segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Plataformas

 




É fundamental conhecer o território, os hábitos de deslocamento e perfil de absorção de mensagem do seu público; e assim utilizar a diversidade das plataformas disponíveis para reverberar a narrativa e potencializar a mensagem, desdobrando os conceitos pelas peças e ações de comunicação.

ressaca dos olhos


Criam-se os estandartes dos argumentos que atrofiam qualquer forma verdadeira de relacionamento interpessoal. Preferem viver a imagem, preferem reforçar os rótulos. O que há de ser verdadeiro foi resignado a ser taxado como piegas. 

Há muito não via olhos diferentes assim em uma pessoa. Ela tinha olhos de morte, olhos de abismo, prendendo quem se aventurava a gritar. Preso no eco das esperanças distorcidas, assim ficavam suas vítimas. Mantive-me distante daquele abismo, embora ele tenha rondado onde eu precisava estar.  E os olhos de morte, a tudo que tocam destroem, sugam a energia, suprimem toda forma de amor. Aliás, amor é o que menos importa na sociedade. O poder sim é o que através de gerações encanta as relações. O poder, e todas as suas manifestações. 

A memória transporta o espírito para o litoral. Olhos de ressaca, assim como a voz rouca, uma vez já confundiram a atenção de quem estivesse por perto. Ela dobrava o horizonte na impossibilidade de estar livre. Boca grande de lábios devoradores de sorrisos, de suspiros. O sofrimento impelido a quem se fragiliza por perto é irremediável até mesmo para o tempo; que assim como o vento, apenas passa.

Territórios. Olhos de oásis. Ela não gosta de perder. Precisa ser referência, ter domínio. Pensa ser este seu lugar na vida das pessoas; ou ser este seu instante de segurança. Por isso, abre mão primeiro, para demonstrar controle.  A primeira a abandonar. A primeira a tentar reconquistar. Olhos de inocência e perdição, ela ostenta. Assim ela se esconde das questões mais interiores, evita se ver no espelho, e se envolve com a superfície dos outros, em um mergulho perigoso. Mergulho no lago congelado, o clichê eterno, sem retorno.

Não. Ela não é romântica. Tampouco atenciosa no que faz a diferença a quem sente. Ela é atenciosa ao que julga ser importante. A empatia é limitada. Não. Ela não fala de amor, pois evocaria se despir de todo sistema de defesa instituído. Não se pensa nas lembranças construídas. Apenas se alimenta das reminiscências de um outrora deturpado. Outrossim, encantador.

A narrativa do empoderamento impera sobre os sentimentos. Assim, uma frieza e controle social castra aos poucos os que estão à flor da pele. Latente é o desejo em ter pelo menos um pouco de dinheiro para comprar a paz, dando o dinheiro a quem o ama. Realidades divergentes todo o tempo dentro da nossa cabeça. Derrubadas por variáveis das equações da realidade, sentimos pesar os ombros. Sentimos a mente se confundir. 

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

sol


Tempo e distância. Oito minutos e meio. O compasso do atraso. Com quantos sonhos pode se viver? Cada dia um sonho a menos. Qual o mínimo antes de sucumbir? O brilho emitido, o brilho exigido. A luz que é possível, o calor que consegue atravessar a colossal frieza. O sentido que a palavra suporta. O sentimento que o olhar sustenta. O corpo que se desfaz ao vento. 

O gás acabou. Então a água foi para o micro-ondas. O carro precisava abastecer. Pouco dinheiro na conta. Choveu, então as roupas foram para a secadora. Controle nenhum sobre a essencialidade do corpo. Desconhecimento  sobre os automatismos que mantêm a vida. Tudo se ajeita. A hora certa é a hora que se chega. Estamos sempre no tempo. Nem antes, tampouco depois. Estamos no tempo e não na nossa expectativa (menos ainda dos outros) de se estar no tempo (seja momento ou horário). Uma conversa olho no olho não se sustenta há muito tempo. Já experimentou? Manter o olhar nos olhos de alguém enquanto conversa? É o mútuo mergulho, enquanto as palavras se derramam. Sustentar o olhar é manter o equilíbrio ao atravessar a corda bamba, sem rede de proteção.

Cachorro late. Dias nublados são tão calados. Será o mesmo silêncio de um dia em que neva? Diferenças. A gota precipita, mas a chuva não vem. Sorrisos rasgados forram a paisagem de mais um ciclo do mais do mesmo. A cobrança movimenta a sociedade, mas o desequilíbrio entre o que se cobra e o que se entrega deixa os indivíduos à beira do colapso. Pessoas que não se reconhecem mais ao espelho.

Em mim os sentimentos do mundo fizeram passagem. Assim como fizeram com tantos outros. Provei da sensação de ter o potencial, ter as respostas e os resultados, de tudo o que me foi extraordinário e miserável. Soube como foi a sensação de estar no ápice e também de ver degradar ao espelho minha face, meu corpo, meus sonhos. Entendi que tudo o que conquistei e sou grato.

Poeira. Beira à poesia quando brinca com as palavras vazias e se instala sobre as superfícies. Todas as superfícies. Muda então a cor, o cheiro e a textura dos ambientes. Muda o significado e o ritmo de vida. A poeira só vira sujeira quando muda-se o olhar, ou quando se passa a mão sobre a superfície. O que é poeira em um objeto vira sujeira nas mãos.