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quarta-feira, 7 de abril de 2021

indignar-se


A maturidade da indignação é perceptível quando a inquietação social da classe ou do indivíduo, se manifesta não na pueril agressão ou na institucionalizada crueldade, mas sim em argumentos sóbrios, consistentes, analíticos e não alienantes. O contraponto bem feito é o que oferece equilíbrio à sociedade. A massa tende a permanecer no estado atual (parada ou em movimento), estagnada ou em evolução. Os solavancos que marcam nossa história rompem a inércia para o bem e para o mal. Nesse ínterim, é fundamental manter o olhar atento ao todo e aos detalhes, sem prender-se aos vícios de interpretação e o automatismo de produzir significantes que alimentam a zona de conforto. É necessário indignar-se; de forma madura. Feliz Dia do Jornalista, sobretudo em tempos tão difíceis. 

sexta-feira, 12 de março de 2021

Números - entre o tropeço e o soluço


É clichê, mas ignorá-lo não nos torna melhores. Quando o divórcio, o acidente, as dívidas, a morte, a doença, o nascimento, o casamento, solidão, a vitória ou a derrota estão distantes sempre serão estatísticas, números absolutos ou índices percentuais e tudo o que o homem cria em sua narrativa é passível de pelo menos duas interpretações: a que confirma e a que questiona; afora outras.

Por mais que os números possam talvez, quando comparados a outros dar a impressão de ser menor; vale lembrar: se não é algo absoluto, 100%; sempre podemos cair naquele 1%, naquela pequena margem, naquela improbabilidade; aí chamamos de fatalidade e muitas vezes engolimos sozinhos o sofrimento

Quando está perto da gente, esses números viram sentimento, dor, prazer, euforia, desespero. É clichê, mas precisamos sempre revisitá-lo para nos lembrar de sermos humanos. 

Ao criar uma narrativa é importante considerar tudo o que representa os indicadores. Seja em relatórios corporativos, mensagens motivacionais nas organizações, nas matérias jornalísticas, os números evocam muito mais que apenas quantidades. E a mensagem criada deve se importar com isso. Portanto, na construção da narrativa é preciso transitar pelo clichê de forma assertiva, tendo em mente o objetivo da mensagem na ordem social. Faz-se necessário evitar os vícios editoriais, as bandeiras das vaidades e convicções de torcida e se permitir à reflexão e diálogo.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Calculadora de Pescoço


Desde as peripécias do Hilbert Hotel, e muito antes, a matemática permeia as mais malucas elucubrações corporativas e sociais. Cada qual com seu paradoxo, a comunicação não podia ficar fora do mundo das planilhas, com apresentações estimulantes para impulsionar canetas a liberarem verbas, ações e estratégias. A lista de índices é enorme, ROI, Clipping, Valoração, Engajamento, Abrangência, Peso, Relevância, Retenção de mensagem, e tantas outras que os gestores se perdem como um apresentador de talk show no meio de uma montanha de cupons fazendo sorteios de natal.

Muitos profissionais se jogam nos buscadores online atrás de fórmulas e dicas. Na assessoria de imprensa a brincadeira é extensa, Consolidação de centímetro por coluna, espaço ocupado por quadrante, por tipo de página, investimento realizado, conversão do conteúdo online de pixel em cm/col versus valor comparado, ou valoração. O desempenho em redes sociais então... dependendo do tipo de mídia social, um leque de métricas automáticas e outras desenvolvidas estão à disposição. É preciso mensurar e analisar as mensurações, sem euforia e ingenuidades.Ver as palavras atreladas aos números e conseguir compreender os rumos da comunicação (antes, agora e depois), o lugar do sujeito no processo de significação e prospectar os próximos passos (não apenas repetir o planejamento do último período).

As faculdades não ensinam as métricas, não de forma aplicável; o mercado possui um padrão de cálculo e cada assessoria adapta à sua realidade (muitas vezes de forma equivocada) e as agências guardam suas fórmulas como carta de supertrunfo. Afora as referências, a mensuração das ações de comunicação e a análise dos desdobramentos evoca um profundo conhecimento do setor em que se atua, das reações esperadas, compreender a interrelação dos indicadores e como analisar os dados de forma a se desdobrar em diretrizes para ações de imediato, curto, médio e longo prazo. A inteligência não está na xícara de café ou na borra que fica.Não adianta gerar relatórios só para ocupar espaço e fazer cócegas no ego dos gestores, tampouco revestir com linguagem de marketing para galgar prêmios de entidades representativas, é fundamental que as análises da mensuração façam sentido para a organização, seja um ativo relevante.

Empoderados, gestores alternam entre o atacado e varejo da comunicação. Caminham pelas organizações como um agente de vendas, tendo o profissional de mensuração como uma calculadora presa ao pescoço, sempre pronto a sustentar argumentos e preencher lacunas. Defendendo orçamentos, analisando investimento e custos perante resultados e planejando os próximos passos.

Diferencial no mercado de comunicação tornou-se o profissional que sabe transitar entre o operacional e o estratégico. Domina os fluxos das plataformas e é versátil no uso da linguagem e restruturação de narrativas. Simultaneamente, sabe gerir planejamento, orçamento, custos, apropriações, consegue mensurar resultados, analisar a mensuração e projetar diretrizes que alimentam o processo, desdobrando-se no operacional e obviamente no estratégico. Essa calculadora pesa, pois sua bateria não é apenas salarial, e suas funções excedem até mesmo as científicas pós graduadas, pois este profissional tem apurada percepção para compreender números, palavras e a paisagem; para chegar a este patamar é fundamental além de formação acadêmica, continuar o processo de aprendizado de maneira multidisciplinar. Quando maduro, este profissional está pronto tanto para fazer a gestão, quanto para consolidar-se como especialista. Torna-se uma peça chave no tabuleiro corporativo, uma oportunidade e uma ameaça. Torna-se exemplo e alvo. Na maioria das estruturas, vira alvo, pois com medo de ser enforcado pela calculadora que não sabe usar, o gestor não a desliga, mas a joga contra a parede. Uma vida sem receita, mas com muito sabor.

A mensuração de resultados e oportunidades em comunicação é um ambiente atrativo e traiçoeiro (pois tem muitos vícios). Compreender as especificidades contribui para a evolução dos processos, bom uso das plataformas, relatórios úteis e relevantes, mudanças benéficas no ambiente corporativo e no potencial profissional de cada um.

Marketing Digital? Assista abaixo!




quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Varejo e varejeiras


Ideias delineiam os rumos das ações que interferem na organização social. É óbvio, mas apenas quando se pensa na generalidade deste aspecto. No entanto, quando pensa que a ideia em questão pode ser sua ou da sua empresa, a situação, sensação e atitude mudam. E logo começam as cobranças por audiência, por índice de percepção e retenção da mensagem, de valor da imagem e tantos et ceteras que nem quem pede sabe ao certo como interpretar e pior, nem sabem como estruturar planejamento estratégico e ações efetivas após análise dos dados. Sobre a mensuração e as complexidades que envolvem o tema comentarei posteriormente.

Antes, é interessante olhar de forma sutil para a forma e o conteúdo. O que informar e como informar... volta e meia esta mosca incomoda e pousa à frente das redações, públicas, corporativas e midiática. No que concerne ao ambiente corporativo, é fundamental não simplificar demais as mensagens e não banalizar as plataformas disponíveis, pois se quanto mais comodidade, mais preguiçoso fica o leitor (de texto / áudio / vídeo), o uso desequilibrado das ferramentas. Exemplos são vários. Antes ficávamos muito tempo assistindo a vídeos... os institucionais tinham 15, 10 minutos... depois reduziram para 5.. e agora, os indicadores de quem assistiu pelo menos alguns segundos da mensagem já despontam em relatórios de mensuração. Cada vez mais seletivo no universo expandido de conteúdos, o leitor (usuário) não assiste a vídeos longos caso não seja de extremo interesse.

