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sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

encantamento


O túmulo dos vagalumes é o olhar que por último os viu. Vemos sem perceber, nos esbarramos sem ao menos sentir completamente o que fica daquilo que passa, e o que foi levado do que sempre esteve aqui. Beija-flor persiste mesmo durante a chuva de mais um dia tão incerto. O coração flutua na chuva, ele chove com ela. Os traços de dias chuvosos registram a mudança do nosso caráter frente aos sentimentos. 

A poluição da paisagem, imposta pelos padrões de desenvolvimento, de felicidade, de sucesso, espantam os vagalumes da noite, empurram beija-flores para voos em dias chuvosos. Dias em que as notícias chamam mais atenção que as flores, balançam mais que os fios à brisa que marca a intermitência da chuva.

O encantamento é berço de um renascimento. Quem encanta tem assim não uma responsabilidade maior, mas uma especial virtude, de renovar algo na paisagem.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Bias tão nossas


 

Tantas são elas, que controlam nosso corpo, delineiam no horizonte o alcance de nossos braços, o ritmo dos passos e a ousadia dos olhares. Fazem morada no indivíduo a ponto de se confundir com a identidade de quem as possui, ou por elas são possuídos. Entrelaçados a elas buscamos aprimorar o reflexo do espelho sem nos ferir gravemente com os cacos. Bias, tão nossas. Bias nada fofas que dão medo "Medo que dá medo do medo que dá".

As ruas e noticiários têm sido pautados pelas nossas fobias. Lampejos de virtudes, de harmonização social até incitam certo frescor no olhar, mas, no entanto, nossas fobias nos pautam. Seria bom se fosse para refletirmos sobre como vivenciar e transpor as intempéries das fobias; mas o que vemos é o registro das consequências de medos maturados em seres despreparados. Pessoas queimadas, corpos mutilados, redes sociais congestionadas, diálogos violentados, matriz energética estagnada, ciclistas, motociclistas, pedestres e motoristas em vias de guerra, guerra urbana, umbigos gritam em palanques, cidadania encarcerada, relacionamentos dilacerados por um utópico e cruel bem comum, que não vem.

Percebemos a fobia como a expressiva materialização da angústia de um medo; vemos o empoderamento de uma castração psicológica que porventura pode estar em segundo plano na mente do indivíduo, mas que é base para as atitudes quase que automáticas; com consequências que transformam não apenas a identidade e caráter de seu possuidor, mas que reverberam no ambiente e em seu respectivo equilíbrio.

As atitudes provindas delas são recorrentemente um instinto de autopreservação que muitas vezes gera agressão ao próximo. Esse medo de que sua identidade e seus valores percam espaço na organização social, de forma a ter supostamente corrompidas suas virtudes, diminuídas suas articulações políticas e sociais, faz com que o indivíduo rejeite a diferença, obstrua o caminho da diversidade, e levante o estandarte de uma moderna inquisição, onde a intolerância grita e pune contra o outro, contra o plural. Mas a existência do diferente não pressupõe que seja soterrado ou exterminado o outro, na verdade se trata de uma flexibilização de perspectivas. Há espaço e tempo para todos.

"Tienen miedo del amor y no saber amar / Tienen miedo de la sombra y miedo de la luz / Tienen miedo de pedir y miedo de callar / Miedo que da miedo del miedo que da (Miedo - Lenine - composição: Pedro Guerra/Lenine/Robney Assis)"

Dalgalarrondo (2006 - apud Mira y López 1964) apresenta o medo como uma alteração dos aspectos emocionais que desencadeia em escalas até a sua inativação, tomando determinada proporção até que o indivíduo alcance estabilidade. Essa leitura concebe seis fases de acordo com a intensidade e abrangência: 1. Prudência; 2. Cautela; 3. Alarme; 4. Ansiedade; 5. Pânico (medo intenso); 6. Terror (medo intensíssimo). Sendo assim, as fobias podem ser encaradas como medos exorbitantes, descomunais, desproporcionais, atrofiadores. O contato com o objeto de fobia estabelece crise, com profunda inquietação e ansiedade por parte de quem possui a fobia. Neste instante de pânico não há lugar para a razão e sobriedade, mas apenas o raciocínio lógico de se livrar do objeto da fobia, seja impondo distância, fugindo, ou agredindo, tentando extirpar da existência. Neste sentido, é possível estabelecer uma relação preliminar: Fobia – Julgamento (da situação) – Punição (do objeto que causa fobia). Essa punição é materializada na intolerância.

A matéria de capa da Revista Puc Minas (Intolerância – Profunda reflexão sobre atitudes hostis e desrespeitosas que têm marcado o mundo contemporâneo. Ed 13 – 2016) apresenta de maneira contundente como “nossas bias” têm interferido na sociedade por meio de uma intolerância enraizada, que abrange aspectos religiosos, políticos, sexuais e raciais. Intolerância essa verificada em gestos, em vocabulários, conceitos visuais, e ordenamento social, estabelecendo-se como fator cultural. No contra-fluxo das atrocidades humanas está o processo de renúncia e denúncia. Denúncia por meio de multiplataformas (oficiais ou não) e renúncia (por meio de movimentos de contracultura) a um padrão de comportamento que só nos distancia do famigerado mundo melhor.

O que seu medo te impulsiona? No que ele te castra? Como ele torneia sua personalidade? Medo ou fobia de insetos, de situações, de ambientes, de sensações, de cheiros, materiais, de sons e até mesmo de sabores. Uma breve pesquisa na internet e você encontra listas de fobias (cada um que até impressiona existir). Contudo, assustador é observar e presenciar como os desdobramentos do medo da diferença, o medo de não controlar e sim ser parte integrante de um grupo social, traçam a realidade. Desdobramentos que podemos resumir em fobia de pessoas. Homofobia, Heterofobia, Transfobia, Politicofobia e polifobias possíveis. Bias traiçoeiras, desde o modo como se instalam na sociedade, até a estratégia de disseminação e ideais para contaminação de novos adeptos. Que as fobias recorrentemente trabalhadas no agenda setting possam nos provocar a uma efetiva melhoria, a partir de pensamentos consonantes para aceitação do plural, contribuindo para uma evolução continuada do modo de perceber a vida e se integrar à paisagem, relacionando uns com os outros sem se perder em utopias, mais ainda assim permitindo sonhos que libertem-nos das bias e elas de nós.

