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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

hiato



e você, pisava nos astros deformada;
perdida na certeza de suas interpretações;
parafraseava o vento
e tinha um cisco no olho
chamado realidade

[volto logo]
A industrialização do espírito humano, sua transformação em produto de prateleira (como diagnosticou Theodor Adorno sobre a sociedade capitalista), tem uma pausa quando as catástrofes levam municípios a decretarem emergência, o crack deixa de ser o bom jogador para ser a substância que destrói famílias e aumenta o índice de moradores de rua e as dificuldades já não mais podem ser jogadas debaixo do tapete, atrás de um filme, jogo ou programa de televisão. Neste momento, a imprensa mostra o despreparo em cobrir de forma específica e também abrangente determinados temas, espelhando assim a recorrente falta de infraestrutura do sistema público independentemente da ideologia vigente.
A exceção está em alguns veículos que, com habilidade, lidam com o espaço disponível nas páginas, os ruídos ideológicos da empresa, o potencial dos profissionais (imagem e texto) e as pautas de interesse público – o que deve estar no jornal porque as pessoas precisam ler o que elas querem ler. O jornalismo precisa formar, informar e dialogar com o público. O antigo conceito a respeito do reconhecimento e construção de identidade pela interação é fato que se renova. A era atual torna ainda mais evidente isso, com um novo indivíduo que consome e ajuda a construir as edições. Muitos são semelhantes a uma criança em carro desgovernado (possuem o olhar, têm ferramentas para registro audiovisual, produção de textos e disseminação de conteúdo; tudo na palma da mão, mas não possuem a técnica ou o bom senso e controle sobre o olhar e construir narrativas).
Mensagens criativas e imagens eficazes
O jornalismo econômico, público, literário ou científico acima de tudo deve manter-se jornalismo. As edições da madrugada, manhã, tarde e noite devem despertar e manter o interesse da massa e do indivíduo a respeito de assuntos básicos à manutenção da vida social e sua melhoria. Um problema está na superficialidade das matérias regionais e a generalização fria das matérias de agências de notícias. Entretanto, as páginas recebem inacessíveis F5 e as bancas estão ainda pelas esquinas. Há procura.
Dados divulgados pelo Instituto Verificador de Circulação (IVC) mostram a relevância não apenas dos veículos do eixo São Paulo-Rio de Janeiro como fonte de informações na web, mas também os estaduais da Bahia, Pernambuco e Minas Gerais, dentre outros. Embora seja importante lembrar que as pesquisas do IVC analisam apenas os veículos filiados a ele.
A tiragem é importante, mas sem uma estratégia de distribuição torna-se uma pilha de antiguidades. Além de considerar a possibilidade do conteúdo em tablets e telefones e os antigos net e notebooks, é preciso se ater à qualidade do produto e seu alinhamento com a rentabilidade do veículo. “A gente não quer só notícia, a gente quer comida...”
A estratégia de regionalização antiga, com sucursais por todo o lado, hoje encontra colapsos em termos de custos. Em Minas Gerais, o Hoje em Dia, após várias modificações em sua estrutura, reduziu o número de colunistas regionais e também as sucursais. O Tempo, com boa tratativa de temas, versatilidade em alguns assuntos e interiorização de pautas, alinhada à distribuição, tem conseguido falar do estado e para o estado de um modo sóbrio. O Estado de Minas e sua grande estrutura, revela sua sobriedade em inovar, em títulos, matérias e na diagramação. Seja na edição de homenagem a Chico Buarque (primorosa, em novembro de 2011) ou nas recentes edições de cobertura das consequências das chuvas. Mensagens criativas, diretas e reflexivas, acompanhadas de imagens eficazes.
Distanciamento e envolvimento
Não precisa ser Tom Wolfe para fazer diferente, nem Van Dik para compreender como o ouvinte interpreta as narrativas; basta não fazer jornalismo superficial. O estranhamento para olhar e narrar o fato contempla distanciamento e envolvimento. O equilíbrio entremeio esse paradoxo resulta no texto que, após descartado, nem peixe embrulha mais.
“Toda fonte é uma moça bonita que foi amada por um deus, que disse não a um rio, que fugiu de um sátiro, nada é real, nada é apenas isso, tudo é transformação, todo traçado de constelação é o pedaço de um esboço de um drama terrestre, tudo vibra de tanto significar. [...] Fatos não se explicam com fatos, fatos se explicam com fábulas” (Paulo Leminski)

