quarta-feira, 17 de abril de 2013

Jornalismo Vaselina


A leitura diária de determinados jornais regionais, estaduais e nacionais nos instiga a refletir sobre a composição das pautas e textos (entre investigação / barrigadas / posicionamento oficial / brechas das fontes). A agenda setting e seus efeitos continua a fascinar, iluminar um canto da sala, mas não toda a casa.


Repórteres precisam ler mais sobre os assuntos que se propõem a apurar sem pensar que tudo pode ser resumido a um traço simples. Às vezes, o traço revela uma trama complexa, que exige mais do que um partidarismo, ou lirismo moral, mas uma fotografia e análise ampla. O paradoxo tempo X qualidade não deve ser fator limitador, mas motivador de alta performance. o profissional deve dar a devida atenção no processo de construção da narrativa.



Sentado ao balcão, ao contar os contos para pagar as contas, outro tema reluz: a viabilidade econômica dos meios de comunicação. Alguns veículos (não apenas regionais, mas também alguns setoriais de grande circulação), afoitos por garantir a viabilidade econômica de suas publicações, apelam para fracos argumentos de proposta midiática; tratando jornalismo como produto de prateleira, fazendo da chantagem empacotada de oportunidade uma ferramenta de negociação. Parecem pessoas que se penteiam diante de espelhos trincados, não percebem quem são e menos ainda os efeitos desta perigosa equação. A ética tem sido descartada em prol das cifras.



Quando há profissionalismo na gestão de mídias, a viabilidade econômica acontece, pois soluções são implementadas e ritmos de rentabilidade ajustados conforme mercado, linguagem e prospecção. O imbróglio antigo entre relações editoriais e comerciais tem se intensificado pela nova configuração do mercado midiático, com o acesso a informação em meios digitais, mídia gratuita. Diários do Interior de Minas Gerais têm buscado soluções viáveis para manter recursos financeiros e garantir isenção editorial. Alguns são exemplo para grandes veículos setoriais com sedes em capitais do país.



Por outro lado, afora os procedimentos formais de investimentos publicitários em Redes Sociais Digitais (post promovidos/pagos), começa a surgir profissionais de mídia e veículos de comunicação que oferecem acesso à audiência (post em perfis de representatividade ou com grande audiência) como espaço publicitário. A participação das empresas ainda é tímida, pois é preciso estudar melhor as oportunidades, os cenários e os resultados; afinal "nem tudo que reluz é ouro".  


Publicado também no Observatório da Imprensa 


- - - - - - - - - - - - - - - - - - -

 www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed741_jornalismo_vaselina



Programas dominicais e síndrome dos vídeos do youtube ( a modernização da videocassetada?) ainda falaremos....

quinta-feira, 14 de março de 2013

Leminescata Midiática

Publicado originalmente em http://palpitandoocotidiano.com/2013/03/14/leminescata-midiatica/


janjaap ruijssenaars
O público consome informação com uma nova dinâmica. A plateia mudou. Agora ouve o interlocutor, publica em rede social digital, atualiza-se de outras notícias, ouve podcast e ainda opina junto ao interlocutor. Seja na sala de casa, na rua, em reunião com amigos e até mesmo em palestras, audiências e aulas.

Outro dia no fórum, enquanto deliberavam os rábulas, uma doutora esfregava o dedo na tela, sem perder o fio norteador da audiência. Na sala de casa, televisão, tablet, computador e celular interagem com uma estranha presença no diálogo familiar. Tudo muito natural."Tudo ao mesmo tempo agora".

O mercado publicitário e também o de produção de conteúdo disputa a "clique" os cookies dos usuários. Se antes os ancestrais ensinavam a não se "colocar todos os ovos em um mesmo cesto" hoje percebe-se uma frenética convergência ao digital. Unificação de acessos, senhas fortes com plataformas integradas. Banco, email, rede social, informações de trabalho, de lazer; tudo registrado, controlado, escondido e compartilhado pela plataforma digital. Os riscos e as frestas não impedem o fluxo diante da comodidade, conforto e agilidade dos novos processos. O fascínio e a histéria chicoteiam a estrutura de obter-se capital. Mudar para sustentar é mais uma frase imã de geladeira.