 
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segunda-feira, 23 de maio de 2016

Entrelaços

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imagem - 58_waldemarvonkazak_r
 
Entre os homens lealdade é uma moeda de troca; simpatia é o forro da mesa onde esperanças são estraçalhadas. O mercado de trabalho é voraz. Desassossego. As mentiras despencam silenciosamente, apenas com um suave assovio. Resíduos no chão tornam o caminhar cuidadoso, para não tropeçar, para não perfurar os pés. O impacto assola a alma, entretanto, mantém esteticamente sadias as relações humanas. That’s life Blue Eyes; again. O Ego rege os homens com o chicote da competição, as esporas da vaidade, o chapéu do sucesso (levado pelo vento forte).
 
Entremeio a variedade de discursos, interpretações de ideias e relatos de acontecimentos, sempre existem aqueles que fazem jus à finalidade de sua produção. Encontrá-los é um desafio cada vez maior. Relatos. O umbigo fala. Todos. Corrompemos o bom silêncio. Tornamos ébrias as palavras. O clichê é verdadeiro. Os questionamentos movimentam a sociedade, aperfeiçoa. Questionar é inquietar-se, manter acesa a chama. Todavia, qual o combustível? Há fogo em sarça que não se consome. Eterno.
 
Entre tremores, temores e reflexões. Rosas e algodão. A espinha dorsal permeia algo. Ser tocado pela leveza dos significados, significantes e coisas. Independente das pessoas e das lagartas. O som do bater de asas de borboletas cravadas na pele. Embora muitas vezes “a razão” seja um pingente utilizado ao pescoço e visualizado por nós pelo espelho, hoje um salto de roupa na piscina é o suspiro da sanidade. “A Roseira já deu rosa, e a rosa que ganhei...”.
 
Sabes o homem o que ele deseja. Entretanto vive ele com o que escolheu ou com o que aceitou? Com sentimentos que ultrapassam o tempo, duração e lógica persisto por não saber ser outro senão este que se alimenta do que é. Sensibilidade e certa ingenuidade, outrora crueldade. Apenas mais um tijolo no muro, ou na fundação de uma ponte.
 
Impressiona como a constatação de um instante nos faz compreender os ciclos. A alternância do compasso de cada um em seus ciclos (amorosos, profissionais, existenciais) é o que desenha a paisagem contemporânea de desejos, relações, encontros e colisões. Todos estamos inseridos em ciclos. Seja enquanto ser social, integrado a um sistema de relacionamento coletivo ou enquanto indivíduo, em seu aspecto peculiar e introspectivo. Buscar compreender o compasso de nossos ciclos e as possibilidades de movimentos e harmonização pode apurar melhor o nosso vivenciar. A maneira como atingimos o apogeu (em um ciclo) de um sentimento, de um sonho, de uma esperança, determina como serão dilacerados os olhares de quem ama (não de quem é amado).
 
Fustigado por ter de aceitar uma lógica que me deixa com partes sobrando, sem encaixe, percebo-me mutilado e não lapidado.  Pode-se perceber parte da sensibilidade se ressecar,  formando uma crosta de palavras das quais desconheço o significado e os efeitos, apenas as sensações e sentimentos que lanço sobre elas. Essa nova camada torna-se a base dos argumentos do ser que se integra à sociedade dos choques de ombros e fluxos de mensagens. Contudo o indivíduo permanece indivisível.
 
Entrelaçado, o poema se expande, se integra e se confunde com os passos pela realidade, ameniza os percalços de um entorno de leitura fria, de corações de batimentos rasos, e lábios de algozes apáticos. Resignado em um silêncio que não grita, mas sobretudo canta, o ser contínua vivo, pujante dentro de um instante que é perene.
 
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sábado, 30 de abril de 2016

Listas de listas




Listras de conhecimentos listados em linhas, rankings, especulações da felicidade e facilidades contemporâneas. Resoluto, o cidadão tropeça nas listas de jornais e revistas, compartilha em redes sociais e se liberta ao criar as próprias listas. Seja dica de autoajuda, profissional, espiritual, Cultural, sexual, de presentes, de futilidades, de doenças, de mortos, de indicadores econômicos, de desenvolvimento, de técnicas de se alcançar o desejado, … as variáveis são tantas que complica até listar aqui.
Este mecanismo de requentar assuntos em pautas frias e instigantes ao leitor de “rapidinhas” extrapolou a mídia e as rodas de bate papo e se tornou a nova narrativa do mercado editorial. Livros e veículos de comunicação utilizam desse atributo soterrando o leitor de informações que muitas vezes ele nem entende a finalidade de estarem reunidas em uma lista.
 
Muitas servem de acalento a editores e leitores, uma vez que preenchem  lacunas nas páginas e nas vidas. Impressiona como este artifício está incrustado na narrativa contemporânea. E são atrativos, pois os leitores estão atarefados e com o tempo escasso para se dedicar a uma leitura extensa. Desse modo, as listas são algo que permitem ao leitor se inteirar sobre um assunto específico sem ter de dispensar muito tempo para a leitura. Basta ler os 15 elementos do homem moderno, as 5 Dicas para aumentar a motivação à segunda-feira, os 10 Passos para estar sempre informado, as 7 estratégias para ser uma pessoa interessante e por aí vai….
 
Listas sobre tudo. As músicas para trabalhar, para amar, para chorar, para escrever, para ler… Os melhores filmes de amor, as melhores cenas de desilusão, as palavras mais buscadas na Internet, as cores mais usadas em uma entrevista de emprego, o que não deve se dizer no primeiro encontro, o guia das preliminares do gozo perene, os tópicos essenciais para a preservação da espécie, as palavras menos ouvidas quando se quer um abraço, as pegadas da riqueza, as migalhas do abismo, físico, quântico emocional.
 
O que antes era complementação de uma pauta, um infográfico para atenuar o texto, agora é o próprio texto e cobre toda uma pauta. O processo composto de  Produzir e consumir informação sofre as costumeiras interferências do tempo, da evolução das plataformas e da maneira das pessoas se relacionar com tudo e todos. Assim, cada qual elege em seu sistema de relevância os indicadores que determinam sua dinâmica de consumo / produção de conteúdo. Neste sentido, ao transitar pelas narrativas, o olhar do leitor é fisgado por uma lista que o atualize, que o livre do estresse do dia a dia, que o proporcione risada, um alívio ou o preparo para o porvir. Então, liste suas amarguras ao lado de suas esperanças, trace um infográfico com seu sonhos e reveja como se definirão suas escolhas, sejam elas politicas,  sociais, espirituais, emocionais ou culturais.
 