Sociedade de vanguarda, a pseudo liberdade. Clamam, reclamam por divulgação, mais informações, mas não elavam o índice de leitura, não leem a quantidade exorbitante de dados que está disponível sobre os mais variados assuntos , seja na internet, nos livros e nas praças.  Não leem, despejam nas ruas o livo de folders, jornais e afins. Paradoxalmente, alimentam a reclamação por "divulgar mais e melhor". Reclamam que não há divulgação e não se envolvem com a ampla divulgação que existe. Não buscam. Querem, como filhotes de passarinho, receber o conteúdo já mastigado, regurgitado em suas mentes autômatas. Neste cenário, o lobby dos setores privados e públicos nada de braçada, construindo pós verdades, alimentando todo tipo de vaidades e consolidando fontes, desacreditando outras. O resultado é uma série de veículos de comunicação defendendo estandartes que nem de longe revelam os fatos, os interesses e desdobramentos correlatos. A comunicação  e o relacionamento institucional no varejo, com pensamento de atacado. Geralmente, o reflexo natural é espantar com um tapa as varejeiras, ignorando as ovas prestes a eclodir. Isto é óbvio, acontece há décadas, irremediável, quando se pensa na generalidade do tema. Contudo, torna-se preocupante quando analisada regionalmente, inclusive pensando qual o "seu" lugar e função no cenário.

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terça-feira, 20 de agosto de 2019

Com fio comunicação


A integração das gerações com as novas tecnologias espanta. Um espanto por causa da maneira intuitiva que novas gerações se relacionam com as novas plataformas e linguagens como se fosse inerente ao útero. Espanto também em virtude da dificuldade das gerações mais antigas de se relacionarem com o novo cada vez mais pujante, renovado. Entraves de processos de gestão e relacionamento então são verificados como desdobramento desde "espanto". Há de se definir práticas de interrelação e equilíbrio para caminhar em neste mundo tão digital, tão entregue à nuvem, sem pensar que ela pode sumir ao vento, desanuviar, ou até mesmo chover.

Avanços tecnológicos mudaram o modo de consumo do indivíduo, que tem no streaming um mundo de possibilidades. O 4G trouxe mais velocidade e qualidade no fluxo de informação. O AM deu espaço ao necessário 4G. A agilidade de entrega e a confiabilidade das vendas online mudou o modo de fazer varejo em uma série de setores. As agências bancárias são apenas entrepostos, pois as grandes transações são feitas na palma da mão. As organizações buscam se nortear neste cenário móvel, onde nada é perene a não ser a mudança.

Pelo Smartphone controla-se quase tudo, inclusive aspectos essenciais à sociedade, seja no âmbito familiar, profissional ou político. Os vazamentos pautam mercados, propositalmente ou não, tornam-se a justificativas de algozes que tomam decisões antes mesmo que qualquer interpretação mais aprofundada possa ser feita. A instantaneidade dos momentos sucumbe à superficialidade de decisões. Determinações, arbitrárias por demasia, geradas no ventre dos indivíduos do espanto. Seja os novos impacientes, onde um segundo é um millenium, seja os antigos em uma combustão ideológica estranha, uma inquietação frustrante de ser obrigado a acompanhar ou pelo menos se integrar ao novo para se manter em posição de relevância no grupo social.

A dependência digital é patologia psiquiátrica em alguns países, fundamentada no comportamento obsessivo do indivíduo que se desassocia do convívio em sociedade e se atém apenas no vínculo digital com a comunidade. A estabilidade é o santo graal. A estabilidade comportamental, mas sobretudo a estabilidade da prestação dos serviços e disponibilização das plataformas. Se tudo o é digital, se o desktop e HD externos, ou caixas físicas de arquivo perdem sua funcionalidade diante do brilho digital, o que acontece se o no brake falhar, se a nuvem chover, desanuviar ou simplesmente lá não mais estar por instantes? Não se trata de elucubrações da teoria do caos, ou Mayhem project; mas uma constatação para que os indivíduos olhassem para as nuvens sem esquecer do chão. Não se prender, não ser os extremos da era, não assentar sobre o próprio conceito de vanguarda, todavia, entretanto, ciente das fragilidades, escolher bem os passos, plataformas, narrativas, backups e trampolins. Trabalhar a confiança na estabilidade dos meios, da infraestrutura em estado de excelência, seja com ou sem fio.

Neste cenário, impossível não acompanhar a cadeia de interrelação dos setores e mecanismos e compreender a importância de se trabalhar matrizes energéticas diversas, sustentáveis, para que elas sustentem as nuvens no céu. Para garantir viabilidade às matrizes energéticas sustentáveis tem de se trabalhar a maneira como é feito o manejo dos recursos naturais e como é encarado a questão do custo versus o benefício, sem a demagogia das contas bancárias ou bandeiras xiitas. Pois, a tensão nos extremos descompensa o equilíbrio de todo o corpo social. Quando se exercita o raciocínio da esfera de influência social macro, até chegar no universo miro do indivíduo, percebe-se o poder do bater de asas da borboleta, compreende-se o seu grau de interferência nesta cadeia de eventos que pode reconfigurar a sociedade ou reafirmar paradigmas. Pode manter de brigadeiro o céu ou desencadear uma tempestade. Há de se saber o momento de se molhar na chuva.

Fonte: https://istoe.com.br/326665_VITIMAS+DA+DEPENDENCIA+DIGITAL/



sexta-feira, 5 de julho de 2019

Caça às bruxas na casa de espelhos



É importante moralizar a sociedade. Embora emblemático o termo, nada mais é do que reajustar a massa ao comportamento definido com padrão social, que delimita o conceito da respectiva sociedade. Entretanto, os excessos de dedos e poderes de denúncia tem tornado os cidadãos em algozes da diferença, apontando a diferença como desvio e já determinando pena. Uma casta de acusadores, que muitas vezes acusam com uma trave nos olhos, o cisco que há no outro. Deste modo, os grupos promovem uma caça à bruxas baseados em suposições e o pior, não se reconhecem nas práticas que condenam. Assim alimentam-se as mazelas e a disparidade social. Ávidos por punir alguém e assim ganhar posição de destaque promovem uma Caça às bruxas na casa de espelhos; beiram o ridículo. Compliance, Código de Ética, Leis, Normas, Procedimentos devem ser coerentes e aplicáveis a todos e não apenas de forma conveniente, segundo a posição social (cargo e etc).

Empresas como Odebrecht, JBS e Petrobras investiram mais em  programas de compliance para tentar reconstruir a reputação, cumprir exigências de acordos de leniência e prosseguir com negócios, mas nem isso as tem salvado algumas da falência (Odebrecht entrou em recuperação judicial e a OAS apresenta iminente derrocada). Programas de Compliance apresentam problemas dentre outros aspectos da cultura organizacional, também em Cláusulas anticorrupção (devem ser definidas de forma clara, ampla e abrangente também à alta direção e não apenas a cargos baixos).

Voltando a falar da caça às bruxas, percebemos muitos Coronéis de pós verdade. Na verdade, Coronéis de versões que sobrepõem o próprio ponto de vista aos fatos. Fazem publicidade. Queimam então na praça pública de redações, casas, repartições e salas, as pessoas como se fossem objetos, ou animais a serem sacrificados. Ignoram que o ditado é certeiro. O mundo dá voltas e o universo se expande. Tensionam o conceito de moral a bel prazer e debruçam-se sobre a vida dos outros com a arrogância punitiva de cegar-se às variáveis e aos fatos e ater-se apenas a seu ponto de vista e seu poder de decisão.

O cenário descrito acima está presente em diversos núcleos sociais, seja de configuração profissional, religiosa, familiar. Ele subtrai do sujeito a oportunidade e direito de defesa. Direito fundamental inerente à pessoa humana, documentado na Constituição Federal Brasileira de 1988, no artigo 5º, inciso LV, com os seguintes termos: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.

Conversar sobre contrapontos, relacionar as diversas versões a respeito dos fatos pode amadurecer a percepção, a visão e compreensão do contexto. Para manter a sociedade viva é necessário ter controladas a tensões, delimitadas as interações da diversidade e também a arbitrariedade do padrão social instituído, o padrão absorvido, e o padrão natural. Paradigmas não são intocáveis. É fundamental ter a visão do detalhe, da paisagem e de como um interfere no outro. Amadurecimento é aspecto elementar, profissionalismo premissa básica.

