sexta-feira, 13 de abril de 2018

manifesta




A humanidade define os verbos que movem seus ventos. Os indivíduos repetem sozinhos tais verbos até sentirem-se seguros de os fazerem reverberar na sociedade. Agredir. Romper. Sacudir. Convencer. Obter. Amar.

Manifestar. O metro quadrado variável. Manifestantes tem um número, autoridades tem outro. As imagens revelam trupes, os ares confundem no vento os objetivos. Estilos, ideais, ideias. Tudo se defende, todos se ofendem. Um "demo" do processo democrático a cada esquina. As praças ocupadas, as redes sociais soterradas. O mundo tornou-se cansativo em um cenário de manifestações estruturadas como desfiles de escolas de samba. Depois que a banda passa fica a sujeira nas ruas, o cheiro da urina, os estilhaços, as manchas de tinta, de sangue, o custo (público ou privado) de se restabelecer o ritmo da sociedade até a próxima manifestação. A desordem das palavras, o desencontro das pessoas, o desencanto. Os sentimentos suprimidos a orelhas de livros, a recadinhos de um instante, um toque dos dedos na tela, um emoticon que esconde nosso rosto.

A manifestação muitas vezes ignora os caminhos efetivos e formais de provocar a mudança necessária, e invoca ânimos para evocar o caos numa estratégia de “resetar” o sistema contra o qual manifesta. Ansiamos atalhos, tal qual o lobo mal. Mas os protagonistas desconsideram o mar de variáveis para alcançar os objetivos por estes meios. Desconhecem um modo eficaz de caminhar pela burocracia da formalidade e assim provocar as mudanças. Assim, decidem então pela ruptura brusca, o restart a partir das manifestações, dos bloqueios, do caos. O diálogo da gritaria, para romper a apatia de quem não deseja tomar em mãos bandeiras. Engraçado, mas quando se verifica o quê financia o quê, percebe-se que nunca são os opostos a brigar, mas os aliados em tempos diferentes. As ranhuras da sociedade acobertam as conveniências das vozes e narrativas.

Em uma onda de manifestar a indignação sobre tudo, até sobre a nata do leite, esquivamos de manifestar o amor, o equilíbrio, a aceitação das diferenças e a busca por soluções cordiais aos intermináveis conflitos de interesses. Vasto o mundo é, mas o ponto que todos desejam ocupar cabe poucos; o poder de controle. O epicentro, precisamos aprender muito ainda...


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