 

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

sopro

Assim como a brisa e o vento cortam sem ninguém ver; sangro e choro sem ninguém notar que meu sorriso é meu velório. Sucumbi ao labirinto do tempo diante de meus olhos, dentro de mim... e as linhas de Galeano embalam na noite meu sono:

"A ventania - Eduardo Galeano - Livro dos Abraços

Assovia o vento dentro de mim. Estou despido. Dono de nada, dono de ninguém, nem mesmo dono de minhas certezas, sou minha cara contra o vento, a contravento, e sou o vento que bate em minha cara."


Não sabia que existia negra rosa; tampouco que devastasse meu sossego esse sentimento, que me tira o fôlego fazendo me arrepiar, me da paz na madrugada ao tirar meu sono para me ninar. Eu ali no canto, na nota chamada silêncio, observo você, vislumbro os sonhos enquanto saboreio nuances da realidade.

Controle, é o que impuseram a ela. Atrofiada, lançou suas esperanças de felicidade em um recomeço do mesmo, em outro lugar. A poda pode tanto matar quanto fortalecer a planta.


Desconhecia a diversidade e beleza encantadora e peculiar da natureza do mesmo modo que não sabia dos seus efeitos sobre meus sentimentos ao longo do tempo. A maturação intensificou minha ridicularidade e pieguice nos versos, nos gestos, no gozo. Sou prisioneiro da liberdade de amar. Mas...

Aprisionado na leveza de escrever palavras que nem lidas serão e imaginar o nascer de um sol que não virá, não de olhos abertos, ele disfarça significados  no silêncio, ao som da chuva... Na esperança de que a vida continue surpreendente, mudando sempre até que ele se envolva finalmente no amor angelical...

O que há de liberdade na vida além das incertezas? Fora do alcance das amarras do cotidiano, a liberdade do desejo, dos sentimentos e sonhos estão um passo atrás do olhar, do lado de dentro dos olhos, vislumbrando pela vitrine a realidade que quer transformar. Mas romper a membrana para sair pode significar perder a visão, ou mudar as cores das coisas. E quem diz que tudo deve ser da mesma maneira? e quem pode garantir que perder a visão é não enxergar? Apura-se os sentidos, eleva-se a outra dimensão o relacionamento com o que é real, o que é belo, o que nos faz gozar.

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

relance do espelho

Gerações se sobrepõem atrás de um perfil de satisfação e relacionamento eficaz entre poder e prazer. Aspectos seculares do ser humano repetem-se simulando evolução, confundindo pluralidade com vanguarda, travestindo o mesmo com nova roupagem e apresentando-o  como novo.

A sagacidade como busca dar conta de tudo (fluxo de informações e evoluções sociais e tecnológicas) fez com que a geração atual tropeçasse em situações simples, expondo assim sua fraqueza em lidar com a dor, frustração, e improvisação diante das adversidades. Por isso, resiliência se tornou ainda mais um diferencial na escala evolutiva da humanidade. De problemas domésticos, indisponibilidade de eletrônicos, até mesmo tarefas como cuidar da cria desde o nascimento tornaram-se entraves de uma geração de super-heróis e mulheres revolucionárias, de mercado. Falta equilíbrio, maturidade e menos preconceito. A desestabilização emocional dos homens (em eterna puberdade) e das mulheres (sem saber o que fazer ao sair da caverna) é tão evidente e patológica que tem sido tratada como algo comum na timeline da contemporaneidade.

Não sabem lidar com uma bomba de caixa d'água estragada, dias sem internet, momentos sem eletricidade, cuidar da roupa, da casa, da alimentação, cuidar de crianças, lidar com perfis profissionais divergentes,  administrar as finanças e a lista se expande a cada dia. A geração prefere delegar as atividades básicas operacionais e assim exercer seu poder de se entregar ao prazer de nada ter que fazer. Neste ínterim, escolhe a virtuose que lhe apraz, sem se preocupar com a "paisagem" mas apenas no seu momento de gozo nela. Entretanto, têm habilidade em terceirizar. Sabem pagar por serviços (inclusive de escolha) e produtos, para assim se preocuparem apenas com o foco de sua relação de interesse, poder e gozo.

O indivíduo precisa desaprender o que pensa ser e aprender a conviver em sociedade. Fala-se tanto em estabelecer limites, restringir acessos, bater ou não bater. Ninguém nos ensina a "ser social". (Não se trata de aprender a enquadrar uma selfie). O ser humano aprende a ser político na prática, absorvendo do meio a moral e determinando seus próprios valores. Com parâmetros intuitivos, ou referenciados via agenda setting, o indivíduo navega sem leme. As corporações e instituições professam conceitos emblemáticos (ética, compliance, segurança, qualidade de vida, responsabilidade social, sustentabilidade, investimento social privado, e etc.) que são os mesmos de outros tempos, mas agora com outra roupagem. A falta de atitude transformadora infelizmente também; alimentando assim a crítica, textos em perspectivas, as reflexões, bem como a demanda por mudanças. Neste cenário a resiliência brilha nos olhos de quem a tem.

Os produtos culturais encontrados transitam em reboots, remontagens, refilmagens e pouco de um olhar diferenciado que instiga o espectador, a plateia, a se re-ver como personagem com voz (nem que seja narrativa) e potencial de interferência na paisagem que por muito tempo apenas contempla, se torna (e se coloca como) vítima e algoz.

... publicado também em: http://obviousmag.org/rumos/2015/12/relance-do-espelho.html

sábado, 28 de novembro de 2015

Esse olhar


 

 

O rito da legitimidade das mensagens sofre pressão da diversidade dos meios e plataformas de comunicação. Os trâmites essenciais do processo de construção e disseminação de mensagens exigem agora não apenas habilidade para atuar em multimeios em tempo hábil (imediato), mas fundamentalmente em desacelerar um pouco a avalanche comunicacional e trabalhar a percepção sobre o que se quer dizer, a mensagem construída, as partes envolvidas, os repertórios destas partes (para tentar compreender a dinâmica de percepção), os desdobramentos de interpretação da mensagem e relacionamento com o processo de comunicação; tudo isso de forma perene e integrada à questão do tempo na contemporaneidade.

