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quinta-feira, 6 de julho de 2017

Organização Social - nuances



A hipótese do perfil de ocupação geográfica ou perfil cultural de uma nação, por muito tempo foram utilizados para definir aspectos de pobreza e prosperidade; estabelecendo parâmetros para avaliar o índice de fracasso de um povo. As regularidades comportamentais que regem a forma de organização da sociedade estabelecem seus padrões tendo como base o senso de preservação e sobrevivência.  Padrões esses materializados por meio de atitudes instintivas ou culturais.

Neste ínterim, emergem na seara da filosofia social o darwinismo social e sua interpretação da sociedade sob o viés das leis de evolução das espécies biológicas, como instrumento de explicar a sociedade e suas transformações, transições de paradigmas e padrões.


A organização social contemporânea impele ao indivíduo um comportamento de egocentrismo. Para coexistir o ator social com esse perfil precisa de público e referência, para então impor suas singularidades, legitimando-as como objeto de consenso ou bem-estar social. Importante considerar a etimologia; do latim medieval individuus (indivisível), que é formado de in + dividuus. O vocábulo dividuus vem de dividere (dividir). O processo de formação de indivíduos compreende interferências da sociedade, ou seja, depende das relações sociais e culturais (variando o grau de intensidade), formando assim a identidade do ator social (VIEIRA, Rudson. 2016. http://passocomunicacao.blogspot.com.br/2016/12/individuus.html acessado em 28/06/2017).


O efeito em cadeia da Revolução Industrial, responsável por parte do desenvolvimento da sociologia nas ciências sociais, segue interferindo na configuração social, impulsionado pela globalização. Avanços tecnológicos ditam não apenas o comportamento social, mas principalmente os parâmetros de desenvolvimento da nação e os respectivos mecanismos de controle da massa. "O motor das transformações tecnológicas, em todos os segmentos da economia, era a inovação, encabeçada por novos empreendedores e homens de negócios ávidos por aplicar suas ideias" (ACEMOGLU E ROBINSON: 2012 P.40).

As desigualdades mundiais, todavia, não podem ser explicadas pelo clima ou doenças, nem qualquer outra versão da hipótese geográfica [...] A história demonstra a inexistência de ligações simples ou duradouras entre clima ou geografia e êxito econômico. Por exemplo, não é verdade que os trópicos tenham sido sempre mais pobres que as latitudes temperadas. (ACEMOGLU E ROBINSON: 2012. P. 56 e 57).

Uma observação sobre o Iluminismo (filosofia das luzes) e a intensa busca pela evolução através do questionamento e percebe-se uma sociedade que é regida por alguns mecanismos de controle como o medo, a dependência, o limite de acesso. Os instrumentos reguladores desses mecanismos eram a espiritualidade, informação / conhecimento e a sobrevivência.

Clifford Geertz já bordou certa vez a respeito de como correntes teóricas que tentaram perfilar o ser humano e seus costumes a partir de uma correlação com fatores biológicos, psicológicos e sociais e também culturais, acabaram por definir uma concepção estratigráfica, em busca das constantes universais. No entanto, a sociologia, ao surgir e se fortalecer no século XVIII, consistiu em uma ciência para descobrir as leis do progresso e desenvolvimento social além dos dogmas pré-estabelecidos. Observar o indivíduo imerso e simultaneamente isolado das constantes universais para ter então uma leitura apurada da realidade, paisagem a qual marca a história da civilização.

Durkheim buscou em sua abordagem sociológica fatiou a sociedade de forma a buscar um entendimento a respeito do que constitui o fato social. A análise do movimento de inércia social e rompimento do mesmo, levou Durkheim a correlacionar as mudanças abruptas na rotina do indivíduo, ou a ausência de algum tipo de mudança, resultava no colapso do indivíduo enquanto ser social, imputando a ele um estado de apatia controlada, sucumbindo ao suicídio, físico ou social. Sua leitura da sociedade a partir da Divisão do trabalho social, busca compreender as responsabilidades e deveres de cada integrante do grupo, buscando conceber uma sociedade que exista dentro e fora do indivíduo. O consenso, fiel da balança de uma sociedade igualitária, almejado por Durkheim  em sua concepção sociológica revelou-se uma utopia uma vez que a história das nações revela um campo controverso. A visão sociológica de Durkheim partindo das implicações e determinações individuais em consonância com as construções sociais, busca delinear a organização da sociedade, suas anomalias e seus rumos. A mensuração e atestado empírico de suas observações acerca da sociedade, dava a Durkheim um panorama de como o homem além de contribuir na formação da sociedade, ele também se constitui como um produto dela.

