terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Rumor e prumos do olhar





Para o Jornalista, tudo o que é provável é verdade”, H. Balzac

Ninguém parece se ater às águas enquanto navega, por isso vêm a pique, pois no meio do caminho há sempre mais do que uma pedra. É fundamental que os narradores percebam de onde vem o barulho que determinam suas pautas. Na Bíblia, o efeito “solta Barrabás” mudou o rumo dos acontecimentos, atualmente, eventos Trending topics como o “Luiza Canadá” e “Grávida de Taubaté” mudaram a pauta da mídia nacional, as discussões sobre comunicação em massa e criaram um instantâneo clichê do humor.

Sofrimento e irreverência continuam como moedas sociais. Na mesa de discussão da agenda reflexiva, as memórias reais da sociedade são substituídas por ideologias de palavras e espasmos de uma puberdade tecnológica, onde a ponta dos dedos ordena ações às telas, mas as palavras à cabeça não provocam mudança nos comportamentos. Os veículos de comunicação ignoram o poder do buzz, mas são regidos por eles. Atualmente, o tosco telefone sem fio define o material reflexivo tanto do narrador quanto do espectador. A temporalidade do assunto e seu poder de assombramento, de retorno, são subestimados e substituídos pelo que está na moda. Quem define essa moda? Um grupo corporativo (como defende W. Bueno), as classes sociais, ou as gerações X, Y, Z?

Quando se diz que um escritor está na moda, sempre se quer dizer na prática que ele é admirado por pessoas com menos de trinta anos” Eric Arthur Blair.

Navio tomba no mar, prédios caem no Rio e Pinheiro já não simboliza natal, mas atrocidades de um governo reacionário e negligente, amparado por uma polícia cujo bom senso está na ponta dos dedos, comprimido entre gatilhos e cassetetes. A imprensa com canetas e eletrônicos mais uma vez registra o imediato mas não constrói a rede de interesse que cerca a permissividade dos governos, da estrutura de habitação (ocupação, viabilização e fornecimento de serviços básicos, expansão), da gestão da segurança pública, educação e saúde como pastas interligadas. Enquanto isso na mídia, o aniversário de uma Potra na Bahia continua a ser matéria.

A imprensa de modo geral se confunde no âmbito emocional ao cobrir tragédias. Esquece que todo dia tem tragédia, pinça as cinematográficas e “cria” personagens em cima de vítimas. Constrói heróis e transformam telejornais ou jornais em versões noticiosas das mensagens fonadas melosas de datas comemorativas. Gasta-se tempo demais em repetir informações (imagem e texto). O efeito disso vai além das edições nas bancas, ou dos telejornais; a interferência da imprensa chega às livrarias, afeta escritores e autores de livros; as prateleiras são entupidas de títulos ruins com alta venda.

Tragédia não é só para os gregos, mas Reforma é coisa de brasileiro; acostumados a fazer puxadinhos e gambiarras, quando na verdade, na maioria das vezes, tudo deveria ser posto ao chão. Reforma agrária, política, ortográfica, da imprensa, da habitação, dos transportes, da saúde, das religiões e dos colhões. Todavia, a inviabilidade do recomeço aponta a reforma como o mais viável; trata-se da coleta seletiva do comportamento humano. Não resolve, pois não atua no consumo e no início da cadeia produtiva, mas ajuda uma vez que provoca reflexão e ação imediata. Como se reforma um olhar?

Moderado e nítido, seu olhar girassol encontra o chão;
no renovar de mais um ciclo, sementes.
Salve o Guardador de Rebanhos, que na beira da estrada
é o paradoxo de nossa falência

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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O gineceu e a desinformação do sustentável



No simples gesto de folhear a realidade percebemos que milhões ($) transitam diante e além de nossos olhos. Entre os interesses da massa e as necessidades e anseios individuais, os eletrocidadãos mobiles perambulam entre as novelas midiáticas da famigerada vida real.

A polêmica política de integração nacional familiar pernambucana de Bezerra; a proposta de aumento exorbitante (61%) dos salários dos vereadores de Belo Horizonte (MG); as desgraças do período pós-chuva a atingir 3 milhões de pessoas nos municípios mineiros e os 3 milhões atingidos pela seca no sul do país; o ENEM e os erros do sistema educacional (e o Prouni comemora que desde sua criação, em 2004, já concedeu quase um milhão de bolsas de estudos em cursos de graduação – e esse ano arrebentou em inscrições; mais de 1,2 milhão – Qualidade versus Acesso), tudo se renova do mesmo. Etanol, café e suco de laranja pelos ares.

A esperança está na sensação que alguns veículos conseguem provocar com suas matérias, ao apontar incoerências e soluções, e transmitir a ideia de que algo está sendo feito. Nem que esse algo seja apenas barulho.

Fato curioso não é a mídia estacionar as pautas nos trending topics, mas é a matéria da Folha de São Paulo Online no dia 12/1, em uma matéria sobre o MinistroBezerra, utilizar o jornal O Estado de São Paulo como fonte ao falar sobre os dados da ONG Contas Abertas. Costume cada vez mais presenta na mídia.

