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quinta-feira, 27 de agosto de 2015

migalhas em rugas


Quanto tempo é necessário para decompor-se no ambiente o papel? O plástico, vidro e o metal? Quanto tempo é preciso para que o corpo se definhe; que o ser humano se dissipe no ambiente? Uma ideia; uma escolha.

Perpassamos nossos sonhos e frustrações entremeio à realidade do cotidiano em busca daquela sensação de frescor. Frescor de um sorriso, de um sabor, de um acontecimento ou momento em que as pressões humanas são aliviadas. O que pensamos possuir e o que pensamos descartar transformam-se ou se decompõem.  Três a seis meses (Papel), 200 a 450 anos (Plástico), 100 a 500 anos (Metal), 4.000 anos (Vidro), uma ideia, uma palavra, um olhar (nós).

A ordem e a descrição das responsabilidades de cada ser social têm enfrentado recorrentes turbulências. Quem administra e quem é o provedor, como são tomadas as decisões, quem rema e quem controla o barco. Quem cuida do público e do privado. Quem pilota a aeronave e quem mantém a harmonia entre tripulantes e passageiros. Quem escolhe o cardápio, quem prepara, paga a conta e lava a louça. Afora exceções, a sobrecarga de funções sobre um dos seres ou a irregular e intuitiva divisão de afazeres, junto do ritmo urbano imposto como "padrão automático de conduta" tem resultado em seres humanos à beira de um colapso nervoso e social. Muitos, estão a uma escolha de descartar-se da ordem social vigente e se dispor no ambiente, para se decompor ou para experimentar de uma suposta nova realidade.

Neste ínterim emergem modelos alternativos, as modas das academias, dos guetos intelectuais e esportivos, dos orgânicos, dos entorpecentes, da passividade, do vandalismo, do crime e castigo.  Culpar o contexto e o repertório do indivíduo é clichê. É um clichê falar em clichês. Refletir sobre como são estruturadas as escolhas é um desafio. É inegável o poder de interferência do estímulo do ambiente (provindo do famigerado contexto). No entanto, como este estímulo é recebido pelo indivíduo e como o leva a tomar decisão? Acredito que nas rugas de cada um há migalhas da essência, do elixir que estrutura as escolhas e registra no olhar, no corpo e na alma as consequências.

Quando olhamos para pessoas entregues às drogas, à violência, às modas, à utopia do corpo perfeito e da mente brilhante; percebemos o exagero de teorias, receitas, referências, sorrisos e lágrimas. Ao fundo, muitas vezes a angústia da saciedade.

A angústia da saciedade. Transmutada em necessidade de ser feliz. Manifestada como busca em realizar sonhos. Materializada em capacitação profissional, viagens, religião, relacionamentos, posses, poder, enriquecimento e reconhecimento. Para alguns ainda, a aceitação é o estandarte.

A autoafirmação da identidade, saber e sentir que existe e tem importância; considerando que o reconhecimento passa pelo o outro; pela convivência social e até mesmo com a natureza. Todavia, incomoda a sensação do algo a mais. A paz abstrata e tão real que poderia não nos saciar, mas abrandar a angústia é única para cada um, mesmo que seja a mesma (ou semelhante) para muitos. Sem respostas definitivas, às vezes o prumo e o rumo está em refletir sobre as escolhas, seus efeitos e desdobramentos; sem tornar-se prisioneiro da reflexão; pois o tempo não para, não passa, ele é.
Veja também: http://obviousmag.org/rumos/

terça-feira, 31 de março de 2015

Novas (?) Narrativas Jornalísticas


Ilustração: Ramon Bruin
Não sei se nova é a narrativa, a linguagem jornalística, o olhar, ou ainda assim o tempo. Antes o ideal era a câmera não tremer e as frases serem bem concatenadas. Agora tentam vender realidade viva. Algo que pulsa incontrolavelmente. Tanta espontaneidade que chega a parecer um espetáculo de dança contemporânea. O imprevisível é parte do enredo, está no script do espetáculo midiático.
A inquietação é premissa para a evolução. Nesse sentido, os programas de TV têm buscado inovar na maneira de narrar e de fidelizar o público. Seja por meio dos milhares de “cozinha com fulano” que tentam sofisticar, naturalizar, ou tornar rústico o ato de preparar alimentos e se relacionar com eles; ou nos programas de esporte que tentar levar adrenalina aos pilotos de tablets e controles remotos, lembrando até da metalinguagem de programas como A Liga e Profissão repórter. A linha entre o interessante, eficaz e o cansativo é tênue. É preciso destreza para caminhar sobre ela.
Dentre as várias tentativas, algumas são bem interessantes (mas não inovadoras). O Mundo segundo os Brasileiros, produção independente (produtora holandesa/argentina - Eyeworks) disponível em canal no Youtube e transmitido pela Rede Bandeirantes, há 5 temporadas (desde 2011) apresenta a narrativa pelo viés de quem vive o espaço e transmite a própria impressão a respeito do lugar, do tempo, da história, das referências.

Um texto praticamente documental estilo história oral, aquela conversa informal de quem quer contar suas experiências em um novo território. Trata-se se um formato sem protagonistas fixos; alterna-se os narradores, guiando com a câmera, nos contando histórias oficiais e impressões de estrangeiros andarilhos. Baseada no original argentino Clase turista: el mundo  según los argentinos, a série é dinâmica e perpassa desde os principais pontos turísticos a pontos pouco conhecidos do globo.
Cidades invisíveis erguem-se à medida que significados são repassados ao espectador. Forçando um pouco as vistas, dá para imaginar o Marco Polo contemporâneo revelando as nuances das cidades, ou o estrangeiro de Camus andando pelo mundo, contaminando-o e sendo contaminado por ele. E como brasileiro é um povo espalhado pelo planeta, matéria-prima não falta ao programa.
Iniciativas assim precisam se alastrar pela TV aberta, mas essencialmente necessitam estar alinhadas com o conteúdo multimídia, considerando o comportamento de consumo de informação e a disponibilidade dos meios; expandindo assim a acessibilidade ao conteúdo, novos campos para reflexão e seu desdobramento.

