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terça-feira, 29 de dezembro de 2015

relance do espelho

Gerações se sobrepõem atrás de um perfil de satisfação e relacionamento eficaz entre poder e prazer. Aspectos seculares do ser humano repetem-se simulando evolução, confundindo pluralidade com vanguarda, travestindo o mesmo com nova roupagem e apresentando-o  como novo.

A sagacidade como busca dar conta de tudo (fluxo de informações e evoluções sociais e tecnológicas) fez com que a geração atual tropeçasse em situações simples, expondo assim sua fraqueza em lidar com a dor, frustração, e improvisação diante das adversidades. Por isso, resiliência se tornou ainda mais um diferencial na escala evolutiva da humanidade. De problemas domésticos, indisponibilidade de eletrônicos, até mesmo tarefas como cuidar da cria desde o nascimento tornaram-se entraves de uma geração de super-heróis e mulheres revolucionárias, de mercado. Falta equilíbrio, maturidade e menos preconceito. A desestabilização emocional dos homens (em eterna puberdade) e das mulheres (sem saber o que fazer ao sair da caverna) é tão evidente e patológica que tem sido tratada como algo comum na timeline da contemporaneidade.

Não sabem lidar com uma bomba de caixa d'água estragada, dias sem internet, momentos sem eletricidade, cuidar da roupa, da casa, da alimentação, cuidar de crianças, lidar com perfis profissionais divergentes,  administrar as finanças e a lista se expande a cada dia. A geração prefere delegar as atividades básicas operacionais e assim exercer seu poder de se entregar ao prazer de nada ter que fazer. Neste ínterim, escolhe a virtuose que lhe apraz, sem se preocupar com a "paisagem" mas apenas no seu momento de gozo nela. Entretanto, têm habilidade em terceirizar. Sabem pagar por serviços (inclusive de escolha) e produtos, para assim se preocuparem apenas com o foco de sua relação de interesse, poder e gozo.

O indivíduo precisa desaprender o que pensa ser e aprender a conviver em sociedade. Fala-se tanto em estabelecer limites, restringir acessos, bater ou não bater. Ninguém nos ensina a "ser social". (Não se trata de aprender a enquadrar uma selfie). O ser humano aprende a ser político na prática, absorvendo do meio a moral e determinando seus próprios valores. Com parâmetros intuitivos, ou referenciados via agenda setting, o indivíduo navega sem leme. As corporações e instituições professam conceitos emblemáticos (ética, compliance, segurança, qualidade de vida, responsabilidade social, sustentabilidade, investimento social privado, e etc.) que são os mesmos de outros tempos, mas agora com outra roupagem. A falta de atitude transformadora infelizmente também; alimentando assim a crítica, textos em perspectivas, as reflexões, bem como a demanda por mudanças. Neste cenário a resiliência brilha nos olhos de quem a tem.

Os produtos culturais encontrados transitam em reboots, remontagens, refilmagens e pouco de um olhar diferenciado que instiga o espectador, a plateia, a se re-ver como personagem com voz (nem que seja narrativa) e potencial de interferência na paisagem que por muito tempo apenas contempla, se torna (e se coloca como) vítima e algoz.

... publicado também em: http://obviousmag.org/rumos/2015/12/relance-do-espelho.html

sábado, 28 de novembro de 2015

Esse olhar


 

 

O rito da legitimidade das mensagens sofre pressão da diversidade dos meios e plataformas de comunicação. Os trâmites essenciais do processo de construção e disseminação de mensagens exigem agora não apenas habilidade para atuar em multimeios em tempo hábil (imediato), mas fundamentalmente em desacelerar um pouco a avalanche comunicacional e trabalhar a percepção sobre o que se quer dizer, a mensagem construída, as partes envolvidas, os repertórios destas partes (para tentar compreender a dinâmica de percepção), os desdobramentos de interpretação da mensagem e relacionamento com o processo de comunicação; tudo isso de forma perene e integrada à questão do tempo na contemporaneidade.