Mino Carta e Thomaz Souto Corrêa (na última edição da Revista Imprensa) declararam que a qualidade do jornalismo brasileiro tem caído continuamente.

A mídia impressa há tempos é usada como registro histórico de uma era. Uma versão equivocada, ou narrativa mal construída pode comprometer o registro e a interpretação das gerações futuras ao revisarem a história social. O que intriga atualmente, é que alguns veículos não consideram esse fato e tornam-se panfletos que sujam nossos dedos de tinta ou cansam nossos olhos à tela.

Um eficiente sistema de controle, a desinformação justifica dentre outras coisas a censura rebatizada de SOPA e PIPA, mesmo Obama alegando veto. Atualmente, conteúdo público e privado depende muito mais dos interesses do gestor ou autor, do que da natureza do produto. Quando têm o interesse de disseminar em massa algo novo, tratam como conteúdo público e gratuito; todavia, quando esse algo já está consolidado, querer ganhar dinheiro com o acesso, tornam o produto privado. O padrão de precificação de conteúdo do Itunes (pelo menos para música e apps) apresenta-se como alternativa, mas ainda muito ineficiente. A interação em web aponta a substituição do download pelo streaming.

A desinformação é uma arma estratégica. Ela enaltece e afunda partidos políticos, obras públicas, iniciativa privada, conceitos e ideologias; funda religiões, corrompe a relação do homem com Deus e contribui para o espetáculo da soberba e fúria contemporânea, onde a modernidade se faz arcaica e humanidade confunde-se com individualismo.

Cada vez mais distante do que deveria e precisaria se tornar, o homem se enobrece, alimentando-se de sonhos, silício, cidades e jardins resignados a vasos no quintal de concreto.

Se Almodóvar espirrasse:
Atrofiado, em estado vegetativo, o corpo social apaixonado olha nos olhos dela e clama por um fim. Linda, Ela sobe e coloca seu gineceu sobre a face dele, sufoca intensamente o corpo. Mas naquele orgástico fim, o engano: era apenas um novo começo.



"não vos canseis de fazer o bem."

2 Tessalonicenses 3:13

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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

bulas e fórmulas





O sentimento e o raciocínio que o homem tem em relação aos outros e aos sistema deste mundo é o mesmo que utiliza para se relacionar com Deus, ou com o que concebe ser Deus. Sempre na política do merecimento e recompensa. Com o foco na restituição ou no reconhecimento e não em ser relacionar com Deus, mas no que Ele pode oferecer. O desejo vão do homem e sua vaidade extrapolam a vida social, a postura religiosa e o que o homem fala a respeito dos sentimentos. 


Existem fórmulas postas na sociedade, cadenciadas entre os perfis de comportamento. O indivíduo absorve algumas e quebra outras; fato catalisador de novas fórmulas. Curioso é a incoerência entre as fórmulas, quem as cria e para quê. A famigerada tentativa de controlar e julgar, inevitavelmente revela o processo dos indivíduos em determinar fórmulas para os outros. A matriz do pensamento do indivíduo estrutura rotinas de racionalidade e utopia cada vez mais humanas, e com certa possibilidade de controle.


La piel en que habito. O Desejo como estopim da desgraça. A sanidade posta à prova pela sucessão de fatos. A razão pode ser alterada por quem detiver a oportunidade e o controle. Junto à pele, o bisturi arranca a segurança, a identidade. Com a ferida, sangra para dentro do corpo amargura e a dor. Tal combinação aflorada revela a força da destruição, mas a pele já é outra. Na mesma pessoa, as mesmas lembranças, mas com a sucessão de fatos e experiências, uma nova identidade.


Alguns finais felizes não exalam felicidade. O paradoxo se sustenta no sabor de um chocolate amargo.


rascunho:
La peil en que habito
Complexo e reverberante
Vicente ansiava fuga e coisas novas (Durkein). Atencioso, a vestiu. Inocente fugiu.
Vera perdeu a identidade e a teve transformada física e psiquicamente
Estava pronta a ser o que os outros desejassem que fosse, desde que isso diminuísse a dor.
Roberto - A loucura e a mágoa estabeleceram sua sanidade
A Mãe tinha "a desgraça em suas entranhas". 

A morte foi a saída e libertação que todos buscavam. 
E finalmente Vicente se tornou apto à Cristina


Zeca x Roberto - o erro bíblico (Abraão Sarah e Agar)
O Erro Humano (com vassalo e com patrão)
Foram pólvora

A inconsequência de Gal, da traição ao suicídio foi o estopim para a insanidade de Roberto; o trauma de Norma, a transformação de Vicente e a morte.