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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Senso nonsense



Existe manual para o bom senso? As atividades diárias de qualquer profissional exige muitas vezes não somente o cumprimento dos procedimentos, mas fundamentalmente o bom senso para decidir sobre ações específicas. No jornalismo também; e essencialmente na rotina da imprensa. No momento de dar peso às pautas o que merece destaque? A privataria, o tiro na mão, a chuva e o estado de emergência, o aumento de impostos, os gastos desnecessários do executivo, legislativo e judiciário federal, presidentes e o câncer, a oscilação das passagens aéreas e rodoviárias, os terminais lotados, a lastimável saúde pública, o senador que toma posse e o filho que faz caretas? Fato é que muitas vezes os milhares de veículos de comunicação ignoram algumas pautas em potencial, que exigem do repórter apurado faro e habilidade de lidar com o tempo e as palavras.

"Night again meu bem", canta o boêmio. As prensas cumprem seu destino madrugada a dentro, mas do quê mancham o papel não mais branco? O cursor nas telas apontam para quais narrativas? Não falarei da música de natal na voz de Simone mas, então é clichê, e o que farão os jornais? Pautas de retrospectiva, farofa, fogos, estrada e arroz, assuntos para se esquecer e aquecer até o carnaval. Reclamamos, mas os assuntos das rodas de conversa (corporativas, familiares ou de bares) são também cíclicas.

Para definir que notícia estará em sua timeline ou nas bancas, é preciso além de conhecer a narrativa já iniciada, os temas em continuidade; analisar os fatos cotidianos e avaliar o peso de cada um e sua relevância para ganhar mídia, e não a sua relevância como fato isolado.

Sempre carregado, o estilingue das redes sociais digitais (RSD) se posiciona como um personagem estratégico no fazer jornalismo. Em pouco tempo de existência em massa, as RSD já determinam forma e conteúdo de planos de comunicação de empresas e direcionam a produção de textos nas redações. Sempre uma palavra à boca ou à ponta dos dedos. As fontes falam alto e ao mesmo tempo. É preciso peneirar as palavras para obter informações de qualidade e assim construir um texto que ao ser lido contribua para a evolução humana (reflexão, mudança de postura, decisões embasadas, ou entretenimento).

Engajamento ou Purpurina? Essa não deve ser a questão.

Não apenas as empresas e respectivas áreas de comunicação, mas também as redações compreenderam que não é possível apenas informar. Os veículos, assim como as pessoas, precisam se relacionar com o público, comunicar, envolver o leitor no processo de construção da mensagem extrapolando as aspas. Não se trata da institucionalização do caos, do registro bruto dos diálogos ou da espetacularização das narrativas.

Na caminhada para construir pautas gerais e específicas é preciso ir além da ingenuidade, do territorialismo e dos interesses comerciais. A nação não está resignada ao sudeste; as pautas não estão na ponte aérea, mas nos 5.556 municípios distribuídos por um território de 8.502.728,269 km². Todavia, é notório que a segunda região em número de cidades concentra o bolinho do barulho. Os donos da bola estão onde há o aglomerado do acesso e fluxo comercial. A despolarização das pautas (e sua verdadeira globalização) depende também do poder do narrador em interligá-las com os pólos referenciais do país e demais regiões, caracterizando o famigerado interesse (utilidade) público.