Publicado também no Observatório da Imprensa
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed844_novas_()_narrativas_jornalisticas

terça-feira, 17 de março de 2015

Disseminar e verificar





A verdade que nos aflige não cabe na narrativa de um fato. As minúcias de uma apuração, que podem determinar o rumo das interpretações subsequentes, não estão evidentes nas curtas linhas. Menos ainda nas fotos e respectivas legendas. Quando os textos trazem declarações de autoridades então, o pandemônio dos dados é assustador. Seja em cenários de crises ou durante eleições, as declarações das fontes oficiais nem sempre contribuem para o indivíduo estar informado, mas de modo recorrente atrofia a percepção pública com elementos confusos, interferindo na narrativa.

Iniciativas como a do da organização argentina "Chequeado" (Site que verifica a legitimidade dos discursos de autoridades), estabelecem-se como mais uma estratégica para não absorvermos "opiniões" traduzidas em informações pseudo-isentas. Em essência, o serviço prestado por eles é o modus operandi que todo leitor deveria ter (principalmente e não somente, durante eleições e posicionamentos oficiais): cruzar informações do discurso com matérias já divulgadas e com dados disponíveis nos canais de transparência. Cabe ao leitor, antes de confiar, buscar resquícios dos fatos e confrontar versões. Sempre. Embora seja um processo cansativo (considerando o ritmo de vida), é ainda o menos ineficiente.

Nesse percurso, o leitor perceberá como muitos conteúdos são replicados em diversos veículos de comunicação. A ocorrência é tanto fruto do compartilhamento (autorizado ou não) de conteúdo, quanto o resultado de uma assessoria de imprensa com interferência em massa. Sobre o compartilhamento de conteúdo, interessante o que aconteceu com jornais de seis países da Europa. Fizeram parceria para promover a troca de conteúdo e pesquisas em comum entre eles na denominada Aliança Europeia de Jornais Líderes (Leading European Newspaper Alliance). Acredito ser uma estratégia interessante para otimizar recursos (reduzir custos de produção), mas sua operacionalização não pode engessar a narrativa em apenas uma direção. Funcionaria no Brasil tanto com veículos pequenos quanto com os grandes? De forma quase que underground alguns repórteres compartilham pautas, ou premissas de pautas e fontes, em um processo mais de negociação de informações do que de enriquecimento de narrativa e redução de custo de produção.

No universo paralelo, o Governo Federal insiste e nos bastidores tenta afinar o argumento para estabelecer regras para o funcionamento da mídia; a famigerada regulamentação da imprensa. Antes de implantar uma ação de controle para promover a responsabilidade narrativa aos veículos e interferir no que ainda há de liberdade, é importante consolidar os dados emitidos em declarações oficiais e o objetivo específico das respectivas atitudes. Não apenas disseminar informações e controlar o processo de produção, mas essencialmente possibilitar rastreabilidade aos dados, para que qualquer um possa verificar a legitimidade da informação de discursos de fontes oficiais e a narrativa construída pela Imprensa.
e o que não cabe no fio do olhar
como te fazer sentir?
como saber o que você sente?


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terça-feira, 8 de abril de 2014

Notas ao vento




Em tempos de crises recorrentes a nota é o novo porta-voz das empresas e personalidades. Este fato, secular, revelaria a insegurança da fonte ante o repórter, que muitas vezes suprime informações ou edita posicionamento com interpretação equivocada ou a fuga da fonte de um questionamento específico, a respeito de algo que ela não quer falar sobre o assunto?

A opacidade das fontes oficiais deve ser revista. O índice de transparência necessário para evoluir a relação fonte e imprensa é o mais próximo possível da pureza. O mito da objetividade. Esse guia recorrente na construção de narrativas. Se a instituição não quer falar, não significa que ela não deva. Algumas diretrizes devem ser cumpridas para garantir a fluência do processo democrático de acesso à informação.

A eficiência das notas está em organizar o argumento da fonte, de modo a evitar respostas emocionais, frases equivocadas, informações desnecessárias. No entanto, elas não estabelecem um diálogo com a imprensa e sociedade, pois não permitem questionamentos. A nota é uma fala oficial, unilateral, de posicionamento a um questionamento chave. Esta ferramenta de comunicação é necessária, pois dribla com elegância os repórteres mal intencionados e é um ponto de partida para os jornalistas bons de faro.

O paradeiro da ética na construção das narrativas é algo a se pensar, debruçar antes de disseminar os discursos, consolidar cenários. Cenários que podem ou não estar em harmonia com a paisagem social (re) construída continuamente.  Estabelecer uma narrativa diplomática não significa mentir. Corromper não deve ser uma possibilidade. Assumir a responsabilidade em argumentar diante da expectativa social e especulação dos opositores é inevitável.

Biblicamente já registrado; existe um tempo para todas as coisas. Em paráfrase, há tempo para release, tempo para entrevista, tempo para nota, tempo para coletiva e tempo para o silêncio. A habilidade para compreender e determinar estes momentos é o que torna o profissional um diferencial de mercado, e enriquece o processo de comunicação. Trata-se de um frágil terreno; caminhar por ele exige conhecimento técnico e percepção do fluxo social de construção de significante.

Também publicado no observatório da Imprensa: 
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Insista. Basta. Na expressão da dor, no reflexo de sangue que perdura como purpurina no caráter do indivíduo. Sim, basta. No que a palavra torpe se transforma ao estar no poema, no que as cartas de amor envelhecidas se tornam na gaveta. As cifras de um canção economicamente calculada. Sociedade. O colapso e o trato considerando o tempo um aliado. Inexistente. Casta. A personalidade pura é então entregue ao que é profano, ao que é marginal. O poeta dilacerado fica resignado à poeira e lágrimas. As páginas sobrepõem as sensações, pensamentos e sentimentos. O mundo não gira, nós piramos. A sanidade arrancada na pétala de uma flor.

"Ele nos auxilia em todas as nossas aflições para podermos ajudar os que têm as mesmas aflições que nós temos. E nós damos aos outros a mesma ajuda que recebemos de Deus." (2 Coríntios 1:4 NTLH).

terça-feira, 1 de abril de 2014

Dois pontos





A exclusão é premissa da organização das pessoas em sociedade. Aspectos como "fatores socioambientais", "comportamento por prazer" e "comportamento por sobrevivência" são estruturais. Quando um grupo se reúne e estabelece critérios de convivência, tem por objetivo excluir "algo" para assim garantir a permanência e manutenção dos valores dominantes dos proponentes da ordem social ou dos possuidores articulados dos recursos básicos que viabilizam a vida em sociedade.