"eras minha melhor metáfora
O clichê a contrariar as leis da física.
A curva da cintura dobra sobre mim"


Quais as fronteiras do teu olhar? 
Até onde agridem as ondas de tua voz; até quando reverberam tuas palavras e sufocam-me as interrogações que impulsionam meu pensamento?



gira meu sol


sábado, 21 de janeiro de 2012

crack sem chuteira





A mídia reluz o dentuço rubro-negro, de salário atrasado, a receber homenagens de Evo Morales (que estatizou duas refinarias da Petrobras há alguns anos) e suas aventuras. Fala das peripécias do crack do topete, dos punhos famosos do coliseu moderno (UFC) e de modo quase institucional cobre um outro crack, que tem modificado cada vez mais o retrato da sociedade.

As crianças sonham em ir para Disneylândia, mas após a puberdade fundam Cracolândias, a nova franquia globalizada. Além da cobertura sobre o que é feito em São Paulo, é importante considerar o rastro da desgraça por todo o país.

Na Bahia é lançado plano de reinserção social dos dependentes, no Nordeste, segundo levantamento do jornal Diário do Nordeste, o crack é a droga mais comum entre jovens e adolescentes. Minas Gerais demora a adotar o Plano Nacional contra o crack. Programa lançado há mais de um mês disponibiliza R$ 4 bi para os Estados. O jornal O Tempo, no final da última semana (20/1) apresentou a versão oficial do Governo mineiro que prefere focar no momento nas ações estaduais de combate a essa droga que destrói famílias e transforma a paisagem urbana. As soluções estão baseadas no tratamento do assunto como caso de saúde e segurança pública.

No interior do estado, jornais produzem matérias que abordam as implicações sociais e particulares do uso e comercialização da droga; mas esse tipo de cobertura é raro. Geralmente, a imprensa pesa as abordagens sobre a demonização das iniciativas públicas, deficiente gestão ou manifestações de tinta, churrascos e interrupção de trânsito pela liberação de drogas ou legalização dos pontos de uso. Isso até tombar um na esquina. Quando o repórter é fonte ou, na pior das hipóteses, a pauta.

Faltam coberturas que aprofundem mais toda a rede social problemática que tem a violência e a degradação do homem como consequências de hábitos legalizados. O que me faz lembar os comentários de Jabor em 2002 sobre o antigo episódio do ônibus 174 (São nossos filhos com o demônio, nossos dejetos que criamos...)

Em suma, prostituímos a moral por momentos de gozo. Circulamos por aí com nossos desejos e ilusões. Estabelecemos um processo de esclerose moral onde são gerados resíduos sociais que pontuam esquinas, páginas de jornais e não mais cabem nas superlotadas cadeias ou instituições de recuperação. Efetividade é a recorrente utopia e filantropia o ópio que nos faz dormir a noite e fechar os olhos ao passar pelas calçados de entulhos humanos.

Me lembro que maior é Deus, pequeno sou eu, e das palavras de Leminski porque não consigo fazer melhor:

Ontens e hojes, amores e ódio,
adianta consultar o relógio?
Nada poderia ter sido feito,
a não ser o tempo em que foi lógico.
Ninguém nunca chegou atrasado.
Bençãos e desgraças
vem sempre no horário.
Tudo o mais é plágio.
Acaso é este encontro
entre tempo e espaço
mais do que um sonho que eu conto
ou mais um poema que faço?”



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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Antes ou depois das chuvas


O espectador é a ruína da plena beleza
ele rompe a espontaneidade
o suor da felicidade resvala por todo o ambiente
esta sua boca é uma ideia.

O teu gesto um poema.



O mundo não acabará em 2012, ele finda todo o dia e nem mais é preciso abrir as páginas dos jornais. Na incessante luta entre pautas leves e assuntos pesados na imprensa, abrir a janela e arriscar um olhar à paisagem tornou-se um desafio fascinante. Não, essa não é uma narrativa sobre a brilhante obra de Manchevski e as possibilidades de percepção criadas. Isso é outra coisa.

Com mérito, a cobertura intensa do período de chuvas exige dos jornalistas a costumeira inovação no olhar e precisão na construção das narrativas sempre diante de um tema cíclico. Todos os anos, além de apresentar a falha infraestrutura, as consequências evidentes da negligência e da água que desaba do céu, os veículos apontam soluções, distribuem versões e incentivam à solidariedade.

A Defesa Civil de Minas Gerais divulgou que 228 cidades no Estado foram afetadas pelas chuvas, atingindo mais de 3 milhões de pessoas, sendo 52.700 desalojadas e 4.000 desabrigadas. De acordo com o órgão, 166 municípios estão em estado de emergência em virtude das chuvas. A cobertura do Estado de Minas, O Tempo e Hoje em Dia tem procurado equilíbrio ao falar de recursos x estragos. Além de sinalizar o descaso governamental, os indícios de corrupção e a sucateada infraestrutura é preciso mostrar o compromisso de poucos, tanto nos governos, quanto na esfera popular.

Os jornais (mais os estaduais do que os regionais) dimensionaram até que bem os impactos na saúde (contaminação, doenças e mortes – o sistema está preparado?), alimentação (acesso e produção de alimentos, impactos no mercado do agronegócio), segurança e logística (quando e como retornar às residências), estradas (os buracos tapados com promessas) e etc. Dados do jornal Estado de Minas revelam que a União deixou de investir 58% dos recursos autorizados para obras de prevenção contra estragos provocados por enchentes. Em Minas Gerais, foram pagos apenas 47 do previsto.

