Enquanto no escurinho há teatro e cinema, e à mesa (e aos olhos) repousam orgias gastronômicas, sem reservas, respira-se entremeio aos fluxos urbanos. Dentre As mais fortes, o bufão. Não o filho do demônio, mas o riso grotesco, as entranhas do homem expostas numa risada. O espelho que anda diante de nossas palavras reflete nossos pensamentos. Encenar a espontaneidade é respirar. O processo de formação de público, estimulado pelas campanhas de popularização do teatro e da dança colherão frutos a longo prazo. Todavia, a iniciativa deveria contaminar também as salas de cinemas, com estratégia de exibição de filmes "não comerciais" seja ficção, documentário, curta, média ou longa metragem.
Frustração é consequência de visão limitada [embebida em paixão], entendimento raso. Diante dos desafios, o talento traz a confiança, mas apenas a sabedoria a mantém. Apesar de tudo o que cansa no humano, os poros escondem mais do que pelos; o suspiro e as palavras muito mais do que significados.
A felicidade está em encontrar a plenitude da vida no gerúndio, no significante. Chocolates e olhares. A amargura o distingue, realça a ternura de seu sabor, delineia o espanto, o medo de se envolver; a vontade e a energia. Tudo em uma mordida silenciosa, seguida de uma intensa e vagarosa dança da língua. Amelie ou Angelique. Poulain ou Delange.
O som de degustar um chocolate. Caminhar na chuva emotivamente anônimo meia noite em paris; texas. Inocente, ingênuo e intenso, o amor se faz em um chocolate e impregna-nos ao se desfazer na língua.
Entre o que nos faz humanos e o que nos faz palavras, o picadeiro pós-moderno: a cidade
O circo é o palhaço. "O gato bebe leite, o rato come queijo. E você?"
Manhattan connection,
apresentado pela Globo News, revela um Brasil anestesiado. Um país
de fim de expediente que sentado à mesa reflete sobre os
problemas do mundo e do país com bom humor descompromissado,
palavras ácidas e alguns argumentos pertinentes. Entre
episódios bem orquestrados pelos jornalistas, há sempre
o desagradável duelo de egos que subestima assuntos e prolonga
comentários sobre temas menos relevantes.
A conexão
proposta nem sempre consegue estabelecer uma identidade entre os
comentaristas e os locais de onde comentam. Leituras uniformes de um
recorte do cotidiano ( a partir de leituras de mídias) com
pequenas divergências.
Há algumas
semanas, a entrevista com Fernando Henrique Cardoso derrapava
justamente quando deixava de ser entrevista, conversa, para ser uma
troca de manifestação de egos. Na última semana,
apresentou uma mídia cansada, sem identidade, perdida em
comentários a conta gotas mais pautados pelo ego do que por
uma análise de um profissional experiente em imprensa (como
apresentam ser os apresentadores – e são, considerando o
currículo de cada um). Afora a conexão
de egos, é de certa forma satisfatório percorrer os
comentários, pois jogam assuntos no ventilador e narram o que
observam acontecer, em ritmo frenético, deixando a sensação
de que falta algo.
Domínio próprio
é estratégia para o bom narrador. O ego de um
jornalista não deve conduzir sua narrativa ou análise
do posicionamento midiático. A humildade, bom senso e estilo
devem contribuir para a convergência de ideias e a conexão
de olhares alhures.
“Em geral, quando
escrevemos para uma publicação com a qual concordamos,
pecamos por comissão, mas quando escrevemos para uma
publicação de caráter contrário, pecamos
por omissão.” Eric A Blair
A imprensa muitas vezes
foge do desconforto, seja do repórter ou da fonte, mas o
processo de informação exige desconforto para revelar
dados além dos institucionalizados e das versões
treinadas diante de espelhos. O repórter não é
taquígrafo, como já disse Malin; todavia, às
vezes o jornalista parece um cardíaco com medo da próxima
emoção: a do fato revelado. Desta feita, sobra-nos
pautas exageradas como a cobertura do caso Eloá, que sem muita
novidade se repete noticiário por noticiário.
Até tu Minas
O Estado de Minas do
dia 15/2 apresentou mais uma de suas ousadias de estrutura gráfica
para tratar do cotidiano de forma fascinante, mas errou a mão.
