sábado, 24 de dezembro de 2022

Natureza morta

Palavras estagnadas, não conseguiram se formar e sair pelas cordas, tampouco alcançar a garganta. Menos ainda estabelecer-se em frase e assim quem sabe talvez fazer sentido aos ouvidos sem pálpebras que por perto poderiam estar no momento. Confiar nas coincidências e na providência é algo que beira a insanidade; um padrão de comportamento contrário ao padrão da maioria.

As narrativas das mais diversas plataformas de mídia transitam não mais por um fluxo bilateral de mensagens. Ele agora (há muito tempo) considera os fluxos semelhantes aos neurais, com suas grandes, pequenas e múltiplas redes de conexões. Um número alto e intenso de emissores, mensagens e receptores, com um tempo de processamento (assimilação e retenção da mensagem) menor do que em gerações passadas. Desta forma, as doenças emocionais tais como a ansiedade, passam a ser recorrentes e permanentes. Como fazer uma comunicação que não piore o cenário? Consciente de que não tem o poder de alterá-lo por completo, mas de ser a alternativa em um contexto tão avassalador e impessoal? Na comunicação pessoal é o desafio para se manter as relações familiares. Na comunicação corporativa, é a árdua ação de proteger uma marca, conduzi-la ao amadurecimento, e reverberar seu posicionamento e sua missão de forma efetiva e não apenas de fachada.

A impessoalidade não é mais de mensagens robotizadas, mas de narrativas sistêmicas programadas, de  uma espontaneidade forjada, veiculada em stories, grupos de WhatsApp, nos cartões de natal e aniversário ainda existentes, tudo velado como se fosse orgânico. Baterias sempre carregadas e olhares ávidos por ter sempre sinal. Verdades e pós-verdades incrustadas no comportamento cotidiano e então tudo passa a ser tido como natural.

E esse novo natural que se instaura na sociedade e confunde os referenciais, propicia ao conflito, à sobreposição e uma suposta evolução pela aniquilação do divergente e não a partir de um possível consenso e coexistência. Veladas de paz, as narrativas tornam-se ácidas, mesmo que silenciosamente, aumentando a fissura entre as famílias, grupos sociais e as bases culturais. Neste cenário, mais do que ter os sentidos apurados, saber utilizar a interrogação e as reticências para a ser um requisito de sobrevivência.

Havia uma árvore na floresta. Se comunicou com as demais pelas raízes, alertando a chegada de uma nova praga. No entanto, não tinha como correr. Centenária, com suas raízes espalhadas por todo o solo, ela sentiu o vento, absorveu dele um pouco de Co2, percebeu o percorrer dos últimos raios solares pelas suas ranhuras, folhas e galhos, sentiu o golpe, sucumbiu. Na queda, seus frutos foram longe. Foram também no bucho de pássaros. Suas flores forraram o solo de sua putrefação. Durante alguns anos, a sua memória era percebida pelo buraco na paisagem e pela maneira com que cada organismo se aproveitou do que dela restara. No entanto, não há canção que perdure, por mais que repita, o tempo. sempre ele, ou a percepção que temos dele. Pujante, a natureza morta abusa da paleta de cores e argumentos.


segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Contra


Trâmites aparentemente aleatórios delineiam a silhueta e as entranhas de uma sociedade prisioneira dos próprios conceitos, principalmente os que remetem a liberdade e felicidade. 


O poder. A maneira como é venerado, buscado e como atordoa quem o exerce (seja em qualquer esfera) representa a imaturidade dos indivíduos em serem entronizados; tanto na família, na empresa, na política, e em todas as etceteras


O dinheiro é o estandarte mais arraigado em boa parte dos indivíduos. Abraçam e se mergulham no dinheiro como Tio Patinhas. Quanto mais dinheiro mais sobre ele falam e pensam e menos  a respeito do que seria ser humano; afora as posses.


Não percebem, mas soa quase natural a dependência e o gozo que manifestam ao se relacionar com o dinheiro e o poder que vem ou se vai com ele.


Traços recorrentes podem ser encontrados em casa, nos jornais, portais e nas nuvens; que antes apenas eram alvo do abstrato das ideias e agora são o arquivo sem fim dos acumuladores que nos tornamos. 


Antes da chuva. Grupos sociais movimentam-se na máxima de sempre o bando julgar e focar em uma parte, como exemplo. Assim evita que cada um reflita sobre si e também sobre o real motivo de ainda serem um grupo.  As traves nos olhos. Os elos que regem a sociedade.


Já não são mais correntes, são argumentos que nos aprisionam. E os usamos como elixir de uma liberdade que machuca os outros; o diferente é perseguido, o reflexo do espelho.


Acostumados, passamos pelos dias sem cogitar a ideia de existir algo mais importante do que ter posse, de terra, de moeda, de razão, de imagem. Falamos muito dos outros para evitar de pensar em nós mesmos de uma maneira íntima, intensa e sem argumentos. 


A grama molhada sob os pés descalços era o refrigério de um dia agonizante. O movimento das asas em lemniscata, possibilitava parar no ar durante o voo, analisar a ideia contra o vento, e finalmente partir.


“Eu não te contei o que aconteceu de verdade. Só estando em minha cabeça para ver como foi sentir tudo. E ainda assim saber como foram tantos os alheios a usarem o malhete, e desferirem golpes dos quais nunca me recuperei, tampouco retribuí.” Armenon 



segunda-feira, 28 de novembro de 2022

aleatórias gotas



Nossa pequenez. Fiquei um tempo olhando ao ermo em busca de quem correspondesse. Será que tem alguém aí? Será que alguém tateia minhas linhas sem se perder, encontrando-me e se aliando a mim nessa caminhada?


As narrativas guiam as reflexões. Em tempos de uma multiplicidade de criadores, de plataformas, de argumentos embalados como verdade, fica tão sutil compreender se está pensando por si; pelo outro, por meio do outro, no tema que te interessa ou que lhe foi induzido, no seu tempo, ou a contento do outro. A sutileza… 


Escovando olhei sem pretensão para o único ponto em que respingou a água, antes de acontecer. O encontro do espelho com a pedra da pia, ali uma gota mudou a cor do rejunte. A aleatoriedade me fascina, mas também me sela em um momento de isolamento, um silêncio tumultuado pelas ideias pujantes de outrora. 


