domingo, 25 de dezembro de 2011

Pé com pé



Sapatos de solas preservadas. O que fizeram das praças? O que você faz na esquina? Você tinha de ir à banca para se informar. Precisava cruzar a praça, ver rostos, tocar ombros, se envolver com cheiros. Necessitava algum dinheiro, tempo e vivência. Você era um ser social antes de se tornar digital, lacrado em sua solidão velada em um sorriso de foto de perfil em rede social digital.

Além de reconhecer o novo padrão de consumo e diálogo estabelecido pelas mídias digitais, é interessante pensar em como as pautas são construídas para se comunicar com esse novo sujeito que se configurou. Entre o faro dos repórteres, a agenda espontânea, ou fixa (política - dinheiro, saúde, infraestrutura, polícia e cultura) e a indução dos mantenedores dos veículos (com informações ou financiamento). Como anda a dança (ou jogo de cartas) entre as redações e assessorias? Esses jornalistas se comportam como agentes de uma guerra fria, soldados no paraíso do petróleo ou como construtores de um diálogo que beneficie a manutenção das relações humanas?

Para recuperar o fôlego e não se limitar a uma resposta de palavras bem construídas que revela uma cobra comendo o próprio rabo, é preciso caminhar, perceber e ler o que há ao redor. Afora as vivências e as mentes que borbulham, é proveitoso ler publicações segmentadas (Revista Negócios da Comunicação, Comunicação Empresarial, Meio e Mensagem, Imprensa, Você RH e Valor Setorial), ouvir podcasts e reler alguns blogs, sendo que é recorrente a pergunta: Qual o segredo da excelência? Tempo X Eficiência.

Existem muitas assessorias mecânicas e rasas, com sistemas de posicionamento e mensuração superestimados e precários em efetividade. O conhecimento, a informação a repeito das boas (adequadas) práticas são vastos e expostos; falta aplicá-los. Os conceitos estão à exaustão diante dos olhos, entretanto a Novilíngua não é a solução. As assessorias precisam conhecer os veículos de comunicação e também a cultura das empresas (clientes). A massiva terceirização das assessorias de imprensa tem resultado em um cenário de desencontros e preguiça. Muitos assessores desconhecem a cultura dos clientes, os objetivos e necessidades. A situação clama por mudança no perfil profissional.

Afora o desequilíbrio do cálculo [Natalidade / Mortalidade / Capacitação] de homens e mulheres, percebe-se que elas estão cada vez mais em cargos de destaque e liderança, inclusive na Comunicação Corporativa. Há quem diga que é a soma entre: Sensibilidade, sabedoria, ousadia e força, responsabilidade e habilidade em gerir processos alinhados ao mercado.

Fato é que o mercado está aquecido, informa a Associação Brasileira de Agências de Comunicação (ABRACOM). Esse paradoxo chamado mercado está em busca de profissionais qualificados e não apenas detentores de nomenclaturas. Para funcionar, além de agilidade, a assessoria terceirizada precisa ter profundidade. É fundamental compreender e mimetizar a cultura da empresa (cliente).

A aproximação das empresas com o público (interno e externo) deve transpor a estética das peças de campanhas de comunicação, mensagens publicitárias e brindes corporativos. É preciso diálogo. Uma das formas de falar é por meio da imprensa. Entre o ruído e a versão oficial se esconde a verdade, que pelo diálogo pode ser revelada. O diálogo começa com a definição da pauta, apuração, reflexão, produção do texto e então continua com o leitor. Transparência (dos objetivos, das ações e da mensagem).

Eventos como as COP, as Copas, o Rio +20 e outros, reforçam a necessidade de boas pautas para não transformar os temas em entulho de enxurrada. As assessorias têm de ser ágeis e criativas para proporem pautas de interesse público e que de certa forma possibilitem o posicionamento do cliente. Mais do que divulgar uma marca, os setores precisam colocar em pauta abrangente algumas discussões que até o momento estão restritas a mesas de almoço e cafés corporativos. Neste processo, o papel das novas mídias é essencial para despolarizar debates e ampliá-los.

Em tempo, as associações representativas (e também as agências de comunicação) devem compreender o setor que defendem e a utilidade pública das informações e produtos das empresas associadas. Construir uma central de informações simples (e não simplórias), completas e uma dinâmica de acesso seguro a fontes, sem desrespeitar ou ser refém dos prazos das redações.