“A comunicação é a vítima desse progresso e é preciso desacelerar e realizar autorreflexão sobre ela”, com sabedoria se posiciona Dominique Wolton em entrevista à Comunicação Empresarial (Ed 95 - ABERJE 2015). Dentre os aspectos pertinentes a essa autorreflexão, na busca pela famigerada legitimidade, estão a linguagem, a percepção, o ritmo e os limites.

Após definir a mensagem e o público, é necessário refletir sobre a linguagem a ser estabelecida na narrativa, seu formato, plataforma e peculiaridades. Atentar ao ritmo de transmissão de mensagem e os limites de desdobramento (esses praticamente inexistentes). A partir disso, deve-se observar e até mesmo (resguardando a distância de observação do outro de Clifford Gertz) interagir com a percepção do outro para assim aperfeiçoar o processo de comunicação, redefinindo os ritmos da narrativa (incluindo a linguagem), limites de reverberação do conteúdo e a legitimidade de suas interpretações (atrelando vínculo com a fonte oficial do conteúdo).

O tempo inevitavelmente passa e isso não deve ser angustiante, mas argumento e espaço ideal para transformações e aperfeiçoamento, não em busca de perfeição, mas da perenidade do processo de comunicação, possibilitando inquietude, questionamento, diálogo, consenso e a liberdade de pensar e conviver. Neste sentido, o passar do tempo incita-nos a trabalhar esse olhar; esse olhar a realidade, olhar os sentimentos, espaços, pessoas e sentidos e assim narrar (em gestos e palavras) nossa experiência enquanto organismo vivo em interação social.

 


Esse seu olhar trincado, esse órgão fustigado pelo que pensa ser realidade. Suas palavras cheias de significados e escassas de sentidos tornam todo jardim um labirinto, onde os pés se ocupam com espinhos e a mente se liberta com os pássaros.







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terça-feira, 27 de outubro de 2015

espaços sentidos



A intensidade dos fluxos contemporâneos evoca reflexão. Metal, plástico, palavras e concreto armado sobre cabeças, sob pés. Recursos humanos e naturais na luta por um futuro aprazível. Cidades atrofiadas, campos mal utilizados. A sociedade tropeça em sua essência na busca por uma sustentável leveza de ser.

Pensar o querer geral e ser racional de Immanuel Kant e também perceber a relação dos seres com os espaços a partir do interesse e suas vertentes diversas. Os indivíduos com objetivos específicos, interesses pessoais se tornam seres sociais. Os seres sociais buscam estabelecer um ordenamento embasado no interesse coletivo. Todavia, o interesse coletivo é por muitas vezes uma roupagem aceitável do Interesse Dominante. Ou seja, um indivíduo articula seu interesse pessoal de forma a viabilizá-lo como o interesse de um ser social com potencial de se transformar em interesse coletivo. Por persuasão, submissão ou identificação para alcançar fins pessoais, outros seres sociais tornam-se adeptos do interesse proposto tornando-o Coletivo. Quando analisado em profundidade, este interesse nada mais é do que o interesse dominante não de um grupo, mas de um ser com poder articulador às vezes imperceptível em sua ação, mas evidente em suas consequências.

O significado de um espaço vai além de sua finalidade. O que um espaço representa para o grupo social e para um indivíduo diz menos sobre a estrutura e mais sobre quem com ele se relaciona. Inspiramos e expiramos sentimentos e sentidos, atribuindo significado às pessoas e espaços com os quais nos relacionamos com o passar do tempo. Neste sentido, quando passamos novamente por um local, é como se passássemos os olhos em um hipertexto construído essencialmente com partes de nós. Os links (de nossas experiências, mecânicas, orgânicas, superficiais ou não com aquele lugar) despertam novos olhares ou antigas sensações. Para isso, o tempo é quem determina o grau de envolvimento no momento da releitura dos espaços. Tempo de exposição, tempo de disponibilidade, tempo da lembrança e da memória. E a maneira como acessamos esses links interfere na dinâmica constituição do nosso caráter e na determinação das escolhas do presente.