Ainda está aí você que não sei se está?  Os rumos das conversas têm outro objetivo que não marcar como nosso olhar transita no tempo?  As chuvas marcam o respiro dos dias, e aquieta o fulgor da noite.


Experimentei emburrecer. Parei com os noticiários, larguei as vistas dos assuntos por mais diversos e contemporâneos. Assim, me vi semelhante a uma ilha solta no oceano. Sendo afastada de tudo e de todos. Um pássaro em voo. Experimentei e posso dizer que vislumbrei a paz. Embora sempre o cotidiano me arrancasse da distância e me amarrasse à realidade que a sociedade aceita. 


Na varanda, ouvi chegar no telhado as primeiras gotas da chuva. Escandalosas na madrugada, pontuaram as primeiras notas de uma canção. Depois do susto, entendi. Que no roteiro sem protagonista não há espaço nem para anti-herói. 


Os limites delineiam a liberdade. A falta de limites é o caos. Não o romântico, mas o sem parâmetros. O que não traz conforto, pois somem-se as referências. Não há pessoa alguma preparada para ele, embora o tateiem. 


“É engraçado ver o que a vida te dá quando você espera o pior”, Chuck Palahniuk 


Encaixadas, as palavras são engrenagens.  As pessoas nem sempre percebem o movimento ao qual sucumbem. Por isso o silêncio ainda é a mais honrosa saída, pois ele não significa atrofia. Atitudes caladas pontuam a paisagem de vida, amor e esperança; além do que possa  ser o conceito. 


Encantadoras narrativas estão postas, outras, ainda estão por vir. 

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Farpas


Era um pássaro pousado no arame farpado. Era a esperança, o futuro ou o passado olhando o tempo. O cheiro do vento na terra molhada, o calor do sol alcançando entre as nuvens o rosto que se desgasta, se procura, não se estende. 


Há muito tempo deixei que fizessem de mim justamente o que nunca fui. Pois não há em mim totalidade, mas as partes que me foram possível manter ou reunir; enquanto estiver aqui.


Foi o meu olhar que bateu asas. Até sumir de minhas vistas; de olhos fechados acordo para outros pensamentos. 


As borboletas no meio do cinza da indústria das desilusões, tudo deixa uma cor de esperança neste dia tão triste tão denso e tão vivo. Vejo as árvores quietas e silenciosas, vejo o tempo observando os nossos erros. Vejo tudo o que acontece e me entristeço. Mas passo. Continuo a passar.


Então vem o estado matinal de contemplação, sentado vendo as linhas da realidade formando coisas diante dos meus olhos. Dentro de mim a inquietação agarrada à paz. Compreender os espinhos, sem esquecer da beleza da flor, da ternura das pétalas e do perfume sutil que em nós desperta todo o sentido de estar vivo.


Os filmes não  falaram sobre as dívidas com bancos, sobre a falta de tempo livre, sobre o peso do silêncio no peito. Não falaram sobre a velhice e as limitações do corpo. A cultura do desejo não preparou a sociedade para a frustração. Apenas instigou a figura do anti-herói e o espírito de constante revolta, até mesmo quando se conquista o objeto da revolta. 


Narrativas foram invertidas e as interpretações também. Assim como Éric Arthur Blair bem descreveu em 1984, a sociedade sucumbiu ao sistema que criou para viabilizar uma vida tranquila. As gerações então alternaram-se e a maturidade de agora não entende da memória de outrora. 


Chovia muito. O arame farpado balançava. Agora não eram pássaros, mas gotas pousadas, esperando pela queda. Não eram farpas, mas pensamentos suspensos. A chuva iria parar e assim os voos poderiam retornar.


terça-feira, 15 de novembro de 2022

acordes - do Gorilaz ao K-pop virtual


As tecnologias são desenvolvidas para facilitar a vida em sociedade. No entanto, esse facilitar geralmente está atrelado ao significado de dependência e escravização. Ou seja, a sociedade se torna escrava ou refém das tecnologias que cria para facilitar sua vida (faz lembrar o Wall-E), liberar mais tempo dentro das 24 horas do dia. São muitas as reflexões possíveis, nas mais diversas áreas da vida e também das profissões.  

Recentemente, com a girl band de K-pop Eternity acumulando milhões de visualizações online, o tema chama a atenção de maneira diferente (integração de inteligência artificial, do deepfake e das tecnologias de avatar). Não sei até quando as diretrizes éticas de Inteligência Artificial da União Europeia irão proteger as questões que tocam a humanidade. Uma banda estruturada por meio de inteligência artificial. Diferente do Gorilaz (que a banda ficava atrás da cortina e desenhos protagonizavam as canções. Gosto não se impõe e cada um tem seu repertório, suas afinidades, perfil de assimilação de mensagem e as devidas et cetera que compõem o respectivo padrão cultural.

A isenção do sofrimento (argumentada como uma das vantagens da inteligência artificial) e demais envolvimentos orgânicos no processo de criação cultural, muda a intensidade, reverberação, verdade e vivacidade das narrativas? A simulação é substituta eficaz em todos os sentidos? Sem falar na antiga e famigerada discussão sobre o que vem a ser real. Importante é estar atento, não ser omisso (alienado) ao consumir os produtos culturais e demais processos tecnológicos; a reflexão merece espaço, nem tudo pode passar no automatismo da vida da sociedade moderna.

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A noite entrega a madrugada com estrelas e também chuva. O gotejar remanescente marca o compasso de uma memória ainda acessível. Tão real, quanto ilusória. Todo mundo tem seu momento Sinatra. Vasculhe sua mente e encontrará alguma memória (nem que seja o filme dos Gremlins) em que uma canção de Sinatra ou de Erasmo ressoe.

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Pedro e Paulo - uni-vos pela barriga



A equipe  de Pedro não estava preparada para governar. Suas ideias puras estavam embebidas de imaturidade. Queriam por meio do choque de gestão, arrancar o joio, mesmo que isso representasse a morte de milhares de trigos. Pedro é governo de transição, o amor de cura após uma separação, é a quebra do paradigma mas não chega a ser um novo.

Paulo e sua turma já não merecem mais governar a sociedade. Tiveram a chance, avançaram muito e erraram miseravelmente ao sucumbir à vaidade e apropriação indevida, tendo como particular o que deveras é público. Ainda assim, não soube ser transparente ao responsabilizar os culpados, considerando inclusive o respectivo envolvimento.