Com a bajulação ao jogador Neymar, a imprensa constrói
um crack que não vicia, mas cansa. A capa do jornal trazia uma
arte estilizada como um cartaz de filme (O Artista) e no caderno de
esporte não economiza em mostrar o menino da vila como O Astro
– artista da bola. É um produto do futebol moderno onde o
talento cria mitos instantâneos e enaltece um potencial antes
dele consolidar resultados (Ao contrário da trajetória
de Messi). A mídia precisa ser mais cautelosa ao traçar
perfil de artistas, sua supervalorização tem sido
corresponsável pelo surgimento de grossas biografias de
celebridades com menos de 30 anos de idade.
Entretanto, alguns
perfis resgatam a veia perceptiva do narrador. Na edição
do dia 16/2, o mesmo Estado de Minas apresentou o perfil
de um pasteleiro(olha o link) que trabalha próximo ao
Hospital da Polícia Militar em Belo Horizonte. Uma história
de superação, simplicidade e determinação,
relatada de forma objetiva pelo repórter. Cidadania.
Se o futebol representa
o Brasil volátil, da incoerência, o perfil do seu Zé
apresenta o Brasil da persistência, que não se faz sob
holofotes. A imprensa deveria instigar mais narrativas assim.
Estampar um perfil que contribua para reflexão humana e
melhoria de caráter. Ler jornais deve ser mais do que apertar
F5, deve trazer de volta o prazeroso desconforto de pensar.
Tostoi e Blair ébrios do conceito de felicidade e busca humana. O deflagrar da essência
humana não está mais sobre o fôlego divino, mas
no paradoxo entre seduzir, conquistar e destruir. Constata-se isso na
política internacional, na concorrência no mercado
regional, ou entre as alianças, namoros e programas de entretenimento.
Comportamentos selam o
valor do indivíduo. A intrepidez, ganância e arrogância fazem
do ser social cobiçado e temido. A sincera humildade e
sensibilidade o torna resto entre os dentes. Há lei dos mais fortes.
Fidelidade em plenitude
inexiste; até os mais profundos resquícios do que foi
humano. A vaidade exortada é o significado da sociedade
contemporânea. Todavia, às vezes é ela (vaidade)
mecanismo de defesa, estratégia natural de sobrevivência
pela sedução e reconhecimento, ocasionando benefícios para o outro ou para o grupo social: solidariedade.
Em um rápido
olhar ao redor, o retrato: As referências, os grupos de
relacionamento; as riquezas. Os sentimentos esmigalhados, a justiça
esmagada, a misericórdia, a esperança. Açougue e
suor, sob o sol o dia resvala as ilusões de homens sobre as
fúteis mulheres limpas, sujas de papel moeda e controle de
emoções. O álcool, nesse cenário, é
a porta para o beco que desemboca em outra porta: para outras drogas. A
degradação da vida aumenta sem medida. As páginas
de jornais já não conseguem acompanhar e apenas resumem a violência sem fronteiras, credo ou classe. Todavia, há narradores que conseguem tornar o jornal uma bula para lidar com a realidade.
Confiante no elixir da humanidade, arrisco: Haverá errata.
Lampejos do que a
mão não alcança, do que os lábios não
podem tocar. A liberdade das interpretações determina a
intensidade dos conflitos. Encontrar o próprio ritmo dentre os
passos e ombros na rua. Encontrar o seu ritmo dentre as gotas de
chuva. Saber cumprir sua função como átomo neste
universo.
“Para
o Jornalista, tudo o que é provável é verdade”,
H. Balzac
Ninguém parece
se ater às águas enquanto navega, por isso vêm a
pique, pois no meio do caminho há sempre mais do que uma
pedra. É fundamental que os narradores percebam de onde vem o
barulho que determinam suas pautas. Na Bíblia, o efeito “solta
Barrabás” mudou o rumo dos acontecimentos, atualmente,
eventos Trending topics como o “Luiza Canadá” e
“Grávida de Taubaté” mudaram a pauta da mídia
nacional, as discussões sobre comunicação em
massa e criaram um instantâneo clichê do humor.
