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segunda-feira, 7 de maio de 2018
accumbens
O epicentro da movimentação humana. Parte da área do cérebro responsável pelo sistema de recompensa, sensação de prazer. As obsessões e apatias humanas estão relacionadas a como está a saúde e utilização deste local em nosso cérebro. Biologicamente necessário para motivar o ser humano a exercer, pelo prazer, atividades que garantem a sobrevivência (comer, movimentar, reproduzir e etc).
Núcleo Accumbens; Durkhein adoraria passear conscientemente por ali, para traçar como a sociedade modula sistemas, comportamentos, padrões e paradigmas.Parafrasear a sociedade líquida de Bauman e o estandarte dos pernósticos sociais em ser engrenagem julgando-se serem a chave mestra desta grande trama.
A saciedade buscada incessantemente extrapola as necessidades de subsistência das pessoas e alcançam um patamar de tortura social que se perpetua no automatismo, se dissemina no mimetismo evolutivo do passar das gerações. No entanto, os tempos no tempo são um desafio no equilíbrio do conflito das gerações.
A sociedade incompreende a percepção de tempo do outro, estabelecendo assim julgamentos de "atraso", "adiantado", "na hora certa". O conflito de gerações poderia ser amenizado se cada qual compreender como percebe o tempo e como o outro o concebe para assim coexistir no espaço tempo, interagindo nas diversidades.
Refletir sobre os paradigmas é mais que romper para estabelecer outros, ou questionar para subverter o que rege as relações sociais. A Reflexão mencionada aqui evoca uma madura reestruturação do modo como lidamos com o ambiente interno e externo do indivíduo, e como estabelecer integrações entre os padrões e paradigmas sem impor, mas conciliar. A motivação reordenada a partir da reflexão madura pode ser útil para viabilizar a vida em um planeta onde recursos naturais têm sua disponibilidade comprometida, e a proporção de habitantes (mais de 7 bilhões) com o acesso e disponibilização de recursos preocupa. A famigerada evolução da profanada raça humana pode conter uma chave de retomada, um núcleo que se aprimorado, pode fazer do transcendental uma realidade. Seras tu Accumbens?
sexta-feira, 13 de abril de 2018
manifesta
A humanidade define os verbos que movem seus ventos. Os indivíduos repetem sozinhos tais verbos até sentirem-se seguros de os fazerem reverberar na sociedade. Agredir. Romper. Sacudir. Convencer. Obter. Amar.
Manifestar. O metro quadrado
variável. Manifestantes tem um número, autoridades tem outro. As imagens
revelam trupes, os ares confundem no vento os objetivos. Estilos, ideais, ideias. Tudo se defende, todos se ofendem. Um "demo" do processo democrático a cada esquina. As praças ocupadas, as redes sociais
soterradas. O mundo tornou-se cansativo em um cenário de manifestações
estruturadas como desfiles de escolas de samba. Depois que a banda passa fica a
sujeira nas ruas, o cheiro da urina, os estilhaços, as manchas de tinta, de sangue, o custo (público ou privado) de se restabelecer o ritmo da sociedade até a
próxima manifestação. A desordem das palavras, o desencontro das pessoas, o
desencanto. Os sentimentos suprimidos a orelhas de livros, a recadinhos de um
instante, um toque dos dedos na tela, um emoticon que esconde nosso rosto.
A manifestação muitas vezes ignora os
caminhos efetivos e formais de provocar a mudança necessária, e invoca ânimos
para evocar o caos numa estratégia de “resetar”
o sistema contra o qual manifesta. Ansiamos atalhos, tal qual o lobo mal. Mas os protagonistas desconsideram o mar de variáveis
para alcançar os objetivos por estes meios. Desconhecem um modo eficaz de
caminhar pela burocracia da formalidade e assim provocar as mudanças. Assim,
decidem então pela ruptura brusca, o restart a partir das manifestações, dos
bloqueios, do caos. O diálogo da gritaria, para romper a apatia de quem não deseja tomar em mãos bandeiras. Engraçado, mas quando se verifica o quê financia o quê, percebe-se que nunca são os opostos a brigar, mas os aliados em tempos diferentes. As ranhuras da sociedade acobertam as conveniências das vozes e narrativas.