O símbolo perdido estampado no peito. A sensação de pertencimento e proteção de uma nação, refletido no que simboliza seu território e sua cultura estava há tempos institucionalizado no entretenimento. A bandeira flamulava pelos esportes, e silenciada fora dos quartéis. Politicamente, virou símbolo de guerra e separação, e não união. Quando a massa está dividida, não há minoria, mas duas grandes partes. Assim, tem-se ilusão de injustiça em qualquer tipo de divisão. O estardalhaço de quem perde muitas vezes sobrepõe quem ganhou. Assim fica difícil não lamentar por uma sociedade a meio mastro.

Contudo, diante da caminhada de Pedro e Paulo, entre o que não merece mais ter acesso ao trono e o que não está preparado para se manter nele, escolher com visão de paisagem é necessário. Verificar os detalhes e observar as interconexões, a necessidade de diálogo. Um diálogo maduro. Se fosse possível, Pedro e Paulo deveriam ficar em casa, diante da impossibilidade, talvez se colocar ambos a governarem, como gêmeos siameses, a sobrevida seja maior do que apresenta a biologia, e a sociedade poderia sobreviver como Ronnie e Donnie Galyon. Unidos pela barriga, coexistindo um com ajuda (e fiscalização) do outro e de quem ao redor se disponibiliza para fazer dar certo.

domingo, 30 de outubro de 2022

a volta


Fiquei por um tempo admirado após o espanto com a repentina visita do beija-flor. Há muito não me visitava. Mesmo em um jardim sem flor, veio ele a me olhar. Olho no olho. Em quase choro recebi sua mensagem e paira dentro de mim a interpretação.

O andarilho e o caminhante, o eterno retorno de uma ida interminável. Considerando todos os aspectos; o colapso da sociedade está em se olhar no espelho.

Quando a tristeza nos invade como água sorrateira da chuva que cai devagar por toda a madrugada. Drásticas mudanças de pautas e de vento apontam como é volúvel tudo o que dissemos ser sólido. Quando essa tristeza vira lodo tapando os cantos da esperança e nos deixando sem o sorriso e a paz. A apatia controlada de um corpo cansado, de uma alma sem ilusões e desilusões se instaura. As disputas midiáticas, corporativas, sociais. Tantos argumentos, poucos abraços sinceros. As pessoas adoram extremos. Preferem apontar nossas falhas e limitações ao invés de motivar, ou elogiar e enaltecer qualidades. 

Tento. As pessoas não me escutam. Elas não querem o céu, ou a volta do messias. Querem a bonança aqui nesta vida e tempo. Nessa consciência. Nesse mundo. Entretanto, ninguém assume a própria hipocrisia. Continuam assassinando almas, alegrias. Tornando-se adultos cruéis. Estou cansado. Em mim tenho pujando os sentimentos; acalma-me a brisa e os colibris. De perto. De perto, poros são cobogós. Um buraco, uma passagem.

Solto laço ao vento

Soltas as mãos ao 

tempo trêmulo

Lábios cerrados

rostos ao vento.


Há contato no instante

há rima no silêncio

Solto no céu o olhar 

desce como chuva

e a madrugada nãos esconde o luar.

sábado, 1 de outubro de 2022

Nem sempre ganhar é melhor

O gozo da realização, a euforia do reconhecimento, o acesso liberado a regalias que só quem ganha alcança. O sabor do mérito, o perfume do legado que fica no ar. Os ensinamentos a serem repassados, a marca deixada na história, a paz do dever cumprido. Atributos apenas da vida dos vencedores? Ninguém ganha sempre e em tudo. Poder, riquezas vêm e vão, mas as pessoas, quando se perde, nunca mais; já diria o corvo. Nunca mais. Perde-se pessoas com a morte do corpo, perde-se todos os dias com a morte da essência, corpos vivos enchendo as multidões de indivíduos com ansiedade, nervosismo, espasmos de estresse, depressão, problemas com o peso, intrigas pessoais profundas de coisas tão corriqueiras. Um colapso do modelo social. Ou sua retroalimentação, para reiniciar ciclos.

O cenário então se configura com o excesso de narrativas que buscam consenso, aceitação e conciliação. Todavia, por estratégias diversas. Narrativas que causam inquietação e questionamento para reflexão; narrativas que causam confusão (essas geram insegurança e estimulam o desejo natural por se assegurar em um referencial); narrativas que geram apatia controlada (pasteurizando o pensamento individual, uma lobotomia social); narrativas de reação (instigando "escolhas", fruto da persuasão); narrativas de alienação pelo entretenimento; e tantas outras, cada qual com seu movimento padrão pelo tabuleiro da realidade. Se antes o planejamento da estruturação de uma narrativa podia demorar muitos copos de cafés, atualmente (há muito tempo) é preciso ser mais dinâmico no intervalo entre planejar e executar.

Paira entremeio a sociedade de maneira mais intensa o FOMO (Fear of missing out) e as narrativas corporativas só intensificam esse processo. O tempo; recorrente prisão e liberdade. Ser real como proposta do novo (2020) "bereal"?
Limitar o tempo de exposição das mensagens e às mensagens pode ser uma ação para não sobrecarregar "a nuvem" e sofrer com a chuva de multiplicidade e também de confusão. Não se trata de ganhar ou perder.


O que precisa e deve ser comunicado e que precisa e deve ser contemplado? E o que se deseja? Conhecer-se a ti mesmo é o exercício recorrente tão necessário e eficaz, que talvez seja uma recomendação latente para a saúde social dos indivíduos. 

Na elaboração das narrativas corporativas, todos devem fazer com mais cuidado, responsabilidade e agilidade; e claro, usar os cafés como prazer e não para contar do tempo que passa rsrsrs; seize the day, e aproveite a vida; "a poderosa peça continua e você pode contribuir com um verso".

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

artesanal


Fica um sabor de desilusão toda vez que os noticiários nos alcançam. Sempre que as frases estruturadas como ondas do mar arrebentam sobre nossas expectativas de um dia diferente.

Driblando tantos termos e analogias e tentando compreender os relacionamentos conduzidos via a comunicação corporativa. Rede Orgânica (viva) ou robotizada, industrializada? A contemporaneidade trouxe valor agregado ao artesanal. Desde as bebidas, doces e mídias sociais. O artesanal (orgânico) é mais pessoal, mais vivo e próximo no relacionamento. Assim, ganhou mais relevância. Visualmente, um perfil de rede social industrializado pode ser mais agradável ao olhar, sendo padronizado, com harmonia de cores e demais elementos. No entanto, não inspira ou instiga ao envolvimento, engajamento e à retenção da mensagem, tampouco integração com a narrativa.