Sofrimento e
irreverência continuam como moedas sociais. Na mesa de
discussão da agenda reflexiva, as memórias reais da
sociedade são substituídas por ideologias de palavras e
espasmos de uma puberdade tecnológica, onde a ponta dos dedos
ordena ações às telas, mas as palavras à
cabeça não provocam mudança nos comportamentos.
Os veículos de comunicação ignoram o poder do
buzz, mas são regidos por eles. Atualmente, o tosco
telefone sem fio define o material reflexivo tanto do narrador
quanto do espectador. A temporalidade do assunto e seu poder de
assombramento, de retorno, são subestimados e substituídos
pelo que está na moda. Quem define essa moda? Um grupo
corporativo (como defende W. Bueno), as classes sociais, ou as
gerações X, Y, Z?
“Quando
se diz que um escritor está na moda, sempre se quer dizer na
prática que ele é admirado por pessoas com menos de
trinta anos” Eric Arthur Blair.
Navio tomba no mar,
prédios caem no Rio e Pinheiro já não simboliza
natal, mas atrocidades de um governo reacionário e negligente,
amparado por uma polícia cujo bom senso está na ponta
dos dedos, comprimido entre gatilhos e cassetetes. A imprensa com
canetas e eletrônicos mais uma vez registra o imediato mas não
constrói a rede de interesse que cerca a permissividade dos
governos, da estrutura de habitação (ocupação,
viabilização e fornecimento de serviços básicos,
expansão), da gestão da segurança pública,
educação e saúde como pastas interligadas.
Enquanto isso na mídia, o aniversário de uma Potra na
Bahia continua a ser matéria.
A imprensa de modo
geral se confunde no âmbito emocional ao cobrir tragédias.
Esquece que todo dia tem tragédia, pinça as
cinematográficas e “cria” personagens em cima de vítimas.
Constrói heróis e transformam telejornais ou jornais em
versões noticiosas das mensagens fonadas melosas de datas
comemorativas. Gasta-se tempo demais em repetir informações
(imagem e texto). O efeito disso vai além das edições
nas bancas, ou dos telejornais; a interferência da imprensa
chega às livrarias, afeta escritores e autores de livros; as
prateleiras são entupidas de títulos ruins com alta
venda.
Tragédia não
é só para os gregos, mas Reforma é coisa de
brasileiro; acostumados a fazer puxadinhos e gambiarras, quando na
verdade, na maioria das vezes, tudo deveria ser posto ao chão.
Reforma agrária, política, ortográfica, da
imprensa, da habitação, dos transportes, da saúde,
das religiões e dos colhões. Todavia, a inviabilidade
do recomeço aponta a reforma como o mais viável;
trata-se da coleta seletiva do comportamento humano. Não
resolve, pois não atua no consumo e no início da cadeia
produtiva, mas ajuda uma vez que provoca reflexão e ação
imediata. Como se reforma um olhar?
Moderado e nítido, seu
olhar girassol encontra o chão; no renovar de mais um
ciclo, sementes.
Salve o Guardador de Rebanhos, que na beira da estrada é o paradoxo de nossa falência
No
simples gesto de folhear a realidade percebemos que milhões
($) transitam diante e além de nossos olhos. Entre os
interesses da massa e as necessidades e anseios individuais, os
eletrocidadãos mobiles perambulam
entre as novelas midiáticas da famigerada vida real.
A
polêmica política de integração nacional
familiar pernambucana de Bezerra; a proposta de aumento exorbitante
(61%) dos salários dos vereadores de Belo Horizonte (MG); as
desgraças do período pós-chuva a atingir 3
milhões de pessoas nos municípios mineiros e os 3
milhões atingidos pela seca no sul do país; o ENEM e os
erros do sistema educacional (e o Prouni comemora que desde sua
criação, em 2004, já concedeu quase um milhão
de bolsas de estudos em cursos de graduação – e esse
ano arrebentou em inscrições; mais de 1,2 milhão
– Qualidade versus Acesso), tudo se renova do mesmo. Etanol, café
e suco de laranja pelos ares.
A
esperança está na sensação que alguns
veículos conseguem provocar com suas matérias, ao
apontar incoerências e soluções, e transmitir a
ideia de que algo está sendo feito. Nem que esse algo seja
apenas barulho.