Ações de merchandising têm se aprimorado intensamente como alternativa a anúncios chapados de produtos e serviços. Atualizar o modus operandi é a recorrente pauta diária.

Os paradoxos gerados com conflitos de gerações, desafios para compreender o público e produzir para ele; formar público e profissionais, exigem reflexões e atitudes que ainda não podem ser concatenadas em um manual. Vale uma leitura na edição da Revista Imprensa deste mês. As matérias sobre a formação do jornalista e sobre o relacionamento com as novas mídias estão muito interessantes.

Saiu também no Observatório da Imprensa
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed738_leminescata_midiatica

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Balcão de Vidro




Afora as exceções, enquanto repórteres lerem pouco, assessores escreverão as matérias. É tão bom quando o diálogo acontece, é produtivo e enriquecedor para o leitor ou espectador. Todavia, quando o repórter desconhece por completo o assunto e nem ao menos faz rápida pesquisa antes de dialogar com a fonte, o que se vê é o assessor dos dois lados do balcão. Isso limita a narrativa, envelopa as interpretações com a logomarca invisível das corporações. Isso não é valorização da marca, mas alienação do cliente, subestimação do consumidor. Ignora o potencial do profissional de comunicação e trinca o balcão onde passam e às vezes ficam informações.

No trato da informação, em assessoria ou redação, o diálogo deve persistir, e de forma transparente. Os procedimentos de contato com a fonte devem ser respeitados, mas não podem influenciar a informação, nem o relato do fato. O lobby não pode ser sinônimo de ficção e nem a apuração ter o significado atrelado a relações comerciais.

De pé, aconchegado em uma banca de jornais, expiro: Que os jornais tenham menos páginas, mas melhores páginas. Alguns veículos do interior acertaram a medida e consolidam leitores dia a dia. Eles persistem tendo a apuração como premissa de um bom registro. São parceiros, questionam o posicionamento corporativo e relata tanto o que pode melhorar, quanto o que está adequado, bom. Entretanto, enfrentam o dilema da rentabilidade e são forçados a reduzir custos operacionais e até mesmo reduzir pessoal. Falta uma estrutura comercial sólida, moderna e pertinente ao mercado. Faltam investidores?

Nesse ínterim, alguns assessores confundem as áreas e se colocam como mecenas com direito de manipulação. É preciso saber o lugar que ocupamos na cadeia da informação e desempenhar esse papel com maestria, e não hipocrisia. Pautas em mãos; é fundamental diagnosticar o que quer o público e o que precisa.

Grandes veículos atrofiam-se. As redações estão sucateadas e não há sindicato que contribua em prol de uma solução para os jornalistas, que atenda também aos patrões. Todavia, diante de um belo texto vem a esperança do removo, da melhora. O hábito de ir às bancas ainda é válido, precisamos aprender a garimpar; a peneira está nos olhos.

Publicado também no Observatório da Imprensa
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed718_balcao_de_vidro

 
....   

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Sociedade Infográfica



“Considerando todas as manifestações humanas, o silêncio continua sendo a que, de maneira muito pura, melhor exprime a estrutura densa e compacta, sem ruído nem palavras, de nossa sabedoria” (Ézio F. Bazzo)



Um costume antigo visto por professores como desvio e considerado por estudantes como estratégia rasa de sucesso, tem sido verificado no padrão atual de consumo de informação. Embora o índice de leitura tenha aumentado na última década (média de 1,8 livro/ano para 4,7) e a venda de livros aparentemente tenha mantido crescimento, ainda é pouco. No banco da praça, dia nublado de brisa agradável, o tablet descarregado torna o livro uma opção, mas “tem poucas figuras. Palavras são cansativas”. Calçadas violentadas com cartazes, cavaletes, buracos e veículos possibilitam, a seu modo, que os pés alcancem a banca de jornal e revistas. “Esse jornal deve ser bom, tem mais fotão.” Os ouvidos não têm pálpebras; estão abertos o tempo todo. Se ao menos pudessem verter lágrima.