A partir deste olhar, podemos conceber os espaços também como organismos vivos, erguidos e sustentados na multiplicidade de ser. A relação com ele vai além da simplicidade de definir se é público ou privado. Na dimensão de nosso relacionamento com ele, ora concebemos o espaço como privado (nossas percepções, sentidos, interesses e significados) e como público (finalidade operacional, interesse coletivo ou estrutural do local). Um local carrega em si apenas sua matéria estrutural ou também guarda os significados que os indivíduos a ele atribuem? Os significados estão em nós e são disseminados pela linguagem que utilizamos para representar os espaços? Refletir sobre esses aspectos pode contribuir para uma madura percepção dos indivíduos quanto à organização social, bem como a construção, uso e ocupação dos espaços. Trata-se de um vislumbre de um horizonte onde existam comportamentos além de La Belle Verte (filme de Coline Serreau - 1996). Talvez dessa forma, a famigerada sustentabilidade possa deixar de ser discurso e se consolidar como um retrato da vanguarda. Esta última materializada a partir de um novo olhar sobre organização espacial e suas possibilidades diante da demanda humana por subsistir e evoluir.

Publicado também na minha página em:
© obvious: http://obviousmag.org/rumos/2015/10/espacos-sentidos.html#ixzz3pn4Xey00

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segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Conflitos Corporativos



As estratégias e as diretrizes para identificar, conhecer e tratar os conflitos sociais que afetam o ambiente corporativo são várias, no entanto, enquanto empresas e instituições buscam por receitas para padronizar ações de tratativas (na maioria das vezes alicerçadas no viés jurídico), os conflitos passam constantemente por mutação não em sua essência, mas na forma de se hospedar e interferir no cotidiano.

Neste sentido, na busca por resguardar o patrimônio, não vale mais aquela máxima do "abafar o caso", extirpar com ações agressivas o assunto e sua reverberação na tentativa de silenciar e não tratar o conflito em suas causas.
A premissa básica para a gestão de conflitos é ter técnicas definidas para Identificar, lidar e minimizar a situação. Neste sentido, é fundamental considerar os aspectos de Intensidade / Características / Contexto; Metodologia, Mensuração e monitoramento (de aspectos e impactos).

É fundamental compreender o universo do conflito. Seguindo uma visão de paisagem, é necessário observar o todo e os detalhes, interrelacionando-os, compondo assim a paisagem. Dentre os aspectos relevantes estão:

- Identidade Cultural dos envolvidos

- Vocação Socioeconômica da região e dos envolvidos

- Perfil de financiamento das ações e grupos de conflito

- Interesse da iniciativa privada (geral e local)

- Interesse / tendência do Poder Público (Estado / Município)

- Perfil político da sociedade civil (comportamento)

- Demanda legítima da sociedade (quais são)

- Apetite a risco dos atores envolvidos no conflito (Ações Admitidas e Custo das ações)

Quando os conflitos entre comunidades e instituições estiverem amparados em uma demanda social legítima, as soluções efetivas deverão contemplar o envolvimento da Instituição com os problemas  estruturais da sociedade e para isso é fundamental estabelecer diretriz específica para o assunto.

No manejo do apetite a risco das instituições é necessário lucidez na execução dos planos de ação. Quando acontecer, a internalização de custos ambientais e sociais deve seguir um planejamento estratégico que não comprometa a rentabilidade do empreendimento, por mais que interfira no Plano de Negócios da instituição.

A diversidade cultural que compõe cada indivíduo é premissa para a oscilação entre harmonia e conflito em diversas esferas. Trata-se de uma dinâmica que começa em si (o indivíduo consigo) e expande à medida que ele se sociabiliza. Na interação entre sociedade civil organizada e iniciativa privada, a dinâmica (harmonia x conflito) é potencializada pelos interesses e necessidades de todos os envolvidos. Desta forma, mesmo que tenha impacto pontual, restrito e localizado, um conflito nunca deverá ser abordado de forma simplista. Mesmo que ele possa ser resolvido por ações simples, é necessário compreender e se integrar à complexidade que o envolve e os possíveis desdobramentos.
 