Em sua obra, Durkheim aborda o Estado como órgão e o instrumento de uma nova sociabilidade, protegendo e regendo a sociedade rumo a um desenvolvimento. Considerando sua argumentação de que o indivíduo possui duas consciências (Individual e Coletiva) pode-se verificar pelo contexto social, que o populismo e neopopulismo atacam a consciência coletiva e a manipulam a partir de nuances percebidas de uma consciência individual adormecida.

Em Weber, sua abordagem sociológica tem ênfase na ação social. Creditando poder à conduta do grupo (social) sobre a do indivíduo. Sua sociologia compreensiva ou interpretativa busca compreender as ações do indivíduo como parte da constituição da realidade social. O motivo das ações, chamados Tipos Ideais, são os instrumentos de compreensão da realidade, mas em si não fazem parte dela. O sujeito social, como fruto da sociedade que o indivíduo contribui na construção, não pode ser compreendido em sua totalidade, tampouco a realidade. Embora caminhe sobre conceitos e percepções subjetivas, Weber propõe uma metodologia que consiga atingir de forma objetiva a leitura social sobre o indivíduo e sua formação enquanto sujeito social (produto da sociedade). Trata-se de uma ciência embasada na realidade, que não se restringe a padrões fixos dos fenômenos e do tipo ideal. Neste cenário, a finalidade das ações sobrepõe a relevância de suas consequências. A ação dos indivíduos é analisada de forma contextualizada, conforme recorte definido de parâmetro de análise.

Atrocidades da história humana aconteceram não apenas pela alienação em uma ideologia e intencionalidade de ser cruel com seus semelhantes e divergentes. Mas pode-se perceber que adventos como o holocausto, submissão a regimes ditatoriais, aceitação de um determinado sistema político e organização social se dá por meio do que vulgarmente se chama de efeito manada. Trata-se da Conformidade Social. O comportamento de obediência ao grupo dominante.

Cada sociedade funciona com um conjunto de regras econômicas e políticas criadas e aplicadas pelo Estado e pelos cidadãos em conjunto. As instituições econômicas dão forma aos incentivos econômicos: incentivos para buscar mais educação, para poupar e investir, para inovar e adotar novas tecnologias, e assim por diante. É o processo político que determina a que instituições econômicas as pessoas viverão submetidas, e são as instituições políticas que ditam como funciona esse processo. Por exemplo, são as instituições políticas de uma nação que estabelecem a capacidade dos cidadãos de controlar os políticos e influenciar seu comportamento – o que, por sua vez, define se os políticos serão agentes dos cidadãos, ainda que imperfeitos, ou se terão a possibilidade de abusar do poder que lhes foi confiado, ou que usurparam, para fazer fortuna e agir em benefício próprio, em detrimento dos cidadãos. As instituições políticas incluem Constituições escritas − mas não se limitam a elas − e o fato de a sociedade ser uma democracia. Compreendem o poder e a capacidade do Estado de regular e governar a sociedade. É igualmente necessário considerar de forma mais ampla os fatores que determinam como o poder político se distribui na sociedade, sobretudo a capacidade de diferentes grupos de agir coletivamente em busca de seus objetivos ou impedir outros de atingirem os seus. (ACEMOGLU E ROBINSON. 2012. P.50)