Em tempos de moralização, de politicamente correto, de intolerância agressiva sobre o pensamento diferente (independente dos lados), é preciso ter cuidado de como respiramos, ao lado de quem, e o que decidimos fazer. É preciso olharmos no espelho e reconhecer o reflexo, se somos algozes ou as bruxas a serem queimadas (para no futuro virar busto em praça, capítulo em livro e nome de medalha, rua ou penteado). Procure se esquivar dos extremos e das armadilhas do centro.

Importante também lembrar, que o tratamento de dados pessoais no Brasil estará submetido a nova legislação, já aprovada e que entra em vigor em 2020. A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), Lei nº 13.709/2018, regula o tratamento de dados pessoais e também atualiza os artigos 7º e 16 do Marco Civil da Internet. A lei se fundamenta em diversos valores, como o respeito à privacidade; à autodeterminação informativa; à liberdade de expressão, de informação, de comunicação e de opinião; à inviolabilidade da intimidade, da honra e da imagem; ao desenvolvimento econômico e tecnológico e a inovação; à livre iniciativa, livre concorrência e defesa do consumidor e aos direitos humanos liberdade e dignidade das pessoas. Então muito cuidado ao coletar e tratar de dados pessoais, ou o tribunal será o nova rede social, onde todos encontrar-se-ão para tratar da vida, dos anseios, conquistas e punições.

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sábado, 25 de maio de 2019

Persuasões



Cialdini chegou a ser explícito em sua obra com as técnicas de persuasão e como pode ser instrumentalizado no dia a dia, tanto na profissão, quanto nas demais esferas sociais. Passando pelas armas da influência, reciprocidade, compromisso e coerência, aprovação social, afeição, autoridade, escassez, influência instantânea e mimetismo. Uma sociedade que alterna seus valores e seus marcos através da relação Tecnologia Disponível x Tecnologia necessária x Tecnologia acessível x Tecnologia desejada. Tire a palavra tecnologia e a interrelação dos conceitos contia a ser o chicote sobre o lombo social. Pretensões marcam o ritmo. Noticiários alternam entre o respiro e o sufoco.

A facilidade das interferências está no perfil humano de adorar ter intermediários para tudo. para as escolhas, para as tarefas simples, para exercer a fé, para amenizar punições, transportar mensagens ou assumir atos indesejáveis. Preferem a abordagem mais fácil, o clique mais rápido, o alimento já processado. Culpam o tempo, que transcorre sempre como transcorreu (60 segundos por minuto), entretanto, a sensação, a percepção do tempo revela dias abreviados.

Para exercer influência é necessário mais que empatia. Após identificar o comportamento padrão do grupo social, faz-se necessário conhecer o ponto de pressão da espécie e pressionar ou proteger conforme o interesse e necessidade. Ciente de como opera o comportamento padrão e quais os pontos de pressão dos indivíduos, torna-se possível compreender e identificar os esteriótipos, bem como os mecanismos para redefini-los. Trata-se de uma dinâmica de recondicionamento social, a partir da ação de um indivíduo ou grupo coordenado. Proteger as fragilidades para controlar a intimidade e selecionar grupos de acesso.

Operadores do automatismo surgem como reguladores do comportamento padrão. Definem atalhos entre os valores morais, leis estabelecidas, princípios e anseios. Conhecem os pontos de pressão e os administram de forma a estabelecer o alívio de automatismos que mantém a sociedade em fluxo constante, quase espontâneo, imperceptivelmente induzido. Assim, ninguém questiona os especialistas, tampouco os líderes. A aceitação é uma variável da conveniência e sobrevivência.

A percepção da realidade dá-se pelo referencial (repertório) de cada um, altere o referencial e controle a percepção. Assim interfere-se no padrão de construção da opinião pública. Identificar repertórios (base) e os referenciais estipulados. considerando que as escolhas, decisões são tomadas a partir da percepção (que por sua vez depende do referencial), uma ação de re-significação do referencial pode alterar a percepção e por sua vez, conseguinte, as escolhas e decisões do indivíduo. Esta estrutura torna-se ainda mais desafiadora e complexa considerando todos os atributos da sociedade líquida de Bauman. É preciso controle e reciprocidade e para isso é fundamental ter timing and balance.

Alguns executam a dinâmica da dívida. Assim, utiliza altruísmo como instrumento gerador de "dívidas de gratidão", construindo então uma rede de influência e poder de persuasão. Como defesa, o sujeito pode exercitar as ferramentas de "evitar" e "recusar" envelopadas de uma gratidão protetora. Estar atento às iscas de gratidão, recorrentes como ferramenta de influência.

O conflito de autoridades gera autorizações e transgressões. Grandes lobbystas (de setores industriais, produtivos, religiosos, educacionais e etc) subvertem o que chamam de cultura de compliance para redefinir o comportamento padrão de um grupo, por meio de manipulação dos pontos de pressão (fragilidades/acessos) e das "dívidas de gratidão", onde o desconforto propicia certa culta e sentimento de ter de gerar recompensa. Não pedir, mas conceder, para depois obter. Assim, a sobreposição dos padrões sociais estabelecem uma sensação de força cultural natural, cujo meio de fuga é alternar a moral. Uma revisão de conceitos e interiorização deles em seus gestos, pensamentos e sonhos. Para ocorrer as mudanças interiores deve-se cultivar uma ideia, e a inserir no seio social por meio protéticos sobre as lacunas. Posteriormente, retira-se a ideia do cenário, ficando então o novo padrão de comportamento.

Motivos? Para alguns a manutenção do fluxo da vida em comum, para outros uma maneira de exercer potencialidades percebidas, para outros, mera diversão.

Entre casais, sutil tortura a de controlar a quem se ama para satisfazer uma carência; sublime submissão a de ter a ciência disso e ainda assim sucumbir ao controle do ser amado, chamando isso de entrega.

A estratégia do eterno retorno e compasso da compra. A sociedade, um corpo de poros escancarados, seres suscetíveis, com pontos de acesso e exaustão. Quando o clichê do tempo movimenta o vento e balança o prisma que protege o caráter das pessoas, muda-se a imagem, ou revela-se um pouco mais.

Compromisso e coerência como justificativa mental para as escolhas. Alicerces da integridade. Construindo um novo padrão de comportamento como referencial, altera-se as estruturas da aceitação, por empatia ou autoridade. O aconchego da aceitação social é como trancar o quarto 101 de 1984. A combinação de estratégias de influência consolidam os relacionamento nas diversas esferas da sociedade e sustenta o fluxo afora as imperfeições psicológicas dos indivíduos. As vulnerabilidades, pontos de pressão do indivíduo, são aceitas então; tanto como ferramenta de manuseio, tanto como limitação do ser humano (tão desejoso de colocar um trono sobre as estrelas).

Motivos? A falta. A falta afasta a calma, inquieta a alma e nos faz sucumbir à rima. A escassez, desde os detalhes até a amplitude de sua complexidade, envolve os indivíduos em sociedade, transformando-o em sujeito, ser social. A ambientação da falta estabelece lastro de interferência. Então desdobra-se em controle. Afã da raridade x Controle de ansiedade.



quinta-feira, 6 de setembro de 2018

A narrativa bate à porta?




Para comunicar de forma mais efetiva as narrativas corporativas (ou não) é preciso conhecer melhor o indivíduo atual e seu sistema de relevância. Como entrar com a mensagem na casa dele, se não conhecemos o que ele chama de casa? O processo de estruturação da narrativa deve considerar a atualização de seu destino. Onde irá chegar e como irá entrar? A corrente de conceitos que o indivíduo opera é a chave para o êxito na construção das mensagens e relações.

Lugares resignificados. Lares reestruturados. Não mais casa de mãe e pai. Agora às vezes a casa é de muitos filhos, sem pais. Outras, só pais e pais, ou mães e mães. Grande parte, casa de avós, que criam netos como uma "segunda chamada (rodada)" dos filhos. Espaços que são lares, independentemente da nova configuração; a missão dos lugares é atender à mesma demanda: ser um lugar para o indivíduo no mundo. Se será de tormento, de aconchego; como será o aprendizado e para onde irão os caminhos não está prescrito em busca de praça pública.  Quando com fé mudamos o olhar sobre a vida, sobre a matéria que nos cerca, sobre os conceitos que nos  fazem, sobre os gestores que reverberamos no espaço, o peso, a leveza de ser, se transforma de maneira sutil, embora intensa. A vivência, cada vez mais é posta como diferencial, afora o conhecimento, a vivência. Sentimentos e sensações, misturar-se às texturas, sentir o frescor e movimento do ar. Sentir o amargo sem demagogia. Utilizar das plataformas de comunicação sem se tornar refém ou algoz. Importante atentar-se a se desdobrar em vivenciar tempo e espaço por outras perspectivas.