Compreender este processo é perceber quão complexo é o sistema e quão sutis são as ações que podem causar mudanças. O estandarte da educação, saúde e segurança funciona como uma vitrine ambulante que resume as linhas de atuação. Embora seja secular o conhecimento, a exibição e o repasse deste estandarte por todos os segmentos sociais, as demandas estão petrificadas. Ações desconexas brilham como faíscas de possibilidades (ex: trabalhos como os da Associação do Semi-Árido, produtores de alimentos orgânicos, grupos culturais, câmaras mirins de vereadores, Jovens Inventores, etc), mas não penetram no cerne da organização social, menos ainda causam as mudanças esperadas. A evolução da consciência crítica existe, no entanto, o sistema de relevância dos meios de comunicação interfere incisivamente no índice de reconhecimento de um indivíduo ou causa.

A organização social não possui um cerne? As ações incipientes precisam de maturação para se embrenhar no consciente coletivo, consolidar um automatismo sustentável e se estabelecer como aspecto de "comportamento por prazer, ou comportamento por sobrevivência"?

O exercício contínuo das ações dos indivíduos estabelece as intocáveis tradições. A família poder ser analisada como uma célula social. Refletir sobre o processo de construção dos valores é fundamental para realizar qualquer reforma (política, social, religiosa, agrária, moral). Se pensar que a sociedade não é um bloco fechado, mas permeável, entendo-a como uma narrativa, restrinjo-a em um texto. Todavia, não há um cerne, uma palavra "pedra fundamental", um código fonte para mudar o todo por reação em cadeia. Acredito que neste contexto, o cerne está no canto de uma frase, especificamente nos dois pontos.


terça-feira, 6 de agosto de 2013

úmida unidade

A unidade em um mundo da diversidade. A unidade em tempos de um individualismo de arestas, que fere, não encaixa, que rompe, não integra. "Que desafio mais ordinário em um mundo extraodinário Raskol".

As narrativas estabelecidas pelos meios de comunicação alimentam nossa necessidade de se inteirar e ater ao que acontece no entorno, com o outro, e assim se condoer ou se indignar, mas nada fazer. Resumem as movimentações políticas e conomicas. Mural para os espertos visualizarem potencialidades de lucro e sucesso; lugar onde os incautos se perdem em cansativos discursos.A sobreposição de plataformas de informação e os diversos veículos de comunicação existentes provocam uma rave alucinante entre o processo de estabelecer e ser agenda setting.

A convergência ou conflito entre as versões dos fatos é imediata. Começa nas redes sociais digitais, amadurece no F5 dos veículos de comunicação, estabiliza nos noticiários noturnos da TV e estaciona no impresso da manhã seguinte; isso quando o circuito é fechado. Às vezes o assunto, quando parece estacionar, novamente entra no turbilhão.

A sinalização nas ruas é tão indicativa. Onde podemos estacionar, a mão e a contramão, os pontos turísticos, as revoltas, passagens, políticas, drogas, relacionamentos, liberdades e liberdades, respeito em placas, muros e corpos. Apesar de todos, me pergunto o que há de ser amanhã. Seja côncavo ou convexo, é preciso estar atento ao foco, à distância focal das ideologias.

Entre umas e outras; a fé exercida como advento midiático. Audiência pelos meios errados. Reações em cadeia que deturpam a mensagem. A caridade exercida por nós perpassa nossas fragilidades, nossos mais íntimos desejos; aqueles resignados ao espaço em si, onde não há palavras.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Memes jornalisticos



Na falta de aprofundamento e diferenciação na apuração, repetir o que o outro já apurou e dar um estardalhaço diferente é melhor. A brindaceira gera "memes" que soterram o público com mais do mesmo. Na falta de uma argumentação sóbria, ser irritado e irritante gera caracteres aprazíveis ao consumo. Enquanto as escolhas forem regidas pelo umbigo, não há como falar de futuro; menos ainda no presente desembrulhado que embrulha o estômago do trocadilho fraco.






Filipenses 1:3-4
Filipenses 1: 9-10

segunda-feira, 1 de julho de 2013

asfalto e aeroplano




Abro a janela e percebo uma sociedade que já não quer o peso de grandiosos efeitos visuais, mas anseiam pela leveza, traços finos seja em projetos gráficos, paisagísticos, audiovisuais, ou design. Cansados estão de bula, mas reféns dos efeitos colaterais amplificados, insistem em aumentar cada vez mais a dose. Concessionárias. Veículos a combustão, veículos de comunicação. O turbilhão de opiniões e a frenética busca por estabelecer uma versão predominante, apelidada de verdade. Furada como um bom queijo com café.

Massageie. Ecoa nos quartos à noite, enquanto o travesseiro ainda é frio, o ar suavemente entra e sai. Inspire. Cravado nos olhos de quem persiste em brilhar uma crença, de que as palavras devem refletir a realidade de sonhos materializados e não apenas o abstrato. A fé que não está cunhada e carregada nos bolsos sustenta aqueles que se entregam à possibilidade de ser uma boa pessoa. Desafiador x possível.

Todo mundo é rei e vassalo de si. A história que me é contatada em preto e branco, quando fora realidade tinha mais cor e intensidade do que palavras de gracejo. Mas as lembranças envelhecidas estão incrustadas no DNA de cada um. O colar da culpa muda de pingente mas ornamenta os pescoços, marca os corpos.

Massageie. A dor passa quando o travesseiro esquenta, a tranquilidade pode ser percebida. Aeroplano. Estática folha branca deixada na gaveta por anos. O tempo coloriu o papel de abandono. O tom sépia não trazia nostalgia, apenas demonstrava o desperdício de um espaço outrora branco. Duas linhas. A inspiração de quem começou a escrever algo na folha tinha fôlego para apenas duas linhas. Não se sabia se o abandono era por causa do conteúdo das linhas, ou de sua motivação. Mas a pesada gaveta de madeira, praticamente emperrada, talvez fosse o alento ao esquecimento.