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terça-feira, 1 de setembro de 2015

pontuação;


Quanto mais meios, mais fins. Argumentos, desabafos e narrativas do porvir. Entre imagens que gritam e textos que silenciam: a vanguarda é o insistente "nunca será" que ecoa entre nós.

Assimilação é o diferencial de mercado. Todos produzem todos consomem. Quantos assimilam? Narrativas pulsam onde quer que o cidadão se volte. Sob este aspecto, tudo nos é novo e acessível, mas não necessariamente necessário. Ao se perder em acessar tudo quanto se pode, o cidadão fica na superfície de tudo, ao invés de mergulhar em algo que faça para ele alguma diferença, nem que seja nele mesmo.

O indivíduo que conseguir selecionar e organizar (cada um com seu senso e método)as narrativas que consome e produz, e posteriormente assimila o que é, a partir do que consome, interage e cria, então ocupará (às vezes sem perceber) um lugar especial na organização social, pois seu potencial de interferência no grupo social será mais apurado, uma etapa à frente do automatismo reinante.  Além disso, ele terá uma percepção mais intensa sobre suas experiências e sobre as perspectivas da vida.

A ruptura de tudo aquilo que se esconde corrói nossa alma de forma a contaminar a paisagem com nosso olhar. Isso é o que se propõe mas, inalterado, o ambiente é sutilmente acrescido de sentidos que passam desapercebido. Reféns; de nossos semelhantes, de nossas escolhas e pensamentos. Ninguém há de libertar ninguém. A hipocrisia impera até mesmo na face daqueles altruístas afogados em compaixão. Bandeiraram o Cristo ao invés de vivê-lo. Fazem com uma mão e divulgam com todo o corpo. Pintam arco-íris de ideologias, professam uma tradicional família e massacram valores básicos ao pé do ouvido.

Rompeu o solo a raiz que me sangra. As palavras saem nuas, sem sentido algum alfaiatado. Com suas formas espontâneas e inocentes, suas arestas e seu suor. Já não caibo mais nos clichês que tanto me alimentaram. Narrativas me encantam pela manhã e me conduzem para cama a noite. Quando a amargura entorpece ao coração, cabe à língua dar ou não vazão. E quando o refrigério vem, como um momento de gravidade, você hesita em sobrepor mãos; pois os lábios ressecam, tosse, a pupila dilata naquele quarto escuro; e a tela que brilha fustiga o tempo lá fora. A liberdade que expande e que nos aprisiona, tudo é tão simples e intenso.

Eu não voltei a escrever, pois não consigo respirar. Nunca parei de inspirar e pirar expiração enquanto não conseguem ler. Todos enxergam as frases, sem perceber o que o texto é. Gentileza é poesia, muito mais que verso. E a fé, a fortaleza que nos faz perceber o brilho e o sabor da vida que nos rodeia, que nos entrega e integra. Cansado, com uma paz que não cabe, com os dias que a guiar não veio. Ah, guiar não veio. Nunca virá.

A dimensão do não ser. Tudo está nas nuvens, a internet é o Big Brother (de Arthur Blair) e a grande biblioteca (o backup de nossa arrogância), mas quando chove não encontro mais a gota que eu evaporei. Doce tempo, amargas minhas lembranças de um futuro tão terno. Não há esboço para você e pra mim. Simples assim. Qual é o nosso traço? O que podemos assimilar?

O animal que sou nesse zoológico de trocadilhos. O termo que sou no texto que não escrevo. O tropeço e a pedra no clichê do poeta, no traço no muro, na rima no silêncio.

Tenho sede de paisagens. Tenho sede das suas paisagens, completou o menino que permanece calado.
E o quanto se assimila pode ser o que distancia a mensagem do meio; o significado do indivíduo.
A vírgula me para, o tempo me volta...

Veja também: http://obviousmag.org/rumos/

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

caminhar na névoa


No processo de criação de narrativas, precisamos ter cuidado para não nos perder entre a ânsia de repetir discursos implementando impressões pessoais e a necessidade de alcançar a vanguarda, cativar um público que o reconheça como narrador.