O índice de leitura no país se arrasta, mas aumentou nos últimos dez anos. Ler mais não é ler melhor, mas é ler. Há quem diga que o twitter nas bancas é representado pelos impressos de 25 centavos. Sangue, Sexo, Suor = Desejo. Após compreender o sistema de consumo de informação, e o novo padrão de relacionamento das pessoas com as mídias, é imprescindível que os jornalistas exercitem o olhar diferenciado sobre os fatos em equilíbrio com o tempo disponível para publicarem os textos. Arnaldo Antunes certa vez tentou representar essa angústia (mensagem X tempo) no poema Agora (já passou).

Após definidas as pautas, como fazer? O cenário encontrado é de redações esvaziadas, jornalistas sobrecarregados, muitas vezes sem infraestrutura, e profissionais rasos lançados pelas universidades no mercado de trabalho. Entretanto, além da imprensa especializada, pode-se encontrar em veículos nacionais, estaduais e regionais bons exemplos de pautas sóbrias e textos bem construídos, cabe ao leitor não parar no primeiro piscar dos olhos e mergulhar com bom senso nas narrativas expostas à exaustão. Existe pesquisa afora o google.

Publicado também no Observatório da Imprensahttp://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed675_senso_nonsense






Essa sua mania de refletir o luar nos olhos,
apreender no sorriso o sol
e na distância a esperança...
Esses seus pensamentos a silenciarem minhas palavras
e me fazerem nu
 em uma gota de lágrima.
Ah felicidade
Agora
passo
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domingo, 25 de dezembro de 2011

Pé com pé



Sapatos de solas preservadas. O que fizeram das praças? O que você faz na esquina? Você tinha de ir à banca para se informar. Precisava cruzar a praça, ver rostos, tocar ombros, se envolver com cheiros. Necessitava algum dinheiro, tempo e vivência. Você era um ser social antes de se tornar digital, lacrado em sua solidão velada em um sorriso de foto de perfil em rede social digital.

Além de reconhecer o novo padrão de consumo e diálogo estabelecido pelas mídias digitais, é interessante pensar em como as pautas são construídas para se comunicar com esse novo sujeito que se configurou. Entre o faro dos repórteres, a agenda espontânea, ou fixa (política - dinheiro, saúde, infraestrutura, polícia e cultura) e a indução dos mantenedores dos veículos (com informações ou financiamento). Como anda a dança (ou jogo de cartas) entre as redações e assessorias? Esses jornalistas se comportam como agentes de uma guerra fria, soldados no paraíso do petróleo ou como construtores de um diálogo que beneficie a manutenção das relações humanas?

Para recuperar o fôlego e não se limitar a uma resposta de palavras bem construídas que revela uma cobra comendo o próprio rabo, é preciso caminhar, perceber e ler o que há ao redor. Afora as vivências e as mentes que borbulham, é proveitoso ler publicações segmentadas (Revista Negócios da Comunicação, Comunicação Empresarial, Meio e Mensagem, Imprensa, Você RH e Valor Setorial), ouvir podcasts e reler alguns blogs, sendo que é recorrente a pergunta: Qual o segredo da excelência? Tempo X Eficiência.

Existem muitas assessorias mecânicas e rasas, com sistemas de posicionamento e mensuração superestimados e precários em efetividade. O conhecimento, a informação a repeito das boas (adequadas) práticas são vastos e expostos; falta aplicá-los. Os conceitos estão à exaustão diante dos olhos, entretanto a Novilíngua não é a solução. As assessorias precisam conhecer os veículos de comunicação e também a cultura das empresas (clientes). A massiva terceirização das assessorias de imprensa tem resultado em um cenário de desencontros e preguiça. Muitos assessores desconhecem a cultura dos clientes, os objetivos e necessidades. A situação clama por mudança no perfil profissional.

Afora o desequilíbrio do cálculo [Natalidade / Mortalidade / Capacitação] de homens e mulheres, percebe-se que elas estão cada vez mais em cargos de destaque e liderança, inclusive na Comunicação Corporativa. Há quem diga que é a soma entre: Sensibilidade, sabedoria, ousadia e força, responsabilidade e habilidade em gerir processos alinhados ao mercado.