Aprendeu a andar quando tinha 11 meses. Desejou voar de modo mais intenso quando completou nove anos. Abandonou as bolas de papel, os barcos de papel, dedicou-se a elaborar aviões. Os rápidos, os planadores, os de longa distância, os de impacto, os que não voam. A falta o fez abrir gavetas. Em busca de papel, abriu o que via à frente. Uma gaveta não quis ceder. Insistente, pegou a folha sépia e se preparou para executar o mais eficiente aerodinâmico, pois o último sempre era o melhor. Mão, papel, Mão. A mão do pai ganha. Observava com ternura o filho em seu empreendimento quando, com teias e rusgas, lembrou das duas linhas e daquela folha de papel. Antes de deixar o filho continuar, releu aquele traço encardido, beijou o infante e soltou a folha.

“Eu não saberia nunca como ajeitar a minha alma a levar o meu corpo a possuir o seu” Fernando Pessoa. Em queda moral, muitos misturam o voo de Ícaro com a dança de Fausto e fica parado em uma encruzilhada entre querer ou não ser Jonh Malkovich. O discurso midiático assemelha-se ao râmster que corre incessantemente sobre o círculo na gaiola.

Rastejou até o alarme e o desativou.

Leminski-se às vezes,


O abrir a janela que trava com cimento

o trilho de tétano e as ácidas asas da borboleta

desanuviam-se no verso

porque o olho tem que piscar

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Mediação Maturada?


Maturada pela história, a mediação instaura o processo de eterno retorno. Retorno à inocência, à infância, Era de sonhos, mimos e desatinos, anseios, equívocos, empolgação, especulação e reclamações ao ermo. Retorno à compreensão, quando as mensagens faziam sentido num baile doentio com a confusão. As narrativas instigavam e explicavam, ao invés de frustrarem e confundirem.

A representatividade, embora pareça ter sido um conceito destruído pelo imediatismo ou efervescência tecnológica, está soterrada por nossa recorrente incapacidade de assimilação entre desejo e necessidade. Os narradores contemporâneos parecem atordoados no campo de batalha da informação. Não importa apenas de onde vem o estardalhaço, mas como ele afeta a percepção de realidade em tempos em que a justiça é lenda, a violência sai das telas de cinema, encharcam noticiários, e os bons exemplos de cidadania são sinais de esperança, o fôlego cotidiano.

O panorama apresentado na última edição da Revista MSG - revista de Comunicação e Cultura (editada pela ABERJE) apresenta uma crise na mediação a partir da ausência de uma identidade coletiva. Isolados pela soberba do controlar o processo de produção (e não a informação); unidos pela confusão de compreender e situar-se na sociedade: assim flui o indivíduo. Aparentemente, o princípio de igualdade é suprimido pelo da hierarquia restritiva e não qualificada. O que vemos é uma verdadeira Lei das Porteiras (abertas): O primeiro que passar abre e o último nunca fecha, pois ele inexiste.

Mas o que a Imprensa, com suas estratégias de mediação, pode fazer? E o que o cidadão precisa? Assimilar a presença do contraponto nas relações sociais e nas características humanas. Uma vez que o investimento correto em educação não surge, os narradores precisam coser e cozer argumentos para contribuir com mais afinco para a formação de público com senso crítico não apenas apurado, mas exercitado. De forma a contribuir para que o indivíduo concilie os fatos com as possíveis consequências. Talvez assim as escolhas sejam menos destrutivas.

A lucidez de Carlos Castilho* (em seu último artigo publicado no OI) chama a atenção para o momento de fragilidade dos veículos de comunicação e a necessidade de aplicar estratégias que possibilitem não apenas dar fôlego, mas garantir à imprensa a rentabilidade e condições de trabalho adequadas. O processo de mediação conclama os narradores a agir. O amadurecimento passa pelo renovo.

Publicado também no Observatório da Imprensa
http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed706_mediacao_maturada
www.passocomunicacao.blogspot.com

terça-feira, 17 de julho de 2012

Produção de sentido x Ideologia (pelo consumo)


Interação. A expertise do jornalista em verter a multiplicidade em texto é fundamental para manter o fôlego dos veículos de comunicação.

Além de apresentar um projeto gráfico moderno e cativante (nas últimas semanas o jornal Hoje em Dia – MG – mudou o formato em busca de consolidar leitores e conquistar público), jornais e jornalistas precisam investir na qualidade da apuração. Ainda mais agora com a lei de livre acesso à informação pública. O dilema entre acesso e interpretação instaura um desafio aos repórteres e público.

A resignificação a partir das transformações culturais estabelece um novo padrão de narrativa. A vulnerabilidade da mídia, quando exposta à opinião pública, diminui poder de persuasão da imprensa em manipular as interpretações da massa. No entanto, torna-se inevitável manter a transparência para assim buscar manter credibilidade perante a sociedade como fonte oficial dos fatos. Para isso, não pode ignorar o processo colaborativo da atual narrativa midiática. A tecnologia viabilizou a formalização do cochicho.

A participação em congressos e eventos promovidos pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais (MG), permite uma percepção preocupante. A profissão se mostra esvaziada em prol do interesse de apenas encher o bolso e mobiliar a vida de descartáveis ideologias. Com pesar, observa-se as brigas por questões irrelevantes, o afastamento da reflexão do fazer comunicação. Cansada, a profissão tropeça (do regional ao nacional) no desgaste. Cursos vazios, redações sucateadas, textos pobres, confusão. Poucos resistem, poucos investem. Trata-se de um perfil alarmante, no qual toda a sociedade está inserida.

Queremos o mérito da transparência, mas não ser transparente. Os princípios éticos têm sido manipulados conforme a conveniência. Enquanto focarmos a satisfação como resultado de lucro financeiro crescente, isso não mudará, mas irá intensificar o desenvolvimento atrofiado da sociedade.

O descaso impera, a incoerência reverbera. Esvaziamos garrafas e estouramos estatísticas. Igrejas, escolas, residências, empresas e imprensa. Caminhamos para uma apocalíptica estagnação social. A cidadania aos poucos é usurpada, embora alguns lampejos de esperança despontem em publicações exemplares, jornalistas de verdade e pessoas com iniciativas dignas de um futuro melhor.