Fato
curioso não é a mídia estacionar as pautas nos
trending topics, mas é a matéria da Folha de São
Paulo Online no dia 12/1, em uma matéria sobre o MinistroBezerra, utilizar o jornal O Estado de São Paulo como fonte ao
falar sobre os dados da ONG Contas Abertas. Costume cada vez mais
presenta na mídia.
Mino
Carta e Thomaz Souto Corrêa (na última edição
da Revista Imprensa) declararam que a qualidade do jornalismo
brasileiro tem caído continuamente.
A
mídia impressa há tempos é usada como registro
histórico de uma era. Uma versão equivocada, ou
narrativa mal construída pode comprometer o registro e a
interpretação das gerações futuras ao
revisarem a história social. O que intriga atualmente, é
que alguns veículos não consideram esse fato e
tornam-se panfletos que sujam nossos dedos de tinta ou cansam nossos
olhos à tela.
Um
eficiente sistema de controle, a desinformação
justifica dentre outras coisas a censura rebatizada de SOPA e PIPA,
mesmo Obama alegando veto. Atualmente, conteúdo público
e privado depende muito mais dos interesses do gestor ou autor, do
que da natureza do produto. Quando têm o interesse de
disseminar em massa algo novo, tratam como conteúdo público
e gratuito; todavia, quando esse algo já está
consolidado, querer ganhar dinheiro com o acesso, tornam o produto
privado. O padrão de precificação de conteúdo
do Itunes (pelo menos para música e apps) apresenta-se como
alternativa, mas ainda muito ineficiente. A interação
em web aponta a substituição do download pelo
streaming.
A
desinformação é uma arma estratégica. Ela
enaltece e afunda partidos políticos, obras públicas,
iniciativa privada, conceitos e ideologias; funda religiões,
corrompe a relação do homem com Deus e contribui para o
espetáculo da soberba e fúria contemporânea, onde
a modernidade se faz arcaica e humanidade confunde-se com
individualismo.
Cada
vez mais distante do que deveria e precisaria se tornar, o homem se
enobrece, alimentando-se de sonhos, silício, cidades e jardins
resignados a vasos no quintal de concreto.
Se
Almodóvar espirrasse:
Atrofiado,
em estado vegetativo, o corpo social apaixonado olha nos olhos dela e
clama por um fim. Linda, Ela sobe e coloca seu gineceu sobre a face dele, sufoca intensamente o corpo. Mas naquele orgástico fim, o engano: era apenas um
novo começo.
O sentimento e o raciocínio que o homem tem em relação aos outros e aos sistema deste mundo é o mesmo que utiliza para se relacionar com Deus, ou com o que concebe ser Deus. Sempre na política do merecimento e recompensa. Com o foco na restituição ou no reconhecimento e não em ser relacionar com Deus, mas no que Ele pode oferecer. O desejo vão do homem e sua vaidade extrapolam a vida social, a postura religiosa e o que o homem fala a respeito dos sentimentos.
Existem fórmulas postas na sociedade, cadenciadas entre os perfis de comportamento. O indivíduo absorve algumas e quebra outras; fato catalisador de novas fórmulas. Curioso é a incoerência entre as fórmulas, quem as cria e para quê. A famigerada tentativa de controlar e julgar, inevitavelmente revela o processo dos indivíduos em determinar fórmulas para os outros. A matriz do pensamento do indivíduo estrutura rotinas de racionalidade e utopia cada vez mais humanas, e com certa possibilidade de controle.
La piel en que habito. O Desejo como estopim da desgraça. A sanidade posta à prova pela sucessão de fatos. A razão pode ser alterada por quem detiver a oportunidade e o controle. Junto à pele, o bisturi arranca a segurança, a identidade. Com a ferida, sangra para dentro do corpo amargura e a dor. Tal combinação aflorada revela a força da destruição, mas a pele já é outra. Na mesma pessoa, as mesmas lembranças, mas com a sucessão de fatos e experiências, uma nova identidade.