Em tempos de tudo digital, padrão e robotizado via algoritmos, as pessoas sentem a necessidade de um relacionamento (e atendimentos) mais humanizados. O processo industrial, afora as incontáveis e fundamentais vantagens, traz também distanciamento e impessoalidade. O que em alguns setores, acaba sendo mais um obstáculo do que facilidade para exercer a atividade fim. Intercalar artes elaboradas, como fotos e vídeos (secos), tem uma conversa mais direta, sem rodeios e ter um conteúdo menos frio contribui para deixar o perfil mais próximo do usuário. Claro, é necessário ter alta performance na resposta a "direct" e posicionamento a respeito de comentários. A avaliação deve ser rápida, séria e as ações transparentes. Não se trata de se apoiar em invenções, e aqui não se propõe uma receita. É preciso compreender a missão, valores, princípios da organização e da sociedade. Além disso, também considerar a finalidade do relacionamento com os diversos públicos. Sem receita miojo. A solução está muito mais na dedicação e na sinceridade de fazer e trabalhar a comunicação. 


quarta-feira, 3 de agosto de 2022

pertencimento

Fala-se muito em jargões das profissões e os que marcam a sociedade. As narrativas corporativas buscam aumentar a retenção de mensagem, absorção e incorporação de cultura organizacional e multiplicação de mensagem. Para isso, brindes, palestras, metas, mimos, desafios, desafetos e cobranças. Após a cortina de fumaça e do uso de todos os aparatos de tecnologia, de treinamento e desenvolvimento, o que é orgânico ainda inspira mais veracidade.

Dar voz aos sujeitos ao invés do modelo títere de interação. Em uma campanha interna de comunicação, ao utilizar os funcionários para serem porta-voz e rosto da mensagem, a empresa potencializa na equipe o aspecto do pertencimento, desdobrando em contribuição nos demais atributos corporativos supracitados.

Mas isso não é novidade. Muitos já fazem, até mesmo para otimizar custos. O diferente é simples. No bastidor, na construção da mensagem, ouvir não apenas o interlocutor, mas o mensageiro. Diversos roteiros de cinema se tornaram primorosos quando os atores puderam contribuir. É preciso estar preparado para um processo de integração. Sair um pouco dos muros conceituais, das vaidades de crachás, da prisão dos ponteiros. Permita-se a duas atitudes simples: Observar e Dialogar.

Com o devido amadurecimento, o diálogo de pré-produção e produção enriquece não apenas a mensagem mas todo o processo. Sugestões simples de posicionamento de câmera, alteração de uma fala, entonação, postura corporal, olhar, vocabulário, figurino, passando até mesmo pelo briefing de como o público-alvo absorve determinado conteúdo. Ouvir e dar vazão aos ruídos do processo de comunicação, participar com os demais atores da ação de comunicação, são atitudes e escolhas que interferem positivamente e efetivamente. Pertencer é estar vivo, se envolver.












sexta-feira, 29 de julho de 2022

era

Era tempo, rima e vento.
Na porta de tantos olhares, a dimensão pela qual não atravessei.

Foi instante,
feito de rima e tempo.
Na ponta dos dedos, precipício da língua.

O que mergulha nos abstratos absurdos, feitos da poesia sem quina da minha vida.

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#Seguimos Diversificar o material, as narrativas de uma cultura organizacional que amadurece e mostra resiliência ao transitar pelo conflito de gerações sem perder sua essência e sem descaracterizar sua atividade fim. Desta forma a área de comunicação se desdobra entre equilibrar o famigerado orçamento, o hiperestímulo das novas tecnologias, a capacidade técnica dos funcionários, o perfil de retenção de mensagem do público-alvo e a cobrança contínua dos clientes. A busca por um "algo mais" não deve ser apenas para receber elogios. A comunicação corporativa deve servir ao propósito da atividade fim da empresa e respectivos desdobramentos correlacionados. 






domingo, 3 de julho de 2022

chuva




Rompeu as nuvens e desceu formosa sobre os telhados anunciando a chegada, ou a passagem. Atenuou os tons do céu e escorreu versos por toda a parte. Refrescou os olhares cansados. Transportou-me além das linhas e dos ponteiros. O pó desceu os contornos do corpo molhado. A poeira voltou para o chão. Os poros inundados e o pensamento não estava mais ali.

Facilidade é não se confinar às palavras, mas contornar as letras escorrendo sem sentido, com pujante sentimento de estar vivo.

Levou ao tempo o que precisou levar. Se era chuva, lágrima ou clichê pouco importa o que pelos olhos saiu. Argumentos aquecidos, envelhecidos; compartilhados como um segredo alta noite, à porta dos ouvidos, com acesso aos poros.

domingo, 12 de junho de 2022

urgências


Sol pela lapela despertando o olhar para além da janela. Aromas e sensações de um dia que acontece. Independente das urgências. Transitam as ruas e corredores suores contidos em camisas que amordaçam corações aflitos. Aflitos por  cifras e cifrões, por cargos e palavras, por espaços e instantes. Cada urgência mata uma lembrança e constrói um arrependimento. As fachadas sofrem com tanto abalo e começam a ruir. Os pés caminham sobre os troncos de histórias silenciadas, cantadas apenas pelo movimento das águas e do vento. A paz de se integrar à natureza onde os ponteiros não alcançam.

Enquanto cada qual afoga o próximo com o próprio código de urgência, há sempre a opção de escolher não o fazer. De rever como as circunstâncias se originam, como se desdobram, e que não há necessidade de um indivíduo ser a prensa do outro. As urgências são costuradas em estandartes e muitas vezes não se compreende o porquê dela estar ali, apenas acostumou-se a levá-lo para todos os lados. 

Na comunicação, é essencial compreender as urgências, sua origem, implicações e demais atributos envolvidos. Assim, pode-se rever a mensagem e a narrativa de forma a ser mais assertivo. Observar as tensões e exercitar a percepção das multifaces da realidade.

O famigerado deadline toma outra dimensão, quando as urgências se juntam e não desembocam no mar das realizações, mas entopem / atrofiam a capacidade do indivíduo de assimilação.

