sexta-feira, 22 de março de 2024

Erroneamente



A vida emocional. O físico, o financeiros, o profissional, as amizades, família, amor, o passado, o futuro, o material, o espiritual. Tudo em desarranjo. O caos é instrumento de transição e não de perenidade. É marco de virada de eras. Como saber se seremos fruto da transição ou uma peça dela, ou ainda um reles estopim? Meus pés não interrompem meus passos. Abismo? Mais que isso.

Já muito me apaixonei. Quantas vezes rodopieis na misteriosa chama. Tantas que minha memória esconde minhas ações ridículas de acreditar que as pessoas fazem das paixões histórias de amor.

Tornei-me o irreconhecível, o descartável, o desprezível. Mas como diz a canção, “tudo bem“. Envelhecido na ingenuidade, na bondade foi contido todo meu nervosismo inexplicável. Na contemplação da vida o sossego que me acalma, me amadurece. Não me silencia, os meus silêncios, são turbulentos de ideias e sentimentos. São pura entrega.

Não sabia eu, quando aquelas madrugadas, através dos vários instantes de dor, que no passar do tempo tudo me seria diferente. Eu não via a rima, tampouco o nascer do sol. Eternidades na madrugada repousam.

O vento não coloca flores em porta do carro, quem coloca são os poetas. Os enamorados, que vão além da paixão. No entanto, a mente completa com ilusões os sentimentos incompletos.

Desde a infância. No sofá, no escuro, com a caneca de leite. Na cama, nas janelas, nos colchões no chão, na rua fria, no duro asfalto silencioso, na apatia das multidões, na solitude dos pensamentos. Eu não tinha plena convicção do porvir. Mas quem tem?

Frondosa árvore que ao vento balança, no silêncio de uma manhã de sol. Seu verde ainda mais vívido, com pitadas brancas de pequeninas flores. Quase imperceptível, mas exuberante em sua sutileza, uma borboleta de asas cor laranja, com detalhes pretos. Se a flor de asas se entrega ao voo, um desavisado beija-flor apaixonado pode muito bem a encontrar. Mas enquanto eu olhava, a borboleta bateu asas antes de voar. Olhou-me nos olhos e formosa vez um voo circular, para assim me deixar, em puro encantamento, enamorado.

quarta-feira, 20 de março de 2024

O poema silencioso



Era como se fosse um paralelo universo sem amarras sociais, sem lastro de passado, presente ou futuro. Era apenas o instante nu, em sua exuberante simplicidade de ser.  As palavras fluem como o ar que toca minha face com o frescor de um vento, um poema silencioso. A sabedoria que busco para conduzir meus dias tento agarrar e aplicar sobre todas as circunstâncias, mas me é tão difícil. Tantas lembranças que eu gostaria de não ter, tanto laboratório de sentimentos e sensações que eu preferia não ter, mas foi o que me formou. Se isso pode ser visto como algo bom. Seja o sol a revelar os contrastes ou as nuvens a apaziguar tons e até mesmo ruídos, reduzindo o ritmo da vida, desfranzindo testas, despertando olhares. Equações de variáveis muitas vezes não confiáveis. Um sofrimento sem medida se instala nos corações. Então. Seja o tempo ou metade do tempo. O desfecho das minhas alegrias no calabouço das ilusões de amores. Amores confusos de vidas passadas, de um universo paralelo que na minha cabeça se desenvolveu e forjou o meu caráter. Impressionantes conceitos, ritmos aleatórios por onde quer que se passe. É aleatório para quem está deslocado, mas para quem está inserido, é a pura rotina, muitas vezes de adrenalina e tédio em alternância sem aviso. O angelical rosto de uma criança nos salva de nós mesmos. Então consigo ver além de toda essa fuligem social e compreender a realidade que vivo com mais entrega.