Histórias (inventadas ou não) estão postas no cotidiano. Entretanto, é preciso conhecer os aspectos que envolvem a narrativa; além do famigerado contexto, as características de cada indivíduo em ouvir, contar e registar histórias passam pelo prisma da percepção, compreensão e respeito.

Relacionamo-nos não com as pessoas (em si), mas com as representações que elas fazem de si e as representações que a sociedade reflete sobre elas (pessoas). Contudo, há um encantamento que proporciona intensidade à relação, gerando desdobramentos que vão além das representações; esvaem-se em outras narrativas.

Conviver com o humano; viver; é caminhar na névoa. Adoro caminhar na névoa. A distância impossibilita prever acontecimentos, apenas conseguimos vislumbrar nuances do porvir. Enquanto se adentra à névoa, naquele espaço perto de você ela quase que se desfaz ao te envolver. Você se torna névoa para os outros, você se torna  mais um no meio dela.

A multiplicidade tão temida pelos conservadores, e por quem tem dificuldade em lidar com o que é diferente (não necessariamente novo) é o diferencial para sobrevivência e sucesso de mercados, organizações e da sociedade. Conceber que o ambiente é multifacetado e composto pela diversidade é fundamental para construir narrativas acessíveis, transparentes e efetivas no objetivo da mensagem elaborada.

Neste sentido, caminhar na névoa é um necessário exercício constante, que perpassa o processo de autoconhecimento, percepção do outro, compreensão do ambiente e concepção de mensagens.


 

terça-feira, 7 de abril de 2015

Redes Orkutizadas - o Espelho de nossa vanguarda


Imagem: Ben Hopper


A contínua renovação das plataformas de comunicação não significa evolução humana e dos processos de produção de conteúdo, interpretação e desdobramentos possíveis.  A tão proclamada vanguarda sucumbe não ao ineditismo e novos padrões de percepção, mas à consolidação de paradigmas. Na verdade, submetidas ao tempo de uso, as plataformas refletem a estagnação dos usuários em expandir fronteiras do processo de comunicação. Reforçam aspectos sociais e funcionam como uma lente de aumento nas atitudes dos indivíduos.

Um automatismo é percebido no perfil de comportamento dos usuários. A manifestação pública é padronizada nas mídias sociais, independente se elas (mídias) são específicas para assuntos profissionais, pessoais, textos, fotos, e etc. O padrão de comportamento que tornou cansativo e obsoleto o Orkut, tem sido verificado não apenas no facebook, mas também no Linkedin e até mesmo no twitter e fóruns temáticos. A infantilização de postagens, a agressividade da linguagem de mensagens ideológicas, ou a avalanche de pílulas de auto-estima. Verifica-se mais um processo de busca por audiência do que por aprimorar relacionamentos via plataformas digitais.

O respeito é o mito na interação nas redes sociais digitais. A frequente imposição de versões dá o tom de um diálogo que mais parece um monólogo diante do abismo do que uma roda virtual de conversa. Este processo, tão repudiado pelos usuários, é o que os representa. Após orkutizarem o bate papo da praça, a interação no o ICQ, no MSN, no Face, a maioria segue com a massa para o próximo hospedeiro, tornando obsoleta a plataforma antiga. Neste ínterim, o Google Plus ainda é um território não contaminado pelo automatismo social, e, portanto, tem possibilitado mais leveza e fluência à interação com temas específicos; por enquanto.

Cada vez mais, acredito que a vanguarda do fazer comunicação está em revisitar os primórdios, resgatar a essência da comunicação no ato de conceber sentido, significado, mensagem e interação; ao invés de se entregar às possibilidades superficiais das novas tecnologias e novas redes. É preciso um mergulho profundo, potencializar as plataformas e possibilitar mais respiro do que sufoco ao ser humano, suas tradições, valores, ideologias e sonhos. Talvez esta seja a pauta em constante renovação, capaz de mudar o reflexo que temos apresentado.
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Avante
despertado o sentimento flui 
angustiado o tempo perde o compasso
o corpo se contorce
nus unimos

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terça-feira, 31 de março de 2015

todo?