Em uma onda de manifestar a indignação sobre tudo, até sobre a nata do leite, esquivamos de manifestar o amor, o equilíbrio, a aceitação das diferenças e a busca por soluções cordiais aos intermináveis conflitos de interesses. Vasto o mundo é, mas o ponto que todos desejam ocupar cabe poucos; o poder de controle. O epicentro, precisamos aprender muito ainda...
quinta-feira, 6 de julho de 2017
Organização Social - nuances
A
hipótese do perfil de ocupação geográfica ou perfil cultural de uma nação, por
muito tempo foram utilizados para definir aspectos de pobreza e prosperidade;
estabelecendo parâmetros para avaliar o índice de fracasso de um povo. As
regularidades comportamentais que regem a forma de organização da sociedade estabelecem
seus padrões tendo como base o senso de preservação e sobrevivência. Padrões esses materializados por meio de
atitudes instintivas ou culturais.
Neste
ínterim, emergem na seara da filosofia social o darwinismo social e sua
interpretação da sociedade sob o viés das leis de evolução das espécies
biológicas, como instrumento de explicar a sociedade e suas transformações,
transições de paradigmas e padrões.
A organização social contemporânea impele ao
indivíduo um comportamento de egocentrismo. Para coexistir o ator social com
esse perfil precisa de público e referência, para então impor suas
singularidades, legitimando-as como objeto de consenso ou bem-estar social.
Importante considerar a etimologia; do latim medieval individuus (indivisível),
que é formado de in + dividuus. O vocábulo dividuus
vem de dividere
(dividir). O processo de formação de indivíduos compreende interferências da
sociedade, ou seja, depende das relações sociais e culturais (variando o grau
de intensidade), formando assim a identidade do ator social (VIEIRA, Rudson.
2016. http://passocomunicacao.blogspot.com.br/2016/12/individuus.html acessado em
28/06/2017).
O
efeito em cadeia da Revolução Industrial, responsável por parte do
desenvolvimento da sociologia nas ciências sociais, segue interferindo na
configuração social, impulsionado pela globalização. Avanços tecnológicos ditam
não apenas o comportamento social, mas principalmente os parâmetros de desenvolvimento
da nação e os respectivos mecanismos de controle da massa. "O motor das
transformações tecnológicas, em todos os segmentos da economia, era a inovação,
encabeçada por novos empreendedores e homens de negócios ávidos por aplicar
suas ideias" (ACEMOGLU E ROBINSON: 2012 P.40).
As desigualdades mundiais, todavia, não podem
ser explicadas pelo clima ou doenças, nem qualquer outra versão da hipótese
geográfica [...] A história demonstra a inexistência de ligações simples ou
duradouras entre clima ou geografia e êxito econômico. Por exemplo, não é
verdade que os trópicos tenham sido sempre mais pobres que as latitudes
temperadas. (ACEMOGLU E ROBINSON: 2012. P. 56 e 57).
Uma
observação sobre o Iluminismo (filosofia das luzes) e a intensa busca pela evolução
através do questionamento e percebe-se uma sociedade que é regida por alguns
mecanismos de controle como o medo, a dependência, o limite de acesso. Os
instrumentos reguladores desses mecanismos eram a espiritualidade, informação /
conhecimento e a sobrevivência.
Clifford
Geertz já bordou certa vez a respeito de como correntes teóricas que tentaram
perfilar o ser humano e seus costumes a partir de uma correlação com fatores
biológicos, psicológicos e sociais e também culturais, acabaram por definir uma
concepção estratigráfica, em busca das constantes universais. No entanto, a
sociologia, ao surgir e se fortalecer no século XVIII, consistiu em uma ciência
para descobrir as leis do progresso e desenvolvimento social além dos dogmas
pré-estabelecidos. Observar o indivíduo imerso e simultaneamente isolado das
constantes universais para ter então uma leitura apurada da realidade, paisagem
a qual marca a história da civilização.
