimentos e harmonização pode apurar melhor o nosso vivenciar. A maneira como atingimos o apogeu (em um ciclo) de um sentimento, de um sonho, de uma esperança, determina como serão dilacerados os olhares de quem ama (não de quem é amado).
 
Fustigado por ter de aceitar uma lógica que me deixa com partes sobrando, sem encaixe, percebo-me mutilado e não lapidado.  Pode-se perceber parte da sensibilidade se ressecar,  formando uma crosta de palavras das quais desconheço o significado e os efeitos, apenas as sensações e sentimentos que lanço sobre elas. Essa nova camada torna-se a base dos argumentos do ser que se integra à sociedade dos choques de ombros e fluxos de mensagens. Contudo o indivíduo permanece indivisível.
 
Entrelaçado, o poema se expande, se integra e se confunde com os passos pela realidade, ameniza os percalços de um entorno de leitura fria, de corações de batimentos rasos, e lábios de algozes apáticos. Resignado em um silêncio que não grita, mas sobretudo canta, o ser contínua vivo, pujante dentro de um instante que é perene.
 
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