segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

sol


Tempo e distância. Oito minutos e meio. O compasso do atraso. Com quantos sonhos pode se viver? Cada dia um sonho a menos. Qual o mínimo antes de sucumbir? O brilho emitido, o brilho exigido. A luz que é possível, o calor que consegue atravessar a colossal frieza. O sentido que a palavra suporta. O sentimento que o olhar sustenta. O corpo que se desfaz ao vento. 

O gás acabou. Então a água foi para o micro-ondas. O carro precisava abastecer. Pouco dinheiro na conta. Choveu, então as roupas foram para a secadora. Controle nenhum sobre a essencialidade do corpo. Desconhecimento  sobre os automatismos que mantêm a vida. Tudo se ajeita. A hora certa é a hora que se chega. Estamos sempre no tempo. Nem antes, tampouco depois. Estamos no tempo e não na nossa expectativa (menos ainda dos outros) de se estar no tempo (seja momento ou horário). Uma conversa olho no olho não se sustenta há muito tempo. Já experimentou? Manter o olhar nos olhos de alguém enquanto conversa? É o mútuo mergulho, enquanto as palavras se derramam. Sustentar o olhar é manter o equilíbrio ao atravessar a corda bamba, sem rede de proteção.

Cachorro late. Dias nublados são tão calados. Será o mesmo silêncio de um dia em que neva? Diferenças. A gota precipita, mas a chuva não vem. Sorrisos rasgados forram a paisagem de mais um ciclo do mais do mesmo. A cobrança movimenta a sociedade, mas o desequilíbrio entre o que se cobra e o que se entrega deixa os indivíduos à beira do colapso. Pessoas que não se reconhecem mais ao espelho.

Em mim os sentimentos do mundo fizeram passagem. Assim como fizeram com tantos outros. Provei da sensação de ter o potencial, ter as respostas e os resultados, de tudo o que me foi extraordinário e miserável. Soube como foi a sensação de estar no ápice e também de ver degradar ao espelho minha face, meu corpo, meus sonhos. Entendi que tudo o que conquistei e sou grato.

Poeira. Beira à poesia quando brinca com as palavras vazias e se instala sobre as superfícies. Todas as superfícies. Muda então a cor, o cheiro e a textura dos ambientes. Muda o significado e o ritmo de vida. A poeira só vira sujeira quando muda-se o olhar, ou quando se passa a mão sobre a superfície. O que é poeira em um objeto vira sujeira nas mãos.

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