Fato é que o mercado está aquecido, informa a Associação Brasileira de Agências de Comunicação (ABRACOM). Esse paradoxo chamado mercado está em busca de profissionais qualificados e não apenas detentores de nomenclaturas. Para funcionar, além de agilidade, a assessoria terceirizada precisa ter profundidade. É fundamental compreender e mimetizar a cultura da empresa (cliente).

A aproximação das empresas com o público (interno e externo) deve transpor a estética das peças de campanhas de comunicação, mensagens publicitárias e brindes corporativos. É preciso diálogo. Uma das formas de falar é por meio da imprensa. Entre o ruído e a versão oficial se esconde a verdade, que pelo diálogo pode ser revelada. O diálogo começa com a definição da pauta, apuração, reflexão, produção do texto e então continua com o leitor. Transparência (dos objetivos, das ações e da mensagem).

Eventos como as COP, as Copas, o Rio +20 e outros, reforçam a necessidade de boas pautas para não transformar os temas em entulho de enxurrada. As assessorias têm de ser ágeis e criativas para proporem pautas de interesse público e que de certa forma possibilitem o posicionamento do cliente. Mais do que divulgar uma marca, os setores precisam colocar em pauta abrangente algumas discussões que até o momento estão restritas a mesas de almoço e cafés corporativos. Neste processo, o papel das novas mídias é essencial para despolarizar debates e ampliá-los.

Em tempo, as associações representativas (e também as agências de comunicação) devem compreender o setor que defendem e a utilidade pública das informações e produtos das empresas associadas. Construir uma central de informações simples (e não simplórias), completas e uma dinâmica de acesso seguro a fontes, sem desrespeitar ou ser refém dos prazos das redações.

Em miúdos, ressoa uma canção infantil e uma canção folclórica: o diálogo deve acontecer pé com pé, pé ante pé. Com proximidade, ritmo e cautela.

- - -

sou o suor que sai dos seus poros
seu dorso dobrado ao luar
suas palavras perdidas no sussurro
a memória apagada,
o redesenhado futuro ocultado na luz;
a esperança não manca,
caminha com o tempo


- - - - 
Saiu também no Observatório da Imprensa
http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed674_pe_com_pe

domingo, 18 de dezembro de 2011

Findaera




Tudo converge, até mesmo poemas em fragmentadas linhas retas. Nas nuvens estão muito mais do que sonhos e devaneios daqueles que arriscam olhar para o céu. A cultura do sebo foi lacrada em alguns grupos, a cultura do download substituída aos poucos pela do upload (tudo está na nuvem). A globalização trouxe novas possibilidades para o processo de produção. Cada vez mais a produção e o consumo digital proporciona facilidade ou manutenção ao fluxo contemporâneo, onde as pessoas desejam saber mais e estar em diversos lugares ao mesmo tempo. O cidadão compra acesso a conteúdo e não mais um produto conforme anos atrás. O automatismo sobrepõe gerações, se há pouco já era comum entrar em um cômodo e automaticamente esticar o braço para acender a luz, agora é natural tocar uma tela e ela responder aos seus comandos. No mundo digital, 30 segundos de espera é uma eternidade e aguardar pela edição de amanhã é coisa de doido.

As principais transações humanas já podem ser feitas pela rede. Compras, movimentações bancárias, contatos profissionais, produção de texto, vídeo, distribuição de informação, início e fim de relacionamentos (e tudo registrado, com gostos, desgostos, endereços e fotos). Afora os super backups físicos, muitas informações são geradas e armazenadas diretamente em mídia digital. Cofres na parede estão vazios enquanto HDs têm cada vez mais espaço, e ainda assim insuficientes. A apuração de notícias, algumas vezes, abandona até mesmo o contato direto, ou por telefone e ancora seus argumentos na oficialização por email, ou no imediatismo do SMS e chats.