O lar às vezes está carregado no pulso com os smartwatch, ou nos bolsos com os smartphones. Segunda tela, telas urbanas, as novas ondas do rádio. As narrativas via streaming correm como cavalo sem rédeas, puro pêlo. Os criadores de narrativas corporativas se jogam a tentar domar, se não conseguem, tentam correr em paralelo... que corrida maluca. Investem em jovens pensando que a energia dará conta, mantêm os antigos na esperança de algo seguro para magnetizar esta busca por comunicar melhor. O conflito de gerações nunca foi tão exposto e necessário. A sociedade líquida precisa refletir sobre seu estado de transição. Assim, as organizações precisam dedicar-se mais a um perfil analítico que possibilite simultaneamente atuar em multiplataformas com narrativas bem estruturadas (não na euforia ou envelopamento de discursos), de forma a dialogar.

Uma avalanche de treinamentos tem instigado os líderes a integrarem-se ao conceito de uma sociedade (e não apenas indústria) 4.0; envolvendo-se com a vanguarda. Entretanto, só haverá resultado efetivo se as ações destes gestores se desdobrarem em uma mudança real de atitude e atuação.

Para proteger a reputação e imagem das respectivas organizações; as empresas querem mudar a postura, o modo de atuar, e também de comunicar, mas não planejam as ações para obter os resultados; anseiam os resultados imediatos e atropelam os processos. Todavia, a busca de uma nova postura tem possibilitado posicionamentos e relações promissoras. Há esperança.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

entre todos



A comunicação, seus conceitos, plataformas, mecanismos, ferramentas, perpassam a sociedade e respectivos fluxos. As entidades e organizações aparentemente evoluíram do senso comum (onde todos sabiam opinar sobre comunicação), seguido da segmentação (onde só o setor de comunicação era responsabilizado por comunicar) à maturidade de todos assumirem sua participação no processo narrativo das instituições. Entretanto, para isso fluir de uma maneira efetiva, contribuitiva, a capacitação é fundamental.

Neste sentido, profissionais das mais diversas áreas têm buscado cursos de especialização em comunicação, no intuito de se inteirarem com as possibilidades e prospectarem crescimento na carreira.

Do privilégio à necessidade, a comunicação - tão natural à sociedade - passou a ser percebida como processo básico e estratégico na manutenção das organizações. Além de estar antenado às mudanças tecnológicas, é preciso ir além do deslumbramento e absorver essas mudanças no seu dia a dia, transformando seu olhar e suas atividades.

Deseja-se que os trabalhadores possam assimilar as mensagens, apropriar-se da linguagem e multiplicar a narrativa corporativa, instituindo-se como um empregado engajado. No entanto, é importante estar ciente de que caminhos não são receitas.

Simultaneamente, deve-se atentar à comunicação como instrumento de transformação organizacional, não resignada ao plano de ação de um setor, mas interiorizado em cada indivíduo, como uma habilidade e não uma função. Se as empresas conceberem a comunicação como uma competência, devem para estimular seu exercício, criar ambientes de diálogos possíveis, onde os atores sociais possam falar e ser ouvidos. Ultimamente, as empresas têm usado as Redes Sociais Digitais para possibilitar este diálogo. No entanto, muitas deturpam o diálogo, excluindo ou ocultando falas desagradáveis para a empresa. Não se deve fazer isto, pois desconstrói a credibilidade da plataforma de diálogo. Caso não seja possível responder, posicione de forma a deixar claro que respeita a opinião do outro, ou até mesmo a deixe sem resposta, mas não apague. Neste campo o silêncio já é uma frase pronta.

A falta de abertura para participação dos líderes de comunicação em reuniões estratégicas do negócio das empresas, é um indicador da maturidade organizacional para comunicação e da relevância da área para a empresa. Este é um dos entraves de evoluir a área de comunicação de algo técnico e operacional para  uma área no coração da instituição.

A expansão de repertório faz-se necessária para oxigenar o cenário comunicacional. Esta expansão por sua vez, vem por meio do consumo cultural? Ou o referido consumo tem como fim a saciedade do sujeito; tendo como desdobramento as alterações de repertório.

Fato é que o monitoramento e avaliação de resultados deve acompanhar a evolução das plataformas, conceitos e modelos de produção (lembrando aqui também da cocriação). O Communication Controlling (ou Communication Performance Management) precisa ser maturado nas empresas de forma a possibilitar mensurações confiáveis e úteis na definição das estratégias de comunicação.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Fator Humano



O avanço tecnológico é irreversível e a dependência social às novas ferramentas e facilidades também. A energia das baterias e a cobertura de sinal são os limitadores. Na comunicação, as novas plataformas e softwares facilitam a navegação pelas narrativas, percepção de peso da imagem e temperatura de discussões, no entanto, a tecnologia ampara-se em algorítimos, em fórmulas condicionadas, de forma exata. O perfil analítico necessário para manutenção dos processos evoca uma sensibilidade que tempera o que chamamos de Bom Senso. Sendo o bom senso um dos determinantes para a tomada de decisões.

Afora as discussões sobre a singularidade da I. A., os novos experimentos e as modernas plataformas de interação em uso em algumas áreas, o lugar do ser humano ainda é garantido quando se refere a constituição da sociedade. Entretanto, levantamento da consultoria McKinsey, em uma pesquisa global, atesta que 62% dos executivos de empresas de grande porte assumem a necessidade de substituir mais de um quarto do quadro de funcionários até 2023 em decorrência da automação e digitalização dos processos de trabalho. Treinamento e requalificação de profissionais será o inevitável fôlego corporativo. Os parâmetros para mensurar resultados em comunicação e definir estratégias, novas ações e planos de contingência precisam ser repensados.

O fator humano, a maneira como a espécie interage e interfere na paisagem é crucial no estabelecimento e manutenção das relações. A transparência e ética são as velas para empresa e indivíduos navegarem no ciberespaço e compreenderem o fluxo de cada um nesta malha em expansão, que parece não ter fim, a não ser a pausa, via botão de desligar dos hardwares em nossas mesas, mãos e bolsos.



terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Salto Ressoar


Como conversar sem agredir e conseguir criar uma reverberação narrativa conjunta? Uma avalanche de estratégias e conceitos inundam as plataformas à disposição de emissores e receptores (que alternam papéis entre si), mas o efetivo resultado desta dinâmica ainda não é mensurado e verificado como desejado pelas partes. Periodicidade, recorrência e qualidade são apenas alguns dos aspectos a serem considerados.

As redes sociais digitais vivem entre a atrofia da superexposição de conteúdo, o abuso das entrelinhas via influencers, a iminência das brigas e desavenças e o abstrato gesto de postar e curtir. As plataformas tradicionais da geração pré-millennials surta entre a maturidade de narrar o factual sem a obrigação do furo e a inviabilidade financeira do modelo de negócios desatualizado. As antigas plataformas operam entre a atualização do sobrefôlego (em busca de adaptar-se à contemporaneidade). Antes de obter equilíbrio, faz-se preciso compreender o que é o fiel da balança no que concerne à comunicação.

Entremeio a esse complexo fluxo de mensagens, narrativas e negociações de versões e influência de hábitos sociais (foco das mensagens e narrativas), está a consolidação das agências especializadas em verificar a “veracidade” das notícias e dos agentes produtores (fact-checking). A comunicação intensificou o boato institucionalizando-o e evoluindo-o a ponto de sobrepor a verdade (talvez por ser mais atraente, impactante ou até mesmo plausível) criando fake News e fake makers formalizando consequentemente a profissão dos verificadores. Para proporcionar uma estrutura que inspire a confiança, as agências de verificação são auditadas quanto a imparcialidade (apartidarismo), transparência de fontes, política de trabalho, fonte de financiamento, divulgação de política pública de correções.