Durkheim
buscou em sua abordagem sociológica fatiou a sociedade de forma a buscar um
entendimento a respeito do que constitui o fato social. A análise do movimento
de inércia social e rompimento do mesmo, levou Durkheim a correlacionar as
mudanças abruptas na rotina do indivíduo, ou a ausência de algum tipo de
mudança, resultava no colapso do indivíduo enquanto ser social, imputando a ele
um estado de apatia controlada, sucumbindo ao suicídio, físico ou social. Sua
leitura da sociedade a partir da Divisão do trabalho social, busca compreender
as responsabilidades e deveres de cada integrante do grupo, buscando conceber
uma sociedade que exista dentro e fora do indivíduo. O consenso, fiel da
balança de uma sociedade igualitária, almejado por Durkheim em sua concepção sociológica revelou-se uma
utopia uma vez que a história das nações revela um campo controverso. A visão
sociológica de Durkheim partindo das implicações e determinações individuais em
consonância com as construções sociais, busca delinear a organização da
sociedade, suas anomalias e seus rumos. A mensuração e atestado empírico de
suas observações acerca da sociedade, dava a Durkheim um panorama de como o
homem além de contribuir na formação da sociedade, ele também se constitui como
um produto dela.
Em
sua obra, Durkheim aborda o Estado como órgão e o instrumento de uma nova
sociabilidade, protegendo e regendo a sociedade rumo a um desenvolvimento.
Considerando sua argumentação de que o indivíduo possui duas consciências
(Individual e Coletiva) pode-se verificar pelo contexto social, que o populismo
e neopopulismo atacam a consciência coletiva e a manipulam a partir de nuances
percebidas de uma consciência individual adormecida.
Em
Weber, sua abordagem sociológica tem ênfase na ação social. Creditando poder à
conduta do grupo (social) sobre a do indivíduo. Sua sociologia compreensiva ou
interpretativa busca compreender as ações do indivíduo como parte da
constituição da realidade social. O motivo das ações, chamados Tipos Ideais,
são os instrumentos de compreensão da realidade, mas em si não fazem parte
dela. O sujeito social, como fruto da sociedade que o indivíduo contribui na
construção, não pode ser compreendido em sua totalidade, tampouco a realidade.
Embora caminhe sobre conceitos e percepções subjetivas, Weber propõe uma
metodologia que consiga atingir de forma objetiva a leitura social sobre o
indivíduo e sua formação enquanto sujeito social (produto da sociedade).
Trata-se de uma ciência embasada na realidade, que não se restringe a padrões
fixos dos fenômenos e do tipo ideal. Neste cenário, a finalidade das ações
sobrepõe a relevância de suas consequências. A ação dos indivíduos é analisada
de forma contextualizada, conforme recorte definido de parâmetro de análise.
Atrocidades
da história humana aconteceram não apenas pela alienação em uma ideologia e
intencionalidade de ser cruel com seus semelhantes e divergentes. Mas pode-se
perceber que adventos como o holocausto, submissão a regimes ditatoriais,
aceitação de um determinado sistema político e organização social se dá por
meio do que vulgarmente se chama de efeito
manada. Trata-se da Conformidade Social. O comportamento de obediência ao
grupo dominante.
Cada sociedade funciona com um conjunto de
regras econômicas e políticas criadas e aplicadas pelo Estado e pelos cidadãos
em conjunto. As instituições econômicas dão forma aos incentivos econômicos:
incentivos para buscar mais educação, para poupar e investir, para inovar e
adotar novas tecnologias, e assim por diante. É o processo político que
determina a que instituições econômicas as pessoas viverão submetidas, e são as
instituições políticas que ditam como funciona esse processo. Por exemplo, são
as instituições políticas de uma nação que estabelecem a capacidade dos
cidadãos de controlar os políticos e influenciar seu comportamento – o que, por
sua vez, define se os políticos serão agentes dos cidadãos, ainda que
imperfeitos, ou se terão a possibilidade de abusar do poder que lhes foi
confiado, ou que usurparam, para fazer fortuna e agir em benefício próprio, em
detrimento dos cidadãos. As instituições políticas incluem Constituições
escritas − mas não se limitam a elas − e o fato de a sociedade ser uma
democracia. Compreendem o poder e a capacidade do Estado de regular e governar
a sociedade. É igualmente necessário considerar de forma mais ampla os fatores
que determinam como o poder político se distribui na sociedade, sobretudo a
capacidade de diferentes grupos de agir coletivamente em busca de seus
objetivos ou impedir outros de atingirem os seus. (ACEMOGLU E ROBINSON. 2012.
P.50)
O
marxismo e sua divisão de classes como mecanismo de análise social e definição
de parâmetros das relações sociais estabeleceu uma nova vertente na sociologia.