Após considerar as vantagens e dificuldades do novo fazer jornalismo, onde as narrativas recebem interferência do público e a interatividade vai da produção ao consumo, é interessante atentar como estamos dependentes dos meios eletrônicos e das mídias digitais. Ao perceber isso, podemos levar as discussões a respeito do Código Florestal, Belo Monte e outras questões ambientais para universo menos polarizado. De onde vem a energia que nos mantém sustentavelmente online e a modernidade na palma das mãos?

O jornalismo busca estratégias para manter-se o menos parcial possível e ainda continuar viável economicamente para os proprietários. A era digital trouxe um caos para a saúde financeira dos veículos de comunicação, que viram um movimento panfletário da internet alterar o modo de fazer e comercializar. Embora o audiovisual ainda sofra nas mãos de políticos que detêm a concessão de emissoras de TV e Rádio; e o impresso tenha problemas de estrutura, distribuição e às vezes linguagem.

Todavia, e quando apagar a luz? Quando as ditas renováveis fontes não aguentarem alimentar os sete bilhões de La bella verte? Caso não seja o desenfreado consumo, ou o colapso no sistema de produção e distribuição de recursos, e se aquela famigerada tempestade magnética solar chegar aqui e apagar ou desorientar tudo (a NASA anuncia desde 2006 e cientistas estimam para 2012, 2013, ou 2014)? “Onde está seu coração está sua riqueza”. Longa vida aos blocos; jornalistas ainda sabem arranhar o papel com traços? Qual será a lamparina a guiar o olhar do narrador que precisará desaprender as facilidades de um mundo moderno e aprender a apurar e narrar em um universo truncado? O faro não poderá ser digitalizado e o Google deixará de ser o pauteiro e fonte oficial das matérias.

O processo de comunicação é colaborativo desde sempre, o nível de ruído ganhou agora novas dimensões, ao estabelecer outras mensagens. Além de saber lidar com as novas mídias e consolidar o processo de comunicação no mundo contemporâneo, o jornalista precisa desenferrujar a habilidade fora destes meios e resgatar o fazer orgânico, capaz de construir mensagens que invoquem reflexão, mudança de postura, evolução do “humano, demasiado humano”. Dialogar é mais do que sobrepor argumentos e se perder nas facilidades do falar ao vento.


Sua seco seus poros lacrados.
Sua harmonia disseca meus pensamentos
enquanto seus movimentos mantêm-me são;
Sua ternura sobre meus olhos
o elixir do sorriso.




Leia o artigo novamente no Observatório da Imprensa
http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed673_fim_da_era_digital

domingo, 11 de dezembro de 2011

textura



Pautas à mesa. Afora o blefe, os copos e os corpos, as palavras começam a formar textos justos; do tamanho de sua língua, necessário leitor. Quantos toques você tem disponível para seu texto? Sua chamada? Como os utilizará para fisgar os cliques e os olhares dentre tanta oferta? Fica então evidente que na feira comunicacional, os narradores são feirantes a buscar inovação do fazer jornalismo. Não basta gritar ou dar razão ao cliente; é preciso oferecer-lhe autonomia para interferir, além de degustar sem compromisso, poder transitar pelas diversas plataformas disponíveis em sua banca, essencial jornalista. Todavia, o cliente não é dono da banca nem da feira, mas sem ele, o que há?

Vale a pena ir às bancas, ruas para caminhar. Árvores construídas de palavras, outras enfeitadas de calçados, calcinhas e mangas. Saneamento mítico na maioria dos municípios, consumo estimulado, desestimulado, estimulado. Crédito, endividamento, desemprego, qualificação e lucro. Mudanças muito mais que climáticas, Rio + 20, 30, 40, 50... as pautas são um buffet cujo serviço varia do self-service multimídia, à francesa. Alguns veículos de comunicação oferecem um cardápio que tranquiliza o olhar diante do caos informacional. Eles expõem de forma precisa a vulnerabilidade dos fatos e declarações, a atrocidade do humano (da política à cultura), os hormônios no pódio, a tabela menstrual da sociedade e os focos de reação: a contra corrente do avassalador processo de urbanização; a esperança aparece entrelinhas ou estampada em páginas especiais. Reflexão também é utilidade pública e algumas pautas têm conduzido o leitor com primazia a este estado outrora naturalmente humano.

