quinta-feira, 31 de agosto de 2017

descalço



O coração caminha descalço no arcabouço de um dia sem ar. O suspiro esmura o tempo em busca de refrigério, mas o eco não há de libertar, apenas devolve distorcida a ferida de um pesado pensar.
Olhos cerrados florescem um novo dia.

domingo, 20 de agosto de 2017

trilhas

Minas teus sons
ofícios das Gerais 
Forjando na pele e nas veias
a história que a letra não traz

Alfabeto posto
escolha seus punhais
minhas cicatrizes estão no interior
De Minas 

sábado, 5 de agosto de 2017

Classificados


Olhos abertos e placas para todos os lados. Dedos sujos de jornal. Fragmentos, frangalhos e faíscas. Vende-se o bom senso embrulhado em arrogância. Troca-se palavras por silêncio. Empresta-se virtudes. Procura-se amor, recompensa-se com intensidade. Doa-se clichês, de todos os tamanhos, para todos os momentos. Vende-se um coração de veias entupidas e emoções surreais; único dono e em bom estado de alienação. Vende-se a alma cansada de esperar o messias. Vende-se lábios silenciados pela dor da distância. Vende-se a alegria, aconchegada em uma caixinha sem tranca, sem tampa, sem laços. Aluga-se sonhos, recheados de possibilidades, cobertos de expectativas, contrato só de longo prazo. Vende-se poemas de amor, sem vírgulas, puro estrofe e verso. Procura-se felicidade plena, recompensa-se com cumplicidade. Aluga-se dignidade, embalada em plástico bolha.  Aluga-se língua sem palavras. Doa-se lágrimas de olhos sem olhares, atende-se às madrugadas, gentileza chegar pelos ouvidos.





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