Assim.. passocomunicacao.blogspot.com

Publicado também no site Observatório da Imprensa
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed701_producao_de_sentido_vs_ideologia

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terça-feira, 8 de maio de 2012

limão n' água



Multiplicidade; somos invariavelmente os mesmos? Continuo a frequentar as bancas, insisto em atirar limões na água e observar os seus efeitos. Entre os ombros dos mais afoitos, as pautas e ruas revelam tanto desejo que as horas são poucas e os dias cada vez mais necessários. Um país com significativa preocupação com temas ambientais e controversa tratativa de tais assuntos.

A fraca presença da imprensa no último Fórum Mundial de Água (em Marselha) e a repercussão do assunto na mídia despertou preocupação. Os debates provocados no VII Fórum Água em Pauta”, realizado pela Revista Imprensa e pela Bolsa de Responsabilidade Social (BRS), em Fortaleza (CE), alfineta-nos ainda mais. Como os jornais de grande circulação e os jornais de circulação regional tratam do tema? Como proporcionam a reflexão e mudança de hábito do cidadão? Aos que não fazem, é tempo de despertar; aos que esboçam uma narrativa, é preciso mais do que panfletagem.

Inevitável então é condicionar o público para a faceta econômica de comportamentos sociais. Combater a violência, a droga, o crime ambiental e a pobreza e falta de saúde tratando todos como indicadores econômicos dos mais importantes (como variáveis do mercado econômico); mostrar e amplificar como tudo isso nos é muito caro. O avanço tecnológico e as mudanças no periodismo das mídias tornaram equivocadamente o “passar os olhos” sinônimo de leitura. Precisamos fazer como disse Dines à revista Negócios da Comunicação: “Eu subordino a tecnologia ao texto, e não o contrário”. As universidades, entidades e institutos de pesquisas despejam diariamente estatísticas que nutrem pautas e a desinformação da massa.

Considerando a importância do lucro para as atividades sociais contemporâneas, a Economia Verde a ser debatida na Rio +20 propõe tratar a natureza como um capital. Desse modo, estratégias de lucratividade a partir de investimento em preservação serão apresentadas como solução. O lucro saudável, sem exacerbado ganho financeiro, mas também sem prejuízo. O ganho humano é maior.

Enquanto a preservação do meio ambiente depender do emocional coletivo, nada de efetivo acontecerá. O indivíduo se move pelo bolso ou pela barriga que dói. A cobertura da imprensa deve ampliar os interesses envolvidos em questões como a do Código Florestal e não ficar com uma placa de protestos em mãos.

O factual precisa ser utilizado como instrumento de reflexão e não para induzir uma opinião (como é feito desde os primórdios), mas proporcionar o diálogo. Talvez essa seja a alternativa à consciência social vigente: Proporcionar mudança pelo debate (e não combate) da multiplicidade de ideias, reforçando que alguém terá de ceder, é inevitável.

A Presidenta Dilma tem até dia 25/5 para se manifestar sobre o Código Florestal. Enquanto isso, a população continua como uma massa em bloco de carnaval atrás do trio elétrico: presa no automatismo de pensar e agir. A rima pobre é válida: Tudo muito polarizado em mundo globalizado.

sinto você ranger abaixo de mim,
não me canso de tocar-te;
mantenha-me de pé enquanto persistir o sonho
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terça-feira, 17 de abril de 2012

Valor às marcas


O desejo de ser referência para a opinião pública está mais atrelado a uma busca por lucro e controle de mercado do que prestação de serviço à vida. Diante das mudanças bruscas das últimas décadas, o poder e valor das marcas já não pode ser trabalhado como um anúncio, uma placa, um nome gritado aos quatro cantos do esférico mundo.

A regionalização das narrativas, em linguagens e temas tem sido a estratégia padrão para integrar os consumidores e fidelizar o novo cidadão digital. O modelo de construção das marcas ultrapassa os espaços publicitários, e alastra-se pelo espaço editorial, pelo espaço físico das cidades e pela manifestação cultural. É necessário conhecer a natureza do resultado a que se propõe obter. O valor a ser construído depende dos parâmetros que constituem a cultura da organização.

Seja a partir das sucursais (muitas em extinção); seja os grandes meios de comunicação com uma gestão integrada de afiliados (Globo com 29 grupos de comunicação e 122 emissoras – sendo 117 afiliadas); seja nas empresas com um corporativismo velado sob a tutela dos conceitos-produtos: Responsabilidade social, Qualidade de Vida e Sustentabilidade. Todas as frentes de comunicação anseiam tocar o público, controlá-lo, saciar as vontades que os próprios meios criam. Mas como se posicionar diante dessa massa?

Os gestores, com raiz no modelo antigo de administração, são resistentes a assumirem a transparência como virtude. Eles a consideram um risco, uma ameaça à saúde do negócio. Dessa forma, cerceiam a liberdade dos profissionais de comunicação (dentro ou fora das redações) como um indivíduo pensante. São poucas as empresas e áreas de comunicação que sustentam uma postura transparente e sóbria na construção de discursos, práticas e relacionamentos. A marca (seja de uma indústria ou de um veículo de comunicação) deve ir além do símbolo, precisa representar um valor, um caráter perceptível nas práticas.

A integração de serviços e a livre escolha são estandartes do mundo contemporâneo. O indivíduo precisa sentir liberdade para consumir informação e o acesso deve ser resultado de uma fórmula cruel, onde a instantaneidade deve estar disponível em multiplataformas a um custo baixo [ o que muitas vezes desconsidera o valor de produção e do produto].

TV, jornal, rádio, tudo na palma da mão. O smartphone dita o ritmo de vida moderno. O rádio foi então revitalizado pelo twitter, os jornais pelo facebook e a TV pelos portais de convergência de conteúdo. A maneira como a Rádio CBN e a Itatiaia utilizam o twitter para alinhar e expandir a programação, provocar interatividade e prestação de serviços tem dado fôlego ao fazer jornalismo. O mesmo acontece com as fanpages dos jornais. As notícias provocam diálogo direto com os leitores e aponta caminhos possíveis para aprofundar nos temas veiculados. Muitos têm aprendido a trabalhar tendo a interferência do público como instrumento do processo narrativo.

O turbilhão do padrão de absorção das novas gerações é um dos desafios do atual modelo de consolidação de marcas por meio de ações de comunicação. A cultura de timeline impera. F5 é o piercing na língua da juventude. Engajar todos na cadeia de produção e absorção de conteúdo é algo inevitável.