Entretanto, falta ainda um questionamento sério a respeito do paradoxo entre planejamento e execução. Afora os blogs (que alastraram-se pelos sites dos veículos de imprensa como alternativa de posicionamento, narrativa e inquietação), é preciso estar presente nas matérias. Victor Hugo já disse uma vez que a imprensa “é o dedo indicador”, sinaliza, cutuca, gera movimento à cena. Parafraseando Balzac, assim como o homem sucumbe à mulher, a massa sucumbe à imprensa, mesmo ao ignorá-la. O modelo vigente de administração pública apresenta-se baseado em uma desarmônica dança entre interesse público, interesse da iniciativa privada e interesse particular.

Diante do imediatismo de se fechar o texto, maior deve ser a intensidade do olhar e incômodo do jornalista, pois ações efetivas para a melhoria da qualidade de vida, muitas vezes são consequência do ruído gerado por um texto. Reflexão e refração de Imagem (seja particular, pública ou organizacional) é o que determina as ações neste mundo que se acaba imerso no iminente recomeço.

O Haiti é aqui? As crises, atrocidades e conflitos estão globalizados; mas e as soluções?

"Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados." Millôr Fernandes

"O jornal é uma tenda na qual se vendem ao público as palavras da cor que se deseja." Honoré de Balzac


Artigo publicado também no Observatório da Imprensa
http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed677_antes_ou_depois_das_chuvas

www.passocomunicacao.blogspot.com



Sou a citação no meio da sua frase.
Sou o plágio no seu suor
a impossibilidade que esvai com seu cheiro
sou seus sentidos dominados por elas
a madrugada, a espera, a manhã


quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

hiato



e você, pisava nos astros deformada;
perdida na certeza de suas interpretações;
parafraseava o vento
e tinha um cisco no olho
chamado realidade

[volto logo]
A industrialização do espírito humano, sua transformação em produto de prateleira (como diagnosticou Theodor Adorno sobre a sociedade capitalista), tem uma pausa quando as catástrofes levam municípios a decretarem emergência, o crack deixa de ser o bom jogador para ser a substância que destrói famílias e aumenta o índice de moradores de rua e as dificuldades já não mais podem ser jogadas debaixo do tapete, atrás de um filme, jogo ou programa de televisão. Neste momento, a imprensa mostra o despreparo em cobrir de forma específica e também abrangente determinados temas, espelhando assim a recorrente falta de infraestrutura do sistema público independentemente da ideologia vigente.
A exceção está em alguns veículos que, com habilidade, lidam com o espaço disponível nas páginas, os ruídos ideológicos da empresa, o potencial dos profissionais (imagem e texto) e as pautas de interesse público – o que deve estar no jornal porque as pessoas precisam ler o que elas querem ler. O jornalismo precisa formar, informar e dialogar com o público. O antigo conceito a respeito do reconhecimento e construção de identidade pela interação é fato que se renova. A era atual torna ainda mais evidente isso, com um novo indivíduo que consome e ajuda a construir as edições. Muitos são semelhantes a uma criança em carro desgovernado (possuem o olhar, têm ferramentas para registro audiovisual, produção de textos e disseminação de conteúdo; tudo na palma da mão, mas não possuem a técnica ou o bom senso e controle sobre o olhar e construir narrativas).
Mensagens criativas e imagens eficazes
O jornalismo econômico, público, literário ou científico acima de tudo deve manter-se jornalismo. As edições da madrugada, manhã, tarde e noite devem despertar e manter o interesse da massa e do indivíduo a respeito de assuntos básicos à manutenção da vida social e sua melhoria. Um problema está na superficialidade das matérias regionais e a generalização fria das matérias de agências de notícias. Entretanto, as páginas recebem inacessíveis F5 e as bancas estão ainda pelas esquinas. Há procura.
Dados divulgados pelo Instituto Verificador de Circulação (IVC) mostram a relevância não apenas dos veículos do eixo São Paulo-Rio de Janeiro como fonte de informações na web, mas também os estaduais da Bahia, Pernambuco e Minas Gerais, dentre outros. Embora seja importante lembrar que as pesquisas do IVC analisam apenas os veículos filiados a ele.
A tiragem é importante, mas sem uma estratégia de distribuição torna-se uma pilha de antiguidades. Além de considerar a possibilidade do conteúdo em tablets e telefones e os antigos net e notebooks, é preciso se ater à qualidade do produto e seu alinhamento com a rentabilidade do veículo. “A gente não quer só notícia, a gente quer comida...”
A estratégia de regionalização antiga, com sucursais por todo o lado, hoje encontra colapsos em termos de custos. Em Minas Gerais, o Hoje em Dia, após várias modificações em sua estrutura, reduziu o número de colunistas regionais e também as sucursais. O Tempo, com boa tratativa de temas, versatilidade em alguns assuntos e interiorização de pautas, alinhada à distribuição, tem conseguido falar do estado e para o estado de um modo sóbrio. O Estado de Minas e sua grande estrutura, revela sua sobriedade em inovar, em títulos, matérias e na diagramação. Seja na edição de homenagem a Chico Buarque (primorosa, em novembro de 2011) ou nas recentes edições de cobertura das consequências das chuvas. Mensagens criativas, diretas e reflexivas, acompanhadas de imagens eficazes.
Distanciamento e envolvimento
Não precisa ser Tom Wolfe para fazer diferente, nem Van Dik para compreender como o ouvinte interpreta as narrativas; basta não fazer jornalismo superficial. O estranhamento para olhar e narrar o fato contempla distanciamento e envolvimento. O equilíbrio entremeio esse paradoxo resulta no texto que, após descartado, nem peixe embrulha mais.
“Toda fonte é uma moça bonita que foi amada por um deus, que disse não a um rio, que fugiu de um sátiro, nada é real, nada é apenas isso, tudo é transformação, todo traçado de constelação é o pedaço de um esboço de um drama terrestre, tudo vibra de tanto significar. [...] Fatos não se explicam com fatos, fatos se explicam com fábulas” (Paulo Leminski)