Portanto, também por este motivo, as campanhas de comunicação precisam ser revistas, no que concerne não apenas a intensidade, formato, orçamento, mensuração; mas essencialmente nas urgências e no propósito de se comunicar. 

terça-feira, 7 de junho de 2022

malhete social




As narrativas sobrepostas cotidianamente criam a atmosfera de convívio social. A integração favorece ao amadurecimento de significados e significantes, marcando capítulos da evolução da sociedade. No entanto, também revela as misérias do carácter tanto da massa, quanto do indivíduo. Cada um maneja seu malhete sem reconhecer as próprias mazelas, mas sobretudo mirando a de quem está próximo. Este comportamento cruel e instantâneo, aparentemente tão natural à espécie humana,  por essência contadora de história, consolida conflitos e traumas na malha social influenciando a percepção a cerca das narrativas. 

Deste modo, não basta apenas criar as mensagens e estruturar narrativas atrativas mirando em um específico significante sem considerar o contemporâneo perfil de comportamento individual e da massa no que tange ao julgamento do outro a partir das narrativas. A comunicação, seja corporativa, pública ou individual, não pode ser feita à revelia e em busca de um "engajamento momentâneo" sem considerar os rumos, onde irá desembocar a narrativa.

Fofocas corporativas, intrigas sociais, brigas de família, embates políticos, versões de uma mesma fé, distorções de prioridades, o malhete nunca foi tão usado, de forma intensa, até mesmo com transmissão ao vivo. Após o julgamento relâmpago, a execução sumária. Todo dia, todo o dia. Novos julgamentos são iniciados assim que a execução do primeiro termina, e muitas vezes o processo é simultâneo. Seja em casa, no trabalho, na família ou roda de amigos. O malhete social não se cansa ou se desgasta, mas ao subestimar o tempo, desconhece as profundas consequências do seu martelar.

terça-feira, 31 de maio de 2022

assobia



Percebi na madrugada que não havia pela primeira vez uma canção a ser tocada. Eu estava ali sentado contemplando o silêncio da fria madrugada, sem procurar a lua no céu, sem me esconder das emoções sussurradas ao vento. Era eu ali no calado na alta noite sem canção, sem verso, sem musa. Não se tratava de abandono, ou de engano e desengano, era momento outro, em que as palavras não acompanham os pensamentos e as memórias atravessam o presente com pontuações de um passado que anunciava o porvir. Eles sabiam. De certa forma sabia. que o silêncio das madrugadas de quando era apenas uma criança queria dizer mais do que uma simples teatralização da juventude às madrugadas, querendo um dia ser alguém no escuro com um copo na mão, de algo quente ou refrescante. era mais que isso. era história outra que ainda iria acontecer. Agora ele sabia de uma maneira estranha. O saber sem saber, era mais que a expectativa tola das pessoas e seus crachás, seus mantras e bandeiras. Ele estava além dos versos, nem melhor, nem pior, mas ele, era ele mesmo. No espaço e tempo dele. Sem atropelos. Sem espelhos. Sem donzelas e juízes. Percebi que eu era o silêncio. Entre os ventos da madrugada, que balançam os lençóis e fazem das cortinas nuvens bem próximas; sem chuva.

x

domingo, 1 de maio de 2022


As relações humanas são sobre o poder. No entanto nem se aprofundam a ponto de compreender todas as nuanças e fundamentos e especificidades que envolvem o poder. Seja no indivíduo, no ser social, na sociedade ou na natureza sem humanos. Ficam no pó do poder, no início conceitual da palavra, na poeira que indica os rumos do envolvimento, na fuligem que engana os olhos sobre a realidade. 

Fazer desmoronar para subir nos escombros. Esta é prática de muitos que se colocam repetidas  vezes ao nosso lado na mesa, na fila, ao travesseiro, no trânsito, nas prateleiras sociais.

Não sei porque cheguei a esse ponto. Toda vez, olhar ao ermo. refletindo internamente. Sem ninguém para ver ou ser visto. Sem legado a ser deixado, sem explicações que configurem toda a realidade, pois a realidade não é feita de um só narrador, ou de sum narrador só. Então sem encontrar as saídas, persisto em admirar as janelas. Não é como se fosse especial ou óbvio demais, mas apenas como se atingisse parte do perfil da estrutura social, que diz muito sobre a configuração do indivíduo e partisse seu mind entre as  fases da lua e seu lado aparentemente sombrio... para quem olha sempre a partir do mesmo ponto.

terça-feira, 26 de abril de 2022

Asas e folhas


Era apenas uma carona, ou um aviso sobre leveza, sobre a efemeridade do tempo, sobre o olhar silencioso, sobre os detalhes, texturas e despedida. Folha ao vento, verso no tempo.

Os olhos ainda são os mesmos. As rugas, as linhas nas mãos. A memória que repete as mesmas lembranças, soterrando outras. Até que o vento levanta as folhas. O reconhecer-se no espelho, mesmo tendo mudado o rosto, a carne, os olhos ainda são os mesmos. Mas não tinham a noção, ou uma pequena prévia do que iriam presenciar. As décadas de imagens e sensações. Ainda são os mesmos? Pouco importa. 


sexta-feira, 1 de abril de 2022

e se


E se a compreensão fosse a premissa da convivência? As palavras formassem frases sem lâmina, pontas e feridas. E se a intenção da convivência não fosse ganhar sobre o outro, mas compartilhar e contribuir com o fluxo natural da existência. Por instantes fechasse os olhos e interrompessem todos os pensamentos. Se pudesse morar no encantamento que há no sorriso e brilho nos olhos dos meus filhos. E se não fosse necessário torres de letras para explicar o quer que seja? Se compreendêssemos que as pessoas não são substituíveis, cada um é único. O que alternamos é que indivíduo ocupa qual cargo social. E se o tempo pairasse sobre nossos sentimentos bons, controlando o alcance dos ruins, sem dar publicidade à flor da pele. E se eu fechasse novamente os olhos, e por aqui interrompesse tanta paráfrase, tantos passos pernósticos de dança? E se ao menos você não lesse, não julgasse, e se aquietasse no canto ao meu lado, admirando texturas, movimentos, folhas, nuvens, e o luar. Se as fotos não ficassem caladas na caixa. Se o colibri voltasse a bater asas em meu jardim, e se eu fosse ele?

Se parassem os gritos, eu ouviria; escutaria então meu coração parar.