Em miúdos, ressoa uma canção infantil e uma canção folclórica: o diálogo deve acontecer pé com pé, pé ante pé. Com proximidade, ritmo e cautela.

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sou o suor que sai dos seus poros
seu dorso dobrado ao luar
suas palavras perdidas no sussurro
a memória apagada,
o redesenhado futuro ocultado na luz;
a esperança não manca,
caminha com o tempo


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Saiu também no Observatório da Imprensa
http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed674_pe_com_pe

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

La Traviata Corporativa






Em descomunal jogo de interesses, a dança entre o que se fala e o que se faz lacra as esperanças de Violetta "Duplessis" (o povo) em um peito social tuberculoso; e o arrependimento não altera o presente, nem o passado.

Afora o fim anunciado, as relações de trabalho clamam por inovações que de maneira responsável estabilizem os parâmetros de satisfação e desenvolvimento. Ante os abalos do mercado, é evidente a necessidade de mudança. O modelo de gestão de pessoas deve estar fundamentado em diálogo transparente, remuneração adequada, ambiente de trabalho agradável (infraestrutura e relacionamento), capacitação (e atualização), inovação e resultados. Praticar o que se diz em discurso é a única solução; transformar as palavras das mensagens corporativas em ações efetivas para proporcionar viabilidade econômica ao empreendimento aliada à satisfação dos empregados.

Reconhecimento: o que todos buscam desde a saída do ventre. Desde a primeira olhada no espelho, ou nos olhos de outro (primeira infância). Poucos consideram que para reconhecer algo, é preciso visualizar seus limites, para então compreender seu sistema, sua dinâmica de ação e não seu repertório, ou sua essência. Todos buscam completar-se (a satisfação). O egoísmo fale empresas, relacionamentos e narrativas; deturpa a fé. A humildade é a força dos sábios. O desejo por reconhecimento cria novas tecnologias, seduz, escreve no presente a história do futuro. 

Desta feita, o sonho surge como um produto de convencimento, não apenas no ambiente de trabalho, mas fundamentalmente no campo pessoal. Na vida corporativa, o gestor que souber conhecer e lidar com os sonhos (profissionais e pessoais) dos empregados terá à sua disposição uma excelente ferramenta de gestão. A gestão entre o estímulo de sonhos, alinhamento de desejos e administração de anseios básicos. Como transformar isso em mensagem e disseminá-la além das reuniões fechadas, indicações, festas corporativas, encontros ao redor da garrafa de café e diante do espelho nos banheiros coletivos? Campanhas?

Comunicação física (material) versus comunicação digital. A escolha entre as duas, ou a integração de ambas considera aspectos como o objetivo da ação, os custos, a natureza de acessos às ferramentas, linguagem, poder de indução, periodicidade, o ritmo, a distribuição. Identidade.

A avalanche de informações e versões, juntamente com o estímulo profissional (desafios + remuneração) deve também ceder espaço para manifestações negativas (embora responsáveis) e positivas (não propagandísticas) por parte dos empregados. Maturidade e Transparência.

Atualmente, as pessoas se informam da mesma maneira que consomem produtos. Isto preocupa, em uma sociedade onde o poder aquisitivo aumentou boa parte em função da disponibilização de crédito e estímulo ao consumo (estratégias da política econômica). Ou seja, o alto índice de consumo (de informação e produtos) não significa a existência de uma base a suportar tal comportamento.

O Notícia em Foco da Rádio CBN dia19/12 , com a participação de Dimenstein, foi categórico: O fazer jornalismo, o fazer comunicação, sofreu interferências (boas e ruins) da tecnologia. A mídia precisa passar o que é imediato de forma simples; todavia, precisa formar público para reflexões profundas a respeito do que é imediato e como isso se relaciona com o futuro e presente de todos.

No ambiente corporativo, não existem mais ilhas. Cada empregado é um formador de opinião estratégico, com poder de influência amplificado pelas novas tecnologias. Até os nômades no deserto fazem música e ecoam no mundo inteiro (Tinariwen), quiçá os plugados funcionários com dedos que comandam telas, telefones que pagam contas, postam fotos, vídeos e recebem informações via internet. O trombone se transformou, cabe a boca de todos aos ouvidos de muitos. Scream Poetry (sim, eu gosto de subir nos telhados).