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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Senso nonsense



Existe manual para o bom senso? As atividades diárias de qualquer profissional exige muitas vezes não somente o cumprimento dos procedimentos, mas fundamentalmente o bom senso para decidir sobre ações específicas. No jornalismo também; e essencialmente na rotina da imprensa. No momento de dar peso às pautas o que merece destaque? A privataria, o tiro na mão, a chuva e o estado de emergência, o aumento de impostos, os gastos desnecessários do executivo, legislativo e judiciário federal, presidentes e o câncer, a oscilação das passagens aéreas e rodoviárias, os terminais lotados, a lastimável saúde pública, o senador que toma posse e o filho que faz caretas? Fato é que muitas vezes os milhares de veículos de comunicação ignoram algumas pautas em potencial, que exigem do repórter apurado faro e habilidade de lidar com o tempo e as palavras.

"Night again meu bem", canta o boêmio. As prensas cumprem seu destino madrugada a dentro, mas do quê mancham o papel não mais branco? O cursor nas telas apontam para quais narrativas? Não falarei da música de natal na voz de Simone mas, então é clichê, e o que farão os jornais? Pautas de retrospectiva, farofa, fogos, estrada e arroz, assuntos para se esquecer e aquecer até o carnaval. Reclamamos, mas os assuntos das rodas de conversa (corporativas, familiares ou de bares) são também cíclicas.

Para definir que notícia estará em sua timeline ou nas bancas, é preciso além de conhecer a narrativa já iniciada, os temas em continuidade; analisar os fatos cotidianos e avaliar o peso de cada um e sua relevância para ganhar mídia, e não a sua relevância como fato isolado.

Sempre carregado, o estilingue das redes sociais digitais (RSD) se posiciona como um personagem estratégico no fazer jornalismo. Em pouco tempo de existência em massa, as RSD já determinam forma e conteúdo de planos de comunicação de empresas e direcionam a produção de textos nas redações. Sempre uma palavra à boca ou à ponta dos dedos. As fontes falam alto e ao mesmo tempo. É preciso peneirar as palavras para obter informações de qualidade e assim construir um texto que ao ser lido contribua para a evolução humana (reflexão, mudança de postura, decisões embasadas, ou entretenimento).

Engajamento ou Purpurina? Essa não deve ser a questão.

Não apenas as empresas e respectivas áreas de comunicação, mas também as redações compreenderam que não é possível apenas informar. Os veículos, assim como as pessoas, precisam se relacionar com o público, comunicar, envolver o leitor no processo de construção da mensagem extrapolando as aspas. Não se trata da institucionalização do caos, do registro bruto dos diálogos ou da espetacularização das narrativas.

Na caminhada para construir pautas gerais e específicas é preciso ir além da ingenuidade, do territorialismo e dos interesses comerciais. A nação não está resignada ao sudeste; as pautas não estão na ponte aérea, mas nos 5.556 municípios distribuídos por um território de 8.502.728,269 km². Todavia, é notório que a segunda região em número de cidades concentra o bolinho do barulho. Os donos da bola estão onde há o aglomerado do acesso e fluxo comercial. A despolarização das pautas (e sua verdadeira globalização) depende também do poder do narrador em interligá-las com os pólos referenciais do país e demais regiões, caracterizando o famigerado interesse (utilidade) público.

O índice de leitura no país se arrasta, mas aumentou nos últimos dez anos. Ler mais não é ler melhor, mas é ler. Há quem diga que o twitter nas bancas é representado pelos impressos de 25 centavos. Sangue, Sexo, Suor = Desejo. Após compreender o sistema de consumo de informação, e o novo padrão de relacionamento das pessoas com as mídias, é imprescindível que os jornalistas exercitem o olhar diferenciado sobre os fatos em equilíbrio com o tempo disponível para publicarem os textos. Arnaldo Antunes certa vez tentou representar essa angústia (mensagem X tempo) no poema Agora (já passou).