O leitor precisa exercer a paciência e reencontrar o gozo da busca e da persistência. No meio de tanta coisa ensebada nas livrarias e bancas, encontram-se também excelentes títulos, que são vitaminas para degustar o cotidiano. Vale a pena sair da caverna. Diante das pedras do caminho (elas existem) atire um limão n'água e não limite-se a observar a margem, os peixes ou embrulhá-los em jornal.

Os problemas criados pela redução do orçamento e das redações forçaram intensificação no inovar o fazer jornalismo. Desde a utilização das plataformas multimídia, produção integrada e colaborativa, ao estabelecimento de outras narrativas. A ordem estrutural distancia-se do geral como um monobloco para reconhecer o todo como uma rede e tratar cada ponto dessa rede como um universo à parte. Os Podcasts revigoraram o fazer rádio, os blogs fizeram uma Reeducação Postural Global nas colunas, as mídias sociais (verdadeiros catalizadores) integraram-se ao compasso dos fatos e do produzir das redações. "Tudo ao mesmo tempo; Agora já passou", como escreveu Arnaldo. O F5 tornou-se o capataz de um frenético deadline. O conteúdo, tratado como alimento precioso e às vezes perecível, é transmitido em narrativas ora rasas, profundas, simples o complexas. Tem para tudo e para todos. Para. O processo de reconhecimento e referenciamento é fundamental para o consumidor se encontrar e respirar, mesmo que debaixo d'água.


Vai, revela-te aos meus olhos, pois sinto-te pulsar em meu sangue.
Diga-me teu rubro nome,
meus poros ainda estão cheios do teu sabor;
teu perfume é adorno no meu olhar,
teu toque sustenta, é pólvora, fogo e flor.
Vem, entra no espaço que é seu; lado
o caminho sob nossos pés descalços.





Sua textura!
Sua textura arranha.
Há língua

Espaço e tempo

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Saiu no Observatório da Imprensa

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

bambu, jornalismo, narrativas



O incômodo é premissa para o bom funcionamento do jornalista. O estranhamento pende a Camus e  é essencial. Desafio? Buscar mantê-lo e o transpor para construir narrativas.

O modelo de referenciamento do agenda setting mudou de "as notícias de ontem publicadas hoje" para "faíscas de fatos por minutos" (viu no twitter?). Está mais evidente a cada dia a impotência humana em acessar e processar toda a informação gerada no mundo. Boca pequena escancarada diante da pipoqueira de fatos. As narrativas contemporâneas revelam assim um quadro interessante, porém perigoso:  A noção de pertencimento mudou, se expandiu e assim confundiu os "desavisados" ou os mais empolgados com a expansão das fronteiras  da comunicação (emissão, percepção, recepção da mensagem). Nesta cultura de rede, cada nó comunicacional é um ponto de referência e interferência; junção com o próximo. As narrativas devem reforçar valores humanos e interrelacioná-los com os fatos. Isso sem deixar de tocar nas fraquezas. Quais as pautas da atualidade?

Retire o conforto e verá as manifestações. A escassez de recursos tornou o tema ambiental o mais forte e evidente pé da sustentabilidade nas discussões. O social é moeda eleitoreira, confundido com baixa filantropia, o econômico está cerceado de indicadores confusos, impactos profundos, distanciamento e direcionamento político. Distribuição de renda é diferente de crédito e juros. Desenvolvimento social não é sorriso de criança em foto. (Na parede rabisca-se desejo, necessidade, vontade. Nos jornais estampa-se dívida, crédito, consumo). A pergunta muda mas o personagem é o mesmo. Onde estão as truganinis da sustentabilidade? A vanguarda vem pelo que se achava obsoleto.