Estatísticas norteiam uma bússola viciada. Estudos apontam e pesquisas especulam. Versões e interpretações do tamanho do entendimento do freguês, e não a seu gosto. O que será que será? Oscilações da taxa de emprego, cantatas sociais. As enchentes que declaram ocupações desordenadas, o colapso da urbanização, o desrespeito aos recursos naturais. Infraestrutura é mito. O ditador é exposto morto, entre flores e lágrimas pintadas de vermelho. His name is Robert Paulson. Peneira informacional à parede, todos se transformam em garimpeiros na serra pelada da comunicação. O ciclo segue. O alforge nunca está cheio, muito menos vazio. Chuva de borboletas, flores voam ao vento. Deus está de braços abertos.


teu pescoço, torre de marfim
caule da sedução, textura do aconchego,
guarda o néctar,
caminho para teus lábios;


não estás nas palavras
vais além dos gestos,
não há solidão que não se estirpe em teus braços
onde a pureza é plena
e meu sussurro se envolve com o suspiro de felicidade



...




Saiu no Observatório da Imprensa
http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed674_la_traviata_corporativa

domingo, 18 de dezembro de 2011

Findaera




Tudo converge, até mesmo poemas em fragmentadas linhas retas. Nas nuvens estão muito mais do que sonhos e devaneios daqueles que arriscam olhar para o céu. A cultura do sebo foi lacrada em alguns grupos, a cultura do download substituída aos poucos pela do upload (tudo está na nuvem). A globalização trouxe novas possibilidades para o processo de produção. Cada vez mais a produção e o consumo digital proporciona facilidade ou manutenção ao fluxo contemporâneo, onde as pessoas desejam saber mais e estar em diversos lugares ao mesmo tempo. O cidadão compra acesso a conteúdo e não mais um produto conforme anos atrás. O automatismo sobrepõe gerações, se há pouco já era comum entrar em um cômodo e automaticamente esticar o braço para acender a luz, agora é natural tocar uma tela e ela responder aos seus comandos. No mundo digital, 30 segundos de espera é uma eternidade e aguardar pela edição de amanhã é coisa de doido.

As principais transações humanas já podem ser feitas pela rede. Compras, movimentações bancárias, contatos profissionais, produção de texto, vídeo, distribuição de informação, início e fim de relacionamentos (e tudo registrado, com gostos, desgostos, endereços e fotos). Afora os super backups físicos, muitas informações são geradas e armazenadas diretamente em mídia digital. Cofres na parede estão vazios enquanto HDs têm cada vez mais espaço, e ainda assim insuficientes. A apuração de notícias, algumas vezes, abandona até mesmo o contato direto, ou por telefone e ancora seus argumentos na oficialização por email, ou no imediatismo do SMS e chats.

Após considerar as vantagens e dificuldades do novo fazer jornalismo, onde as narrativas recebem interferência do público e a interatividade vai da produção ao consumo, é interessante atentar como estamos dependentes dos meios eletrônicos e das mídias digitais. Ao perceber isso, podemos levar as discussões a respeito do Código Florestal, Belo Monte e outras questões ambientais para universo menos polarizado. De onde vem a energia que nos mantém sustentavelmente online e a modernidade na palma das mãos?

O jornalismo busca estratégias para manter-se o menos parcial possível e ainda continuar viável economicamente para os proprietários. A era digital trouxe um caos para a saúde financeira dos veículos de comunicação, que viram um movimento panfletário da internet alterar o modo de fazer e comercializar. Embora o audiovisual ainda sofra nas mãos de políticos que detêm a concessão de emissoras de TV e Rádio; e o impresso tenha problemas de estrutura, distribuição e às vezes linguagem.

Todavia, e quando apagar a luz? Quando as ditas renováveis fontes não aguentarem alimentar os sete bilhões de La bella verte? Caso não seja o desenfreado consumo, ou o colapso no sistema de produção e distribuição de recursos, e se aquela famigerada tempestade magnética solar chegar aqui e apagar ou desorientar tudo (a NASA anuncia desde 2006 e cientistas estimam para 2012, 2013, ou 2014)? “Onde está seu coração está sua riqueza”. Longa vida aos blocos; jornalistas ainda sabem arranhar o papel com traços? Qual será a lamparina a guiar o olhar do narrador que precisará desaprender as facilidades de um mundo moderno e aprender a apurar e narrar em um universo truncado? O faro não poderá ser digitalizado e o Google deixará de ser o pauteiro e fonte oficial das matérias.