Com argumentos focados na divisão do trabalho e a valorização do produto e do
modo de produção, bem como da força de trabalho, o marxismo buscava um
equilíbrio entre as classes sociais a partir da entropia, conflito e posterior
harmonia, que, no entanto, revelou-se como tendência a inversão dos papéis; uma
vez que o empoderamento do trabalhador e sua libertação dos padrões de produção
controladores, o faz se tornar um novo empregador, porventura, sem a devida
capacitação, mas apenas o estímulo. Este fato, impulsionado sem a devida
estruturação de mudança, impacta no mercado, afetando lucros, sistemas de
produção e de consumo, interferindo na sociedade de forma negativa.
O
Comunismo implantado foi uma ideologia deturpada, focada no embate privado x
público. Marx defendia não o fim da propriedade privada, mas o fim da
propriedade burguesa; defendia que o homem livre teria mais tempo para ser do
que para ter. Para isso, ele defendia 10 medidas para concretização de uma
sociedade comunista, a ser estruturada gradativamente. Contudo, a burguesia quer manter as coisas
como estão, o proletariado quer deixar
de ser proletariado sem ter claramente definido o que deveria se tornar. O
cálculo da mais valia oscila conforme o volume do capital, que varia de acordo
com o perfil de modernização do processo de produção, que por sua vez depende
do apetite a investimento da burguesia, controle e aceitação junto ao
proletariado.
A
cultura de massa, então consolidada e difundida pela Escola de Frankfurt
abordou uma teoria crítica da sociedade onde o todo era analisado a partir de
recortes específicos, condicionados a experimentos comportamentais, para se
compreender os mecanismos da opinião pública, sua formação, representação e
controle.
A
sociologia é multifacetada. Seja no viés do Funcionalismo, Neofuncionalismo,
Fenomenologia, Estruturalismo, Etnometodologia, Hermenêutica, Sociologia da
Ação, Individualismo Metodológico; todas ideias surgidas diante de um colapso,
crise do pensamento sociológico na contemporaneidade. O pluralismo das novas
sociologias ampara-se na historicidade das nações como ferramenta de leitura da
sociedade, cada uma com suas especificidades. Contudo, este amparo na
historicidade gera um historicismo que considera as ações dos indivíduos dentro
do contexto social. Importante considerar também a sociologia Figuracional, de
Norbert Elias, onde as consequências ou resultados não almejados, decorrente
das relações sociais, são o instrumento de análise e trabalho.
O
individualismo, onde a sociedade é atendida pelo indivíduo, sendo ela a
consequência da existência e interação dos indivíduos, busca compreender a
sociedade a partir do contratualismo, esse estruturado em tradições e valores.
Assim, o indivíduo se constitui sujeito social, cria e interfere na sociedade.
Na visão do holismo metodológico, o fato social ganha relevância como
instrumento que interfere, exercendo coersão sobre os indivíduos. Assim, o ser
seria modelado pela sociedade, que já teria sua própria regra de coexistência.
Em
um cenário plural de análises sociológicas da sociedade, a oposição entre nível
de recorte (macro ou micro) polariza-se entre o coletivismo metodológico
(holismo) praticado por Durkheim e Marx, com análise macro dos adventos
sociais, relações sociais e constituição dos indivíduos. Esta análise
norteia-se pela compreensão das coletividades e suas correlações com o
indivíduo. De outro lado, o individualismo metodológico, onde a realidade é
interpretada a partir do repertório individual, sob perspectivas restritas de
cada indivíduo não enquanto sujeito social (integrado à coletividade), mas em
separado.
Nas
análises macro, é importante considerar as interferências das tradições e dos
valores sociais sobre o sujeito. As tradições (coletividades consensuais
consolidadas pela historicidade), mesmo dotadas de valores e mecanismos de
controle, não determinam em plenitude o comportamento dos indivíduos. Martins
(2008. P 205.) aborda como a tradição e valores diferenciam-se na interação com
o indivíduo e constituição de seu comportamento.
A
sociologia conduzida pelo viés que transite entre o macro e micro (considerando
o número de indivíduos envolvidos nas respectivas análises) seria o ideal para
traçar estratégias de intervenção e evolução a partir da leitura aprofundada do
território e das relações inerentes. Neste sentido, as análises dos elementos
em uma dimensão micro não devem significar uma leitura reducionista, mas sim
mais detalhada do que vem a delinear o indivíduo, seu comportamento e
respectivos desdobramentos, de forma a interagir com as análises macro para
recriar as estruturas sociais possibilitando melhor significação da sociedade.