Alguns finais felizes não exalam felicidade. O paradoxo se sustenta no sabor de um chocolate amargo.
rascunho:
La
peil en que habito Complexo e reverberante Vicente
ansiava fuga e coisas novas (Durkein). Atencioso, a vestiu. Inocente
fugiu. Vera perdeu a identidade e a teve transformada física
e psiquicamente Estava pronta a ser o que os outros
desejassem que fosse, desde que isso diminuísse a
dor. Roberto - A loucura e a mágoa estabeleceram sua
sanidade A Mãe tinha "a desgraça em suas
entranhas". A morte foi a saída e libertação que
todos buscavam. E finalmente Vicente se tornou apto à
Cristina
Zeca x Roberto - o erro bíblico (Abraão
Sarah e Agar) O Erro Humano (com vassalo e com
patrão) Foram pólvora
A
inconsequência de Gal, da traição ao suicídio
foi o estopim para a insanidade de Roberto; o trauma de Norma, a
transformação de Vicente e a morte. "eras
minha melhor metáfora O clichê a contrariar as
leis da física. A curva da cintura dobra sobre mim"
Quais
as fronteiras do teu olhar? Até
onde agridem as ondas de tua voz; até quando reverberam tuas
palavras e sufocam-me as interrogações que impulsionam
meu pensamento?
A
mídia reluz o dentuço rubro-negro, de salário
atrasado, a receber homenagens de Evo Morales (que estatizou duas
refinarias da Petrobras há alguns anos) e suas
aventuras. Fala das peripécias do crack do topete, dos punhos
famosos do coliseu moderno (UFC) e de modo quase institucional cobre
um outro crack, que tem modificado cada vez mais o retrato da
sociedade.
As
crianças sonham em ir para Disneylândia, mas após
a puberdade fundam Cracolândias, a nova franquia globalizada.
Além da cobertura sobre o que é feito em São
Paulo, é importante considerar o rastro da desgraça por
todo o país.
Na
Bahia é lançado plano de reinserção
social dos dependentes, no Nordeste, segundo levantamento do jornal
Diário do Nordeste, o crack é a droga mais comum entre
jovens e adolescentes. Minas Gerais demora a adotar o Plano Nacional
contra o crack. Programa
lançado há mais de um mês disponibiliza R$ 4 bi
para os Estados. O jornal O Tempo, no final da última semana
(20/1) apresentou a versão oficial do Governo mineiro que
prefere focar no momento nas ações estaduais de combate
a essa droga que destrói famílias e transforma a
paisagem urbana. As soluções estão baseadas no
tratamento do assunto como caso de saúde e segurança
pública.
No
interior do estado, jornais produzem matérias que abordam as
implicações sociais e particulares do uso e
comercialização da droga; mas esse tipo de cobertura é
raro. Geralmente, a imprensa pesa as abordagens sobre a demonização
das iniciativas públicas, deficiente gestão ou
manifestações de tinta, churrascos e interrupção
de trânsito pela liberação de drogas ou
legalização dos pontos de uso. Isso até tombar
um na esquina. Quando o repórter é fonte ou, na pior
das hipóteses, a pauta.
Faltam
coberturas que aprofundem mais toda a rede social problemática
que tem a violência e a degradação do homem como
consequências de hábitos legalizados. O que me faz
lembar os comentários de Jabor em 2002 sobre o antigo episódio
do ônibus 174 (São nossos filhos com o demônio,
nossos dejetos que criamos...)
Em
suma, prostituímos a moral por momentos de gozo. Circulamos
por aí com nossos desejos e ilusões. Estabelecemos um
processo de esclerose moral onde são gerados resíduos
sociais que pontuam esquinas, páginas de jornais e não
mais cabem nas superlotadas cadeias ou instituições de
recuperação. Efetividade é a recorrente utopia e
filantropia o ópio que nos faz dormir a noite e fechar os
olhos ao passar pelas calçados de entulhos humanos.
Me
lembro que maior é Deus, pequeno sou eu, e das palavras
de Leminski porque não consigo fazer melhor:
“Ontens
e hojes, amores e ódio, adianta consultar o relógio? Nada
poderia ter sido feito, a não ser o tempo em que foi
lógico. Ninguém nunca chegou atrasado. Bençãos
e desgraças vem sempre no horário. Tudo o mais é
plágio. Acaso é este encontro entre tempo e
espaço mais do que um sonho que eu conto ou mais um
poema que faço?”
