domingo, 26 de abril de 2015

IdeIa

IdeIa

Olhares perpendiculares refratam meus sentimentos. Flores excepcionais perfumam a paisagem e presenteiam o olhar com cores delicadamente escolhidas. Suor extraviado, o corpo em movimento desagua nos sonhos, longe da rima, das mágoas de seus lençóis. Intocada pétala flutua pela praia deserta de pessoas, repleta de suspiros. Olhei no fundo dos olhos da miragem; desanuviou minha névoa. Protegida das fagulhas, o contraste te enaltece.

Personagens sem nome, roteiro sem fala. Diálogo clichê de corpos sem palavras. Ele gostava de pensar, tropeçava ao escrever. Ela não sabia o ler.

Era a ideia.
Sem corpo, com todos; sem voz.
Sempre audível, com textura, suor e abstrato.
ideia.

e a ideia, como pluma
complexa intensa,
repousa e paira
fantástica ideia,
permeia todo o ser que sou.

Dissipado pela instabilidade das sensações, o corpo é um barco à deriva. E o dia nasceu com a magia de sempre, a sutileza de ser magnífico desde os detalhes. Circulo por eles percebendo ser mais um, uma fagulha à beira do iminente incêndio transcendental. Aquele que não queima, mas aquece, purifica, faz arder as ideias de forma a impulsionar ações; atitudes calculadas. No limite do desejo, sonho e realidade. Fronteiras permeáveis. Onde um desagua no outro. Saliva. As incertezas não coexistem, quando as mãos se tocam ao acaso.

A paisagem é dinâmica aos olhos estáticos. O remanso da vida, a crueldade de instigar reação ao que há muito estava silenciado e posteriormente temperar com fel o silêncio dos sorrisos e olhares. Tocar por meio das palavras é tão fácil. Todas as palavras estão postas, basta colocá-las para dançar, ornamentá-las de possibilidades, submetê-las à sinfonia das frases, entrelinhas e sentidos, significados. O estouro dos significantes na noite dos desesperados. "They shoot in horses, doo't they?" Quando o desejo é mais do que impulso, uns chamam amor, outros versam loucura... eu sinto!







terça-feira, 7 de abril de 2015

Redes Orkutizadas - o Espelho de nossa vanguarda


Imagem: Ben Hopper


A contínua renovação das plataformas de comunicação não significa evolução humana e dos processos de produção de conteúdo, interpretação e desdobramentos possíveis.  A tão proclamada vanguarda sucumbe não ao ineditismo e novos padrões de percepção, mas à consolidação de paradigmas. Na verdade, submetidas ao tempo de uso, as plataformas refletem a estagnação dos usuários em expandir fronteiras do processo de comunicação. Reforçam aspectos sociais e funcionam como uma lente de aumento nas atitudes dos indivíduos.

Um automatismo é percebido no perfil de comportamento dos usuários. A manifestação pública é padronizada nas mídias sociais, independente se elas (mídias) são específicas para assuntos profissionais, pessoais, textos, fotos, e etc. O padrão de comportamento que tornou cansativo e obsoleto o Orkut, tem sido verificado não apenas no facebook, mas também no Linkedin e até mesmo no twitter e fóruns temáticos. A infantilização de postagens, a agressividade da linguagem de mensagens ideológicas, ou a avalanche de pílulas de auto-estima. Verifica-se mais um processo de busca por audiência do que por aprimorar relacionamentos via plataformas digitais.

O respeito é o mito na interação nas redes sociais digitais. A frequente imposição de versões dá o tom de um diálogo que mais parece um monólogo diante do abismo do que uma roda virtual de conversa. Este processo, tão repudiado pelos usuários, é o que os representa. Após orkutizarem o bate papo da praça, a interação no o ICQ, no MSN, no Face, a maioria segue com a massa para o próximo hospedeiro, tornando obsoleta a plataforma antiga. Neste ínterim, o Google Plus ainda é um território não contaminado pelo automatismo social, e, portanto, tem possibilitado mais leveza e fluência à interação com temas específicos; por enquanto.

Cada vez mais, acredito que a vanguarda do fazer comunicação está em revisitar os primórdios, resgatar a essência da comunicação no ato de conceber sentido, significado, mensagem e interação; ao invés de se entregar às possibilidades superficiais das novas tecnologias e novas redes. É preciso um mergulho profundo, potencializar as plataformas e possibilitar mais respiro do que sufoco ao ser humano, suas tradições, valores, ideologias e sonhos. Talvez esta seja a pauta em constante renovação, capaz de mudar o reflexo que temos apresentado.
...

Avante
despertado o sentimento flui 
angustiado o tempo perde o compasso
o corpo se contorce
nus unimos

...

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Poros

Com seu modo de se impor, de me olhar do alto, de me iluminar, a lua conduz até si meu olhar. Notas musicais passam a ter um especial sentido. Frases sem palavras tocam intensamente, fazendo do corpo um instrumento. Momento nenhum pedi a sensibilidade, o humor e o romantismo. Não solicitei as palavras, as percepções nem outro aspecto. O porquê não me revelado foi. Mas, sempre mas, regurgitamos sinais de pontuação, de sonho, angústia e amor. Chega de doces, quero teu abraço; chega de sorrisos, quero teus beijos, intensos, delicados, ousados, contínuos. Chega de anseios, quero futuros nossos no presente. Cale meus versos com seus poros nus meus. 

E o tempo me escapa pelos poros. Recluso, renovo a verdade num silêncio, renovo o personagem para o externo social.