Se a estratégia de gerar notícias falsas vem de uma articulação egoísta de influenciar o comportamento social, o hábito de compartilhar as notícias questionáveis provém do anseio humano de reforçar suas opiniões ouvindo e fazendo ouvir apenas o que quer ou ainda alimentar “o espirito de confusão” interferindo em uma discussão ou linha de pensamento.


O momento evoca a maturação da significação da comunicação, deixando de ser tarefeira e indo além de se considerar estratégica. Reverberar ideias permitindo reflexão, ressoar a mensagem na palavra que salta ao olhar a paisagem, e não apenas o retrato social. Se um tempo atrás foi interessante generalizar e massificar mensagens em bloco (robotizando ou não), faz-se necessário personalizar as mensagens e tratamentos. Um atendimento personalizado em determinados casos sobrepõe a agilidade de um atendimento primário geral, impessoal. 

A interação deve trazer a liberdade do pensar e interagir, em um salto sobre paradigmas que ressoe um novo tempo. O diálogo entre as partes precisa alcançar uma transparência e sobriedade que não é fácil. Assim, muitas vezes o diálogo tem sido terceirizado (via entidades representativas, agentes de lobby, assessorias). Todavia, a conversa precisa acontecer. 

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sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

fusos



O desafio na comunicação corporativa perpassa o relacionamento da Tecnologia e o conflito de gerações. Sendo que um fator determinante deste cenário é a necessidade de lideranças participativas, que saibam administrar as diferentes gerações e conduzi-las a vivência das novas tecnologias.

Futuro da comunicação ou comunicação no futuro. O “agora, já passou”. O foco das ações de comunicação já não está nas plataformas (intensificada após a efervescência tecnológica), mas sim no conteúdo; esse faz a diferença e interfere na malha social. Todavia, é importante conceber, formatar e disseminar de forma assertiva o conteúdo, revendo os resultados esperados, não basta buscar audiência por audiência. O volume não mais sobrepõe à qualidade de absorção da mensagem e manifestação da interferência.

O público procura se envolver com marcas e narrativas que corroboram com seus valores e propósitos. No entanto, vivenciamos valores volúveis e propósitos líquidos. O cidadão tem se estruturado assim e ainda impõe uma demanda por fidelização que extrapola os padrões estabelecidos pelas marcas, forçando-as a uma metamorfose incessante.

Um breve olhar sobre a paisagem e percebemos que as espécies são movidas pela busca. Players de mercado, ou influencers, então estudam o perfil destas buscas e oferecem alternativas de desejo que não são o objeto inicial da busca, mas são colocadas como o foco principal, transformando assim a busca, induzindo o mercado. Trata-se do aprofundam, então do agenda setting. Além de pautar as reflexões, interferir nas buscas e objeto de desejo.

A comunicação então deve estimular a convicção e não a repetição de mensagens e narrativas, mas sua multiplicação por absorção da mensagem e convicção do conteúdo. Neste processo, o lobby (que luta para ser devidamente regularizado) é uma estratégia de defesa transparente de temas chave na sociedade, assumindo um lado. Entretanto, o lobby tem sido depreciado em função dos maus lobistas. 

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) define o lobby como a comunicação oral ou escrita com uma autoridade pública para influenciar decisões políticas, administrativas e principalmente legislativas. Ampliando sua atuação na sociedade, o lobby é realizado pelas Relações Públicas, a partir da disseminação de narrativas setoriais.

Clientes então não podem ser vistos apenas como consumidores, mas sim cidadãos que se relacionam com mensagens e não com produtos ou objeto de resultados.


Pássaro verso
Pouso transcende
Voo ascende
Horizonte que dobra
O que ao vento passa
Beija a flor
Pássaro cor



segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Títeres


Espera-se compreender o ser humano e o desdobramento de suas ações na manutenção da sociedade. Para isso, faz-se necessário observar suas diversas relações e padrões de comportamento e evolução. Alguns sociólogos e antropólogos acreditavam que para atingir a desejada análise do ser, era necessário destituí-lo de tudo que o compõe e observa separadamente e depois verificar o conjunto. Uma busca por constantes universais do traço humano.


As constantes universais não se constituem a melhor estratégia para compreender a constituição do ser humano. Clifford Geertz já afirmou que “pode ser que nas particularidades dos povos sejam encontradas algumas revelações mais instrutivas sobre o que é genericamente humano” (GEERTZ 1989).


Assim, ao observar o modus operandi do indivíduo enquanto sujeito social, percebe-se que ele alterna entre momentos de busca por poder e transferência de poder para evitar desgaste e obter zonas de conforto.


No que concerne a representação social, importante verificar a personifersonalização política reflete uma busca humana por referenciais que guiam e representam a massa em cenários complexos. No entanto, quando direcionado o referencial para um personagem, se ele cai moralmente, corrompe uma ideologia e rotula os representados. a transferência de atribuições e responsabilidades faz com que um personagem esteja acima de grupos. A individualização da representação social propicia o colapso moral do que se entende como sociedade. No entanto, esse processo é característica humana em busca de referenciais.


O processo supracitado favorece também à alienação. Um exemplo pode ser observado no comportamento social nas eleições. O desconhecimento sobre o funcionamento do processo político das listas fechadas e abertas e voto de legenda faz com que a tradição por personalizar eleja famosos e emposse oportunistas de baixa representatividade. Deste modo, nada muda; enquanto se depositar a esperança de um mundo melhor em um personagem, um salvador, e não em uma instituição política comprometida com demandas e valores sociais. A massa busca por um Messias, mas elege sempre um Pilatos, aliando-se a Barrabás. Revisitar a história política no Brasil e no mundo e transitar por trajetórias pessoais que interferiram na ordem social com o pretexto de defender interesses coletivos. Pense em épocas e lembrará de nomes  ao invés de pensamentos. O ser humano vive em busca de referenciar tudo o que vê e conhece,e se possível personaliza, delegando funções que o permitam voltar para zona de conforto social.


A construção do ideal a partir de uma personagem tem causado furor social no Brasil, pois uma ideologia e plano de governo não pode ser preso, ou ter a vida pessoal desmoralizada, mas um personagem sim. As recorrentes investigações em diversas esferas, com punição, prisões e até mesmo desconstrução dos personagens eleitos têm exigido da população uma reflexão sobre os referenciais, a busca por novos personagens e até mesmo um novo olhar sobre o modelamento político social, que deve transitar da personalização para uma madura cultura colaborativa, talvez como no visionário La Belle Verte (França: 1996 Dir. Coline Serreau).


Portanto, para melhor conceber uma percepção do ser humano no processo de personalização de sua  na sociedade, definindo um sujeito como soberano das decisões da massa, é fundamental fazer uma leitura de paisagem, mais abrangente, compreendendo a formação da consciência crítica e como se forma a esfera e opinião pública.


  • Opinião Pública - (não)


“A esfera pública pode ser descrita como uma rede adequada para a comunicação de conteúdos, tomadas de posição e opiniões; nela os fluxos comunicacionais são filtrados e sintetizados, a ponto de se condensarem em opiniões públicas enfeixadas em temas específicos. Do mesmo modo que o mundo da vida tomado globalmente, a esfera pública se reproduz através do agir comunicativo, implicando apenas o domínio de uma linguagem natural; ela está em sintonia com a compreensibilidade geral da prática comunicativa cotidiana.” (HABERMAS, 2003: 92).


Considerando a imprensa, a mídia, o termômetro e cajado social, é relevante ver à luz da escola de Frankfurt, a maneira que a comunicação interfere e modula a política social. Trata-se de um olhar que vai além da teoria do agendamento (Agenda Setting) mas que consegue observar os discursos serem embalados em uma narrativa que transforma um interesse segmentado (ou até mesmo individual) em patrimônio cultural da massa, interferindo assim nos padrões de comportamento social. A mídia alimenta o que condena para manter-se no fiel da balança de interesses. Com o avanço das plataformas, o ciberespaço e a inteligência coletiva (conforme concebe Levy) tornou-se palco do fazer político, empoderando a comunicação. A organização política ganha assim novas nuances de articulação com as novas plataformas e linguagens de comunicação. A interação social então é contaminada pelo repertório de cada indivíduo, mas elementarmente pelo que considera coletivo, público ou privado; seja o espaço, seja o discurso.