O marxismo e sua divisão de classes como mecanismo de análise social e definição de parâmetros das relações sociais estabeleceu uma nova vertente na sociologia. Com argumentos focados na divisão do trabalho e a valorização do produto e do modo de produção, bem como da força de trabalho, o marxismo buscava um equilíbrio entre as classes sociais a partir da entropia, conflito e posterior harmonia, que, no entanto, revelou-se como tendência a inversão dos papéis; uma vez que o empoderamento do trabalhador e sua libertação dos padrões de produção controladores, o faz se tornar um novo empregador, porventura, sem a devida capacitação, mas apenas o estímulo. Este fato, impulsionado sem a devida estruturação de mudança, impacta no mercado, afetando lucros, sistemas de produção e de consumo, interferindo na sociedade de forma negativa.
O Comunismo implantado foi uma ideologia deturpada, focada no embate privado x público. Marx defendia não o fim da propriedade privada, mas o fim da propriedade burguesa; defendia que o homem livre teria mais tempo para ser do que para ter. Para isso, ele defendia 10 medidas para concretização de uma sociedade comunista, a ser estruturada gradativamente.  Contudo, a burguesia quer manter as coisas como estão, o proletariado  quer deixar de ser proletariado sem ter claramente definido o que deveria se tornar. O cálculo da mais valia oscila conforme o volume do capital, que varia de acordo com o perfil de modernização do processo de produção, que por sua vez depende do apetite a investimento da burguesia, controle e aceitação junto ao proletariado.
A cultura de massa, então consolidada e difundida pela Escola de Frankfurt abordou uma teoria crítica da sociedade onde o todo era analisado a partir de recortes específicos, condicionados a experimentos comportamentais, para se compreender os mecanismos da opinião pública, sua formação, representação e controle.

A sociologia é multifacetada. Seja no viés do Funcionalismo, Neofuncionalismo, Fenomenologia, Estruturalismo, Etnometodologia, Hermenêutica, Sociologia da Ação, Individualismo Metodológico; todas ideias surgidas diante de um colapso, crise do pensamento sociológico na contemporaneidade. O pluralismo das novas sociologias ampara-se na historicidade das nações como ferramenta de leitura da sociedade, cada uma com suas especificidades. Contudo, este amparo na historicidade gera um historicismo que considera as ações dos indivíduos dentro do contexto social. Importante considerar também a sociologia Figuracional, de Norbert Elias, onde as consequências ou resultados não almejados, decorrente das relações sociais, são o instrumento de análise e trabalho.

O individualismo, onde a sociedade é atendida pelo indivíduo, sendo ela a consequência da existência e interação dos indivíduos, busca compreender a sociedade a partir do contratualismo, esse estruturado em tradições e valores. Assim, o indivíduo se constitui sujeito social, cria e interfere na sociedade. Na visão do holismo metodológico, o fato social ganha relevância como instrumento que interfere, exercendo coersão sobre os indivíduos. Assim, o ser seria modelado pela sociedade, que já teria sua própria regra de coexistência.
Em um cenário plural de análises sociológicas da sociedade, a oposição entre nível de recorte (macro ou micro) polariza-se entre o coletivismo metodológico (holismo) praticado por Durkheim e Marx, com análise macro dos adventos sociais, relações sociais e constituição dos indivíduos. Esta análise norteia-se pela compreensão das coletividades e suas correlações com o indivíduo. De outro lado, o individualismo metodológico, onde a realidade é interpretada a partir do repertório individual, sob perspectivas restritas de cada indivíduo não enquanto sujeito social (integrado à coletividade), mas em separado.
Nas análises macro, é importante considerar as interferências das tradições e dos valores sociais sobre o sujeito. As tradições (coletividades consensuais consolidadas pela historicidade), mesmo dotadas de valores e mecanismos de controle, não determinam em plenitude o comportamento dos indivíduos. Martins (2008. P 205.) aborda como a tradição e valores diferenciam-se na interação com o indivíduo e constituição de seu comportamento.