O cheiro do papel, a tinta que traceja a possibilidade, a sensação de ter algo importante, ou ao menos útil em mãos. A caça por figuras em livros, com a finalidade de abreviar a leitura e forjar um entendimento sobre a obra, evoluiu para a sede de infográficos na mídia (impressa ou eletrônica). Cabeças ávidas por informações com o mais intenso índice de mastigação. Escolhas pré-moldadas embaladas de liberdade, essa dádiva às vezes descartada no primeiro acesso.

A finalidade de simplificar informações e contextos complexos para o público tornou os infográficos atrativas ferramentas de discurso. Facilitam o entendimento e cativam o leitor; alguns até possibilitam certa interatividade. Há alguns que são essenciais para fixar o conteúdo ao espectador e instigar o pensamento crítico. Entretanto, o uso intenso desse artifício estabelece uma leva de leitores atrofiados, presos a interpretações rápidas; percepção rasa a partir de ilustrações que resumem e simplificam temas que, às vezes, para uma compreensão adequada, exigem horas de reflexão. Os traços carregam relevância que é amparada pelo texto. Esses traços não são o texto completo (ao contrário do que alguns cartunistas conseguem fazer ao representar o relevante em uma charge). Eles são um componente.

A rotina de trabalho nos impulsiona a terceirizar alguns aspectos e atividades da vida social em prol de manter o fluxo da modernidade. Alguma coisa nos é praticamente inevitável. Entretanto, pensar não é algo de que devemos abrir mão. Provocar o diálogo das versões dos fatos e analisar as informações disponíveis é premissa de uma interpretação inicial. Seja diante da urna, entre amigos, dentro de uniformes, diante das páginas ou entre lençóis, o pensamento não pode sucumbir diante de facilidades; o caráter não deve ficar em frangalhos na Era do Instante. Nem sempre a boca precisa ser aberta. Nesses casos os olhos devem estar abertos.

Na continuidade do dia, o desenho de um garoto de quase nove anos evoca a compreensão, aqui do lado. Apesar dos pesares, vale a pena!

Publicado também no:  Observatório da Imprensa e no Caderno DA, do jornal Diário do Aço

;

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Mediação Maturada?


Maturada pela história, a mediação instaura o processo de eterno retorno. Retorno à inocência, à infância, Era de sonhos, mimos e desatinos, anseios, equívocos, empolgação, especulação e reclamações ao ermo. Retorno à compreensão, quando as mensagens faziam sentido num baile doentio com a confusão. As narrativas instigavam e explicavam, ao invés de frustrarem e confundirem.

A representatividade, embora pareça ter sido um conceito destruído pelo imediatismo ou efervescência tecnológica, está soterrada por nossa recorrente incapacidade de assimilação entre desejo e necessidade. Os narradores contemporâneos parecem atordoados no campo de batalha da informação. Não importa apenas de onde vem o estardalhaço, mas como ele afeta a percepção de realidade em tempos em que a justiça é lenda, a violência sai das telas de cinema, encharcam noticiários, e os bons exemplos de cidadania são sinais de esperança, o fôlego cotidiano.

O panorama apresentado na última edição da Revista MSG - revista de Comunicação e Cultura (editada pela ABERJE) apresenta uma crise na mediação a partir da ausência de uma identidade coletiva. Isolados pela soberba do controlar o processo de produção (e não a informação); unidos pela confusão de compreender e situar-se na sociedade: assim flui o indivíduo. Aparentemente, o princípio de igualdade é suprimido pelo da hierarquia restritiva e não qualificada. O que vemos é uma verdadeira Lei das Porteiras (abertas): O primeiro que passar abre e o último nunca fecha, pois ele inexiste.