“A comunicação é a vítima desse progresso e é preciso desacelerar e realizar autorreflexão sobre ela”, com sabedoria se posiciona Dominique Wolton em entrevista à Comunicação Empresarial (Ed 95 - ABERJE 2015). Dentre os aspectos pertinentes a essa autorreflexão, na busca pela famigerada legitimidade, estão a linguagem, a percepção, o ritmo e os limites.

Após definir a mensagem e o público, é necessário refletir sobre a linguagem a ser estabelecida na narrativa, seu formato, plataforma e peculiaridades. Atentar ao ritmo de transmissão de mensagem e os limites de desdobramento (esses praticamente inexistentes). A partir disso, deve-se observar e até mesmo (resguardando a distância de observação do outro de Clifford Gertz) interagir com a percepção do outro para assim aperfeiçoar o processo de comunicação, redefinindo os ritmos da narrativa (incluindo a linguagem), limites de reverberação do conteúdo e a legitimidade de suas interpretações (atrelando vínculo com a fonte oficial do conteúdo).

O tempo inevitavelmente passa e isso não deve ser angustiante, mas argumento e espaço ideal para transformações e aperfeiçoamento, não em busca de perfeição, mas da perenidade do processo de comunicação, possibilitando inquietude, questionamento, diálogo, consenso e a liberdade de pensar e conviver. Neste sentido, o passar do tempo incita-nos a trabalhar esse olhar; esse olhar a realidade, olhar os sentimentos, espaços, pessoas e sentidos e assim narrar (em gestos e palavras) nossa experiência enquanto organismo vivo em interação social.

 


Esse seu olhar trincado, esse órgão fustigado pelo que pensa ser realidade. Suas palavras cheias de significados e escassas de sentidos tornam todo jardim um labirinto, onde os pés se ocupam com espinhos e a mente se liberta com os pássaros.







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segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Conflitos Corporativos



As estratégias e as diretrizes para identificar, conhecer e tratar os conflitos sociais que afetam o ambiente corporativo são várias, no entanto, enquanto empresas e instituições buscam por receitas para padronizar ações de tratativas (na maioria das vezes alicerçadas no viés jurídico), os conflitos passam constantemente por mutação não em sua essência, mas na forma de se hospedar e interferir no cotidiano.

Neste sentido, na busca por resguardar o patrimônio, não vale mais aquela máxima do "abafar o caso", extirpar com ações agressivas o assunto e sua reverberação na tentativa de silenciar e não tratar o conflito em suas causas.
A premissa básica para a gestão de conflitos é ter técnicas definidas para Identificar, lidar e minimizar a situação. Neste sentido, é fundamental considerar os aspectos de Intensidade / Características / Contexto; Metodologia, Mensuração e monitoramento (de aspectos e impactos).

É fundamental compreender o universo do conflito. Seguindo uma visão de paisagem, é necessário observar o todo e os detalhes, interrelacionando-os, compondo assim a paisagem. Dentre os aspectos relevantes estão:

- Identidade Cultural dos envolvidos

- Vocação Socioeconômica da região e dos envolvidos

- Perfil de financiamento das ações e grupos de conflito

- Interesse da iniciativa privada (geral e local)

- Interesse / tendência do Poder Público (Estado / Município)

- Perfil político da sociedade civil (comportamento)

- Demanda legítima da sociedade (quais são)

- Apetite a risco dos atores envolvidos no conflito (Ações Admitidas e Custo das ações)

Quando os conflitos entre comunidades e instituições estiverem amparados em uma demanda social legítima, as soluções efetivas deverão contemplar o envolvimento da Instituição com os problemas  estruturais da sociedade e para isso é fundamental estabelecer diretriz específica para o assunto.

No manejo do apetite a risco das instituições é necessário lucidez na execução dos planos de ação. Quando acontecer, a internalização de custos ambientais e sociais deve seguir um planejamento estratégico que não comprometa a rentabilidade do empreendimento, por mais que interfira no Plano de Negócios da instituição.

A diversidade cultural que compõe cada indivíduo é premissa para a oscilação entre harmonia e conflito em diversas esferas. Trata-se de uma dinâmica que começa em si (o indivíduo consigo) e expande à medida que ele se sociabiliza. Na interação entre sociedade civil organizada e iniciativa privada, a dinâmica (harmonia x conflito) é potencializada pelos interesses e necessidades de todos os envolvidos. Desta forma, mesmo que tenha impacto pontual, restrito e localizado, um conflito nunca deverá ser abordado de forma simplista. Mesmo que ele possa ser resolvido por ações simples, é necessário compreender e se integrar à complexidade que o envolve e os possíveis desdobramentos.
 
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segunda-feira, 21 de setembro de 2015

traço

O caminho do traço revela nuances de uma face que há muito tempo o espelho não via. Espasmos de sentimentos silenciados sobressaem sobre as flores sob os raios solares. O jardim é o texto, as pegadas o rastro de uma escrita de amor e cumplicidade.
 
Sua face rompe a brisa com uma interrogação. Seu silêncio deixa escapar as reticências... Sublime silhueta do desespero. Sua presença é o agravo das impossibilidades, mas é bela de uma forma limpa, distante. Admirável é sua face rompendo o ar, perfumando meios olhos, dissipando o perfume da solidão. O desdém se estabelece como propulsor de atitudes de conquista ou de estrangulamento. Você balbucia o precipício sem perceber que apenas repete o eco, luz de uma estrela morta. Assim a narrativa, como um rio, muda seu curso.

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O laço é a rima
o traço corrompe o branco e com o risco purifica a vista,
 delineia meus sonhos no silêncio.
O desfecho no texto que não lido se foi,
sobraram rosas e perfume.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

pontuação;


Quanto mais meios, mais fins. Argumentos, desabafos e narrativas do porvir. Entre imagens que gritam e textos que silenciam: a vanguarda é o insistente "nunca será" que ecoa entre nós.

Assimilação é o diferencial de mercado. Todos produzem todos consomem. Quantos assimilam? Narrativas pulsam onde quer que o cidadão se volte. Sob este aspecto, tudo nos é novo e acessível, mas não necessariamente necessário. Ao se perder em acessar tudo quanto se pode, o cidadão fica na superfície de tudo, ao invés de mergulhar em algo que faça para ele alguma diferença, nem que seja nele mesmo.