Desta
forma, a metodologia para compreender o universos societário, o que e como o
constitui e os rumos possíveis e intervenções necessárias, não deve estacionar
seu modus operandi em uma única
vertente, mas na integração e correlação das abordagens (mesmo as de caráter
oposicionista) para então se construir uma versão do entendimento social que
seja aplicável á paisagem de forma dinâmica, orgânica, viva. O paradoxo dessa
hipótese e respectiva dualidade é portanto o caminho acessível da compreensão
das relações dos indivíduos com o contexto social e de que forma as interações
alteram tanto os indivíduos, seus comportamentos enquanto sujeitos sociais e a própria
sociedade.
ACEMOGLU E ROBINSON, Daron e James A.
Por que as nações fracassam: as origens do poder, da prosperidade e da pobreza.
Tradução Cristiana Serra. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
DURKHEIM, Émile. Lições de Sociologia
– a Moral, o Direito e o Estado, 1969 - Editora da Universidade de São Paulo,
2ª edição.
FERREIRA, Roberto Martins. Popper e os
dilemas da sociologia. São Paulo: Annablume; Fapesp, 2008
GEERTZ, Clifford: A interpretação das
Culturas. Rio De Janeiro: Ed Guanabara, 1989.
(VIEIRA, Rudson. Individuus. 2016.
Disponível em http://passocomunicacao.blogspot.com.br/2016/12/individuus.html
acessado em 28/06/2017).
domingo, 4 de junho de 2017
Tensão Superficial
A
Política Externa e suas interfaces
A
partir da leitura da realizada pela abordagem de Zygmunt Bauman, onde a
modernidade revela uma sociedade líquida, podemos expandir o olhar e refletir
acerca da percepção dos movimentos da organização social. A liquidez da
sociedade, seus conceitos e suas relações, atribuem ao indivíduo uma nova
vertente de comportamento e de busca para alcançar um estado de harmonia. A
perenidade já não é mais um estado viável, pois segundo Bauman, "Nada foi
feito para durar", tudo então é transição. A referida transição, segundo a
liquidez de Bauman se ampara no desejo individual extrapolado para o coletivo. Um bom vinho e as armas adequadas para degustar a líquida sociedade.
Diante
de um mundo líquido, onde cada um é potencial produtor e reverberador de conteúdo, é preciso ter muita maturidade ao se
falar de política e não apenas ter o vigor da paixão. O ser humano, animal
político e social, não pode confundir esta vocação de sociabilização (por meio
da política) com paixão, desejo íntimo de saciar-se. As intermitências da ética
materializam os lapsos humanos em defender os interesses íntimos travestidos de
bem comum e bem-estar social. A história das nações e seus ciclos de poder
revelam como cada vez mais a sociedade sofre com os abalos da moral humana.
O “derretimento
dos sólidos”, traço permanente da modernidade, adquiriu, portanto, um novo
sentido, e, mais que tudo, foi redirecionado a um novo alvo, e um dos principais
efeitos desse redirecionamento foi a dissolução das forças que poderiam ter
mantido a questão da ordem e do sistema na agenda política. Os sólidos que
estão para ser lançados no cadinho e os que estão derretendo neste momento, o
momento da modernidade fluida, são os elos que entrelaçam as escolhas
individuais em projetos e ações coletivas – os padrões de comunicação e
coordenação entre as políticas de vida conduzidas individualmente, de um lado,
e as ações políticas de coletividades humanas, de outro (BAUMAN, 2001, p. 12).
Na leitura da sociedade líquida, percebe-se um ponto de tensão
determinante para a organização social. As relações Internacionais e devidos
desdobramentos. A política externa transita pela tensão superficial da
sociedade.
A Tensão Superficial é o fenômeno físico pelo qual passa todos os
líquidos. Este fenômeno consiste na formação de uma espécie de membrana
elástica em suas extremidades. Trata-se da tendência de todas as moléculas do
líquido a se compactarem em direção ao centro de massa, pois existe sempre uma
resultante em todas as moléculas que aponta para o centro, de forma que criem a
superfície externa de menor área possível, uma vez que todo sistema mecânico
tende a adotar o estado de menor energia potencial.