A sociologia conduzida pelo viés que transite entre o macro e micro (considerando o número de indivíduos envolvidos nas respectivas análises) seria o ideal para traçar estratégias de intervenção e evolução a partir da leitura aprofundada do território e das relações inerentes. Neste sentido, as análises dos elementos em uma dimensão micro não devem significar uma leitura reducionista, mas sim mais detalhada do que vem a delinear o indivíduo, seu comportamento e respectivos desdobramentos, de forma a interagir com as análises macro para recriar as estruturas sociais possibilitando melhor significação da sociedade.

Desta forma, a metodologia para compreender o universos societário, o que e como o constitui e os rumos possíveis e intervenções necessárias, não deve estacionar seu modus operandi em uma única vertente, mas na integração e correlação das abordagens (mesmo as de caráter oposicionista) para então se construir uma versão do entendimento social que seja aplicável á paisagem de forma dinâmica, orgânica, viva. O paradoxo dessa hipótese e respectiva dualidade é portanto o caminho acessível da compreensão das relações dos indivíduos com o contexto social e de que forma as interações alteram tanto os indivíduos, seus comportamentos enquanto sujeitos sociais e a própria sociedade.



 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACEMOGLU E ROBINSON, Daron e James A. Por que as nações fracassam: as origens do poder, da prosperidade e da pobreza. Tradução Cristiana Serra. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.

DURKHEIM, Émile. Lições de Sociologia – a Moral, o Direito e o Estado, 1969 - Editora da Universidade de São Paulo, 2ª edição.

FERREIRA, Roberto Martins. Popper e os dilemas da sociologia. São Paulo: Annablume; Fapesp, 2008

GEERTZ, Clifford: A interpretação das Culturas. Rio De Janeiro: Ed Guanabara, 1989.


(VIEIRA, Rudson. Individuus. 2016. Disponível em http://passocomunicacao.blogspot.com.br/2016/12/individuus.html acessado em 28/06/2017).

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Fantástica fábrica de ilusões



Os aspectos que nos fazem humanos, orgulhosos do que vemos no reflexo do espelho d´água, hora ou outra se contrastam com nuances de nossa vergonha, peculiaridades de uma personalidade que buscamos aprimorar.

O referido aprimoramento nem sempre tem o mesmo ritmo e intensidade que poderia provocar uma efetiva mudança, no entanto já se estabelece como um suspiro da esperança. Suspiro que reverbera e ganha força em narrativas que perpassam gerações.

Assistir, re-assistir e assistir outra vez a Fantástica Fábrica de Chocolate (1970 e 2005) deixa um sabor de quero mais na boca, aquela pequena e intensa fisgadinha no final da língua, onde fica o sabor do "quero mais". Desperta o desejo de revisitar nossos valores, os personagens que assumimos no convívio social e nossa relação com o prazer.

Em 1970, a narrativa mostrava o valor referencial da família como base para buscar melhores condições de vida, em contraplano com o egoísmo e dissimulação presente no ser humano. A história corre sem explicar muito sobre passado e futuro, sem dar detalhes da origem familiar de Wonka e sem especificar demais as mazelas vividas pela família de Charlie, tampouco os desdobramentos após ganhar o prêmio. Durante o filme, a honestidade de Charlie e dos outros é testada não apenas para conseguir um produto secreto, mas especificamente atacando as fraquezas e prazeres individuais.

Em 2005, percebe-se foco maior sobre história e valor da família tendo que especificar origem e futuro, estabelecendo e resgatando referenciais morais, abordando temas como redenção entre pai e filho, fortalecimento de elos verdadeiros  de amizade, de contato humano, de resgate da essência, mostrando inclusive os desdobramentos após Charlie vencer. Na trajetória, o contraplano à ambição dos personagens pela posse desenfreada, pelo transpor limites estabelecendo as próprias regras (pautadas na arrogância egocêntrica).

Após subir os créditos, além das canções das duas versões, ressoa um pensamento sobre como podemos nos encontrar entremeio ao turbilhão de informações, demandas, sonhos e realidade da contemporaneidade. Como aperfeiçoar o ser humano que somos a ponto de contribuir para as relações sociais e principalmente com aquela sensação de satisfação que tanto buscamos antes da última piscada do dia.