Então emerge, na Era da Informação, a dicotomia entre Opinião Pública e Opinião tornada pública (Publicada). A autonomia da população e sua pública opinião é questionável, uma vez que é orquestrada pela mídia. É possível verificar então um processo de teatralização dos discursos. A opinião pública não existe para Bordieu, pelo menos não como concebem e defendem os meios de comunicação e pesquisa.

Uma das dimensões muito importantes da teatralização é a teatralização do interesse pelo interesse geral; é a teatralização da convicção do interesse pelo universal, do desinteresse do homem político – teatralização da fé no padre, da convição do homem político, de sua confiança naquilo que faz. Se a teatralização da convicção faz parte das condições tácitas do exercício da profissão de clérigo – se um professor de filosofia deve parecer acreditar na filosofia -, é porque é a homenagem fundamental do personagem oficial para com a autoridade; é aquilo que precisa conceder à autoridade para ser uma autoridade, para ser um verdadeiro personagem oficial. O desinteresse não é uma virtude secundária: é a virtude política de todos os mandatários. As escapadelas dos padres, os escândalos políticos são o colapso dessa espécie de fé política na qual todos estão de má-fé, a fé sendo uma espécie de má-fé coletiva, no sentido sartriano: um jogo no qual todos mentem a si mesmos e aos outros, sabendo que os outros também mentem a si mesmos. (Bourdieu 2012)

"Um homem oficial é um ventríloquo que fala em nome do Estado" (BOURDIEU 2012). A comunicação política  deveria atuar como instrumento de esclarecimento e embasamento para a opinião pública escolher os rumos da sociedade. Além de instrumento de argumento para tomada de decisão, a comunicação deveria ser um mediador do diálogo transparente da gestão pública e atuação política com a sociedade. Entretanto, ela funciona como um cabresto de influência com uma narrativa viciada em prol de um personagem e não do público, revelando deste modo um dos riscos de personalizar a política.


A mídia (meio) exerce então poder de controle e não de mediação na sociedade e a política (tudo referente a cidade, civilização e público) cada vez mais se restringe a artimanhas concernentes aos interesses de alguns personagens detentores de poder;poder esse concedido pela massa que o condena. E esse quadro não muda apenas com as recorrentes manifestações e rompimentos cíclicos na história da humanidade, pois eles caracterizam enas a transição de paradigmas como defende Kuhn e sua revolução científica. A mudança almejada no modelamento político da sociedade depende de um processo de “desaprendizado” como defendia Manoel de Barros em seus livros. Buscai as pré-coisas e vislumbrem um novo horizonte debaixo dos pés. Caso contrário, permaneceremos na dança dos títeres. Alternando apenas funcionalidades e paradigmas.

BOURDIEU, Pierre. Fonte: Le Monde Diplomatique – Il manifesto, via micromega Janeiro de 2012 / Tradução: Mario S. Mieli


GEERTZ, Clifford: A interpretação das culturas, Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1989.


HABERMAS, J. Mudança estrutural da esfera pública: investigações quanto a uma categoria da sociedade burguesa. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,1984.

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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Conteúdo Social - as narrativas pulsam


Uma matriz de conceitos rege organizações e até mesmo confunde gestores em uma promessa de êxito de fluxos complexos em busca de transparência, que aparentemente deveria ser o resultado de processo simples. Matriz de risco, sustentabilidade, responsabilidade social, engajamento profissional, territorialidade, compliance, stakeholders, brandend content e tantos outros.

Richard Edelman, referência em Relações Públicas, com graduação e MBA em Harvard, afirma que “Ganhar dinheiro apenas já não é o suficiente; é preciso também melhorar ativamente a sociedade. As organizações têm a obrigação de demonstrar altos padrões éticos e provar continuamente que não estão interligadas de forma indecorosa com líderes do governo”.

Percebe-se que os padrões éticos de uma corporação devem estar refletidos em suas narrativas não de forma engessada, mas de forma que os empregados da empresa absorvam e reproduzam o discurso da empresa se apropriando dele como seu. Brandend Content e as novas nuances midiáticas interferindo ou se adequando ao fluxo social contemporâneo. O modo como as pessoas se relacionam com a comunicação, na geração e absorção da informação e criação de sentidos exige novo modelamento. Em um ritmo frenético entre acessar e produzir conteúdo, o usuário não se permite a intervalos, dar pasto a vista em comerciais. Então o conteúdo de marca surge como possibilidade, mas não pode se estabelecer como no filme O Demolidor (1993 - Dir. Marco Brambilla) onde os jingles (em seu formato original) se tornaram produto cultural, suprimindo conteúdos.

Deste modo, o conteúdo passa a ser o novo subproduto das corporações. Uma espécie de venda casada que impulsiona o consumo, a venda e a absorção da mensagem. A partir de narrativas que remetem à raiz e história relevante para o público alvo, os conteúdos devem ser elaborados a partir da transparência, legitimidade, qualidade e irreverência, para que o indivíduo perceba que se trata de um conteúdo de marca, mas que aquela narrativa apresentada o proporciona uma reflexão ou um dado relevante para seu universo particular. Além de um produto, a moral da história. Por meio do conteúdo de marca a empresa espalha sua missão, vende seu produto e busca se integrar à sociedade de forma igualitária.

O conteúdo de marca amplifica as ideias além dos produtos. Essa narrativa trabalha sobre as premissas Desejo, Necessidade, Vontade; como no final da música dos Titãs “Comida” (1987 - composição de Arnaldo Antunes/Sérgio Brito/Marcelo Fromer).

O marketing então nesse cenário, assim como o jornalismo, se coloca no lugar das pessoas como uma delas, de forma verdadeira, fazendo a diferença na vida das pessoas a partir dessa ambientação. As narrativas são ambientadas, regionalizadas sem perder o link com o macro universo da sociedade. Semelhante foi feito no cinema com o livro de Ismail Kadaré que fala do Kanun, um código de lei de origem patriarcal que prega um loop eterno de vinganças e foi adaptada em Abril Despedaçado (2001 – Dir. Walter Salles) regionalizando a questão que aqui também se encontra. Essa dinâmica, quando aplicada por corporações, alavanca aceitação de conceitos, interfere em comportamentos sociais, dentre eles o consumo, favorecendo venda de determinados produtos.

O jornalismo assim permeia vertentes que podem representar uma nova ordem na organização da profissão e interferência na sociedade. O jornalismo também como instrumento para elaboração de um correto conteúdo de marca, que não se aprisiona na publicidade de convencer, mas no conteúdo de promover reflexão, interferência e poder de escolha; conviver. As narrativas pulsam, perpassam plataformas e linguagens e padrões sociais. Percebem a pessoa como indivíduo e sujeito social. Instigam e acalentam.

Pode-se afirmar então que essa narrativa conduz a interpretação do público, educando-o para relacionar o conteúdo não apenas a uma marca, mas a um padrão social que transcende paradigmas e valoriza ainda a cultura.

Para viabilizar o acesso frenético da geração contemporânea o streaming estabelece um novo modelo de consumo de dados. Milhões se entregam a este serviço como única ferramenta (Netflix 80 milhões de assinantes, Spotify 40 milhões, Apple Music 17 milhões). O streaming é o poder do instante. Vale mais o agora, o “enquanto eu acesso” do que o download. A apropriação do conteúdo muda. Não é preciso ter o arquivo, a informação, o produto, mas poder acessá-lo quando e como quiser. Assim percebe-se como se alastra o perfil colaborativo de mídia, criação e gestão de dados, e também de espaços (ex: escritórios Co-working).

O Youtube está para o mundo o que a Rede Globo foi para o Brasil durante décadas. Janela da realidade. No entanto, a grade livre do youtube é um ciclo que oscila, revoluciona e permite que cada um produza e consuma o que quiser, como quiser de onde estiver. Aparelhos filmam com qualidade, publicam e distribuem dados com rapidez. A produção barata impulsiona lucros.  Todavia, uma nova configuração de cobrança aponta nuances de um mercado jovem (internet) que reorganizou o modo de fazer negócios, de fazer política, de comunicar, de ser sociedade.


Narrativas palpáveis que entregam sentidos e promovam envolvimento. Assim, seja por streaming ou por conteúdo de marca, a comunicação segue atualizando formatos, plataformas e linguagens, alternando padrões e fluxos em busca de interligar seres humanos e mensagens.

