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terça-feira, 27 de outubro de 2015

espaços sentidos



A intensidade dos fluxos contemporâneos evoca reflexão. Metal, plástico, palavras e concreto armado sobre cabeças, sob pés. Recursos humanos e naturais na luta por um futuro aprazível. Cidades atrofiadas, campos mal utilizados. A sociedade tropeça em sua essência na busca por uma sustentável leveza de ser.

Pensar o querer geral e ser racional de Immanuel Kant e também perceber a relação dos seres com os espaços a partir do interesse e suas vertentes diversas. Os indivíduos com objetivos específicos, interesses pessoais se tornam seres sociais. Os seres sociais buscam estabelecer um ordenamento embasado no interesse coletivo. Todavia, o interesse coletivo é por muitas vezes uma roupagem aceitável do Interesse Dominante. Ou seja, um indivíduo articula seu interesse pessoal de forma a viabilizá-lo como o interesse de um ser social com potencial de se transformar em interesse coletivo. Por persuasão, submissão ou identificação para alcançar fins pessoais, outros seres sociais tornam-se adeptos do interesse proposto tornando-o Coletivo. Quando analisado em profundidade, este interesse nada mais é do que o interesse dominante não de um grupo, mas de um ser com poder articulador às vezes imperceptível em sua ação, mas evidente em suas consequências.

O significado de um espaço vai além de sua finalidade. O que um espaço representa para o grupo social e para um indivíduo diz menos sobre a estrutura e mais sobre quem com ele se relaciona. Inspiramos e expiramos sentimentos e sentidos, atribuindo significado às pessoas e espaços com os quais nos relacionamos com o passar do tempo. Neste sentido, quando passamos novamente por um local, é como se passássemos os olhos em um hipertexto construído essencialmente com partes de nós. Os links (de nossas experiências, mecânicas, orgânicas, superficiais ou não com aquele lugar) despertam novos olhares ou antigas sensações. Para isso, o tempo é quem determina o grau de envolvimento no momento da releitura dos espaços. Tempo de exposição, tempo de disponibilidade, tempo da lembrança e da memória. E a maneira como acessamos esses links interfere na dinâmica constituição do nosso caráter e na determinação das escolhas do presente.

A partir deste olhar, podemos conceber os espaços também como organismos vivos, erguidos e sustentados na multiplicidade de ser. A relação com ele vai além da simplicidade de definir se é público ou privado. Na dimensão de nosso relacionamento com ele, ora concebemos o espaço como privado (nossas percepções, sentidos, interesses e significados) e como público (finalidade operacional, interesse coletivo ou estrutural do local). Um local carrega em si apenas sua matéria estrutural ou também guarda os significados que os indivíduos a ele atribuem? Os significados estão em nós e são disseminados pela linguagem que utilizamos para representar os espaços? Refletir sobre esses aspectos pode contribuir para uma madura percepção dos indivíduos quanto à organização social, bem como a construção, uso e ocupação dos espaços. Trata-se de um vislumbre de um horizonte onde existam comportamentos além de La Belle Verte (filme de Coline Serreau - 1996). Talvez dessa forma, a famigerada sustentabilidade possa deixar de ser discurso e se consolidar como um retrato da vanguarda. Esta última materializada a partir de um novo olhar sobre organização espacial e suas possibilidades diante da demanda humana por subsistir e evoluir.

Publicado também na minha página em:
© obvious: http://obviousmag.org/rumos/2015/10/espacos-sentidos.html#ixzz3pn4Xey00

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terça-feira, 1 de setembro de 2015

pontuação;


Quanto mais meios, mais fins. Argumentos, desabafos e narrativas do porvir. Entre imagens que gritam e textos que silenciam: a vanguarda é o insistente "nunca será" que ecoa entre nós.

Assimilação é o diferencial de mercado. Todos produzem todos consomem. Quantos assimilam? Narrativas pulsam onde quer que o cidadão se volte. Sob este aspecto, tudo nos é novo e acessível, mas não necessariamente necessário. Ao se perder em acessar tudo quanto se pode, o cidadão fica na superfície de tudo, ao invés de mergulhar em algo que faça para ele alguma diferença, nem que seja nele mesmo.

O indivíduo que conseguir selecionar e organizar (cada um com seu senso e método)as narrativas que consome e produz, e posteriormente assimila o que é, a partir do que consome, interage e cria, então ocupará (às vezes sem perceber) um lugar especial na organização social, pois seu potencial de interferência no grupo social será mais apurado, uma etapa à frente do automatismo reinante.  Além disso, ele terá uma percepção mais intensa sobre suas experiências e sobre as perspectivas da vida.

A ruptura de tudo aquilo que se esconde corrói nossa alma de forma a contaminar a paisagem com nosso olhar. Isso é o que se propõe mas, inalterado, o ambiente é sutilmente acrescido de sentidos que passam desapercebido. Reféns; de nossos semelhantes, de nossas escolhas e pensamentos. Ninguém há de libertar ninguém. A hipocrisia impera até mesmo na face daqueles altruístas afogados em compaixão. Bandeiraram o Cristo ao invés de vivê-lo. Fazem com uma mão e divulgam com todo o corpo. Pintam arco-íris de ideologias, professam uma tradicional família e massacram valores básicos ao pé do ouvido.

