quinta-feira, 13 de abril de 2023

Desacelerei


Percebi que o compasso outro era numa frase sem estrutura comum. Então desacelerarei. E já o fiz de fato. Os pés descalços. O rock reverberando pela madruga de estrelas lindas e planetas tão próximos em sua absurda distância. Tudo brilha. Meus pensamentos, os sentimentos. As rimas sem beleza, mas profundas de tanto eu que emanam a ser tão comuns. Entender pra quê se ninguém mais saber ler?

Coexisto na insignificância das entrelinhas. Conceitos incrustados no silêncio. Um feito inigualável, o grito no brilho do olhar. Se memória, futuro ou desespero, ninguém sabe.

No sopro de uma noite sem estardalhaços ao redor, respiro sem peso, mas com o distanciamento de um suspiro.

"Pouco a pouco fica evidente o distanciamento dos astros disfarçado do aumento do universo, ou a colisão de corpos como consequência da gravidade e órbita. O que há de fato é um canibalismo de argumentos, soterrando olhares de fuligens da expectativa."

quarta-feira, 5 de abril de 2023

velho


O corpo envelhece lentamente. Gota a gota. A pele muda, o semblante dribla os cosméticos e bisturis. A memória marca o tempo, o raciocínio e toda a sua estrutura sucumbe ao que se torna realidade. Conceitos tais como limite e obsoleto pontuam a jornada. Como se preparar efetivamente para viver o envelhecimento? A pele se desfaz no toque e o vento carrega a poeira do que um dia fomos. Como compreender que a carne sobre os ossos perece, que as ideias que um dia foram vanguarda tornaram-se o novo paradigma a evocar ruptura?

Inevitável escrever o que não cabe no meu silêncio. Tão comum agora me é o gesto de repetir. Velho. Nem sempre cansado, ou estarrecido com a vida. Muitas vezes admirado com a beleza dos olhares, das risadas, do bater das asas dos pássaros e das borboletas. Espaços em branco, não vazios. Recortes em cores e preto e branco. Os momentos são tão peculiarmente intensos e porventura tênues que não se pode em um relato abranger sua totalidade, apenas nuances. E são elas os retalhos da grande realidade.

O conforto não está no luxo, embora muitos tenham experiências nesse sentido. O conforto muito mais é um estado de espírito que depende do indivíduo. Claro, a mensagem, os meios, o contexto, podem fazer com que ele conceba o conforto como algo dependente da matéria. No entanto, quando se concebe individualmente o que é estar em conforto, percebe-se que é tal como respirar. Um instante que se alcança sem tem raciocínio lógico para o fazer. 

A rede balança e range. O vento passeia pelos galhos. Os pássaros entre o cantar e o bater das asas. O corpo se alimenta, proteína, açúcar, destilados, fermentados. A mente se exercita em contemplar, absorver e se integrar. Enquanto muitos preferem a confusão e a angústia do caos; perpasso pela espontaneidade sem cabresto da vida.

Corredores intensos os dos hospitais, das clínicas. Corpos ligados a mangueiras, equipo eterno sem perder o fio. Tudo se esvaindo a conta gotas. O corpo sucumbindo ao tempo, às mudanças das dunas, ao passar pelo sol, todos os dias, mesmo sem o ver. Casas caladas de emoções trancadas em corpos frustrados por causa da limitação imposta pelo efeito tempo, acaso e comportamento. Desfile de porta-retratos. Cuidar do presente como se fosse o futuro, pensando no passado que será construído. Dia a dia.

Unhas sujas de um dia sem lastro. Sem peso nos ruídos. Sem dor. Era apenas o deixar o corpo seguir.
Tantas histórias, tantas memórias. As pessoas não sabem onde colocar e que volume dar.