"A
tensão superficial da água é resultado das ligações de hidrogênio, que são
forças intermoleculares causadas pela atração dos hidrogênios de determinadas
moléculas de água (que são os polos positivos (H+)) com os oxigênios das
moléculas vizinhas (que são os polos negativos (O-)). No entanto, a força de
atração das moléculas na superfície da água é diferente da força que ocorre
entre as moléculas abaixo da superfície. Isso ocorre porque essas últimas
apresentam atração por outras moléculas de água em todas as direções: para
cima, para baixo, para a esquerda, para a direita, para a frente e para trás.
Isso significa que elas se atraem mutuamente com a mesma força." (FOGAÇA).
A política externa dinamizou-se para além das negociações de fronteiras
e gestão de recursos naturais (fontes de energia e alimentação) para um jogo
politizado, com viés de relacionamento democrático e igualitário, tendo
midiatizada a política externa. Trata-se de uma caminhada sutil pela tensão
superficial da realidade e fundamentos da sociedade. Desta feita, faz-se
primordial refletir sobre o Estado e sua filosofia de relacionamento
internacional.
A ordem mundial e a famigerada disputa de ideologia de Estados
dominantes. As relações internacionais, para a constituição e manutenção de uma
ordem mundial passam pelo diálogo e debate de anseios e posições de cada Estado
dominante. Considerando aqui Estado Dominante, a nação detentora de poder de
interferência no mercado mundial seja por controle de recursos naturais,
materiais, bélicos ou humanos. Os exemplos perpassam as cadeiras da Organização
das Nações Unidas (ONU) e hasteiam bandeiras pelo globo.
Importante considerar então, o modo como os sistemas alternam entre o
idealismo, estabilidade hegemônica e o realismo. Sob o viés da teoria da
estabilidade hegemônica, a estabilidade buscada em escala global está atrelada
mediante os regimes e decisões arbitrárias. Uma potência ou Estado dominante
assume uma posição de liderança mundial e determina as práticas e diretrizes
aceitáveis para o relacionamento internacional. Entretanto, quanto maior o
regime hegemônico, mais complexo os mecanismos de controle e garantia de
cumprimento dos interesses soberanos. Desta feita, a potência, para obter
estabilidade social, deve estar sempre no poder global, sendo reconhecida, por
consenso (O consenso vem da divergência e processo de diálogo.) ou submissão,
como regente da organização mundial, determinando limites e liberdades. O
Estado então é concebido a partir do respectivo potencial de monopolizar a
nação e o mercado de forma coercitiva. Para se manter, o Estado deve entender e
formar blocos de aliança onde o poder é controlado, para assim não ser
destituído por outro Estado dominante.
Evoluindo neste cenário, a teoria realista coloca o Estado como o
epicentro das decisões. Neste contexto, partindo da concepção de que as
relações internacionais são, por natureza, conflituosas, o Estado cerceia o
conceito e prática de democracia no ambiente interno das respectivas nações,
bem como o deturpa no cenário mundial. Instaura-se assim, a guerra como
instrumento de se estabelecer a paz. Trata-se de uma medida dos Estados para
maxização de poder e soberania ideológica. Assim, o processo conflituoso de
sobreposição de poderes propicia o caos social. Princípios éticos no pensamento
realista perdem espaço para a instintiva busca por sobrevivência (seja física
ou ideológica), logo, conflitos são estabelecidos e atrocidades tidas como
processo necessário. Trata-se de viver o mundo que se encontra e não o que se
deseja.
Contudo, o idealismo propõe uma sociedade igualitária em poder de voz,
onde a estabilidade seria construída pelo diálogo e não pelo confronto e
agressões. O bem coletivo é o norte das decisões de forma a construir a ideia
de uma moralidade internacional de cooperação. Nesse sentido, são defendidas as
liberdades individuais e o Estado não tem poder arbitrário para agredir valores
sociais e cometer abusos de poder. Os conceitos e relações sólidas de uma
sociedade padronizada sofreram as interferências dos novos tempos, e sua
operacionalização sucumbiu a uma perspectiva alternativa.