Rompeu o solo a raiz que me sangra. As palavras saem nuas, sem sentido algum alfaiatado. Com suas formas espontâneas e inocentes, suas arestas e seu suor. Já não caibo mais nos clichês que tanto me alimentaram. Narrativas me encantam pela manhã e me conduzem para cama a noite. Quando a amargura entorpece ao coração, cabe à língua dar ou não vazão. E quando o refrigério vem, como um momento de gravidade, você hesita em sobrepor mãos; pois os lábios ressecam, tosse, a pupila dilata naquele quarto escuro; e a tela que brilha fustiga o tempo lá fora. A liberdade que expande e que nos aprisiona, tudo é tão simples e intenso.

Eu não voltei a escrever, pois não consigo respirar. Nunca parei de inspirar e pirar expiração enquanto não conseguem ler. Todos enxergam as frases, sem perceber o que o texto é. Gentileza é poesia, muito mais que verso. E a fé, a fortaleza que nos faz perceber o brilho e o sabor da vida que nos rodeia, que nos entrega e integra. Cansado, com uma paz que não cabe, com os dias que a guiar não veio. Ah, guiar não veio. Nunca virá.

A dimensão do não ser. Tudo está nas nuvens, a internet é o Big Brother (de Arthur Blair) e a grande biblioteca (o backup de nossa arrogância), mas quando chove não encontro mais a gota que eu evaporei. Doce tempo, amargas minhas lembranças de um futuro tão terno. Não há esboço para você e pra mim. Simples assim. Qual é o nosso traço? O que podemos assimilar?

O animal que sou nesse zoológico de trocadilhos. O termo que sou no texto que não escrevo. O tropeço e a pedra no clichê do poeta, no traço no muro, na rima no silêncio.

Tenho sede de paisagens. Tenho sede das suas paisagens, completou o menino que permanece calado.
E o quanto se assimila pode ser o que distancia a mensagem do meio; o significado do indivíduo.
A vírgula me para, o tempo me volta...

Veja também: http://obviousmag.org/rumos/

terça-feira, 8 de julho de 2014

Quê mais?

Quê mais? O balé das apurações e a sinfonia dos fatos

Há de se falar. Não há de negar. Quê mais precisa para perceber como escorre o ser? O drama, a tragédia e a paisagem. Argumentos daqueles que demasiadamente pensam sobre os sentimentos e desfrutam da brisa à face. O código de interpretação da realidade que cada indivíduo opera é regido pelo ego. Somos reféns de uma liberdade nossa que esperamos encontrar no outro. Somos algozes do outro, imperceptivelmente, às vezes. De propósito.

Consigo ouvir o silêncio de um tempo. No instante de uma manhã, a sociedade deixa o mundo fluir. Nem sempre. No sereno da madrugada, as pessoas parecem adormecer, na brisa da tarde, os ruídos tornam-se intermitentes. Quando a percepção se distancia das palavras e dos conceitos constituídos, a evolução é o resultado.

A mídia se diverte com o desdobramento do eco de suas mensagens. Neste cenário, articulações políticas e comerciais interferem de modo (às vezes) sutil no comportamento social e na maneira do indivíduo interpretar os comportamentos da sociedade. A mídia se diverte, pois vê o efeito de suas ações, e regozija-se como detentora de um poder. Entretanto, ela é indiretamente vítima das articulações, pois elas são base das mensagens midiáticas.

As mensagens mais perspicazes atualmente (e sempre) são as que provocam movimento e absorção ideológica, comprovada em discurso e comportamento. Um exemplo, o balé econômico. Matérias constatam menos cheque sem fundos. Crescente uso dos cartões. Aumento da inadimplência, restrição de crédito, aumento de juros. Cai o consumo, aumenta-se o crédito, juros flexibilizados, incentiva-se o consumo. E roda o próximo ato do balé. A qualidade de vida e dos lugares determinadas pelo índice de segurança e exposição ao risco. A saúde, a educação, os clichês da imprensa ao retratar as faltas, a esperança e as perspectivas. O que mais pode ser feito? O que mais precisa ser lido? Novo ato. A dança dos setores: fabricantes de eletroTudo, automóveis, móveis e imóveis. Cada qual em defesa de seu lugar no palco. Matérias por todos os lados. Não há mais um meio oficial. A banca não consegue ser a primeira página da formação de opinião do indivíduo. Extrapoladas, as fronteiras são na verdade expandidas, continuamente.


Uma apuração intensa e acessível sobre o tema é soterrada não pelos escombros da recorrente inconsequência dos construtores, mas fica submersa à vértebra quebrada. A dinâmica da imprensa não dita, menos ainda antecede, mas, sobretudo repete o que acontece em escritórios, trânsito, lares, igrejas e bares. Entre balés e sinfonias, onde paira a sintonia? Precisamos alternar nosso modo de leitura e interpretação, bem como o de registrar ideias e ideais no papel.

Passo.