Após definidas as pautas, como fazer? O cenário encontrado é de redações esvaziadas, jornalistas sobrecarregados, muitas vezes sem infraestrutura, e profissionais rasos lançados pelas universidades no mercado de trabalho. Entretanto, além da imprensa especializada, pode-se encontrar em veículos nacionais, estaduais e regionais bons exemplos de pautas sóbrias e textos bem construídos, cabe ao leitor não parar no primeiro piscar dos olhos e mergulhar com bom senso nas narrativas expostas à exaustão. Existe pesquisa afora o google.

Publicado também no Observatório da Imprensahttp://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed675_senso_nonsense






Essa sua mania de refletir o luar nos olhos,
apreender no sorriso o sol
e na distância a esperança...
Esses seus pensamentos a silenciarem minhas palavras
e me fazerem nu
 em uma gota de lágrima.
Ah felicidade
Agora
passo
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domingo, 25 de dezembro de 2011

Pé com pé



Sapatos de solas preservadas. O que fizeram das praças? O que você faz na esquina? Você tinha de ir à banca para se informar. Precisava cruzar a praça, ver rostos, tocar ombros, se envolver com cheiros. Necessitava algum dinheiro, tempo e vivência. Você era um ser social antes de se tornar digital, lacrado em sua solidão velada em um sorriso de foto de perfil em rede social digital.

Além de reconhecer o novo padrão de consumo e diálogo estabelecido pelas mídias digitais, é interessante pensar em como as pautas são construídas para se comunicar com esse novo sujeito que se configurou. Entre o faro dos repórteres, a agenda espontânea, ou fixa (política - dinheiro, saúde, infraestrutura, polícia e cultura) e a indução dos mantenedores dos veículos (com informações ou financiamento). Como anda a dança (ou jogo de cartas) entre as redações e assessorias? Esses jornalistas se comportam como agentes de uma guerra fria, soldados no paraíso do petróleo ou como construtores de um diálogo que beneficie a manutenção das relações humanas?

Para recuperar o fôlego e não se limitar a uma resposta de palavras bem construídas que revela uma cobra comendo o próprio rabo, é preciso caminhar, perceber e ler o que há ao redor. Afora as vivências e as mentes que borbulham, é proveitoso ler publicações segmentadas (Revista Negócios da Comunicação, Comunicação Empresarial, Meio e Mensagem, Imprensa, Você RH e Valor Setorial), ouvir podcasts e reler alguns blogs, sendo que é recorrente a pergunta: Qual o segredo da excelência? Tempo X Eficiência.

Existem muitas assessorias mecânicas e rasas, com sistemas de posicionamento e mensuração superestimados e precários em efetividade. O conhecimento, a informação a repeito das boas (adequadas) práticas são vastos e expostos; falta aplicá-los. Os conceitos estão à exaustão diante dos olhos, entretanto a Novilíngua não é a solução. As assessorias precisam conhecer os veículos de comunicação e também a cultura das empresas (clientes). A massiva terceirização das assessorias de imprensa tem resultado em um cenário de desencontros e preguiça. Muitos assessores desconhecem a cultura dos clientes, os objetivos e necessidades. A situação clama por mudança no perfil profissional.

Afora o desequilíbrio do cálculo [Natalidade / Mortalidade / Capacitação] de homens e mulheres, percebe-se que elas estão cada vez mais em cargos de destaque e liderança, inclusive na Comunicação Corporativa. Há quem diga que é a soma entre: Sensibilidade, sabedoria, ousadia e força, responsabilidade e habilidade em gerir processos alinhados ao mercado.

Fato é que o mercado está aquecido, informa a Associação Brasileira de Agências de Comunicação (ABRACOM). Esse paradoxo chamado mercado está em busca de profissionais qualificados e não apenas detentores de nomenclaturas. Para funcionar, além de agilidade, a assessoria terceirizada precisa ter profundidade. É fundamental compreender e mimetizar a cultura da empresa (cliente).

A aproximação das empresas com o público (interno e externo) deve transpor a estética das peças de campanhas de comunicação, mensagens publicitárias e brindes corporativos. É preciso diálogo. Uma das formas de falar é por meio da imprensa. Entre o ruído e a versão oficial se esconde a verdade, que pelo diálogo pode ser revelada. O diálogo começa com a definição da pauta, apuração, reflexão, produção do texto e então continua com o leitor. Transparência (dos objetivos, das ações e da mensagem).

Eventos como as COP, as Copas, o Rio +20 e outros, reforçam a necessidade de boas pautas para não transformar os temas em entulho de enxurrada. As assessorias têm de ser ágeis e criativas para proporem pautas de interesse público e que de certa forma possibilitem o posicionamento do cliente. Mais do que divulgar uma marca, os setores precisam colocar em pauta abrangente algumas discussões que até o momento estão restritas a mesas de almoço e cafés corporativos. Neste processo, o papel das novas mídias é essencial para despolarizar debates e ampliá-los.