O “derretimento dos sólidos”, traço permanente da modernidade, adquiriu,
portanto, um novo sentido, e, mais que tudo, foi redirecionado a um novo alvo,
e um dos principais efeitos desse redirecionamento foi a dissolução das forças
que poderiam ter mantido a questão da ordem e do sistema na agenda política. Os
sólidos que estão para ser lançados no cadinho e os que estão derretendo neste
momento, o momento da modernidade fluida, são os elos que entrelaçam as
escolhas individuais em projetos e ações coletivas – os padrões de comunicação
e coordenação entre as políticas de vida conduzidas individualmente, de um
lado, e as ações políticas de coletividades humanas, de outro (BAUMAN, 2001, p.
12).
A descentralização dos polos com o fim da Guerra Fria instituiu no
cenário mundial uma horda de nações emergentes e mercados instáveis em termos
de produção, consumo e sustentabilidade.
A gestão de território tornou-se ainda mais complexa sem as bandeiras
ideológicas regendo as relações internacionais. As grandes promessas econômicas
(países emergentes) configuraram uma alternativa ao mundo organizado segundo os
padrões do Estado Dominante Americano (EUA). Destaque especial para a China,
que se tornou o principal parceiro comercial bilateral (maior importador desde
2009), como afirmou Jim O’Neill (Chefe de gerência acionária do grupo
financeiro Goldman Sachs – que cunhou o termo BRICS - acrônimo referente Brasil,
Rússia, Índia e China). Os BRICS detêm mais de 21% do PIB mundial, formando o
grupo de países que mais crescem no planeta.
Durante
os últimos vinte anos, a política externa virou um dos principais campos de
batalha entre PT e PSDB, os dois polos que se elegeram pelo voto popular para a
presidência da República. Poucas políticas públicas foram tão polarizadas e
controversas. De um lado, os petistas enxergaram no governo Lula a diplomacia
mais arrojada. Com sua política externa ativista, Lula teria elevado a posição
do Brasil à de grande potência emergente. Segundo essa visão, FHC representaria
o exato oposto: a capitulação de uma elite entreguista à hegemonia dos Estados
Unidos. A cena que esse grupo gosta de reprisar é a do último chanceler tucano,
Celso Lafer, tirando os sapatos para uma revista de segurança em aeroportos
norte-americanos. Do outro lado do ringue, encontram-se os tucanos, para os
quais o presidente-sociólogo teria normalizado as relações com o mundo, tirando
o Brasil do isolamento acumulado nos anos de ditadura militar e de atraso
econômico. Para eles, a diplomacia petista seria uma função da vaidade
prepotente de Lula e sua equipe. Em ninho tucano, a cena em reprise é a de Lula
em Teerã, punho no ar, desafiando as grandes potências num abraço com o
presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. (FELLOW e SPEKTOR. 2016 P.18)
Neste novo cenário, nações formam
missões (de iniciativa privada e poder público) para defender interesses de
setores e vetores de desenvolvimento na busca por mercado e integração. As
recorrentes missões do Governo Brasileiro em visita a países Asiáticos (Ex:
Japão) reforçam esta observação. Acordos
de Cooperação e Protocolo de Intenções tornaram-se corriqueiro instrumento de
formalização da política externa. No Brasil, assim se busca investimento estrangeiros
e apoio político e tático nas relações comerciais (na medida em que decisão da
AGU em 2010 sobre a LEI No 5.709, DE 7 DE OUTUBRO DE 1971, restringe a ocupação
do capital estrangeiro no território tupiniquim na intenção de resguardar a
soberania nacional; cerceando assim o investimento do capital estrangeiro).
O
sistema político mundial está sofrendo os efeitos da perda de credibilidade e
confiabilidade da opinião pública referente aos políticos. Assim, percebe-se
uma horda de personagens da iniciativa privada, que até então atuavam no meio
político como articuladores e financiadores, assumindo papéis políticos, para
realizar gestão pública. Cidades, Estados e Países (EUA), elegem e creditam
mudança a ícones da inciativa privada. Dentre os vários riscos envolvidos, está
o de gerar conflitos de grandes proporções, em função de um choque de
linguagens. Se a iniciativa privada, que conduz seu plano de negócios com base
em decisões, estratégias e práticas Técnicas, tentar conduzir assuntos de
natureza Política de forma técnica, irá potencializar tensões, não compreender
as nuances da gestão política do território, e atrofiar relações necessárias
para a manutenção da sociedade.