Ambições sinceras mantêm o sangue circulando pelos sonhos. Durante a trajetória, toda relação acontece por interesse. Todo brilhantismo é pautado pelo plágio. Toda declaração de amor é substanciada pelo clichê, pela vontade de realizar e alcançar uma projeção. Todo conflito poderia ser evitado, mas o sangue e a dor sobrepõem a paz e calmaria. Toda palavra poderia ser contida. Mas o discurso de impacto e uma discussão silenciada com uma frase fatal alimenta o ego. 

Todo sofrimento é único e paradoxalmente o maior do mundo. Todo poema carrega algo que não está nos versos. Os dias possibilitam bem mais do que percebemos e menos do que esperamos. Todo umbigo é o centro do mundo; e o mundo deveria ser chamado de tempo. Textos carregados de mesmas palavras, porta-retratos recheados das mesmas histórias. 

Tão universalmente pessoais, as músicas são o refrigério de quem sente, a fuga de frases silenciosas; e o sentimento... Ah, é aquele filme instigante o qual não vimos o final, ou não lembramos.

...

Se todo ao meio sou
Sê tu o esquerdo à felicidade
Sua o que sentes sejas pleno
Se caco, inteiro ou sonho
Permita a si

Novas (?) Narrativas Jornalísticas


Ilustração: Ramon Bruin
Não sei se nova é a narrativa, a linguagem jornalística, o olhar, ou ainda assim o tempo. Antes o ideal era a câmera não tremer e as frases serem bem concatenadas. Agora tentam vender realidade viva. Algo que pulsa incontrolavelmente. Tanta espontaneidade que chega a parecer um espetáculo de dança contemporânea. O imprevisível é parte do enredo, está no script do espetáculo midiático.
A inquietação é premissa para a evolução. Nesse sentido, os programas de TV têm buscado inovar na maneira de narrar e de fidelizar o público. Seja por meio dos milhares de “cozinha com fulano” que tentam sofisticar, naturalizar, ou tornar rústico o ato de preparar alimentos e se relacionar com eles; ou nos programas de esporte que tentar levar adrenalina aos pilotos de tablets e controles remotos, lembrando até da metalinguagem de programas como A Liga e Profissão repórter. A linha entre o interessante, eficaz e o cansativo é tênue. É preciso destreza para caminhar sobre ela.
Dentre as várias tentativas, algumas são bem interessantes (mas não inovadoras). O Mundo segundo os Brasileiros, produção independente (produtora holandesa/argentina - Eyeworks) disponível em canal no Youtube e transmitido pela Rede Bandeirantes, há 5 temporadas (desde 2011) apresenta a narrativa pelo viés de quem vive o espaço e transmite a própria impressão a respeito do lugar, do tempo, da história, das referências.

Um texto praticamente documental estilo história oral, aquela conversa informal de quem quer contar suas experiências em um novo território. Trata-se se um formato sem protagonistas fixos; alterna-se os narradores, guiando com a câmera, nos contando histórias oficiais e impressões de estrangeiros andarilhos. Baseada no original argentino Clase turista: el mundo  según los argentinos, a série é dinâmica e perpassa desde os principais pontos turísticos a pontos pouco conhecidos do globo.
Cidades invisíveis erguem-se à medida que significados são repassados ao espectador. Forçando um pouco as vistas, dá para imaginar o Marco Polo contemporâneo revelando as nuances das cidades, ou o estrangeiro de Camus andando pelo mundo, contaminando-o e sendo contaminado por ele. E como brasileiro é um povo espalhado pelo planeta, matéria-prima não falta ao programa.
Iniciativas assim precisam se alastrar pela TV aberta, mas essencialmente necessitam estar alinhadas com o conteúdo multimídia, considerando o comportamento de consumo de informação e a disponibilidade dos meios; expandindo assim a acessibilidade ao conteúdo, novos campos para reflexão e seu desdobramento.