A cada mordida em um chocolate (impossível não comer após ver e pensar no filme) a língua se envolve com um sabor que não se adequa a palavra alguma, assim como o ser humano em sua totalidade não se adequa a nenhum rótulo ou regra. A transitoriedade da personalidade humana sobre o tempo e contexto social revela a esperança de que algo não necessariamente novo possa ser efetivo instrumento de evolução, de mudança. Talvez seja a premissa para perenidade de sonhos e vidas, outrora pode se tornar argumento de ilusões que mantém funcionando os pulmões.



Sobre:
Willy Wonka and the Chocolate Factory (pt-br: A fantástica fábrica de chocolate / pt: A maravilhosa história de Charlie) é um filme musical dirigido por Mel Stuart e lançado em 1971, estrelando Gene Wilder no papel de Willy Wonka. A história é baseada no livro infantil Charlie and the Chocolate Factory de Roald Dahl (autor também de Matilda), publicado em 1964, contando a história de como Charlie Bucket encontra um "Bilhete Dourado" e visita a Fábrica de Chocolates Wonka com outras quatro crianças. Em julho de 2005 estreou a versão de Tim Burton, com Johnny Depp no papel de Willy.


Publicado também em: http://obviousmag.org/rumos/

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Busca por um doodle


O conflito de gerações é um eterno ciclo que apenas aumenta (tal qual o universo), recebendo de tempos em tempos novos ingredientes junto às gerações que passam a integrar este ciclo. O comportamento social se renova do mesmo, mas em plataformas diferentes. Se bem ou mal, o que importa são os desdobramentos possíveis das narrativas estabelecidas.


Gerações intercalam argumentos no diálogo multifacetado na definição de relevâncias. A representatividade de um indivíduo ou acontecimento anteriormente era notória pelo seu registro em enciclopedias, placas e monumentos. Entretanto, desde o enraizamento do Google na rotina de todos os usuários da Internet (quantas vezes acessa o site por dia ou usa um dos serviços da empresa?), os doodles passaram a marcar datas, acontecimentos e indivíduos; lembrando as pessoas o que aprenderam de relance, ou ensinando e instigando buscas àqueles que desconhecem o homenageado do dia. Esta é uma maneira sutil de direcionar o comportamento de buscas e interferir no agenda setting  (Mccombs e Shaw e a teoria do Agendamento) ou um exercício de resgatar ao cotidiano a história da humanidade, os fatos representativos e até os mais os mais pitorescos? Mais do que a resposta, vale o que acontece quando surge um novo doodle. Comentários e conversas em redes sociais digitais, bem como matérias na imprensa (Geral e de nicho). Surgem lembranças e novos conhecimentos sobre algo do passado ou do presente, e quem sabe o vislumbre de um futuro; sempre com bom humor, criatividade e até mesmo inovação ao retratar em uma imagem o assunto escolhido.

Afora esta estratégia, que também fortalece a imagem da empresa, surge na mente de usuários da web, mesmo que de forma quase imperceptível, um novo indicador de representatividade: se já foi um doodle da Google, é importante; merece uma busca. Se antes, seres humanos, buscavam a confirmação de sua existência no outro que estava ao seu lado, com a famigerada globalização ele passou a buscar esta afirmação de existência e utilidade social não apenas na aldeia local e global, mas sim junto a um sistema da web. Se o Smartphone tornou-se a extensão do corpo e vida dos indivíduos (para trabalhar, movimentar finanças, para lazer e etc. Estar sem seu aparelho, ou sem sinal é entrar em estado de aflição e vulnerabilidade), o ranking do Google e do Youtube passaram a ser o indicador de relevância da contemporaneidade. Não é raro pessoas "darem um Google" no próprio nome para ver o que surge, o quão representativo é seu perfil. Se antes alguns queriam ser dignos de serem lembrados em livros, estar com sua marca em uma calçada, seu busto em praças, nomes de ruas, dentre outras formas; agora intuitivamente, os indivíduos querem sua representatividade atestada por um mecanismo de busca (não a biblioteca, onde a representatividade das buscas tem mais resultado acadêmico), com resultados diversos, bem linkados e elencados; e quem sabe atingir o topo: virar um doodle da Google.

