domingo, 30 de setembro de 2018

relva



Metade de mim é o que vento leva, 
quando pega meu olhar e afaga minha face.

Manhã de quase sono, quase frio a descoberto.
 Repentinamente a chuva desce
sutilmente sobre mim.

Suspenso no ar encontrava pouso
 nas intermitências da razão.


segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Colibri



Contorções e espasmos. Desdobra-se sobre mim ó território das possibilidades e instantes. Então, o próximo movimento é de uma paz sem conceitos. O papel desconhecia o peso que a pena suportava de minhas mãos emocionadas. Tão natural a emissão dos traços, que não havia a ansiedade de prever formas ou sentidos. O texto não absorvia a intensidade das palavras que de tão pessoas, revelavam-se comuns, com a mesma importância de qualquer uma.

Era uma relação diferente agora com o que marcava o tempo e o que o tempo marcava. Os traços no reflexo do espelho eram menos poéticos e mais expressionistas. Permitiam a leitura do tato, harmonizada com uma degustação de ideias sem pressa.

O relógio marcava 10:10. Os ponteiros de hora e minutos não se moviam. Mantinham-se como um pássaro em voo pleno. Se tentasse forçar eles se moverem, eles se limitavam ao mesmo quadrante. Se por um acaso acionava-se o mecanismo, voltava para a outra posição, ficava parado em 10:10. O ponteiro dos segundos intermitentemente se movimentava entre os segundos 14 e 15. Às vezes parava na marcação de 15 segundos. Estava instaurada outra relação com o tempo. Ele nem passava, e passava; compasso percebido e marcado nem era.

Anjos na memória, inundando o ser de vida; anjo no espelho, tomando decisões sem vícios. Anjo nos ombros, marcando para o porvir, um pouco do que jaz no ser mente, corpo. Asas sóbrias de um voo sombrio. O voo que solta ao vento a pena, que como caneta se atreve a tocar a paisagem. Sem bando, sem estridente canto, sem gaiolas, sem gaiolas. Afora as ilusões de bebedouros artificiais, erguidos como um suspiro na cinzenta metrópole de paisagem deturpada. Sobrevive o pássaro cor.

Neste instante o olhar possibilitou sobrepor o passado no presente sem arquitetar frustrações de futuro, mas deliciar-se com a formação de uma paisagem sensitiva, dentro. Momento de frescor sem vento, de sorriso sem sons e de suspiros sem versos em origamis.

Permita-se ao toque simples na pele. Que é toque e toca. Sem expectativas, sem conceitos elaborados, sem ... mas com tudo. O tempo que passa sem registro, mas que deixa marcas em nossa pele, em nossas mentes, interfere o nosso modo de olhar. Os ponteiros em eterno voo continuam a polinizar reflexões que além do papel e travesseiros, dos travessos sorrisos e faceiros gestos, travessias, continuam.

Quis de cortinas abertas ver o horizonte para me alimentar de paz. Suas asas perfazem no ar um caminho que o tempo não compreende; que o olhar não acompanha. Seu voo sem bando, seu canto quase mudo, as transformações do seu existir transcendem qualquer estrofe. Pássaro cor, o encantar denso do silêncio salutar.

Pássaro verso
Pouso transcende
Voo ascende
Horizonte que dobra
O que ao vento passa
Beija a flor
Pássaro cor



O que fica do que se faz?






O fardo das rugas
a leveza dos gestos
beleza natural do que ao redor se esvai;
O que fica do que se faz?

Pulsa nos vibrantes olhares
transformações que além da brisa
as cores e movimentos da vida
cravam na alma.

Os sabores perpassam dificuldades
enquanto suspiros dissipam mazelas.
Sorrateiro,
o silêncio se assenta ao lado da paz

O que se faz do que fica?


quinta-feira, 6 de setembro de 2018

A narrativa bate à porta?




Para comunicar de forma mais efetiva as narrativas corporativas (ou não) é preciso conhecer melhor o indivíduo atual e seu sistema de relevância. Como entrar com a mensagem na casa dele, se não conhecemos o que ele chama de casa? O processo de estruturação da narrativa deve considerar a atualização de seu destino. Onde irá chegar e como irá entrar? A corrente de conceitos que o indivíduo opera é a chave para o êxito na construção das mensagens e relações.

Lugares resignificados. Lares reestruturados. Não mais casa de mãe e pai. Agora às vezes a casa é de muitos filhos, sem pais. Outras, só pais e pais, ou mães e mães. Grande parte, casa de avós, que criam netos como uma "segunda chamada (rodada)" dos filhos. Espaços que são lares, independentemente da nova configuração; a missão dos lugares é atender à mesma demanda: ser um lugar para o indivíduo no mundo. Se será de tormento, de aconchego; como será o aprendizado e para onde irão os caminhos não está prescrito em busca de praça pública.  Quando com fé mudamos o olhar sobre a vida, sobre a matéria que nos cerca, sobre os conceitos que nos  fazem, sobre os gestores que reverberamos no espaço, o peso, a leveza de ser, se transforma de maneira sutil, embora intensa. A vivência, cada vez mais é posta como diferencial, afora o conhecimento, a vivência. Sentimentos e sensações, misturar-se às texturas, sentir o frescor e movimento do ar. Sentir o amargo sem demagogia. Utilizar das plataformas de comunicação sem se tornar refém ou algoz. Importante atentar-se a se desdobrar em vivenciar tempo e espaço por outras perspectivas.

O lar às vezes está carregado no pulso com os smartwatch, ou nos bolsos com os smartphones. Segunda tela, telas urbanas, as novas ondas do rádio. As narrativas via streaming correm como cavalo sem rédeas, puro pêlo. Os criadores de narrativas corporativas se jogam a tentar domar, se não conseguem, tentam correr em paralelo... que corrida maluca. Investem em jovens pensando que a energia dará conta, mantêm os antigos na esperança de algo seguro para magnetizar esta busca por comunicar melhor. O conflito de gerações nunca foi tão exposto e necessário. A sociedade líquida precisa refletir sobre seu estado de transição. Assim, as organizações precisam dedicar-se mais a um perfil analítico que possibilite simultaneamente atuar em multiplataformas com narrativas bem estruturadas (não na euforia ou envelopamento de discursos), de forma a dialogar.

Uma avalanche de treinamentos tem instigado os líderes a integrarem-se ao conceito de uma sociedade (e não apenas indústria) 4.0; envolvendo-se com a vanguarda. Entretanto, só haverá resultado efetivo se as ações destes gestores se desdobrarem em uma mudança real de atitude e atuação.

Para proteger a reputação e imagem das respectivas organizações; as empresas querem mudar a postura, o modo de atuar, e também de comunicar, mas não planejam as ações para obter os resultados; anseiam os resultados imediatos e atropelam os processos. Todavia, a busca de uma nova postura tem possibilitado posicionamentos e relações promissoras. Há esperança.