O processo de comunicação é colaborativo desde sempre, o nível de ruído ganhou agora novas dimensões, ao estabelecer outras mensagens. Além de saber lidar com as novas mídias e consolidar o processo de comunicação no mundo contemporâneo, o jornalista precisa desenferrujar a habilidade fora destes meios e resgatar o fazer orgânico, capaz de construir mensagens que invoquem reflexão, mudança de postura, evolução do “humano, demasiado humano”. Dialogar é mais do que sobrepor argumentos e se perder nas facilidades do falar ao vento.


Sua seco seus poros lacrados.
Sua harmonia disseca meus pensamentos
enquanto seus movimentos mantêm-me são;
Sua ternura sobre meus olhos
o elixir do sorriso.




Leia o artigo novamente no Observatório da Imprensa
http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed673_fim_da_era_digital

domingo, 11 de dezembro de 2011

textura



Pautas à mesa. Afora o blefe, os copos e os corpos, as palavras começam a formar textos justos; do tamanho de sua língua, necessário leitor. Quantos toques você tem disponível para seu texto? Sua chamada? Como os utilizará para fisgar os cliques e os olhares dentre tanta oferta? Fica então evidente que na feira comunicacional, os narradores são feirantes a buscar inovação do fazer jornalismo. Não basta gritar ou dar razão ao cliente; é preciso oferecer-lhe autonomia para interferir, além de degustar sem compromisso, poder transitar pelas diversas plataformas disponíveis em sua banca, essencial jornalista. Todavia, o cliente não é dono da banca nem da feira, mas sem ele, o que há?

Vale a pena ir às bancas, ruas para caminhar. Árvores construídas de palavras, outras enfeitadas de calçados, calcinhas e mangas. Saneamento mítico na maioria dos municípios, consumo estimulado, desestimulado, estimulado. Crédito, endividamento, desemprego, qualificação e lucro. Mudanças muito mais que climáticas, Rio + 20, 30, 40, 50... as pautas são um buffet cujo serviço varia do self-service multimídia, à francesa. Alguns veículos de comunicação oferecem um cardápio que tranquiliza o olhar diante do caos informacional. Eles expõem de forma precisa a vulnerabilidade dos fatos e declarações, a atrocidade do humano (da política à cultura), os hormônios no pódio, a tabela menstrual da sociedade e os focos de reação: a contra corrente do avassalador processo de urbanização; a esperança aparece entrelinhas ou estampada em páginas especiais. Reflexão também é utilidade pública e algumas pautas têm conduzido o leitor com primazia a este estado outrora naturalmente humano.

O leitor precisa exercer a paciência e reencontrar o gozo da busca e da persistência. No meio de tanta coisa ensebada nas livrarias e bancas, encontram-se também excelentes títulos, que são vitaminas para degustar o cotidiano. Vale a pena sair da caverna. Diante das pedras do caminho (elas existem) atire um limão n'água e não limite-se a observar a margem, os peixes ou embrulhá-los em jornal.

Os problemas criados pela redução do orçamento e das redações forçaram intensificação no inovar o fazer jornalismo. Desde a utilização das plataformas multimídia, produção integrada e colaborativa, ao estabelecimento de outras narrativas. A ordem estrutural distancia-se do geral como um monobloco para reconhecer o todo como uma rede e tratar cada ponto dessa rede como um universo à parte. Os Podcasts revigoraram o fazer rádio, os blogs fizeram uma Reeducação Postural Global nas colunas, as mídias sociais (verdadeiros catalizadores) integraram-se ao compasso dos fatos e do produzir das redações. "Tudo ao mesmo tempo; Agora já passou", como escreveu Arnaldo. O F5 tornou-se o capataz de um frenético deadline. O conteúdo, tratado como alimento precioso e às vezes perecível, é transmitido em narrativas ora rasas, profundas, simples o complexas. Tem para tudo e para todos. Para. O processo de reconhecimento e referenciamento é fundamental para o consumidor se encontrar e respirar, mesmo que debaixo d'água.