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sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Individuus


 

 
A organização social contemporânea impele ao indivíduo um comportamento de egocentrismo. Para coexistir o ator social com esse perfil precisa de público e referência, para então impor suas singularidades, legitimando-as como objeto de consenso ou bem-estar social. Importante considerar a etimologia; do latim medieval individuus (indivisível), que é formado de in + dividuus. O vocábulo dividuus vem de dividere (dividir). O processo de formação de indivíduos compreende interferências da sociedade, ou seja, depende das relações sociais e culturais (variando o grau de intensidade), formando assim a identidade do ator social.

A construção da realidade social passa pelo interesse. Interesse constituído pelas vontades, necessidades individuais, e pelo consenso coletivo subsequente. O sujeito está cada vez mais centralizado como ator social individualizado, interferindo na Rede Social para apenas atender seus objetivos, isso até mesmo quando demonstra nuances de altruísmo. Este aspecto fica latente quando consideramos a leitura que Adorno faz do indivíduo em sociedade, enquanto sujeito, onde por mais que submete-se a fluxos impostos por uma liderança social, ele executa suas escolhas tendo como motivado os próprios interesses, as respectivas singularidades.

A cultura de massa impõe um padrão cultural e um modus operandi da sociedade concebida como um corpo, mas não consegue controlar totalmente os membros deste corpo, sendo os indivíduos os referidos membros. Fato que aponta uma fragilidade e uma força em toda organização social: um membro pode atrofiar o corpo social e corromper a ordem imposta, mas para ser eficaz ele precisa de aliados, formando assim um novo grupo, que precisará de regras gerais consensuais, estabelecendo então um paradoxo, onde para atingir interesse de suas singularidades, o ator social precisa tornar coletivo algo que é individual. O epicentro do conflito neste caso não é o interesse, tampouco o individualismo, mas o controle. O que antes era exercido pela força física, agora materializa-se nas entrelinhas de narrativas midiáticas e na ressignificação dos padrões.

Cada sociedade/grupo social possui seus padrões de saciedade e felicidade. O que outrora foi medido pela saúde, dentes, capacidade física, passou a ser por meio da posse de bens materiais ou mecanismos de poder (Mercado / Autoridade / Mídia / etc.). Assim, a construção da realidade social ultrapassa os aspectos da singularidade do sujeito, pois está ligada à interação dessas singularidades com a paisagem formada por oportunidades e demandas.

A globalização estimulou a integração de padrões territoriais de modo a possibilitar o diálogo de “tribos”, de suas demandas, anseios e oportunidades de saciá-las além fronteiras; considerando demandas e anseios nos aspectos culturais, econômicos, intelectuais, de subsistência e desenvolvimento.

Neste ínterim, a arte e suas diversas concepções, tornou-se instrumento essencial de manutenção dos padrões sociais; tanto para reafirmar quanto para romper paradigmas e sobrepor dogmas. Desta forma, a noção de identidade de um ator social depende de suas singularidades enquanto indivíduo e de sua interação na paisagem social, perpassando pelas influências em “si” dos produtos culturais que consome, acessa ou até mesmo reproduz. Isto pode ser observado nas dinâmicas de apropriação e ocupação territorial e interações consequentes, definindo regras e limites, espaço público e privado. Portanto, percebe-se cada vez mais que identidades culturais volúveis e segmentadas tomam lugar de destaque social ante as identidades culturais tradicionais, fato que evoca mudança na maneira de transmitir a história a gerações futuras.

Faz-se então relevante analisar o “Agenda-Setting” e suas reverberações na organização social, pois assim renovam-se identidades culturais volúveis e respectivos relacionamentos descartáveis. Teoria formulada por Maxwell McCombs e Donald Shaw, o Agenda-setting consiste na hipótese de que a opinião pública considera mais importante em seus assuntos diários os temas que são veiculados com maior destaque na imprensa; sendo que as notícias veiculadas e o foco das narrativas são determinados conforme singularidades de quem detém o controle dos veículos de comunicação ou até mesmo a setores de uma sociedade.

Indivíduos ditos pós-modernos apresentam-se em constante movimento em busca da identidade própria, seguindo tendências, outros repetem a receita dos padrões culturais vigentes e há ainda os de vanguarda, que se constituem solidamente, sendo ainda flexíveis evolutivamente e não volúveis apenas pela efervescência da mudança.
 

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Bias tão nossas


 

Tantas são elas, que controlam nosso corpo, delineiam no horizonte o alcance de nossos braços, o ritmo dos passos e a ousadia dos olhares. Fazem morada no indivíduo a ponto de se confundir com a identidade de quem as possui, ou por elas são possuídos. Entrelaçados a elas buscamos aprimorar o reflexo do espelho sem nos ferir gravemente com os cacos. Bias, tão nossas. Bias nada fofas que dão medo "Medo que dá medo do medo que dá".

As ruas e noticiários têm sido pautados pelas nossas fobias. Lampejos de virtudes, de harmonização social até incitam certo frescor no olhar, mas, no entanto, nossas fobias nos pautam. Seria bom se fosse para refletirmos sobre como vivenciar e transpor as intempéries das fobias; mas o que vemos é o registro das consequências de medos maturados em seres despreparados. Pessoas queimadas, corpos mutilados, redes sociais congestionadas, diálogos violentados, matriz energética estagnada, ciclistas, motociclistas, pedestres e motoristas em vias de guerra, guerra urbana, umbigos gritam em palanques, cidadania encarcerada, relacionamentos dilacerados por um utópico e cruel bem comum, que não vem.

Percebemos a fobia como a expressiva materialização da angústia de um medo; vemos o empoderamento de uma castração psicológica que porventura pode estar em segundo plano na mente do indivíduo, mas que é base para as atitudes quase que automáticas; com consequências que transformam não apenas a identidade e caráter de seu possuidor, mas que reverberam no ambiente e em seu respectivo equilíbrio.

As atitudes provindas delas são recorrentemente um instinto de autopreservação que muitas vezes gera agressão ao próximo. Esse medo de que sua identidade e seus valores percam espaço na organização social, de forma a ter supostamente corrompidas suas virtudes, diminuídas suas articulações políticas e sociais, faz com que o indivíduo rejeite a diferença, obstrua o caminho da diversidade, e levante o estandarte de uma moderna inquisição, onde a intolerância grita e pune contra o outro, contra o plural. Mas a existência do diferente não pressupõe que seja soterrado ou exterminado o outro, na verdade se trata de uma flexibilização de perspectivas. Há espaço e tempo para todos.

"Tienen miedo del amor y no saber amar / Tienen miedo de la sombra y miedo de la luz / Tienen miedo de pedir y miedo de callar / Miedo que da miedo del miedo que da (Miedo - Lenine - composição: Pedro Guerra/Lenine/Robney Assis)"

Dalgalarrondo (2006 - apud Mira y López 1964) apresenta o medo como uma alteração dos aspectos emocionais que desencadeia em escalas até a sua inativação, tomando determinada proporção até que o indivíduo alcance estabilidade. Essa leitura concebe seis fases de acordo com a intensidade e abrangência: 1. Prudência; 2. Cautela; 3. Alarme; 4. Ansiedade; 5. Pânico (medo intenso); 6. Terror (medo intensíssimo). Sendo assim, as fobias podem ser encaradas como medos exorbitantes, descomunais, desproporcionais, atrofiadores. O contato com o objeto de fobia estabelece crise, com profunda inquietação e ansiedade por parte de quem possui a fobia. Neste instante de pânico não há lugar para a razão e sobriedade, mas apenas o raciocínio lógico de se livrar do objeto da fobia, seja impondo distância, fugindo, ou agredindo, tentando extirpar da existência. Neste sentido, é possível estabelecer uma relação preliminar: Fobia – Julgamento (da situação) – Punição (do objeto que causa fobia). Essa punição é materializada na intolerância.

A matéria de capa da Revista Puc Minas (Intolerância – Profunda reflexão sobre atitudes hostis e desrespeitosas que têm marcado o mundo contemporâneo. Ed 13 – 2016) apresenta de maneira contundente como “nossas bias” têm interferido na sociedade por meio de uma intolerância enraizada, que abrange aspectos religiosos, políticos, sexuais e raciais. Intolerância essa verificada em gestos, em vocabulários, conceitos visuais, e ordenamento social, estabelecendo-se como fator cultural. No contra-fluxo das atrocidades humanas está o processo de renúncia e denúncia. Denúncia por meio de multiplataformas (oficiais ou não) e renúncia (por meio de movimentos de contracultura) a um padrão de comportamento que só nos distancia do famigerado mundo melhor.