O indivíduo que conseguir selecionar e organizar (cada um com seu senso e método)as narrativas que consome e produz, e posteriormente assimila o que é, a partir do que consome, interage e cria, então ocupará (às vezes sem perceber) um lugar especial na organização social, pois seu potencial de interferência no grupo social será mais apurado, uma etapa à frente do automatismo reinante.  Além disso, ele terá uma percepção mais intensa sobre suas experiências e sobre as perspectivas da vida.

A ruptura de tudo aquilo que se esconde corrói nossa alma de forma a contaminar a paisagem com nosso olhar. Isso é o que se propõe mas, inalterado, o ambiente é sutilmente acrescido de sentidos que passam desapercebido. Reféns; de nossos semelhantes, de nossas escolhas e pensamentos. Ninguém há de libertar ninguém. A hipocrisia impera até mesmo na face daqueles altruístas afogados em compaixão. Bandeiraram o Cristo ao invés de vivê-lo. Fazem com uma mão e divulgam com todo o corpo. Pintam arco-íris de ideologias, professam uma tradicional família e massacram valores básicos ao pé do ouvido.

Rompeu o solo a raiz que me sangra. As palavras saem nuas, sem sentido algum alfaiatado. Com suas formas espontâneas e inocentes, suas arestas e seu suor. Já não caibo mais nos clichês que tanto me alimentaram. Narrativas me encantam pela manhã e me conduzem para cama a noite. Quando a amargura entorpece ao coração, cabe à língua dar ou não vazão. E quando o refrigério vem, como um momento de gravidade, você hesita em sobrepor mãos; pois os lábios ressecam, tosse, a pupila dilata naquele quarto escuro; e a tela que brilha fustiga o tempo lá fora. A liberdade que expande e que nos aprisiona, tudo é tão simples e intenso.

Eu não voltei a escrever, pois não consigo respirar. Nunca parei de inspirar e pirar expiração enquanto não conseguem ler. Todos enxergam as frases, sem perceber o que o texto é. Gentileza é poesia, muito mais que verso. E a fé, a fortaleza que nos faz perceber o brilho e o sabor da vida que nos rodeia, que nos entrega e integra. Cansado, com uma paz que não cabe, com os dias que a guiar não veio. Ah, guiar não veio. Nunca virá.

A dimensão do não ser. Tudo está nas nuvens, a internet é o Big Brother (de Arthur Blair) e a grande biblioteca (o backup de nossa arrogância), mas quando chove não encontro mais a gota que eu evaporei. Doce tempo, amargas minhas lembranças de um futuro tão terno. Não há esboço para você e pra mim. Simples assim. Qual é o nosso traço? O que podemos assimilar?

O animal que sou nesse zoológico de trocadilhos. O termo que sou no texto que não escrevo. O tropeço e a pedra no clichê do poeta, no traço no muro, na rima no silêncio.

Tenho sede de paisagens. Tenho sede das suas paisagens, completou o menino que permanece calado.
E o quanto se assimila pode ser o que distancia a mensagem do meio; o significado do indivíduo.
A vírgula me para, o tempo me volta...

Veja também: http://obviousmag.org/rumos/

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

migalhas em rugas


Quanto tempo é necessário para decompor-se no ambiente o papel? O plástico, vidro e o metal? Quanto tempo é preciso para que o corpo se definhe; que o ser humano se dissipe no ambiente? Uma ideia; uma escolha.

Perpassamos nossos sonhos e frustrações entremeio à realidade do cotidiano em busca daquela sensação de frescor. Frescor de um sorriso, de um sabor, de um acontecimento ou momento em que as pressões humanas são aliviadas. O que pensamos possuir e o que pensamos descartar transformam-se ou se decompõem.  Três a seis meses (Papel), 200 a 450 anos (Plástico), 100 a 500 anos (Metal), 4.000 anos (Vidro), uma ideia, uma palavra, um olhar (nós).

A ordem e a descrição das responsabilidades de cada ser social têm enfrentado recorrentes turbulências. Quem administra e quem é o provedor, como são tomadas as decisões, quem rema e quem controla o barco. Quem cuida do público e do privado. Quem pilota a aeronave e quem mantém a harmonia entre tripulantes e passageiros. Quem escolhe o cardápio, quem prepara, paga a conta e lava a louça. Afora exceções, a sobrecarga de funções sobre um dos seres ou a irregular e intuitiva divisão de afazeres, junto do ritmo urbano imposto como "padrão automático de conduta" tem resultado em seres humanos à beira de um colapso nervoso e social. Muitos, estão a uma escolha de descartar-se da ordem social vigente e se dispor no ambiente, para se decompor ou para experimentar de uma suposta nova realidade.

Neste ínterim emergem modelos alternativos, as modas das academias, dos guetos intelectuais e esportivos, dos orgânicos, dos entorpecentes, da passividade, do vandalismo, do crime e castigo.  Culpar o contexto e o repertório do indivíduo é clichê. É um clichê falar em clichês. Refletir sobre como são estruturadas as escolhas é um desafio. É inegável o poder de interferência do estímulo do ambiente (provindo do famigerado contexto). No entanto, como este estímulo é recebido pelo indivíduo e como o leva a tomar decisão? Acredito que nas rugas de cada um há migalhas da essência, do elixir que estrutura as escolhas e registra no olhar, no corpo e na alma as consequências.

Quando olhamos para pessoas entregues às drogas, à violência, às modas, à utopia do corpo perfeito e da mente brilhante; percebemos o exagero de teorias, receitas, referências, sorrisos e lágrimas. Ao fundo, muitas vezes a angústia da saciedade.

A angústia da saciedade. Transmutada em necessidade de ser feliz. Manifestada como busca em realizar sonhos. Materializada em capacitação profissional, viagens, religião, relacionamentos, posses, poder, enriquecimento e reconhecimento. Para alguns ainda, a aceitação é o estandarte.

A autoafirmação da identidade, saber e sentir que existe e tem importância; considerando que o reconhecimento passa pelo o outro; pela convivência social e até mesmo com a natureza. Todavia, incomoda a sensação do algo a mais. A paz abstrata e tão real que poderia não nos saciar, mas abrandar a angústia é única para cada um, mesmo que seja a mesma (ou semelhante) para muitos. Sem respostas definitivas, às vezes o prumo e o rumo está em refletir sobre as escolhas, seus efeitos e desdobramentos; sem tornar-se prisioneiro da reflexão; pois o tempo não para, não passa, ele é.
Veja também: http://obviousmag.org/rumos/

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

caminhar na névoa


No processo de criação de narrativas, precisamos ter cuidado para não nos perder entre a ânsia de repetir discursos implementando impressões pessoais e a necessidade de alcançar a vanguarda, cativar um público que o reconheça como narrador.