E se o cansaço passasse e as palavras de veludo corporativo cessassem. Apenas verdade, sem arrogâncias, sem plásticas, sem Leólo espiar pela fechadura e escandalizar com a realidade. Apenas fluir as águas, sem assorear, inundar ou matar de sede. Esse permafrost social... e se tudo fosse uma simples questão de perceber e não ferir? De ser, se envolver e ter paciência para compreender. Se de repente não fossem precisas as amarras das fórmulas.

E se o abraço fosse de entrega, como o frescor da brisa no alto da serra? Se os sabores não tivessem nome além da maravilhosa sensação de senti-los e compartilhá-los.

E se como os escravos de uma realidade (que usa do conforto da tecnologia como grilhões), ficarmos à beira da estrada? Como o poema ou a canção, acolhidos pela misericordiosa natureza, única capaz, de dar paz; com a estrela da manhã que brilha à noite, enquanto o vento espalha a canção no nada.



https://www.escritas.org/pt/t/13069/a-cruz-na-estrada

A chuva intensa veio e foi-se. Após o cheiro de terra molhada sumir, teve quem dos escombros buscou alívio, e teve também, quem nem percebeu que choveu.

E se num piscar de olhos, a vida corresse apenas a novidade, nos trechos que fechadas as pálpebras vivenciamos a realidade no escuro, sem medo...

e assim partir.


quinta-feira, 3 de março de 2022

tambor


Ouvir a chuva. Se livrar da opressão social que te cobra números, em todas as áreas. Cifras, medidas, audiência, milhas e milhas. Sem contar as gotas da chuva. Duas, três, duas. Tantas. Sua energia despencou, fazendo com que o corpo anestesiado de tanto ontem, hoje e amanhã, parasse à chuva. Ouviu a chuva pelas batidas das gotas em seu corpo. Seus poros contraídos, seus olhos fechados, sua respiração controlada. Ouvir a chuva.

Tanto atropelo. Ergueu os olhos por narrativas mais amenas. A chuva de Olten é o respiro na realidade, tal qual a chuva de sapos em Magnólia, o vazamento de Settecani e tantas outras pautas tão necessárias para sinalizar alternativas na agenda.

terça-feira, 1 de março de 2022

Telefone sem fio


As pessoas não buscam informação. Alimentam-se do que recebem e até mesmo compartilham o equívoco sem saber. Não é novidade e está mais do que perceptível. As pessoas se atolam nas fontes de informação que agradam sua ideologia e pensar ser ela a única legítima. Não estão verdadeiramente dispostas ao diálogo, mas excitadas pelo efeito "telefone sem fio" que causam na sociedade e a conseguinte sensação de poder. No ambiente corporativo este comportamento (já instaurado na cultura social do indivíduo) coloca em risco a reputação e imagem da marca de uma maneira ainda não mensurada no longo prazo. Pensa-se nas crises de curto prazo e nos desdobramentos no médio prazo reordenando às vezes o plano de negócios da organização e seu posicionamento social; contudo, pouco pensa-se no longo prazo. Talvez pela intensa sensação de incerteza de que se esse longo prazo irá chegar, visto que o imediatismo é sobrenatural. Afinal, não se pensa efetivamente na política do revezamento, do "passar o bastão" para próxima geração. Assim, as narrativas ficam atoladas nos mesmos conceitos e variações de estratégias de comunicação.

Erga o pescoço sem perder o chão de vista. Siga.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Empatia em texto



Exercício social controlado. Em agosto de 2021, solicitei que meu filho mais velho escrevesse um texto. Não falei especificamente para quê era. Apenas disse que precisava da ajuda dele com uma redação, sem especificar o site, uma vez que há tempos escrevo no Obvious Magazine, tendo textos publicados no Observatório da Imprensa (motivo pelo qual ele não estranhou).

Apenas enviei para ele:

Tema: A empatia e a inteligência artificial na configuração da sociedade moderna.

Argumento: O comportamento das pessoas em convívio em sociedade, como está, como se dá e como será a empatia, considerando avanço da Inteligência artificial

1.000 palavras

Arial 12
Entrelinha 1,5
Prazo: 12/9
Hiperlink: relacionar com artigo científico

O motivo? Compreender como se estrutura a narrativa de um adolescente a respeito da empatia, do comportamento humano em tempos de muletas digitais cada vez mais incrustadas no perfil social. Estimular a reflexão sobre o que é a empatia e como ela está presente (ou ausente) nas famílias atualmente. Pensar também, argumentando em texto, como as facilidades tecnológicas, as interações com a inteligência artificial têm interferido no comportamento dos jovens, nas relações entre as gerações e no pensamento do indivíduo com os valores que o tornam humano e sociável (não no sentido do desejo, mas da necessidade de estar em sociedade). É interessante como se amparam nas tecnologias e alimentam lacunas que poderiam ser preenchidas com o que há ao redor. Alimentam por muitas vezes uma falta para forçar inconscientemente um amadurecimento pelo sofrimento da falta e da dúvida, ancorado na euforia da facilidade de assimilação de novas tecnologias, desprendimento em relação às tradições e conhecimentos de outrora. Fatidicamente, não percebem reafirmar o clico eterno do conflito de gerações. No entanto, agora cada vez mais exercendo uma apatia controlada em relação à realidade, tempo, valores, anseios e prazeres. Neste ínterim, as benesses das novas tecnologia evocam a sabedoria antiga para não refutar, mas incorporar com primazia o novo no presente possibilitando um futuro saudável, palatável a todas as gerações, sem destruir, mas muitas vezes modernizar, alguns aspectos fundamentais da sociedade.

O que se perde no percurso? Importa? Se viver estrutura-se em cumprir processos, qual a consciência perceptível do todo e dos detalhes e como isso se manifesta em nossos gestos, interferência e construção social? O que somos? Se nos propormos a ser globais excluindo os locais para assim não revelar e possibilitar que reconheçam o que somos.

Aguardei o texto com certa observação e expectativa. O que posso dizer do resultado? Antes de postar, algumas observações do processo. A curiosidade em levantar os dados, a liberdade para argumentar com as próprias palavras. No primeiro dia, o estranhamento de pensar algo assim. A receptividade, a desconfiança e a necessidade de cumprir a tarefa. No segundo, o primeiro parágrafo já pronto, e os gestos incorporados no ambiente de casa, talvez sem ele perceber. Acompanhar o texto ganhando forma, foi vivenciar o autor também se apropriando da narrativa, envolvendo-se na mensagem a ponto de se tornar mais leve, mais livre para se relacionar na família e pouco a pouco na sociedade, nos respectivos núcleos de convivência (claro, considerando todos os atributos psicossociais que envolvem a adolescência). Era como se um nova luz se acendesse sobre seus passos. Quanto tempo duraria ou o que verdadeiramente o levaria a incorporar em sua vida está fora de qualquer forma de persuasão ou controle. O exercício tem em si a capacidade de proporcionar a reflexão sobre o tema e sua discussão materializada no papel por meio da memória gráfica. Tenho esperança no que pode ter despertado nele. O depois é inalcançável, porém desejado. 