Engajar o empregado/consumidor é dar poder a ele. Isso é um paradoxo da gestão atrofiada que não percebe os benefícios do equilíbrio entre autonomia e arbitrariedade. Para que as organizações, midiáticas ou não, obtenham representatividade perante o público é preciso trabalhar à sombra da confiança e não hesitar para mantê-la intacta. A ruptura da confiança reinicia todo o processo de sedução do outro, trincando as marcas. Enfim, o processo de comunicação está cada vez mais vulnerável, pois embora tenha suas premissas básicas (tal qual leis da física) sua instabilidade despertou como um vulcão acordado. No desconforto procura-se por referência. É fundamental refletirmos a respeito de qual valor há nas marcas que espalhamos ao vento, para não sermos fustigados pelo que sair do vulcão que criamos.

Publicado também o Observatório da Imprensa  http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed690_o_valor_das_marcas

terça-feira, 27 de março de 2012

Pautas Doces



Basta passar os olhos na seção Ano 1 Nº 1 da Revista Imprensa para perceber o quanto são criados novos veículos de comunicação; fenômeno interessante, já que as pessoas falam tanto no colapso dos impressos e maior utilização dos eletrônicos. Muitos desses veículos raramente ultrapassa a marca dos cinco anos de circulação. Porém, existem aqueles que conseguem amadurecer a linha editorial e se manter de forma saudável no cruel mercado editorial. São revistas e jornais que se desdobram para conseguir, sem uma grande editora, o fôlego financeiro e uma circulação satisfatória.

Em relação à representatividade das pautas, alguns veículos especializados acabam por contribuir na construção das edições da grande mídia; seja pelo assunto, linguagem ou abordagem dos fatos. Diante da iminente Rio +20, podemos observar que o mecanismo repetitivo e raso dos grandes veículos emerge. Os problemas, as limitações e as\soluções são tratadas apenas durante o calor da conferência (período próximo, durante e o imediato depois). Nesses períodos, a população é soterrada de debates e informações que pouco esclarecem. Todavia, há um consenso velado que tratar desses assuntos no cotidiano fica reservado às publicações especializadas de circulação limitada. Bons exemplos podem sem conferidos nas discussões levantadas pela Revista Ecológico (MG), Revista Imprensa e outros títulos.

As pautas de Vida Simples (revista lançada em 2002, filha da Editora Abril) infelizmente são tratadas pela grande mídia como jornalismo de entretenimento, coisa de segmento. Portanto, não se vê nos diários uma abordagem satisfatória e não propagandista das ações em prol de um mundo mais habitável, mais ameno ante tanta desgraça. A imprensa, em sua maioria, teima em reconstruir casas na areia, em um exercício só para ver o mar.

A consciência do novo cidadão é também formada pela mídia. É preciso equilibrar a peneira para que os fatos de desgraça não sejam maiores do que as iniciativas de esperança. A avalanche de informações pode moldar o imaginário do indivíduo em um processo de formar Orange Clockwork e seus dissidentes.

O atual modelo de comunicação de massa tem formado o cidadão apático e estressado ou apenas tem sido o espelho da realidade? Protestar vai além de subir em monumentos ou mostrar os peitos. Trabalhar a consciência é um desafio. Alterar padrões de comportamento implica estabelecer outros. De onde virão os parâmetros? Da mídia que se abstém de tratar no cotidiano temas como meio ambiente e responsabilidade social?

A cidade orgânica cresce. A verticalização é proporcional ao aumento da frota. A estrutura de esgoto, trânsito, fornecimento de água e energia não consegue acompanhar o referido crescimento. As pessoas precisam determinar os limites da própria satisfação e o nível de sociabilidade que é capaz de suportar. As pessoas não cedem; derrubam argumentos sustentáveis por práticas imediatas de conforto e satisfação. Alguém tem que ceder, mas quem? Todos em algum momento, em determinada intensidade. Enfim, entre a imprensa falar mais ou falar melhor, nos aproximamos de mais uma conferência (Rio +20) para debater a falência dos recursos perante nossa cadeia de consumo e de argumentos. Determinar políticas com resultados mais efetivos é um desafio; mas diante desse cenário, qual é a face da opinião pública? Esta entidade que é a maior interessada nos efeitos das decisões tomadas pelos chefes de estado e iniciativa privada. É possível traçar o perfil social a partir das páginas dos jornais?

Publicado também no Observatório da Imprensa
http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed687_pautas_doces

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sábado, 3 de março de 2012

terminologia da prática



A comunicação (corporativa ou não) insistentemente está atrelada a conceitos que se tornaram palavra de ordem: engajamento, alinhamento, ações coordenadas e integradas. Entretanto, como os conceitos podem ser verificados nas ações postas no dia a dia?

Dentre a papelaria e as ideologias que não cabem nos bits, os comunicadores com síndrome de Pink e Cérebro despejam todos os dias as estrategias para pontuar o que é, ou não, interessante no cotidiano, e pintar o antigo de vanguarda; disparar interpretações alternativas para conceitos e fatos. O público sucumbe sempre, mesmo quando alega não o fazer. Trata-se de um automatismo sutil. O resultado está nos padrões de mobilização popular e de consumo. Cada vez mais nas mãos do que é eletrônico, vivemos com o pânico de ouvir a recorrente frase "o sistema caiu". Engraçado mas diante da queda do sistema da TAM (no dia 2/3) não vi nenhuma matéria dos grandes (ES EM FSP e etc) com um foco mais abrangente ( que vá além do jargão "quero ver como vai ser na copa"). Essa frase ("o sistema caiu") significa atraso, impotência, perdas e danos. No entanto, diante do colapso das ferramentas criadas para tornar o dia a dia mais ágil, constatamos a necessidade de nos reinventarmos; encontrar soluções para educar e manter o fluxo social.

Quem criará as soluções? Quem as divulgará? As cifras controlam as decisões sobre o que é ou não bom para a sociedade. A revolução industrial já não cabe nos livros de história, ela extrapola o que se pode controlar. Indústria da seca, indústria da miséria, indústria das emendas parlamentares, indústria dos votos comprados, indústria do consumo, das rodovias sem reforma, da violência, do sexo, das drogas, do futebol e da et cétera.