Histórias (inventadas ou não) estão postas no cotidiano. Entretanto, é preciso conhecer os aspectos que envolvem a narrativa; além do famigerado contexto, as características de cada indivíduo em ouvir, contar e registar histórias passam pelo prisma da percepção, compreensão e respeito.

Relacionamo-nos não com as pessoas (em si), mas com as representações que elas fazem de si e as representações que a sociedade reflete sobre elas (pessoas). Contudo, há um encantamento que proporciona intensidade à relação, gerando desdobramentos que vão além das representações; esvaem-se em outras narrativas.

Conviver com o humano; viver; é caminhar na névoa. Adoro caminhar na névoa. A distância impossibilita prever acontecimentos, apenas conseguimos vislumbrar nuances do porvir. Enquanto se adentra à névoa, naquele espaço perto de você ela quase que se desfaz ao te envolver. Você se torna névoa para os outros, você se torna  mais um no meio dela.

A multiplicidade tão temida pelos conservadores, e por quem tem dificuldade em lidar com o que é diferente (não necessariamente novo) é o diferencial para sobrevivência e sucesso de mercados, organizações e da sociedade. Conceber que o ambiente é multifacetado e composto pela diversidade é fundamental para construir narrativas acessíveis, transparentes e efetivas no objetivo da mensagem elaborada.

Neste sentido, caminhar na névoa é um necessário exercício constante, que perpassa o processo de autoconhecimento, percepção do outro, compreensão do ambiente e concepção de mensagens.


 

terça-feira, 7 de abril de 2015

Redes Orkutizadas - o Espelho de nossa vanguarda


Imagem: Ben Hopper


A contínua renovação das plataformas de comunicação não significa evolução humana e dos processos de produção de conteúdo, interpretação e desdobramentos possíveis.  A tão proclamada vanguarda sucumbe não ao ineditismo e novos padrões de percepção, mas à consolidação de paradigmas. Na verdade, submetidas ao tempo de uso, as plataformas refletem a estagnação dos usuários em expandir fronteiras do processo de comunicação. Reforçam aspectos sociais e funcionam como uma lente de aumento nas atitudes dos indivíduos.

Um automatismo é percebido no perfil de comportamento dos usuários. A manifestação pública é padronizada nas mídias sociais, independente se elas (mídias) são específicas para assuntos profissionais, pessoais, textos, fotos, e etc. O padrão de comportamento que tornou cansativo e obsoleto o Orkut, tem sido verificado não apenas no facebook, mas também no Linkedin e até mesmo no twitter e fóruns temáticos. A infantilização de postagens, a agressividade da linguagem de mensagens ideológicas, ou a avalanche de pílulas de auto-estima. Verifica-se mais um processo de busca por audiência do que por aprimorar relacionamentos via plataformas digitais.

O respeito é o mito na interação nas redes sociais digitais. A frequente imposição de versões dá o tom de um diálogo que mais parece um monólogo diante do abismo do que uma roda virtual de conversa. Este processo, tão repudiado pelos usuários, é o que os representa. Após orkutizarem o bate papo da praça, a interação no o ICQ, no MSN, no Face, a maioria segue com a massa para o próximo hospedeiro, tornando obsoleta a plataforma antiga. Neste ínterim, o Google Plus ainda é um território não contaminado pelo automatismo social, e, portanto, tem possibilitado mais leveza e fluência à interação com temas específicos; por enquanto.

Cada vez mais, acredito que a vanguarda do fazer comunicação está em revisitar os primórdios, resgatar a essência da comunicação no ato de conceber sentido, significado, mensagem e interação; ao invés de se entregar às possibilidades superficiais das novas tecnologias e novas redes. É preciso um mergulho profundo, potencializar as plataformas e possibilitar mais respiro do que sufoco ao ser humano, suas tradições, valores, ideologias e sonhos. Talvez esta seja a pauta em constante renovação, capaz de mudar o reflexo que temos apresentado.
...

Avante
despertado o sentimento flui 
angustiado o tempo perde o compasso
o corpo se contorce
nus unimos

...

terça-feira, 31 de março de 2015

Novas (?) Narrativas Jornalísticas


Ilustração: Ramon Bruin
Não sei se nova é a narrativa, a linguagem jornalística, o olhar, ou ainda assim o tempo. Antes o ideal era a câmera não tremer e as frases serem bem concatenadas. Agora tentam vender realidade viva. Algo que pulsa incontrolavelmente. Tanta espontaneidade que chega a parecer um espetáculo de dança contemporânea. O imprevisível é parte do enredo, está no script do espetáculo midiático.
A inquietação é premissa para a evolução. Nesse sentido, os programas de TV têm buscado inovar na maneira de narrar e de fidelizar o público. Seja por meio dos milhares de “cozinha com fulano” que tentam sofisticar, naturalizar, ou tornar rústico o ato de preparar alimentos e se relacionar com eles; ou nos programas de esporte que tentar levar adrenalina aos pilotos de tablets e controles remotos, lembrando até da metalinguagem de programas como A Liga e Profissão repórter. A linha entre o interessante, eficaz e o cansativo é tênue. É preciso destreza para caminhar sobre ela.
Dentre as várias tentativas, algumas são bem interessantes (mas não inovadoras). O Mundo segundo os Brasileiros, produção independente (produtora holandesa/argentina - Eyeworks) disponível em canal no Youtube e transmitido pela Rede Bandeirantes, há 5 temporadas (desde 2011) apresenta a narrativa pelo viés de quem vive o espaço e transmite a própria impressão a respeito do lugar, do tempo, da história, das referências.