Em tempo, as associações representativas (e também as agências de comunicação) devem compreender o setor que defendem e a utilidade pública das informações e produtos das empresas associadas. Construir uma central de informações simples (e não simplórias), completas e uma dinâmica de acesso seguro a fontes, sem desrespeitar ou ser refém dos prazos das redações.

Em miúdos, ressoa uma canção infantil e uma canção folclórica: o diálogo deve acontecer pé com pé, pé ante pé. Com proximidade, ritmo e cautela.

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sou o suor que sai dos seus poros
seu dorso dobrado ao luar
suas palavras perdidas no sussurro
a memória apagada,
o redesenhado futuro ocultado na luz;
a esperança não manca,
caminha com o tempo


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Saiu também no Observatório da Imprensa
http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed674_pe_com_pe

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

La Traviata Corporativa






Em descomunal jogo de interesses, a dança entre o que se fala e o que se faz lacra as esperanças de Violetta "Duplessis" (o povo) em um peito social tuberculoso; e o arrependimento não altera o presente, nem o passado.

Afora o fim anunciado, as relações de trabalho clamam por inovações que de maneira responsável estabilizem os parâmetros de satisfação e desenvolvimento. Ante os abalos do mercado, é evidente a necessidade de mudança. O modelo de gestão de pessoas deve estar fundamentado em diálogo transparente, remuneração adequada, ambiente de trabalho agradável (infraestrutura e relacionamento), capacitação (e atualização), inovação e resultados. Praticar o que se diz em discurso é a única solução; transformar as palavras das mensagens corporativas em ações efetivas para proporcionar viabilidade econômica ao empreendimento aliada à satisfação dos empregados.

Reconhecimento: o que todos buscam desde a saída do ventre. Desde a primeira olhada no espelho, ou nos olhos de outro (primeira infância). Poucos consideram que para reconhecer algo, é preciso visualizar seus limites, para então compreender seu sistema, sua dinâmica de ação e não seu repertório, ou sua essência. Todos buscam completar-se (a satisfação). O egoísmo fale empresas, relacionamentos e narrativas; deturpa a fé. A humildade é a força dos sábios. O desejo por reconhecimento cria novas tecnologias, seduz, escreve no presente a história do futuro. 

Desta feita, o sonho surge como um produto de convencimento, não apenas no ambiente de trabalho, mas fundamentalmente no campo pessoal. Na vida corporativa, o gestor que souber conhecer e lidar com os sonhos (profissionais e pessoais) dos empregados terá à sua disposição uma excelente ferramenta de gestão. A gestão entre o estímulo de sonhos, alinhamento de desejos e administração de anseios básicos. Como transformar isso em mensagem e disseminá-la além das reuniões fechadas, indicações, festas corporativas, encontros ao redor da garrafa de café e diante do espelho nos banheiros coletivos? Campanhas?

Comunicação física (material) versus comunicação digital. A escolha entre as duas, ou a integração de ambas considera aspectos como o objetivo da ação, os custos, a natureza de acessos às ferramentas, linguagem, poder de indução, periodicidade, o ritmo, a distribuição. Identidade.

A avalanche de informações e versões, juntamente com o estímulo profissional (desafios + remuneração) deve também ceder espaço para manifestações negativas (embora responsáveis) e positivas (não propagandísticas) por parte dos empregados. Maturidade e Transparência.

Atualmente, as pessoas se informam da mesma maneira que consomem produtos. Isto preocupa, em uma sociedade onde o poder aquisitivo aumentou boa parte em função da disponibilização de crédito e estímulo ao consumo (estratégias da política econômica). Ou seja, o alto índice de consumo (de informação e produtos) não significa a existência de uma base a suportar tal comportamento.

O Notícia em Foco da Rádio CBN dia19/12 , com a participação de Dimenstein, foi categórico: O fazer jornalismo, o fazer comunicação, sofreu interferências (boas e ruins) da tecnologia. A mídia precisa passar o que é imediato de forma simples; todavia, precisa formar público para reflexões profundas a respeito do que é imediato e como isso se relaciona com o futuro e presente de todos.

No ambiente corporativo, não existem mais ilhas. Cada empregado é um formador de opinião estratégico, com poder de influência amplificado pelas novas tecnologias. Até os nômades no deserto fazem música e ecoam no mundo inteiro (Tinariwen), quiçá os plugados funcionários com dedos que comandam telas, telefones que pagam contas, postam fotos, vídeos e recebem informações via internet. O trombone se transformou, cabe a boca de todos aos ouvidos de muitos. Scream Poetry (sim, eu gosto de subir nos telhados).