Do outro lado do balcão, os jornais têm ganhado atualmente muitos leitores em função de um kit básico da mídia: boas narrativas, distribuição otimizada, interatividade e preço de capa, além da grande oferta de tragédias (humanas e ambientais). A disponibilização em mídia eletrônica tem contribuído para manter leitores em uma nova plataforma de acesso a conteúdo, e também para fidelizar alguns olhos que passam pelas bancas em busca de identidade. Sustentar-se é preciso, agora e amanhã, mas do que nunca; novamente as cifras.

Assessores ou lobistas? Afora a discussão defendido há anos pela Aberje, e a luta pela regulamentação das profissões, é preciso refletir além de terminologias. Responsabilidade social é algo incrustado à filosofia de desenvolvimento. O modelo truculento e imediatista de progresso precisa ser substituído por ações colaborativas e posicionamento transparente ao agregar valor ao negócio (veículos de comunicação e empresas) sem ferir ainda mais a sociedade. Como se portam os assessores e lobistas diante de temas de utilidade pública? E os repórteres?

Acredito ser necessário Conhecer para crescer; Não basta criar estratégias de escritório, por trás das mesas e em frente a aparelhos ruidosos de ar condicionado. Os comunicadores precisam Personalizar o reconhecimento. Falar da massa considerando o grau de individualidade existente nela. Mobilizar pela sensibilização? Após conhecer como o público cria significado e utiliza a linguagem, interagir deixará de ser uma ferramenta de controle velada e passará a representar um processo de comunicação menos corrosivo.

As interrogações são as sementes de uma boa pauta e as reticências a garantia da continuidade. Façamos!

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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Rumor e prumos do olhar





Para o Jornalista, tudo o que é provável é verdade”, H. Balzac

Ninguém parece se ater às águas enquanto navega, por isso vêm a pique, pois no meio do caminho há sempre mais do que uma pedra. É fundamental que os narradores percebam de onde vem o barulho que determinam suas pautas. Na Bíblia, o efeito “solta Barrabás” mudou o rumo dos acontecimentos, atualmente, eventos Trending topics como o “Luiza Canadá” e “Grávida de Taubaté” mudaram a pauta da mídia nacional, as discussões sobre comunicação em massa e criaram um instantâneo clichê do humor.

Sofrimento e irreverência continuam como moedas sociais. Na mesa de discussão da agenda reflexiva, as memórias reais da sociedade são substituídas por ideologias de palavras e espasmos de uma puberdade tecnológica, onde a ponta dos dedos ordena ações às telas, mas as palavras à cabeça não provocam mudança nos comportamentos. Os veículos de comunicação ignoram o poder do buzz, mas são regidos por eles. Atualmente, o tosco telefone sem fio define o material reflexivo tanto do narrador quanto do espectador. A temporalidade do assunto e seu poder de assombramento, de retorno, são subestimados e substituídos pelo que está na moda. Quem define essa moda? Um grupo corporativo (como defende W. Bueno), as classes sociais, ou as gerações X, Y, Z?

Quando se diz que um escritor está na moda, sempre se quer dizer na prática que ele é admirado por pessoas com menos de trinta anos” Eric Arthur Blair.

Navio tomba no mar, prédios caem no Rio e Pinheiro já não simboliza natal, mas atrocidades de um governo reacionário e negligente, amparado por uma polícia cujo bom senso está na ponta dos dedos, comprimido entre gatilhos e cassetetes. A imprensa com canetas e eletrônicos mais uma vez registra o imediato mas não constrói a rede de interesse que cerca a permissividade dos governos, da estrutura de habitação (ocupação, viabilização e fornecimento de serviços básicos, expansão), da gestão da segurança pública, educação e saúde como pastas interligadas. Enquanto isso na mídia, o aniversário de uma Potra na Bahia continua a ser matéria.

A imprensa de modo geral se confunde no âmbito emocional ao cobrir tragédias. Esquece que todo dia tem tragédia, pinça as cinematográficas e “cria” personagens em cima de vítimas. Constrói heróis e transformam telejornais ou jornais em versões noticiosas das mensagens fonadas melosas de datas comemorativas. Gasta-se tempo demais em repetir informações (imagem e texto). O efeito disso vai além das edições nas bancas, ou dos telejornais; a interferência da imprensa chega às livrarias, afeta escritores e autores de livros; as prateleiras são entupidas de títulos ruins com alta venda.

Tragédia não é só para os gregos, mas Reforma é coisa de brasileiro; acostumados a fazer puxadinhos e gambiarras, quando na verdade, na maioria das vezes, tudo deveria ser posto ao chão. Reforma agrária, política, ortográfica, da imprensa, da habitação, dos transportes, da saúde, das religiões e dos colhões. Todavia, a inviabilidade do recomeço aponta a reforma como o mais viável; trata-se da coleta seletiva do comportamento humano. Não resolve, pois não atua no consumo e no início da cadeia produtiva, mas ajuda uma vez que provoca reflexão e ação imediata. Como se reforma um olhar?

Moderado e nítido, seu olhar girassol encontra o chão;
no renovar de mais um ciclo, sementes.
Salve o Guardador de Rebanhos, que na beira da estrada
é o paradoxo de nossa falência

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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O gineceu e a desinformação do sustentável



No simples gesto de folhear a realidade percebemos que milhões ($) transitam diante e além de nossos olhos. Entre os interesses da massa e as necessidades e anseios individuais, os eletrocidadãos mobiles perambulam entre as novelas midiáticas da famigerada vida real.

A polêmica política de integração nacional familiar pernambucana de Bezerra; a proposta de aumento exorbitante (61%) dos salários dos vereadores de Belo Horizonte (MG); as desgraças do período pós-chuva a atingir 3 milhões de pessoas nos municípios mineiros e os 3 milhões atingidos pela seca no sul do país; o ENEM e os erros do sistema educacional (e o Prouni comemora que desde sua criação, em 2004, já concedeu quase um milhão de bolsas de estudos em cursos de graduação – e esse ano arrebentou em inscrições; mais de 1,2 milhão – Qualidade versus Acesso), tudo se renova do mesmo. Etanol, café e suco de laranja pelos ares.

A esperança está na sensação que alguns veículos conseguem provocar com suas matérias, ao apontar incoerências e soluções, e transmitir a ideia de que algo está sendo feito. Nem que esse algo seja apenas barulho.