Um texto praticamente documental estilo história oral, aquela conversa informal de quem quer contar suas experiências em um novo território. Trata-se se um formato sem protagonistas fixos; alterna-se os narradores, guiando com a câmera, nos contando histórias oficiais e impressões de estrangeiros andarilhos. Baseada no original argentino Clase turista: el mundo  según los argentinos, a série é dinâmica e perpassa desde os principais pontos turísticos a pontos pouco conhecidos do globo.
Cidades invisíveis erguem-se à medida que significados são repassados ao espectador. Forçando um pouco as vistas, dá para imaginar o Marco Polo contemporâneo revelando as nuances das cidades, ou o estrangeiro de Camus andando pelo mundo, contaminando-o e sendo contaminado por ele. E como brasileiro é um povo espalhado pelo planeta, matéria-prima não falta ao programa.
Iniciativas assim precisam se alastrar pela TV aberta, mas essencialmente necessitam estar alinhadas com o conteúdo multimídia, considerando o comportamento de consumo de informação e a disponibilidade dos meios; expandindo assim a acessibilidade ao conteúdo, novos campos para reflexão e seu desdobramento.

Publicado também no Observatório da Imprensa
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed844_novas_()_narrativas_jornalisticas

terça-feira, 10 de março de 2015

puro sangue



Ilustração:Ramon Bruin
Somos preciosistas ou conceituais demais. O jornalismo puro sangue, assim como o ser humano puro sangue, é figura de um folclore de um tempo sem parâmetros de referência, onde tudo o que surgia, rompia paradigmas e se estabelecia como o novo, a referência. O "sangue" do jornalismo funciona como um rio rumo ao mar. No caminho, ao longo do tempo, recebe interferências de seus afluentes, e também das condições geográficas do trajeto. E nesta narrativa, um rio sem afluentes não sobrevive às crises hídricas.

A mutação que encontramos atualmente nas redações é fruto do turbilhão tecnológico (que torna mais ágil o acesso, produção e disponibilização de conteúdo), juntamente com a alteração do modelo econômico (fôlego financeiro dos veículos). Percebemos a intensificação de jornalistas nas assessorias de comunicação, o surgimento de veículos segmentados (vários para cada assunto) e as tentativas de negociação financeira de conteúdo.

Entretanto, as faculdades entregam focas ao mercado e o mercado cada vez mais sufoca os profissionais. Trocadilhos infames são instantâneos diante de uma realidade cada vez mais clichê. Recentemente (janeiro) O jornal O Estado de Minas, promoveu um corte em seu quadro de funcionários (11 jornalistas). A TV Bahia (março) mais 37 profissionais. O Estadão (fevereiro) mais de 10. IstoÉ Gente é fechada e Editora Três demite 20% das redações. A conta pelo país só cresce; parece acompanhar a evolução das demissões no setor industrial. Trata-se de uma questão econômica e administrativa do país ou uma estrutura atrofiada dos veículos?

Muito se fala da estrutura das narrativas (que tem se distanciado de um tal "puro sangue"), das interferências causadas pelo repertório que se sobrepõe e o tempo de dedicação que se esvai. No entanto, é preciso analisar todos os aspectos que compõem a produção da narrativa. A infraestrutura (condições das redações) e a psicológica (a relação entre pressão e produção, estresse, capacidade de percepção, fôlego em apurar e narrar, dentre outros).

O contexto social pede outro modelo de narrativa ou ele soterrou o modelo ideal de apurar e narrar, sem se perder nas facilidades da modernidade e forca dos bolsos? Mas do que respostas definitivas, o fazer jornalismo deve prezar pela continuidade, inquietude em questionar e versatilidade em propor reflexões que podem ou não serem respostas. Dessa forma, ao invés de cair no arcabouço político e empresarial, o jornalista consegue tornar mais perceptível a essência de fatos polêmicos que ganham apelidos de mensalão, petrolão, dossiê multicolorido, e tantos outros. A busca pelo jornalismo puro sangue está em saber fazer uma transfusão periodicamente, sem esquecer-se de também doar e às vezes até sangrar. A interação social, a sobreposição de versões, percepções e tempo aprimoram o DNA do jornalista (e do indivíduo) para a sobrevivência e não para ser uma obra de Dali.

Disponível também no Observatório da Imprensa -  http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed841_jornalismo_puro_sangue_()

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canalha afiado como a rima
o sangue não se contém nos versos
viver o amor no fio da navalha
as lágrimas extrapolam 
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sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Alcachofra


A construção das mensagens e das narrativas possuem uma essência que não consegue ser representada pelos códigos linguisticos. Desta forma, faz com que o processo seja contínuo, em uma frenética busca por registrar e manifestar a plenitude do que pensa, sente e percebe o indivíduo. Neste ínterim,  o indivíduo travestido de ser social acumula experiências e interferências na essência primária, fato que expande o que se quer representar e alimenta o ciclo de criação das mensagens e narrativas.

"Quanta suavidade cabe nesse corpo? Quanta tristeza preenche o colo, os olhos, o copo? Como esconder, como sobreviver... A realidade despetalada diante dos sonhos.... O coração da alcachofra servido nas gotas da chuva. O inconfundível aroma de canela me abraça, me aquece.


Perco-me entre tantos testes e oscilações das emoções. Já não reconheço minha escrita, pois ela exala meus sentimentos, ultrapassa meus pensamentos...

Os efeitos da Cantárida são produzidos naturalmente e saem pelos meus poros. Essa canção sem dança orquestrada, esse suspiro sem sangue, o torpor  sem droga. O envelhecer de mãos dadas no amadurecido silêncio, como uma certa esperança.

E eu quis a canção que alcançava minhas emoções, meu passado no presente meu futuro no tempo. E além dele. Mas apenas letras em frases, suspiros e soluços sem melodia... Eu nu no silêncio, na madrugada.


olhos meus fixados;
Inquieto coração;
e a distância faz dela um verbo.
Ela me lua!
Eu suo a frase sem paradeiro..."




sábado, 18 de outubro de 2014

(



Todo o mel da flor. Invariavelmente, o efeito encontra aconchego onde as ideias abandonam a lógica e os sentimentos fornecem direção, calor, alimento e sonhos. O fluxo dinâmico de acontecimentos nos faz interpretar cada detalhe como ingrediente da história particular de cada um. A diversidade de indivíduos, fatos, percepções e tempo é tão intensa que assemelha-se ao toque de uma trombeta e o pouso de uma borboleta na ponta do dedo.

A humanidade tempera o mundo do melhor e do pior que há para vivenciarmos. Paisagens são contaminadas. O gorjear do verso quebrado; o voo interrompido do pássaro que não mais canta. O céu sangra no horizonte e o peito atormentado pelo silêncio cala um milhão de suspiros, em um sentimento. A lógica é lançada ao vento; e a melodia que pontua os acontecimentos, marca profundamente toda a percepção... o silêncio.