Estatísticas norteiam uma bússola viciada. Estudos apontam e pesquisas especulam. Versões e interpretações do tamanho do entendimento do freguês, e não a seu gosto. O que será que será? Oscilações da taxa de emprego, cantatas sociais. As enchentes que declaram ocupações desordenadas, o colapso da urbanização, o desrespeito aos recursos naturais. Infraestrutura é mito. O ditador é exposto morto, entre flores e lágrimas pintadas de vermelho. His name is Robert Paulson. Peneira informacional à parede, todos se transformam em garimpeiros na serra pelada da comunicação. O ciclo segue. O alforge nunca está cheio, muito menos vazio. Chuva de borboletas, flores voam ao vento. Deus está de braços abertos.


teu pescoço, torre de marfim
caule da sedução, textura do aconchego,
guarda o néctar,
caminho para teus lábios;


não estás nas palavras
vais além dos gestos,
não há solidão que não se estirpe em teus braços
onde a pureza é plena
e meu sussurro se envolve com o suspiro de felicidade



...




Saiu no Observatório da Imprensa
http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed674_la_traviata_corporativa

domingo, 18 de dezembro de 2011

Findaera




Tudo converge, até mesmo poemas em fragmentadas linhas retas. Nas nuvens estão muito mais do que sonhos e devaneios daqueles que arriscam olhar para o céu. A cultura do sebo foi lacrada em alguns grupos, a cultura do download substituída aos poucos pela do upload (tudo está na nuvem). A globalização trouxe novas possibilidades para o processo de produção. Cada vez mais a produção e o consumo digital proporciona facilidade ou manutenção ao fluxo contemporâneo, onde as pessoas desejam saber mais e estar em diversos lugares ao mesmo tempo. O cidadão compra acesso a conteúdo e não mais um produto conforme anos atrás. O automatismo sobrepõe gerações, se há pouco já era comum entrar em um cômodo e automaticamente esticar o braço para acender a luz, agora é natural tocar uma tela e ela responder aos seus comandos. No mundo digital, 30 segundos de espera é uma eternidade e aguardar pela edição de amanhã é coisa de doido.

As principais transações humanas já podem ser feitas pela rede. Compras, movimentações bancárias, contatos profissionais, produção de texto, vídeo, distribuição de informação, início e fim de relacionamentos (e tudo registrado, com gostos, desgostos, endereços e fotos). Afora os super backups físicos, muitas informações são geradas e armazenadas diretamente em mídia digital. Cofres na parede estão vazios enquanto HDs têm cada vez mais espaço, e ainda assim insuficientes. A apuração de notícias, algumas vezes, abandona até mesmo o contato direto, ou por telefone e ancora seus argumentos na oficialização por email, ou no imediatismo do SMS e chats.

Após considerar as vantagens e dificuldades do novo fazer jornalismo, onde as narrativas recebem interferência do público e a interatividade vai da produção ao consumo, é interessante atentar como estamos dependentes dos meios eletrônicos e das mídias digitais. Ao perceber isso, podemos levar as discussões a respeito do Código Florestal, Belo Monte e outras questões ambientais para universo menos polarizado. De onde vem a energia que nos mantém sustentavelmente online e a modernidade na palma das mãos?

O jornalismo busca estratégias para manter-se o menos parcial possível e ainda continuar viável economicamente para os proprietários. A era digital trouxe um caos para a saúde financeira dos veículos de comunicação, que viram um movimento panfletário da internet alterar o modo de fazer e comercializar. Embora o audiovisual ainda sofra nas mãos de políticos que detêm a concessão de emissoras de TV e Rádio; e o impresso tenha problemas de estrutura, distribuição e às vezes linguagem.

Todavia, e quando apagar a luz? Quando as ditas renováveis fontes não aguentarem alimentar os sete bilhões de La bella verte? Caso não seja o desenfreado consumo, ou o colapso no sistema de produção e distribuição de recursos, e se aquela famigerada tempestade magnética solar chegar aqui e apagar ou desorientar tudo (a NASA anuncia desde 2006 e cientistas estimam para 2012, 2013, ou 2014)? “Onde está seu coração está sua riqueza”. Longa vida aos blocos; jornalistas ainda sabem arranhar o papel com traços? Qual será a lamparina a guiar o olhar do narrador que precisará desaprender as facilidades de um mundo moderno e aprender a apurar e narrar em um universo truncado? O faro não poderá ser digitalizado e o Google deixará de ser o pauteiro e fonte oficial das matérias.

O processo de comunicação é colaborativo desde sempre, o nível de ruído ganhou agora novas dimensões, ao estabelecer outras mensagens. Além de saber lidar com as novas mídias e consolidar o processo de comunicação no mundo contemporâneo, o jornalista precisa desenferrujar a habilidade fora destes meios e resgatar o fazer orgânico, capaz de construir mensagens que invoquem reflexão, mudança de postura, evolução do “humano, demasiado humano”. Dialogar é mais do que sobrepor argumentos e se perder nas facilidades do falar ao vento.


Sua seco seus poros lacrados.
Sua harmonia disseca meus pensamentos
enquanto seus movimentos mantêm-me são;
Sua ternura sobre meus olhos
o elixir do sorriso.




Leia o artigo novamente no Observatório da Imprensa
http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed673_fim_da_era_digital