Fato curioso não é a mídia estacionar as pautas nos trending topics, mas é a matéria da Folha de São Paulo Online no dia 12/1, em uma matéria sobre o MinistroBezerra, utilizar o jornal O Estado de São Paulo como fonte ao falar sobre os dados da ONG Contas Abertas. Costume cada vez mais presenta na mídia.

Mino Carta e Thomaz Souto Corrêa (na última edição da Revista Imprensa) declararam que a qualidade do jornalismo brasileiro tem caído continuamente.

A mídia impressa há tempos é usada como registro histórico de uma era. Uma versão equivocada, ou narrativa mal construída pode comprometer o registro e a interpretação das gerações futuras ao revisarem a história social. O que intriga atualmente, é que alguns veículos não consideram esse fato e tornam-se panfletos que sujam nossos dedos de tinta ou cansam nossos olhos à tela.

Um eficiente sistema de controle, a desinformação justifica dentre outras coisas a censura rebatizada de SOPA e PIPA, mesmo Obama alegando veto. Atualmente, conteúdo público e privado depende muito mais dos interesses do gestor ou autor, do que da natureza do produto. Quando têm o interesse de disseminar em massa algo novo, tratam como conteúdo público e gratuito; todavia, quando esse algo já está consolidado, querer ganhar dinheiro com o acesso, tornam o produto privado. O padrão de precificação de conteúdo do Itunes (pelo menos para música e apps) apresenta-se como alternativa, mas ainda muito ineficiente. A interação em web aponta a substituição do download pelo streaming.

A desinformação é uma arma estratégica. Ela enaltece e afunda partidos políticos, obras públicas, iniciativa privada, conceitos e ideologias; funda religiões, corrompe a relação do homem com Deus e contribui para o espetáculo da soberba e fúria contemporânea, onde a modernidade se faz arcaica e humanidade confunde-se com individualismo.

Cada vez mais distante do que deveria e precisaria se tornar, o homem se enobrece, alimentando-se de sonhos, silício, cidades e jardins resignados a vasos no quintal de concreto.

Se Almodóvar espirrasse:
Atrofiado, em estado vegetativo, o corpo social apaixonado olha nos olhos dela e clama por um fim. Linda, Ela sobe e coloca seu gineceu sobre a face dele, sufoca intensamente o corpo. Mas naquele orgástico fim, o engano: era apenas um novo começo.



"não vos canseis de fazer o bem."

2 Tessalonicenses 3:13

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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Antes ou depois das chuvas


O espectador é a ruína da plena beleza
ele rompe a espontaneidade
o suor da felicidade resvala por todo o ambiente
esta sua boca é uma ideia.

O teu gesto um poema.



O mundo não acabará em 2012, ele finda todo o dia e nem mais é preciso abrir as páginas dos jornais. Na incessante luta entre pautas leves e assuntos pesados na imprensa, abrir a janela e arriscar um olhar à paisagem tornou-se um desafio fascinante. Não, essa não é uma narrativa sobre a brilhante obra de Manchevski e as possibilidades de percepção criadas. Isso é outra coisa.

Com mérito, a cobertura intensa do período de chuvas exige dos jornalistas a costumeira inovação no olhar e precisão na construção das narrativas sempre diante de um tema cíclico. Todos os anos, além de apresentar a falha infraestrutura, as consequências evidentes da negligência e da água que desaba do céu, os veículos apontam soluções, distribuem versões e incentivam à solidariedade.

A Defesa Civil de Minas Gerais divulgou que 228 cidades no Estado foram afetadas pelas chuvas, atingindo mais de 3 milhões de pessoas, sendo 52.700 desalojadas e 4.000 desabrigadas. De acordo com o órgão, 166 municípios estão em estado de emergência em virtude das chuvas. A cobertura do Estado de Minas, O Tempo e Hoje em Dia tem procurado equilíbrio ao falar de recursos x estragos. Além de sinalizar o descaso governamental, os indícios de corrupção e a sucateada infraestrutura é preciso mostrar o compromisso de poucos, tanto nos governos, quanto na esfera popular.

Os jornais (mais os estaduais do que os regionais) dimensionaram até que bem os impactos na saúde (contaminação, doenças e mortes – o sistema está preparado?), alimentação (acesso e produção de alimentos, impactos no mercado do agronegócio), segurança e logística (quando e como retornar às residências), estradas (os buracos tapados com promessas) e etc. Dados do jornal Estado de Minas revelam que a União deixou de investir 58% dos recursos autorizados para obras de prevenção contra estragos provocados por enchentes. Em Minas Gerais, foram pagos apenas 47 do previsto.

Entretanto, falta ainda um questionamento sério a respeito do paradoxo entre planejamento e execução. Afora os blogs (que alastraram-se pelos sites dos veículos de imprensa como alternativa de posicionamento, narrativa e inquietação), é preciso estar presente nas matérias. Victor Hugo já disse uma vez que a imprensa “é o dedo indicador”, sinaliza, cutuca, gera movimento à cena. Parafraseando Balzac, assim como o homem sucumbe à mulher, a massa sucumbe à imprensa, mesmo ao ignorá-la. O modelo vigente de administração pública apresenta-se baseado em uma desarmônica dança entre interesse público, interesse da iniciativa privada e interesse particular.

Diante do imediatismo de se fechar o texto, maior deve ser a intensidade do olhar e incômodo do jornalista, pois ações efetivas para a melhoria da qualidade de vida, muitas vezes são consequência do ruído gerado por um texto. Reflexão e refração de Imagem (seja particular, pública ou organizacional) é o que determina as ações neste mundo que se acaba imerso no iminente recomeço.

O Haiti é aqui? As crises, atrocidades e conflitos estão globalizados; mas e as soluções?

"Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados." Millôr Fernandes

"O jornal é uma tenda na qual se vendem ao público as palavras da cor que se deseja." Honoré de Balzac


Artigo publicado também no Observatório da Imprensa
http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed677_antes_ou_depois_das_chuvas

www.passocomunicacao.blogspot.com



Sou a citação no meio da sua frase.
Sou o plágio no seu suor
a impossibilidade que esvai com seu cheiro
sou seus sentidos dominados por elas
a madrugada, a espera, a manhã