Os processos de comunicação interferem no comportamento social, isto é fato. Entretanto, qual o limiar da loucura ou o tempero da ternura? Seria a temperatura das palavras, dos corpos, dos sentimentos? Narrativas contínuas em fragmentada linha reta, em convergência e transcendência.  O sol sangrou no céu. Rasgou o peito e aqueceu de melancolia a mente. O famigerado silêncio dá o tom da narrativa que se transforma; esvai na madrugada, figura os sonhos, protagoniza o porvir.


estar junto.
escutar seus sonhos e temores,
provocar rubor e tremores,
conhecer suas pintas,
reconhecer seus poros no escuro;
o verso sem palavras a dar ritmo aos sonhos,
delineando o sentimento e as sensações;
há tanto para você ler
há de ao tempo ser

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Mensagem

Afora a de Pessoa, o sistema de criação. Pinturas rupestres que transcendem gerações; discursos diários esquecidos a cada gole de café. Teimam que ainda é na base do emissor, mensagem,
receptor? Como são tratados os resíduos do processo de comunicação? Ruídos? Os dejetos das narrativas guardam a essência não digerida pelo meio, a mensagem e os personagens. A manutenção da fidelização da audiência depende da manutenção das pautas, dos olhares sobre os dejetos (ruídos). As ações para obter a referida manutenção devem ser simples.

Seja instituição, ou indivíduo, é necessário compreender seu lugar no contexto da significância
social. Em termos de mercado, sistemas de relacionamento e processos de comunicação. Assim, é
alcançada a simplicidade necessária para construir e consolidar uma identidade.

Em tempos de política de reaproveitamento de materiais, aproveitamento de resíduos, estabelecimento de alternativas para garantir a sustentabilidade, é fundamental aplicar a mesma prática ao processo de comunicação. Talvez desta forma os indivíduos e as massas não sejam massacrados pelo isolamento proporcionado pelo turbilhão de informações, mas que consigam respirar, se integrar e se resguardar quando de interesse for.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Longínquo



Utilidade pública é recorrente nos perfis de veículos de comunicação nas redes sociais digitais. Rádios e jornais (Vide CBN e O TEMPO) disponibilizam informações atualizadas sobre diversos aspectos urbanos, dentre eles o da mobilidade. É interessante como a paisagem é a mesma, com apenas tons variados. Carros sempre parados. Ainda assim há atropelamentos. Metrô lotado e depredado. Ruas alagadas, barrancos deslizantes.

Atraso e prejuízos soterram o pacato cidadão. Alinhadas à prestação de serviços dos perfis nas redes sociais, as matérias da mídia tradicional abordam a mobilidade urbana pelos ângulos da dúvida, contestação, alternativa e viabilidade. Seja a partir das inúmeras intervenções para agilizar o trânsito em Belo Horizonte, que pela desinformação acabam por atravancar o fluxo (fato recorrente em outras cidades), seja pelas suspeitas de processo ilícito em contratações, construções e licitações, passando pelo lobby automotivo e de infraestrutura asfáltica, a natalidade da frota de automóveis (que extrapola nos grandes centros e já cresce significativamente no interior), a ineficiência das vias (que não estão preparadas para o estouro), seja pelo frescor e risco das pedaladas, a saúde, a segurança, a educação e o meio ambiente considerados para se movimentar e circular pelos espaços urbanos. Falta alguma narrativa? Algum ponto de vista? A mídia tem cumprido seu papel (repetindo-o diariamente), mas e quem não tem? O cidadão e os governantes (alguns não parecem ser cidadãos)? Pauta pertinente, mas tão surrada, que efeito não parece fazer.

Sem virar página, narrativa metamorfose, metaformose. Um horizonte de pessoas dispersas, pintadas em aquarela, modeladas de cimento. Pó! Mentes entorpecidas dos pragmatismos que conduzem nossa ordem social. Anônimos, mergulhamos de braços abertos no lago seco da paz. Inquietos lábios de um sábio coração. A massa se move em ano de carnaval em março, copa em junho, eleição em outubro.

Dona matéria, estonteante, com o talento encoberto pelas unhas, quase não permitia que percebessem suas intenções rasas. O que acontece ao redor é causa ou efeito do que ecoa dentro? Narradores selados a vácuo mantêm uma dinâmica de frases que soterra o leitor/produtor (não há passivo) em uma ficção quase palpável. Ainda assim, o mecanismo de controle é adverso em um cenário em que as plataformas de comunicação estão mais dinâmicas e acessíveis. O básico objetivo de tocar o outro, agora exige mais do que formar versos, ou esticar os braços.

Agora produzimos conteúdos para produtores de conteúdo e não apenas para consumidores formadores de opinião. O formato adequado para cada plataforma é o santo Graal? Blogs, podcasts, vlogs, redes sociais digitais não pedem permissão ou aval de um editor, elas reverberam o conteúdo gerado por quem antes tinha voz apenas na mesa de bar, de tricô, de churrasco, na fila do ônibus ou do banco. Tudo ao alcance do Google e outros modelos matemáticos agora... Algorítmicos da liberdade. Palavra é número, gratuidade é número, imagem é número, e número sempre atrelado está a algum valor para alguém, em referência a algo. Poder/ controle.

Juntamente com a questão editorial complexa, uma membrana sutil merece atenção. A comercial; que da sustentação financeira à estrutura do meio (infraestrutura e pessoal). A viabilidade de investir e manter os meios é tão desafiadora quanto lidar com o alto índice de conteúdo produzido e a variável audiência. O modelo de negócio precisa ser melhor elaborado; ir além da chantagem velada (espaço obtido x contribuição financeira) tão presente na mídia (seja da capital ou do interior). É fundamental investir (R$) em pertinentes pautas diferenciadas. Faz-se necessário um processo de educação e diálogo ético, democrático.


Não espere por mim, mas aguarde-me, guarde-me intensamente no profundo daquele instante. No futuro possível daquele agora. As rimas, inválidas diante da gravidade. O mundo fechou, ou verdadeiramente se abriu diante dos meus olhos. E minha espada se tornou meu tropeço. Mudo, extasiado, vi o DNA de concreto, presenciei e vivi as curvas, a hidratação de uma garganta a tossir; atônito, respirei fora do tempo e dentro dele, a essência que faz e fará de qualquer autista o elixir da existência. O melhor afogatto é aquele que não senti o sabor...

"... estou aqui de passagem"