O
espectador é a ruína da plena beleza ele rompe a
espontaneidade o suor da felicidade resvala por todo o
ambiente esta sua boca é uma ideia. O
teu gesto um poema.
O mundo não
acabará em 2012, ele finda todo o dia e nem mais é
preciso abrir as páginas dos jornais. Na incessante luta entre
pautas leves e assuntos pesados na imprensa, abrir a janela e
arriscar um olhar à paisagem tornou-se um desafio fascinante.
Não, essa não é uma narrativa sobre a brilhante
obra de Manchevski e as possibilidades de percepção
criadas. Isso é outra coisa.
Com mérito, a
cobertura intensa do período de chuvas exige dos jornalistas a
costumeira inovação no olhar e precisão na
construção das narrativas sempre diante de um tema
cíclico. Todos os anos, além de apresentar a falha
infraestrutura, as consequências evidentes da negligência
e da água que desaba do céu, os veículos apontam
soluções, distribuem versões e incentivam à
solidariedade.
A Defesa Civil de Minas
Gerais divulgou que 228 cidades no Estado foram afetadas pelas
chuvas, atingindo mais de 3 milhões de pessoas, sendo 52.700
desalojadas e 4.000 desabrigadas. De acordo com o órgão,
166 municípios estão em estado de emergência em
virtude das chuvas. A cobertura do Estado de Minas, O Tempo e Hoje em
Dia tem procurado equilíbrio ao falar de recursos x estragos.
Além de sinalizar o descaso governamental, os indícios
de corrupção e a sucateada infraestrutura é
preciso mostrar o compromisso de poucos, tanto nos governos, quanto
na esfera popular.
Os jornais (mais os
estaduais do que os regionais) dimensionaram até que bem os
impactos na saúde (contaminação, doenças
e mortes – o sistema está preparado?), alimentação
(acesso e produção de alimentos, impactos no mercado do
agronegócio), segurança e logística (quando e
como retornar às residências), estradas (os buracos
tapados com promessas) e etc. Dados do jornal Estado de Minas revelam
que a União deixou de investir 58% dos recursos autorizados
para obras de prevenção contra estragos provocados por
enchentes. Em Minas Gerais, foram pagos apenas 47 do previsto.
Entretanto, falta ainda
um questionamento sério a respeito do paradoxo entre
planejamento e execução. Afora os blogs (que
alastraram-se pelos sites dos veículos de imprensa como
alternativa de posicionamento, narrativa e inquietação),
é preciso estar presente nas matérias. Victor Hugo já
disse uma vez que a imprensa “é o dedo indicador”,
sinaliza, cutuca, gera movimento à cena. Parafraseando Balzac,
assim como o homem sucumbe à mulher, a massa sucumbe à
imprensa, mesmo ao ignorá-la. O modelo vigente de
administração pública apresenta-se baseado em
uma desarmônica dança entre interesse público,
interesse da iniciativa privada e interesse particular.
Diante do imediatismo
de se fechar o texto, maior deve ser a intensidade do olhar e
incômodo do jornalista, pois ações efetivas para
a melhoria da qualidade de vida, muitas vezes são consequência
do ruído gerado por um texto. Reflexão e refração
de Imagem (seja particular, pública ou organizacional) é
o que determina as ações neste mundo que se acaba
imerso no iminente recomeço.
O Haiti é aqui?
As crises, atrocidades e conflitos estão globalizados; mas e
as soluções?
"Imprensa é
oposição. O resto é armazém de secos e
molhados." Millôr Fernandes
"O jornal é
uma tenda na qual se vendem ao público as palavras da cor que
se deseja." Honoré de Balzac
e você, pisava nos astros deformada; perdida na certeza de suas interpretações; parafraseava o vento e tinha um cisco no olho chamado realidade
[volto logo]
A industrialização do espírito humano, sua transformação em produto de prateleira (como diagnosticou Theodor Adorno sobre a sociedade capitalista), tem uma pausa quando as catástrofes levam municípios a decretarem emergência, o crack deixa de ser o bom jogador para ser a substância que destrói famílias e aumenta o índice de moradores de rua e as dificuldades já não mais podem ser jogadas debaixo do tapete, atrás de um filme, jogo ou programa de televisão. Neste momento, a imprensa mostra o despreparo em cobrir de forma específica e também abrangente determinados temas, espelhando assim a recorrente falta de infraestrutura do sistema público independentemente da ideologia vigente.