A busca é iminente. Entre as respostas, utilidade e futilidade. Versos de porta de banheiro público já perpetuavam ditos populares. tudo o que sobre desce, se cuspir pra cima... Neste ínterim, vale pensar, o que você tem produzido, ou disponibilizado na nuvem, considerando que após um tempo condensando, pode cair irremediavelmente sobre sua cabeças e de outros?

Publicado também na minha página no Obvious  http://obviousmag.org/rumos/



sábado, 28 de novembro de 2015

Esse olhar


 

 

O rito da legitimidade das mensagens sofre pressão da diversidade dos meios e plataformas de comunicação. Os trâmites essenciais do processo de construção e disseminação de mensagens exigem agora não apenas habilidade para atuar em multimeios em tempo hábil (imediato), mas fundamentalmente em desacelerar um pouco a avalanche comunicacional e trabalhar a percepção sobre o que se quer dizer, a mensagem construída, as partes envolvidas, os repertórios destas partes (para tentar compreender a dinâmica de percepção), os desdobramentos de interpretação da mensagem e relacionamento com o processo de comunicação; tudo isso de forma perene e integrada à questão do tempo na contemporaneidade.

“A comunicação é a vítima desse progresso e é preciso desacelerar e realizar autorreflexão sobre ela”, com sabedoria se posiciona Dominique Wolton em entrevista à Comunicação Empresarial (Ed 95 - ABERJE 2015). Dentre os aspectos pertinentes a essa autorreflexão, na busca pela famigerada legitimidade, estão a linguagem, a percepção, o ritmo e os limites.

Após definir a mensagem e o público, é necessário refletir sobre a linguagem a ser estabelecida na narrativa, seu formato, plataforma e peculiaridades. Atentar ao ritmo de transmissão de mensagem e os limites de desdobramento (esses praticamente inexistentes). A partir disso, deve-se observar e até mesmo (resguardando a distância de observação do outro de Clifford Gertz) interagir com a percepção do outro para assim aperfeiçoar o processo de comunicação, redefinindo os ritmos da narrativa (incluindo a linguagem), limites de reverberação do conteúdo e a legitimidade de suas interpretações (atrelando vínculo com a fonte oficial do conteúdo).

O tempo inevitavelmente passa e isso não deve ser angustiante, mas argumento e espaço ideal para transformações e aperfeiçoamento, não em busca de perfeição, mas da perenidade do processo de comunicação, possibilitando inquietude, questionamento, diálogo, consenso e a liberdade de pensar e conviver. Neste sentido, o passar do tempo incita-nos a trabalhar esse olhar; esse olhar a realidade, olhar os sentimentos, espaços, pessoas e sentidos e assim narrar (em gestos e palavras) nossa experiência enquanto organismo vivo em interação social.

 


Esse seu olhar trincado, esse órgão fustigado pelo que pensa ser realidade. Suas palavras cheias de significados e escassas de sentidos tornam todo jardim um labirinto, onde os pés se ocupam com espinhos e a mente se liberta com os pássaros.







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quarta-feira, 24 de setembro de 2014

e soul...

O que há dentro que não consegue materializar-se. O labirinto jardim que acalma, excita, esconde ou sufoca. Não é grande, menos ainda espinhoso. Extenso e intenso se revela. Não é uma metáfora, ou projeção. É por onde caminho de mãos  dadas! Sem entradas ou saídas, o instante do caminho. Se eterno retorno ou ida, se estadia no Hilbert Hotel, nunca saber-se-á. A percepção é o instrumento condutor do ser humano pela vida. Para a alterar ou consolidar, é preciso operar com maestria os mecanismos de comunicação.