A
Era Trump instaura no mundo, um cenário de instabilidade das projeções
políticas e da democracia, amplificando riscos de conflitos internacionais e
vulnerabilidade dos diversos mercados. Suas estratégias para alavancar a
economia daquele país, com geração de emprego e fortalecimento econômico são
controversas. Todavia, levantamentos da Economist Intelligence Unit - EIU
sugere que na América Latina o Brasil será um dos menos afetados e corre menos
riscos com as medidas norte-americanas de política internacional nesta nova era,
fundamentada em um protecionismo de interferência no comércio internacional.
A
política externa brasileira tem evoluído no sentido de flexibilizar parcerias
de modo a potencializar setores econômicos nacionais no mercado mundial. O País
buscou além de acordos de livre comércio, recuperar voz efetiva nas discussões
globais sobre o clima, sobre os direitos humanos, liderança regional e a
democracia. Todavia, as articulações fora do cenário econômico pouco avançam.
Não há no país, resultados de uma integração internacional em respectivas
políticas públicas no que concerne a melhoria de qualidade de vida da
população, modelo de gestão política e organização social.
O
Brasil vive um momento de emergência nacional. Em três anos, acumularam-se a
crise política inaugurada com os protestos populares (2013), o início de uma
longa recessão econômica (2014), a expansão da operação Lava Jato (2015), a
queda de Dilma Rousseff e a implosão eleitoral do PT (2016). Depois do ciclo
virtuoso de mais de uma década, a trajetória do Brasil é negativa. O pano de
fundo dessa transformação para pior foi uma economia global de baixo
crescimento, o aumento de nossa dependência econômica em relação à China e a
onda global de neopopulismo, que venceu o voto pela saída da União Europeia no
Reino Unido e levou Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Esse é o
contexto no qual se impõe a necessidade de modernizar a doutrina brasileira de
política externa. (FELLOW e SPEKTOR. 2016 P.18)
O Nacionalismo econômico defendido tanto no
Brasil, quanto no modelo defendido por Trump desconsidera nuances de uma
estabilidade social e democrática. Neste sentido é fundamental reestruturar as
leituras e objetivos do cenário interno para melhor definir as diretrizes de
relações internacionais. A inserção do país em discussões, com poder de
interferência, em questões globais, passa por um fortalecimento dos objetivos
que a nação tem além-fronteiras.
A
construção de uma nova doutrina de política externa demandará algum tipo de
consenso suprapartidário. Não é uma tarefa que possa ser descolada do processo
político interno, nem uma empreitada viável no curto prazo. Ao contrário,
trata-se de um esforço que demandará alguns anos de maturação, com ideias e
conceitos que, um dia, possam compor um arcabouço doutrinário mais ou menos
coerente. A ideia de uma doutrina de política externa é recorrente na história
brasileira. (FELLOW e SPEKTOR. 2016
P.22)
A política internacional de forma integrada
prevê a valorização das nações emergentes, encerrando a velha dicotomia de
mercado, sem isolar e criminalizar os Estados Dominantes tradicionais. É
importante que as nações possam ser distinguidas individualmente e também em
grupo. Não como um instrumento de manobra política em prol dos interesses de um
eixo, mas como um player relevante, que
transita com habilidade entre as especificidades da nação em si, e em grupo. Padrões
de crescimento bem-sucedidos devem ser adotados e estimulados. O amadurecimento
necessário para se posicionar no novo modo de fazer política que o caos
presente evoca, apenas será alcançado se as legendas e fronteiras forem
extrapoladas e expandidas. As nações, em espacial o Brasil, precisa conhecer e
equilibrar seus potenciais internos e externos para ocupar um lugar de relevância
na transição do uni para o multipolarismo das relações internacionais.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Bauman, Zygmunt. Modernidade Líquida. Ed. Zahar, 2001
Bauman, Zygmunt. Arte da vida. Rio de janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.
FELLOW, Senior. SPEKTOR,
Matias. Coordenação: 10 Desafios da
Política Externa Brasileira. 2016. CEBRI. Fundação Konrad Adenauer
FOGAÇA, Jennifer Rocha
Vargas. "Tensão Superficial da Água";
Brasil Escola. Disponível em
.
Acesso em 18 de maio de 2017.
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