A exceção está em alguns veículos que, com habilidade, lidam com o espaço disponível nas páginas, os ruídos ideológicos da empresa, o potencial dos profissionais (imagem e texto) e as pautas de interesse público – o que deve estar no jornal porque as pessoas precisam ler o que elas querem ler. O jornalismo precisa formar, informar e dialogar com o público. O antigo conceito a respeito do reconhecimento e construção de identidade pela interação é fato que se renova. A era atual torna ainda mais evidente isso, com um novo indivíduo que consome e ajuda a construir as edições. Muitos são semelhantes a uma criança em carro desgovernado (possuem o olhar, têm ferramentas para registro audiovisual, produção de textos e disseminação de conteúdo; tudo na palma da mão, mas não possuem a técnica ou o bom senso e controle sobre o olhar e construir narrativas).
Mensagens criativas e imagens eficazes
O jornalismo econômico, público, literário ou científico acima de tudo deve manter-se jornalismo. As edições da madrugada, manhã, tarde e noite devem despertar e manter o interesse da massa e do indivíduo a respeito de assuntos básicos à manutenção da vida social e sua melhoria. Um problema está na superficialidade das matérias regionais e a generalização fria das matérias de agências de notícias. Entretanto, as páginas recebem inacessíveis F5 e as bancas estão ainda pelas esquinas. Há procura.
Dados divulgados pelo Instituto Verificador de Circulação (IVC) mostram a relevância não apenas dos veículos do eixo São Paulo-Rio de Janeiro como fonte de informações na web, mas também os estaduais da Bahia, Pernambuco e Minas Gerais, dentre outros. Embora seja importante lembrar que as pesquisas do IVC analisam apenas os veículos filiados a ele.
A tiragem é importante, mas sem uma estratégia de distribuição torna-se uma pilha de antiguidades. Além de considerar a possibilidade do conteúdo em tablets e telefones e os antigos net e notebooks, é preciso se ater à qualidade do produto e seu alinhamento com a rentabilidade do veículo. “A gente não quer só notícia, a gente quer comida...”
A estratégia de regionalização antiga, com sucursais por todo o lado, hoje encontra colapsos em termos de custos. Em Minas Gerais, o Hoje em Dia, após várias modificações em sua estrutura, reduziu o número de colunistas regionais e também as sucursais. O Tempo, com boa tratativa de temas, versatilidade em alguns assuntos e interiorização de pautas, alinhada à distribuição, tem conseguido falar do estado e para o estado de um modo sóbrio. O Estado de Minas e sua grande estrutura, revela sua sobriedade em inovar, em títulos, matérias e na diagramação. Seja na edição de homenagem a Chico Buarque (primorosa, em novembro de 2011) ou nas recentes edições de cobertura das consequências das chuvas. Mensagens criativas, diretas e reflexivas, acompanhadas de imagens eficazes.
Distanciamento e envolvimento
Não precisa ser Tom Wolfe para fazer diferente, nem Van Dik para compreender como o ouvinte interpreta as narrativas; basta não fazer jornalismo superficial. O estranhamento para olhar e narrar o fato contempla distanciamento e envolvimento. O equilíbrio entremeio esse paradoxo resulta no texto que, após descartado, nem peixe embrulha mais.
“Toda fonte é uma moça bonita que foi amada por um deus, que disse não a um rio, que fugiu de um sátiro, nada é real, nada é apenas isso, tudo é transformação, todo traçado de constelação é o pedaço de um esboço de um drama terrestre, tudo vibra de tanto significar. [...] Fatos não se explicam com fatos, fatos se explicam com fábulas” (Paulo Leminski)
Existe manual para o bom senso? As atividades diárias de qualquer profissional exige muitas vezes não somente o cumprimento dos procedimentos, mas fundamentalmente o bom senso para decidir sobre ações específicas. No jornalismo também; e essencialmente na rotina da imprensa. No momento de dar peso às pautas o que merece destaque? A privataria, o tiro na mão, a chuva e o estado de emergência, o aumento de impostos, os gastos desnecessários do executivo, legislativo e judiciário federal, presidentes e o câncer, a oscilação das passagens aéreas e rodoviárias, os terminais lotados, a lastimável saúde pública, o senador que toma posse e o filho que faz caretas? Fato é que muitas vezes os milhares de veículos de comunicação ignoram algumas pautas em potencial, que exigem do repórter apurado faro e habilidade de lidar com o tempo e as palavras.