Embora o texto apresente uma necessidade de aprofundamento em algumas questões, trabalhando melhor o argumento em alguns pontos, gancho e demais atributos, é possível, a partir dele, compreender parte do olhar do autor. Após breve análise da narrativa, percebe-se o traço do autor em seus gestos e como o texto faz o autor à medida em que o autor faz o texto. 

Meses depois do exercício; posso dizer que não há espaço no segundo plano para o que deve permanecer no primeiro.


Abaixo segue o texto:

A empatia e a inteligência artificial na configuração da sociedade moderna

Gabriel Carlos Vieira Coutinho

A empatia, virtude a ser adquirida por todos, é a capacidade que o indivíduo tem de se colocar no lugar do próximo, seja conhecido ou não, é a maneira que o ser humano tem de compartilhar o sentimento e tomar ele como se fosse seu. Ao analisar a sociedade moderna no âmbito da ética e da empatia, percebe-se que ambos possuem tamanha importância para o equilíbrio perfeito de uma sociedade ideal. Entretanto, com a Revolução Industrial 4.0, houve o aumento de investimentos em áreas tecnológicas, que levou ao desenvolvimento da inteligência artificial e a sua ascensão no cotidiano das pessoas. Deste modo, pode-se analisar o real impacto, tanto positivo, quanto negativo, dessa inteligência no que tange a empatia na configuração da sociedade moderna.

Em primeira análise, sabe-se que, por natureza, o ser humano tem que formar grupos para viver em sociedade e isso é perceptível desde a época dos primitivos. As primeiras sociedades surgiram por meio de agrupamentos de pessoas que se migravam conforme a necessidade de conseguir alimentos para sobreviver, período conhecido na pré-história como paleolítico. Porém, com o passar do tempo o homem se tornou mais sedentário e deixou de ser nômade, se estabelecendo em um local com solo fértil, próximo aos rios e passaram a domesticar os animais, esse período se denominou como neolítico. Com base no exposto, fica evidente que independente se está fixo em um lugar ou mudando de acordo com a demanda, as pessoas sempre estiveram em grupos e tribos.

Além disso, é preciso observar a importância que as pessoas têm de estar em sociedade. Por mais bobo que pareça ser, o convívio social tem um papel significativo para o bem-estar físico e psicológico, pois os seres humanos têm uma necessidade de se interagir, cujo é cultivada desde cedo, quando ainda se é novo e está entrando na escola. Portanto, não é atoa que a primeira coisa que as instituições de ensino fazem é socializar as crianças, por meio de diferentes dinâmicas e brincadeiras, fazendo com que elas explorem seus sentimentos e aprendam a viver em conjunto.

Todavia, a inteligência artificial é um campo da ciência da computação mais recente, criada em 1956, a fim de buscar desenvolver novas criações e buscar respostas com auxílio da tecnologia. Para exemplificar, a A.I. “Artificial Intelligence” é o resultado dos avanços tecnológicos provenientes da revolução industrial e da globalização, com o foco de fazer com que as máquinas possam realizar tarefas que, até então, somente os humanos eram aptos a fazer.

A cada dia que passa a tecnologia está cada vez mais presente no cotidiano das pessoas, possuindo diferentes impactos na sociedade. Desde a criação da inteligência artificial, muitas empresas tem adotado ela como uma forma de facilitar e agilizar o trabalho, já que com a I.A a produção fica mais rentável para a empresa, pois há uma redução na quantidade de funcionários necessários e um aumento na rapidez e na produção em larga escala. Logo, esses pontos, tanto positivos, quanto negativos, têm grande relevância e influência na relação das pessoas.

Primeiramente, a I.A. auxilia grandemente nas empresas na otimização do processo, auxiliando na tomada de decisão das indústrias, pois a inteligência analisa os dados precisamente e busca selecionar sempre a melhor opção para determinado caso, reduzindo assim as falhas. Além disso, o avanço dessa tecnologia, juntamente com a globalização, permitiu a aproximação de pessoas que estão em diferentes lugares no mundo, fazendo com que os indivíduos estejam “próximos”, enquanto na verdade estão em locais geográficos totalmente opostos.

A inteligência também possui seus pontos negativos, pois ao substituir os funcionários por máquinas, a taxa de desemprego aumenta significativamente e isso impacta diretamente nos quesitos sociais e psicológicos da sociedade moderna. Uma das principais consequências do desemprego é o aumento da pobreza, da desigualdade social e o aumento da violência; quando se analisa o aspecto psicológico surge problemas relacionados a autoestima e insatisfação do trabalhador.

Ademais, este avanço causou um afastamento entre as pessoas, pois muitas ficaram alienadas a esta ferramenta e focaram demais no mundo virtual, esquecendo e se afastando do mundo real. Sabe-se que a alienação é quando um indivíduo fica indiferente aos acontecimentos da sociedade, ou seja, a pessoa passa a deixar de lado as coisas que ocorrem ao seu redor, dando ênfase somente aquilo que ela julga como importante e/ou interessante. Assim sendo, é indubitável que a inteligência artificial trouxe para a sociedade moderna diversos pontos positivos e negativos, cabe ao ser humano dosar e utilizá-la de uma maneira que irá auxiliar e não atrapalhar a relação de convivência das pessoas.

Nesse viés, pode-se destacar o renomado Georg Simmel, sociólogo alemão que abordou a atitude “blasé” como um comportamento padrão da sociedade contemporânea, de maneira simples, esse ato consiste em deixar de lado assuntos, quando na verdade deveria mostrar atenção. Desta forma, o indivíduo da sociedade moderna acaba se priorizando e se ocupando com seus próprios interesses, de maneira egocêntrica, deixando de lado o ato de se colocar no lugar do outro.