Publicado também no Observatório da Imprensa
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed844_novas_()_narrativas_jornalisticas

terça-feira, 17 de março de 2015

Disseminar e verificar





A verdade que nos aflige não cabe na narrativa de um fato. As minúcias de uma apuração, que podem determinar o rumo das interpretações subsequentes, não estão evidentes nas curtas linhas. Menos ainda nas fotos e respectivas legendas. Quando os textos trazem declarações de autoridades então, o pandemônio dos dados é assustador. Seja em cenários de crises ou durante eleições, as declarações das fontes oficiais nem sempre contribuem para o indivíduo estar informado, mas de modo recorrente atrofia a percepção pública com elementos confusos, interferindo na narrativa.

Iniciativas como a do da organização argentina "Chequeado" (Site que verifica a legitimidade dos discursos de autoridades), estabelecem-se como mais uma estratégica para não absorvermos "opiniões" traduzidas em informações pseudo-isentas. Em essência, o serviço prestado por eles é o modus operandi que todo leitor deveria ter (principalmente e não somente, durante eleições e posicionamentos oficiais): cruzar informações do discurso com matérias já divulgadas e com dados disponíveis nos canais de transparência. Cabe ao leitor, antes de confiar, buscar resquícios dos fatos e confrontar versões. Sempre. Embora seja um processo cansativo (considerando o ritmo de vida), é ainda o menos ineficiente.

Nesse percurso, o leitor perceberá como muitos conteúdos são replicados em diversos veículos de comunicação. A ocorrência é tanto fruto do compartilhamento (autorizado ou não) de conteúdo, quanto o resultado de uma assessoria de imprensa com interferência em massa. Sobre o compartilhamento de conteúdo, interessante o que aconteceu com jornais de seis países da Europa. Fizeram parceria para promover a troca de conteúdo e pesquisas em comum entre eles na denominada Aliança Europeia de Jornais Líderes (Leading European Newspaper Alliance). Acredito ser uma estratégia interessante para otimizar recursos (reduzir custos de produção), mas sua operacionalização não pode engessar a narrativa em apenas uma direção. Funcionaria no Brasil tanto com veículos pequenos quanto com os grandes? De forma quase que underground alguns repórteres compartilham pautas, ou premissas de pautas e fontes, em um processo mais de negociação de informações do que de enriquecimento de narrativa e redução de custo de produção.

No universo paralelo, o Governo Federal insiste e nos bastidores tenta afinar o argumento para estabelecer regras para o funcionamento da mídia; a famigerada regulamentação da imprensa. Antes de implantar uma ação de controle para promover a responsabilidade narrativa aos veículos e interferir no que ainda há de liberdade, é importante consolidar os dados emitidos em declarações oficiais e o objetivo específico das respectivas atitudes. Não apenas disseminar informações e controlar o processo de produção, mas essencialmente possibilitar rastreabilidade aos dados, para que qualquer um possa verificar a legitimidade da informação de discursos de fontes oficiais e a narrativa construída pela Imprensa.
e o que não cabe no fio do olhar
como te fazer sentir?
como saber o que você sente?


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terça-feira, 1 de abril de 2014

Dois pontos





A exclusão é premissa da organização das pessoas em sociedade. Aspectos como "fatores socioambientais", "comportamento por prazer" e "comportamento por sobrevivência" são estruturais. Quando um grupo se reúne e estabelece critérios de convivência, tem por objetivo excluir "algo" para assim garantir a permanência e manutenção dos valores dominantes dos proponentes da ordem social ou dos possuidores articulados dos recursos básicos que viabilizam a vida em sociedade.