"Night again meu bem", canta o boêmio. As prensas cumprem seu destino madrugada a dentro, mas do quê mancham o papel não mais branco? O cursor nas telas apontam para quais narrativas? Não falarei da música de natal na voz de Simone mas, então é clichê, e o que farão os jornais? Pautas de retrospectiva, farofa, fogos, estrada e arroz, assuntos para se esquecer e aquecer até o carnaval. Reclamamos, mas os assuntos das rodas de conversa (corporativas, familiares ou de bares) são também cíclicas.
Para definir que notícia estará em sua timeline ou nas bancas, é preciso além de conhecer a narrativa já iniciada, os temas em continuidade; analisar os fatos cotidianos e avaliar o peso de cada um e sua relevância para ganhar mídia, e não a sua relevância como fato isolado.
Sempre carregado, o estilingue das redes sociais digitais (RSD) se posiciona como um personagem estratégico no fazer jornalismo. Em pouco tempo de existência em massa, as RSD já determinam forma e conteúdo de planos de comunicação de empresas e direcionam a produção de textos nas redações. Sempre uma palavra à boca ou à ponta dos dedos. As fontes falam alto e ao mesmo tempo. É preciso peneirar as palavras para obter informações de qualidade e assim construir um texto que ao ser lido contribua para a evolução humana (reflexão, mudança de postura, decisões embasadas, ou entretenimento).
Engajamento ou Purpurina? Essa não deve ser a questão.
Não apenas as empresas e respectivas áreas de comunicação, mas também as redações compreenderam que não é possível apenas informar. Os veículos, assim como as pessoas, precisam se relacionar com o público, comunicar, envolver o leitor no processo de construção da mensagem extrapolando as aspas. Não se trata da institucionalização do caos, do registro bruto dos diálogos ou da espetacularização das narrativas.
Na caminhada para construir pautas gerais e específicas é preciso ir além da ingenuidade, do territorialismo e dos interesses comerciais. A nação não está resignada ao sudeste; as pautas não estão na ponte aérea, mas nos 5.556 municípios distribuídos por um território de 8.502.728,269 km². Todavia, é notório que a segunda região em número de cidades concentra o bolinho do barulho. Os donos da bola estão onde há o aglomerado do acesso e fluxo comercial. A despolarização das pautas (e sua verdadeira globalização) depende também do poder do narrador em interligá-las com os pólos referenciais do país e demais regiões, caracterizando o famigerado interesse (utilidade) público.
O índice de leitura no país se arrasta, mas aumentou nos últimos dez anos. Ler mais não é ler melhor, mas é ler. Há quem diga que o twitter nas bancas é representado pelos impressos de 25 centavos. Sangue, Sexo, Suor = Desejo. Após compreender o sistema de consumo de informação, e o novo padrão de relacionamento das pessoas com as mídias, é imprescindível que os jornalistas exercitem o olhar diferenciado sobre os fatos em equilíbrio com o tempo disponível para publicarem os textos. Arnaldo Antunes certa vez tentou representar essa angústia (mensagem X tempo) no poema Agora (já passou).
Após definidas as pautas, como fazer? O cenário encontrado é de redações esvaziadas, jornalistas sobrecarregados, muitas vezes sem infraestrutura, e profissionais rasos lançados pelas universidades no mercado de trabalho. Entretanto, além da imprensa especializada, pode-se encontrar em veículos nacionais, estaduais e regionais bons exemplos de pautas sóbrias e textos bem construídos, cabe ao leitor não parar no primeiro piscar dos olhos e mergulhar com bom senso nas narrativas expostas à exaustão. Existe pesquisa afora o google.