Quando mal feito, o efeito é passageiro; quando feito para o mal, a situação fica quase irremediável. Além dos diversos canais de comunicação criados pelo homem, há um determinante para a manutenção do relacionamento social: o corpo. Saber usá-lo não como um objeto, ou arma, mas como um canal genuíno de comunicação, amplifica a eficácia da mensagem, interferindo efetivamente na percepção; consequentemente, conduzindo o ser humano como um rio para o mar. A vida; esta narrativa que transcende fórmulas e regras nos apresenta uma névoa de desafios; e nós seguimos. Ultrapassar os desafios, absorver as curvas do caminho perfazendo-as como se fossem extensão do corpo. Prospectar diante de impossibilidades e por fim, vivenciar o gozo de desaguar no mar.

... o próximo verso é sabor;
o sabor é futuro
e o futuro a ideia...

sábado, 9 de novembro de 2013

Fatos e Perspectivas

O movimento das plantas no jardim relaxava seus passos. Já não mais se incomodava com a imagem no espelho. Porque você desconhecia o próximo verso, a pisada no pé foi inevitável. Você sem a poesia, eu sem compasso. A medida da vida não está em métrica alguma conhecida, menos ainda dominada. O frescor do vento ao correr, caminhar. O frescor de lavar o rosto em límpida água.

Os meios de comunicação vieram para facilitar e intensificar o relacionamento, as narrativas, a emissão e percepção de mensagens. Eles facilitaram; o acesso ultrapassa a porta de banheiros; eles confundiram; a percepção oscila da latrina recheada à límpida água ao rosto em cachoeira pela manhã.

Diante dos fatos, é importante saber como se relacionar com a existência de múltiplas perspectivas e o respectivo poder de relevância para o público. Seja pela facilidade estética ou pela complexidade reverberante. Os mecanismos de comunicação disponíveis escravizam-nos à ansiedade de consumir e produzir conteúdo. A inteligência artificial, criada para ser o piloto automático do ser social, aos poucos nos domina, domestica e castra.

Em madrugada de narrativas, amanheci com janelas abertas. A nitidez da felicidade em seus olhos. O brilho que há em você possibilita um sabor especial em meu sorriso. Caminho então entre as narrativas que nunca foram, as possíveis que nunca serão, e a que escolho traçar para que esteja gravada naquilo que sou. Só será óbvio se tiver visto pela mesma perspectiva. Meu argumento.

Palito os dentes com a especulação; passo...

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

No ar

Um motorista da Folha registra o fato (policial agredindo manifestante) enquanto espera repórter. Cada vez mais evidente, o processo de registro e divulgação está nas mãos de todos. O comportamento na rede mundial, o consumo de vídeos, e as narrativas eletrônicas interferem decisivamente no que vai para os veículos formais, e até mesmo para as bancas. A grande massa de produtores de conteúdo quer não mais voz, mas ouvidos. São torcedores de distintos gritos no meio da multidão. Pensar e agir. Estar atento às janelas.

Uma pomba estraçalhou a vidraça com a cabeça. Transparência em demasia pode ser perigoso. O que fazer com tanta preposição sobre os lençóis? O humano saiu para ser noticiário, ser tinta na tela e nota na canção.  Escorro meu ódio enxurrada no ribeirão das suas ideias, cansadas. Te segurei com ódio e ternura, palavra. Verdade, seu nome pende em meus lábios. A ponta da língua como arma a desbravar a hipocrisia e incendiar a realidade com sonho, com verdade.

Desanuvia, lilás seda orgânica. Rego-te até saciar e esbanjar as gotas excedentes como lágrimas de um amante incompreendido pelo egoísmo que ruge ao derredor. O que parecia tão dentro se mostra tão Camus, oh estrangeiro. E tais lagrimas se cristalizam, como remelas tornam-se a trave nos olhos, o vitral de um sentimento que foi fustigado pelos cacos.

Míopes perdem-se quando o amor é um buraco no asfalto. Surge do descuido a longo prazo, toca-nos quando desavisados tentamos passar por ele.  Seco golpe aprisiona as escolhas na garganta. Bateu na janela o desespero, nem as grades seguraram o olhar. A libertação na paisagem que no fundo dos olhos encanta, sustenta e caminha junto. A pomba não mais respira, mas ainda há ar.

 Intermitências do clichê.