O que seu medo te impulsiona? No que ele te castra? Como ele torneia sua personalidade? Medo ou fobia de insetos, de situações, de ambientes, de sensações, de cheiros, materiais, de sons e até mesmo de sabores. Uma breve pesquisa na internet e você encontra listas de fobias (cada um que até impressiona existir). Contudo, assustador é observar e presenciar como os desdobramentos do medo da diferença, o medo de não controlar e sim ser parte integrante de um grupo social, traçam a realidade. Desdobramentos que podemos resumir em fobia de pessoas. Homofobia, Heterofobia, Transfobia, Politicofobia e polifobias possíveis. Bias traiçoeiras, desde o modo como se instalam na sociedade, até a estratégia de disseminação e ideais para contaminação de novos adeptos. Que as fobias recorrentemente trabalhadas no agenda setting possam nos provocar a uma efetiva melhoria, a partir de pensamentos consonantes para aceitação do plural, contribuindo para uma evolução continuada do modo de perceber a vida e se integrar à paisagem, relacionando uns com os outros sem se perder em utopias, mais ainda assim permitindo sonhos que libertem-nos das bias e elas de nós.

 
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sábado, 30 de abril de 2016

Listas de listas




Listras de conhecimentos listados em linhas, rankings, especulações da felicidade e facilidades contemporâneas. Resoluto, o cidadão tropeça nas listas de jornais e revistas, compartilha em redes sociais e se liberta ao criar as próprias listas. Seja dica de autoajuda, profissional, espiritual, Cultural, sexual, de presentes, de futilidades, de doenças, de mortos, de indicadores econômicos, de desenvolvimento, de técnicas de se alcançar o desejado, … as variáveis são tantas que complica até listar aqui.
Este mecanismo de requentar assuntos em pautas frias e instigantes ao leitor de “rapidinhas” extrapolou a mídia e as rodas de bate papo e se tornou a nova narrativa do mercado editorial. Livros e veículos de comunicação utilizam desse atributo soterrando o leitor de informações que muitas vezes ele nem entende a finalidade de estarem reunidas em uma lista.
 
Muitas servem de acalento a editores e leitores, uma vez que preenchem  lacunas nas páginas e nas vidas. Impressiona como este artifício está incrustado na narrativa contemporânea. E são atrativos, pois os leitores estão atarefados e com o tempo escasso para se dedicar a uma leitura extensa. Desse modo, as listas são algo que permitem ao leitor se inteirar sobre um assunto específico sem ter de dispensar muito tempo para a leitura. Basta ler os 15 elementos do homem moderno, as 5 Dicas para aumentar a motivação à segunda-feira, os 10 Passos para estar sempre informado, as 7 estratégias para ser uma pessoa interessante e por aí vai….
 
Listas sobre tudo. As músicas para trabalhar, para amar, para chorar, para escrever, para ler… Os melhores filmes de amor, as melhores cenas de desilusão, as palavras mais buscadas na Internet, as cores mais usadas em uma entrevista de emprego, o que não deve se dizer no primeiro encontro, o guia das preliminares do gozo perene, os tópicos essenciais para a preservação da espécie, as palavras menos ouvidas quando se quer um abraço, as pegadas da riqueza, as migalhas do abismo, físico, quântico emocional.
 
O que antes era complementação de uma pauta, um infográfico para atenuar o texto, agora é o próprio texto e cobre toda uma pauta. O processo composto de  Produzir e consumir informação sofre as costumeiras interferências do tempo, da evolução das plataformas e da maneira das pessoas se relacionar com tudo e todos. Assim, cada qual elege em seu sistema de relevância os indicadores que determinam sua dinâmica de consumo / produção de conteúdo. Neste sentido, ao transitar pelas narrativas, o olhar do leitor é fisgado por uma lista que o atualize, que o livre do estresse do dia a dia, que o proporcione risada, um alívio ou o preparo para o porvir. Então, liste suas amarguras ao lado de suas esperanças, trace um infográfico com seu sonhos e reveja como se definirão suas escolhas, sejam elas politicas,  sociais, espirituais, emocionais ou culturais.
 
 

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Onomatopeia da vanguarda


As pessoas seguem compartilhando códigos, o emoji se instala em todos os diálogos. Abreviações das narrativas, significação dos sentimentos e pensamentos como era no princípio agora também no fim(?) mas com direito a backup digital.

O contexto é a codificação essencial para viabilizar a plena comunicação (garantindo reverberar o conteúdo e possibilitar a interpretação das mensagens). A contextualização passa, essencialmente, pela utilização de mecanismos tradicionais de narrativa: Texto ou fala. Dessa forma é possível a ambientação de linguagem.

Considerando as nuances de um diálogo pleno tão buscado em relacionamentos pessoais e corporativos; qual o emoji do silêncio? Esse aspecto tão importante no diálogo, permitindo absorção de ideias, organização de argumentos, respiro e retomada de interação. Concebendo aqui o diálogo pleno como aquele que possibilita diversidade de vozes e silêncios.

O novo encanta à medida que também assusta. Ele liberta, agiliza, conforta, tanto quanto acomoda e atrofia. As pessoas entregues às novas plataformas de comunicação recorrentemente se abstém de premissas elementares para o processo de comunicação. Desse modo não há um desenvolvimento estrutural das relações e dos diálogos, mas apenas uma mudança no fluxo das mensagens, em volume, forma e intensidade; sendo que o conteúdo, suas interligações e reverberações desconsideradas e eximidas de qualquer ação de planejamento.

Esse planejamento estratégico não precisa ser apenas algo macro, com antecedência, mas também algo específico e instantâneo; em pílulas. Para isso, o indivíduo precisa ter um repertório e sistema de relevância que o capacite a fazer esta análise.

As organizações, ao se instalarem em uma comunidade, pouco se atêm em pensar no legado a ser construído naquele ambiente. A visão de futuro contempla a perenidade econômica e produtiva do empreendimento e não os aspectos sociais pertinentes a um processo de relacionamento e comunicação sustentáveis. Quando abordam a área social, as empresas buscam mitigar impactos de sua atividade e não fazem uma leitura sincera e real da paisagem, identificando as demandas e oportunidades de ação.

O transitar a margem e o epicentro das narrativas precisam ser constantemente considerados na manutenção dos processos de comunicação, gestão pública, relacionamento institucional e ordem social.

A escritora Alexia Clay, ao afirmar que as respostas para crises globais e locais podem estar em quem não se encaixa no ambiente, ou seja, na inquietação, reforça a visão de Albert Camus e sua visão do estrangeiro. O estrangeiro traz no seu olhar o equilíbrio e a solução para as circunstâncias. Pois ele consegue observar o sistema, seus fluxos, brechas e contrafluxos. Assim, é possível uma intervenção que possibilite ruptura e desenvolvimento estrutural. Neste ínterim, importante ressaltar que todos podem ser estrangeiros. Esse desajustado em relação ao sistema vigente, ao causar interferências e contribuir na superação das crises (sociais, políticas, econômicas e de comunicação) participa simultaneamente do estabelecimento de um novo modus operandi. Dessa forma, os desajustados tornam-se ajustados, a serem sobrepostos ou questionados em um novo cenário de crise, por novos estrangeiros (ou desajustados) que podem tanto acrescentar algo novo, quanto resgatar o que era dantes.

Contudo, ao observar as tentativas (às vezes espontâneas) de modernizar os processos de comunicação e relacionamento social e institucional a partir de novas plataformas, percebe-se que as mensagens recaem sobre a utilização dos mesmos mecanismos: códigos infográficos que carregam um significado interligado ao perfil referencial de um grupo social ou uma massa de usuários.  Esses novos hieróglifos que marcam as mensagens usadas pelas pessoas e até mesmo testadas por empresas anseiam ser a onomatopeia de uma vanguarda que não chega, mas que não pode deixar de ser buscada, uma vez que o processo de busca possibilita a evolução.
 
Publicado também em: http://obviousmag.org/rumos/