domingo, 30 de outubro de 2022

a volta


Fiquei por um tempo admirado após o espanto com a repentina visita do beija-flor. Há muito não me visitava. Mesmo em um jardim sem flor, veio ele a me olhar. Olho no olho. Em quase choro recebi sua mensagem e paira dentro de mim a interpretação.

O andarilho e o caminhante, o eterno retorno de uma ida interminável. Considerando todos os aspectos; o colapso da sociedade está em se olhar no espelho.

Quando a tristeza nos invade como água sorrateira da chuva que cai devagar por toda a madrugada. Drásticas mudanças de pautas e de vento apontam como é volúvel tudo o que dissemos ser sólido. Quando essa tristeza vira lodo tapando os cantos da esperança e nos deixando sem o sorriso e a paz. A apatia controlada de um corpo cansado, de uma alma sem ilusões e desilusões se instaura. As disputas midiáticas, corporativas, sociais. Tantos argumentos, poucos abraços sinceros. As pessoas adoram extremos. Preferem apontar nossas falhas e limitações ao invés de motivar, ou elogiar e enaltecer qualidades. 

Tento. As pessoas não me escutam. Elas não querem o céu, ou a volta do messias. Querem a bonança aqui nesta vida e tempo. Nessa consciência. Nesse mundo. Entretanto, ninguém assume a própria hipocrisia. Continuam assassinando almas, alegrias. Tornando-se adultos cruéis. Estou cansado. Em mim tenho pujando os sentimentos; acalma-me a brisa e os colibris. De perto. De perto, poros são cobogós. Um buraco, uma passagem.

Solto laço ao vento

Soltas as mãos ao 

tempo trêmulo

Lábios cerrados

rostos ao vento.


Há contato no instante

há rima no silêncio

Solto no céu o olhar 

desce como chuva

e a madrugada nãos esconde o luar.

sábado, 1 de outubro de 2022

Nem sempre ganhar é melhor

O gozo da realização, a euforia do reconhecimento, o acesso liberado a regalias que só quem ganha alcança. O sabor do mérito, o perfume do legado que fica no ar. Os ensinamentos a serem repassados, a marca deixada na história, a paz do dever cumprido. Atributos apenas da vida dos vencedores? Ninguém ganha sempre e em tudo. Poder, riquezas vêm e vão, mas as pessoas, quando se perde, nunca mais; já diria o corvo. Nunca mais. Perde-se pessoas com a morte do corpo, perde-se todos os dias com a morte da essência, corpos vivos enchendo as multidões de indivíduos com ansiedade, nervosismo, espasmos de estresse, depressão, problemas com o peso, intrigas pessoais profundas de coisas tão corriqueiras. Um colapso do modelo social. Ou sua retroalimentação, para reiniciar ciclos.

O cenário então se configura com o excesso de narrativas que buscam consenso, aceitação e conciliação. Todavia, por estratégias diversas. Narrativas que causam inquietação e questionamento para reflexão; narrativas que causam confusão (essas geram insegurança e estimulam o desejo natural por se assegurar em um referencial); narrativas que geram apatia controlada (pasteurizando o pensamento individual, uma lobotomia social); narrativas de reação (instigando "escolhas", fruto da persuasão); narrativas de alienação pelo entretenimento; e tantas outras, cada qual com seu movimento padrão pelo tabuleiro da realidade. Se antes o planejamento da estruturação de uma narrativa podia demorar muitos copos de cafés, atualmente (há muito tempo) é preciso ser mais dinâmico no intervalo entre planejar e executar.

Paira entremeio a sociedade de maneira mais intensa o FOMO (Fear of missing out) e as narrativas corporativas só intensificam esse processo. O tempo; recorrente prisão e liberdade. Ser real como proposta do novo (2020) "bereal"?
Limitar o tempo de exposição das mensagens e às mensagens pode ser uma ação para não sobrecarregar "a nuvem" e sofrer com a chuva de multiplicidade e também de confusão. Não se trata de ganhar ou perder.


O que precisa e deve ser comunicado e que precisa e deve ser contemplado? E o que se deseja? Conhecer-se a ti mesmo é o exercício recorrente tão necessário e eficaz, que talvez seja uma recomendação latente para a saúde social dos indivíduos. 

Na elaboração das narrativas corporativas, todos devem fazer com mais cuidado, responsabilidade e agilidade; e claro, usar os cafés como prazer e não para contar do tempo que passa rsrsrs; seize the day, e aproveite a vida; "a poderosa peça continua e você pode contribuir com um verso".