Os assuntos que a opinião pública precisa de ler (não necessariamente os que ela deseja) são tratados de forma profunda pela mídia especializada. Para discutir a sustentabilidade como uma pauta séria na mídia, é preciso estabelecer diálogo. A conversa é o melhor mecanismo para, entremeio a rotina estressante, construir pautas que precisamos ler.

No meio do caminho... a mídia e o sistema de referenciamento. A mídia não é responsável por educar, mas por provocar. Entretanto, a inquietação é premissa ao processo de educação. Os valores sociais básicos precisam ser resgatados. Visibilidade e sustentabilidade são diferentes. Todavia, aos estampar marcas e práticas, todos querem fazer dinheiro para retroalimentar o processo e o ser.

Uma coisa são as narrativas, outra é o verdadeiro propósito das ações. Para que as iniciativas sejam efetivas, é fundamental desmistificar o conceito de obrigação no ambiente do público e privado. É preciso parar de brincar de "batata quente"; ao invés de transferir responsabilidade, deve-se estabelecer mecanismos de interferência e transformação social. O poder público e a iniciativa privada em ação conjunta. Essa visão também deve amadurecer os questionamentos e as narrativas não apenas da mídia especializada.

O papel do mass media na indução ou reforço de hábitos é co-responsável pelos impactos socioambientais gerados. A utopia das narrativas vive entre o problema social recorrente e a temperatura do mercado financeiro. Como disse (ou não) o professor Ladislau Dowbor "crescer por crescer é a filosofia do câncer".

Ah, la belle verte! Os impactos interdependem do estilo de vida assumido pela sociedade. O nível de individualismo e satisfação contemporânea determina a intensidade do impacto gerado. Embora haja uma comoção inicial diante das mazelas, a mudança inexiste, caro Ivan Fiodorovitch. O senso de coletividade é baixo [social / acadêmico]. É necessário construir narrativas que provoquem mudança, reflexão e, assim, incentive a conscientização. Deve-se ouvir as fontes, compreender o contexto, para construir o argumento, estabelecer uma versão e só então formatar o texto. Tudo em um ritmo intenso e imediato.

Além do meio ambiente, as novas mídias abrem a possibilidade em despolarizar a discussão a respeito de questões sociais, comunicação e economia. As redes sociais digitais são catalizadores. Às vezes falta amadurecimento na utilização das ferramentas e absorção do conteúdo disponível. O engajamento estimulado pela mídia a conta-gotas estruturada de forma transparente e objetiva. Precisa-se monitorar, envolver; regionalizar a sensação de pertencimento e construção de orgulho e credibilidade.

A Educação e a Comunicação precisam criar alianças entre as plataformas de reflexão, para orientar os usuários em como usar a rede (ou a respeito das variáveis de movimentação), para assim confrontar a cultura de manada e provocar o amadurecimento do indivíduo no uso e consumo não apenas de informações, mas fundamentalmente dos recursos naturais, dentre eles o potencial humano.


Seu segredo não está nas areias. Está nas calçadas e cadeiras. São os passos, a onomatopeia e o sotaque que rasga o canto da boca com um sorriso. São curvas que nos aproxima e fazem-nos dançar. São os homens de chapéu coco, mas sem a maçã. A esfera do tempo rompe a esperança. Cada passo ao largo aperta dentro. Cada olhar é procurar o pouso que não vem. Liberdade.

Não existe mais a necessidade de esconder nas letras; há facilidade
Soluções não simples, muito menos imediatas.
Mas tal qual o soluço
imediata é a ansiedade de...
todo o mel da flor

;

o papel manchado com ideias;
olhar a contaminação, poder ler, cheirar e rasgar.
orgânico escrever...


palavras recicladas nem sempre formam novas frases
mas representam novas ideias


construção
.,


Está disponível também no Observatório da Imprensa
http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_bambus_jornalismo_e_narrativas