Vai, revela-te aos meus olhos, pois sinto-te pulsar em meu sangue.
Diga-me teu rubro nome,
meus poros ainda estão cheios do teu sabor;
teu perfume é adorno no meu olhar,
teu toque sustenta, é pólvora, fogo e flor.
Vem, entra no espaço que é seu; lado
o caminho sob nossos pés descalços.





Sua textura!
Sua textura arranha.
Há língua

Espaço e tempo

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Saiu no Observatório da Imprensa

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

jangada



Guardamos (como A. Cícero) coisas que muitas vezes deveríamos desaprender (como recomendou Barros). A fala dobra sobre a pedra quente do cotidiano. Janelas abertas permitem o ir e vir do vento e das reminiscências do guardador de rebanho e de parerga e paralipomena.

Experiências rasas polarizadas tornaram o texto frágil; uma película quebrável, entretanto cortante e com alto potencial de contaminação. Entre o ritmo industrial de refletir, apurar, aturar, saturar, formatar, submeter, cortar, realinhar e publicar, falta ar e sobra pulmões cheios de muco; e a necessidade de ir é iminente. O balcão já não tem mais lado (nem fixo), e sobre ele muitas vezes os copos permanecem vazios; há movimento sob os corpos cheios de ideias.

Uma conversa séria é fundamental para que as frases sejam construídas com menos envelope propagandista ou político, seja na famigerada grande mídia ou na essencial mídia regional. As assessorias precisam profissionalizar o olhar, amadurecer e compreender a diferença entre pauta e anúncio. Mercado aquecido não significa capacitado ou de qualidade, assim como alto PIB não significa desenvolvimento. As narrativas precisam ser mais efetivas, assim como os relacionamentos interpessoais fora do registro em carteira de trabalho. A vanguarda é simples e a crítica já foi desenhada por Honoré. A pós-modernidade exacerbada outrora, agora é o lacre arrancado da última embalagem.

Preciso de mais castanhas e tempo. Pela janela o batráquio sai; fuga nº3 da boca egoísta daqueles que fundamentalmente querem encher os bolsos de vaidade. O ruído de folhas secas aos pés, a duração do instante, a intensidade das rasuras. O Campo minado de pétalas traz o frescor que nem a mais rentável ideia pôde oferecer. A salamandra sorrateira caminha sobre a fria superfície da pele e ela não sente ser tocada. Jabour está obviamente correto; não sabemos lidar com o que não entendemos, e assim criamos múltiplas explicações de sessão da tarde. O noticiário e os manifestos de disputa por controle e poder de representação de classes. As palavras já não bastam, pois frases prontas são distribuídas em ração diária de narrativas. O texto satisfatório não pode ser escrito como precisam os leitores, ou como anseiam, em totalidade; não se reconhecer que o significado de satisfação e completo não são os mesmos. Sempre falta algo, do enfado ao estilo, da rapidez à exatidão. Os olhos não acompanham, as palavras não suportam e a mente titubeia.


Linda, ela caminhava pelo fio de uma interminável navalha.
sangrava sonhos enquanto gemia
atravessava mundos aos sussurros
lacrava utopias que distorciam a dor, calada;
mas o ritmo dos passos era o mesmo,
espetáculo, suas vestes brancas ao vento
sorrateiro sorriso
Ela, realidade



 A institucionalização do espírito confunde o homem, então não vá se perder por aí....segue videolinkmutantes_musica~



A estante escorre. Tormento de Neruda e sua leveza; insensatez de Picasso, alucinação de Pessoa, complexidade de Franz, traição de Max Brod, destempero de Fonseca, de Blair, de FWN e de Arthur S. As palavras misturadas me absorvem em narrativas, expostas sob a forte luz de cânticos. Paulo e sua carreira, suas cartas e pensares.

Mr. Nobody é a autobiografia coletiva do contemporâneo. Somos Nemo, e não um peixe perdido em seus desejos, mas um ancião solto em suas memórias, lembranças, escolhas. Rigidez e frieza, distanciamento e sorriso. Tudo é, e muito leve. 
"Enquanto a maioria foca nas superfícies, há fogo. Afogo-me e respiro"
São as rosas;