Sendo assim, com base no que foi exposto, a I.A. é bastante influente na sociedade contemporânea, pois ela ajuda na melhor integração entre as pessoas que estão distantes uma das outras, deixando tudo mais rápido e fácil. Porém, essa inteligência deixa as pessoas mal acostumadas ao ponto em que chegam a se tornar escravas e totalmente dependentes das tecnologias, fazendo com que o indivíduo perca valores fundamentais como por exemplo a ética e a empatia, pois o ser foca somente em si mesmo e no seu bem estar no mundo virtual, esquecendo muita das vezes do que se passa ao seu redor.

Nesse sentido, com o passar dos anos valores como a empatia, seja ela cognitiva, emocional ou compassiva, irão se perdendo, considerando o avanço da inteligência artificial. Portanto, cabe o Conselho Nacional da Educação, por meio de uma modificação da Base Nacional Comum Curricular, ingressar disciplinas que envolvam habilidades socioemocionais, como respeito e empatia. Essas disciplinas devem ser estudadas não só pelo ensino infantil, como é feito atualmente, e sim em todas as idades, para que dessa forma as pessoas continuem a dar valor para essas virtudes e não deixem em segundo plano, como foi abordado por Simmel.


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

pormenores


Na comunicação dentro da empresa, na família, dentro da própria cabeça. Eles nos pegam desprevenidos, no meio do salto, o pé que agarra no argumento, no trauma, no sentimento. Pormenores da existência. Sem o espetáculo de grandes estratégias, sem fazer para ser premiado, mas para ser efetivo; e nem por isso lembrado; tampouco esquecido. Como equilibrar a intensidade, energia, exposição e tudo o mais? Atentar-se às particularidades das pessoas, do ambiente e do tempo (que nem sempre têm a ver com a narrativa, ou a mensagem). Sem receitas, apenas não plastificar a vivência.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Atos





Em tempos de streaming em demasia sobre heróis, os referenciais estão dia a dia petrificando uma imagem de sucesso que sabota o sujeito social (Eu sei, sempre foi assim, mas a sensação é de que o tempo de adaptação agora é menor do que antes). Assim, muitas vezes ele (o ator social) se percebe aquém do padrão aceitável e reconhecido na sociedade. Essa frustração pode ser verificada em seus atos, tentando corrigir o curso ou se entregando a ele. E ao contrário da máxima... os atos nem sempre revelam quem é o indivíduo, mas apenas como está o ator social.

O ato de coragem não é entrar na frente de um tiro, de um carro, em uma briga. Trata-se de impulso de resposta espontânea, ou se tem ou se desenvolve perante as circunstâncias. Congelar ou agir. Ser um herói não é saber fazer uma improvisada manobra cirúrgica com tampa de caneta de bico de garrafa de destilado, ou recolocar o braço deslocado, dirigir de forma sagaz em uma perseguição de fúria ou fuga. A coragem heroica está em vivenciar o automatismo dos dias sem deixar que o abatimento tome conta. É levantar grato por um novo dia, mas também atento, aos detalhes que se repetem ou se alternam, às dificuldades que não dão trégua, à impessoalidade que determina o conjunto, o todo. Olhar os filhos, cada qual em seu fluxo de descobertas, experimentação e aprendizado; sabendo que todo pai e mãe também é filho, em um fluxo mais avançado. Compreender a si para ser alguém melhor para o outro, sem ser do outro.

O romântico ato de coragem não depende dos músculos, das cifras acumuladas, dos cargos e posição de poder ocupadas. Não se firma nas capacidades intelectuais, habilidade de argumentação e elucubrações. O anti-herói. Habitante calado da terceira margem do rio chamado realidade. Esse que veste roupas comuns, não fala muito alto, gosta de sentir o vento no rosto, valoriza um ar fresco, reconhece a importância do calor do sol à face. Saboreia momentos sem grandes expectativas e plateia. Coloca no papel não mais que traços em uma fragmentada linha reta. Que vivencia a empatia, sem fazer dela um estandarte. Esse indivíduo que se vê além do ator social, se sente e se percebe na paisagem e fora dela. Que aprendeu o caminho para Casdorra; e uma vez lá, não sairá. 

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

voltamos


 

Não sei o que se passa e o que pensa aí de cima. Aqui embaixo, a gente tenta se encaixar, levar os dias, conforme a maturidade que adquirimos, conforme os desejos, sonhos e a realidade possível. Não sei, e confesso que estou cansado. Não desiludido, pois vejo cada encanto por todo canto. Cada instante mais único e especial. Mas o cansaço vem sempre no silêncio. Nesse turbilhão de atropelos e abandono da sociedade. Na repetição, por mais que não percebam, dos ciclos sociais. A sustentação do sorriso às vezes se abala com as lágrimas. O meu rosto já está marcado e sei que não sou melhor do que ninguém; não procuro esse tipo de reconhecimento. Olho-me bem; buscando reconhecer esse rosto marcado no espelho, nas fotos e na vida. Reconhecer para acertar rumos e tentar driblar esse cansaço que agora controla o olhar. Voltamos a nós mesmos. Sem os mesmos encaixes e contexto, sem a mão da misericórdia sobre nossa ingenuidade de outrora. O eterno retorno do andarilho versus o caminhante. São os rumos... 

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Nos roubamos


Gerações sobrepostas comportamentos consolidados. Quanto mais tecnológica a sociedade, quanto mais conforto, mais abandonamos coisas essenciais?  Precisamos nos dedicar às trocas. Conhecer a versão dos fatos de quem viveu há tempos. Ouvir nossos pais e avós e sermos ouvidos pelos nossos filhos. Percebe-se a cada dia, que as novas gerações não apenas desconhecem as vivências dos antigos como as desmerecem. Não se valoriza os livros, filmes, peças e histórias. 

Outro dia acabou a energia elétrica. A internet caiu o sinal. Celulares sem bateria. Bundas na calçada, olhares para a lua. Quantas estrelas. As histórias surgiram. Tanta gente próxima que não se conhecia além dos automatismos do dia a dia. O que se faz com o que se sabe é outra coisa. Não precisamos complicar a mensagem, tampouco o comunicar. Precisamos ser efetivamente verdadeiros (não no sentido de ter a razão, mas de estar entregue ao processo de comunicar, interagir), transparentes, espontâneos.

Nos roubamos. Em busca de mais conforto, segurança, saciedade. Nos roubamos e nem percebemos, a não ser quando sentimos falta de nós mesmos entremeio a tanta máscara. Nos roubamos e não sabemos onde nos guardamos, ou para quem nos vendemos depois.