quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Barato da vida


Foi o chão de encontro aos seus pés na manhã nublada de pensamentos espasmódicos. "Quão barato é uma vida..." A frase marcava o ritmo de suas passadas. Ver como era fácil retirar do bolso algumas notas e levar um animal de uma loja para casa. Na quase extinta banca de jornais e revistas percebe nas páginas como se mata por pouco, por um objeto, por orgulho travestido de honra e egoísmo envelopado em moral.  Assim como as plantas rompem o solo em busca do céu, crianças rompem o ventre e aumentam as estatísticas. O vento impõe na paisagem movimentos e sensações que despertam o corpo para um olhar de menos dor e cansaço, mas de esperança. Neste momento, o barato da vida se intensifica, atenua as lamentações de forma a fazer sucumbir os dogmas dos intelectuais. O valor. Peça chave nas relações humanas, determina também o perfil de interação com o ambiente. O valor que as coisas possuem, que difere do valor que colocamos nas coisas, o valor que buscamos acumular, o valor que dispomos para compartilhar. Valores imensuráveis, materiais, sociais, espirituais e de natureza que desconhecemos.

Não consigo ouvir meus pensamentos e encontrar neles a importância que um dia encontrei. Cabe saber se a importância que eu havia encontrado há tempos devia-se a imaturidade do infante apaixonado ou se existiu apenas naquela época, naquela faísca de brilhantismo que me empoderou a ansiar ser mais do que o reflexo, mas transformar com a refração.

Entretanto, o mergulho no horizonte sempre revela o que estava calado dentro.


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