Compreender este processo é perceber quão complexo é o sistema e quão sutis são as ações que podem causar mudanças. O estandarte da educação, saúde e segurança funciona como uma vitrine ambulante que resume as linhas de atuação. Embora seja secular o conhecimento, a exibição e o repasse deste estandarte por todos os segmentos sociais, as demandas estão petrificadas. Ações desconexas brilham como faíscas de possibilidades (ex: trabalhos como os da Associação do Semi-Árido, produtores de alimentos orgânicos, grupos culturais, câmaras mirins de vereadores, Jovens Inventores, etc), mas não penetram no cerne da organização social, menos ainda causam as mudanças esperadas. A evolução da consciência crítica existe, no entanto, o sistema de relevância dos meios de comunicação interfere incisivamente no índice de reconhecimento de um indivíduo ou causa.

A organização social não possui um cerne? As ações incipientes precisam de maturação para se embrenhar no consciente coletivo, consolidar um automatismo sustentável e se estabelecer como aspecto de "comportamento por prazer, ou comportamento por sobrevivência"?

O exercício contínuo das ações dos indivíduos estabelece as intocáveis tradições. A família poder ser analisada como uma célula social. Refletir sobre o processo de construção dos valores é fundamental para realizar qualquer reforma (política, social, religiosa, agrária, moral). Se pensar que a sociedade não é um bloco fechado, mas permeável, entendo-a como uma narrativa, restrinjo-a em um texto. Todavia, não há um cerne, uma palavra "pedra fundamental", um código fonte para mudar o todo por reação em cadeia. Acredito que neste contexto, o cerne está no canto de uma frase, especificamente nos dois pontos.


sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Pontuação

 

Quanto mais meios, mais fins. Argumentos, desabafos e narrativas do porvir. A vanguarda é o insistente "nunca será" que ecoa entre nós.

Assimilação é o diferencial de mercado. Todos produzem todos consomem. Quantos assimilam? Narrativas pulsam onde quer que o cidadão se volte. Eu não voltei a escrever, pois não consigo respirar. Nunca parei de inspirar e pirar expiração enquanto não conseguem ler. Todos enxergam as frases, sem perceber o que o texto é. Gentileza é poesia, muito mais que verso. E a fé, a fortaleza que nos faz perceber o brilho e o sabor da vida que nos rodeia, que nos entrega e integra. Cansado, com uma paz que não cabe, com os dias que a guiar não veio. Ah, guiar não veio. 

A ruptura de tudo aquilo que se esconde corrói nossa alma de forma a contaminar a paisagem com nosso olhar. Inalterado, o ambiente é sutilmente acrescido de sentidos que passam desapercebido. Reféns; de nossos semelhantes, de nossas escolhas e pensamentos. Ninguém há de libertar ninguém. A hipocrisia impera até mesmo na face daqueles altruístas afogados em compaixão. Bandeiraram o Cristo ao invés de vivê-lo. Fazem com uma mão e divulgam com todo o corpo. Rompeu o solo a raiz que me sangra. As palavras saem nuas, sem sentido algum alfaiatado. Com suas formas espontâneas e inocentes, suas arestas e seu suor. Já não caibo mais nos clichês que tanto me alimentaram. Narrativas me encantam pela manhã e me conduzem para cama a noite. Quando a amargura entorpece ao coração, cabe à língua dar ou não vazão. E quando o refrigério vem, como um momento de gravidade, você hesita em sobrepor mãos; pois os lábios ressecam, tosse, a pupila dilata naquele quarto escuro; e a tela que brilha fustiga o tempo lá fora. A liberdade que expande e que nos aprisiona, tudo é tão simples e intenso.

A dimensão do não ser. Tudo está nas nuvens, mas quando chove não encontro mais a gota que eu evaporei. Doce tempo, amarga minhas lembranças de um futuro tão terno. Não há esboço para você e pra mim. Simples assim. Qual é o nosso traço? O que podemos assimilar?

 O animal que sou nesse zoológico de trocadilhos. O termo que sou no texto que não escrevo. O tropeço e a pedra no clichê do poeta, no traço no muro, na rima no silêncio.

Tenho sede de paisagens. Tenho sede das suas paisagens, completou o menino que permanece calado.

E o quanto se assimila pode ser o que distancia a mensagem do meio; o significado do indivíduo.

A vírgula me para, o tempo me volta...

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