Mas o que a Imprensa, com suas estratégias de mediação, pode fazer? E o que o cidadão precisa? Assimilar a presença do contraponto nas relações sociais e nas características humanas. Uma vez que o investimento correto em educação não surge, os narradores precisam coser e cozer argumentos para contribuir com mais afinco para a formação de público com senso crítico não apenas apurado, mas exercitado. De forma a contribuir para que o indivíduo concilie os fatos com as possíveis consequências. Talvez assim as escolhas sejam menos destrutivas.

A lucidez de Carlos Castilho* (em seu último artigo publicado no OI) chama a atenção para o momento de fragilidade dos veículos de comunicação e a necessidade de aplicar estratégias que possibilitem não apenas dar fôlego, mas garantir à imprensa a rentabilidade e condições de trabalho adequadas. O processo de mediação conclama os narradores a agir. O amadurecimento passa pelo renovo.

Publicado também no Observatório da Imprensa
http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed706_mediacao_maturada
www.passocomunicacao.blogspot.com

terça-feira, 17 de julho de 2012

Produção de sentido x Ideologia (pelo consumo)


Interação. A expertise do jornalista em verter a multiplicidade em texto é fundamental para manter o fôlego dos veículos de comunicação.

Além de apresentar um projeto gráfico moderno e cativante (nas últimas semanas o jornal Hoje em Dia – MG – mudou o formato em busca de consolidar leitores e conquistar público), jornais e jornalistas precisam investir na qualidade da apuração. Ainda mais agora com a lei de livre acesso à informação pública. O dilema entre acesso e interpretação instaura um desafio aos repórteres e público.

A resignificação a partir das transformações culturais estabelece um novo padrão de narrativa. A vulnerabilidade da mídia, quando exposta à opinião pública, diminui poder de persuasão da imprensa em manipular as interpretações da massa. No entanto, torna-se inevitável manter a transparência para assim buscar manter credibilidade perante a sociedade como fonte oficial dos fatos. Para isso, não pode ignorar o processo colaborativo da atual narrativa midiática. A tecnologia viabilizou a formalização do cochicho.

A participação em congressos e eventos promovidos pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais (MG), permite uma percepção preocupante. A profissão se mostra esvaziada em prol do interesse de apenas encher o bolso e mobiliar a vida de descartáveis ideologias. Com pesar, observa-se as brigas por questões irrelevantes, o afastamento da reflexão do fazer comunicação. Cansada, a profissão tropeça (do regional ao nacional) no desgaste. Cursos vazios, redações sucateadas, textos pobres, confusão. Poucos resistem, poucos investem. Trata-se de um perfil alarmante, no qual toda a sociedade está inserida.

Queremos o mérito da transparência, mas não ser transparente. Os princípios éticos têm sido manipulados conforme a conveniência. Enquanto focarmos a satisfação como resultado de lucro financeiro crescente, isso não mudará, mas irá intensificar o desenvolvimento atrofiado da sociedade.

O descaso impera, a incoerência reverbera. Esvaziamos garrafas e estouramos estatísticas. Igrejas, escolas, residências, empresas e imprensa. Caminhamos para uma apocalíptica estagnação social. A cidadania aos poucos é usurpada, embora alguns lampejos de esperança despontem em publicações exemplares, jornalistas de verdade e pessoas com iniciativas dignas de um futuro melhor.

Assim.. passocomunicacao.blogspot.com

Publicado também no site Observatório da Imprensa
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed701_producao_de_sentido_vs_ideologia

...

segunda-feira, 16 de julho de 2012

futuros textos

Antes de partir para os textos mais recentes (dentre os quais estão os publicados no DA Presente e no Observatório da Imprensa. Segue mais um... e assim esta saudade está morta...


quinta-feira, 12 de julho de 2012

textos antigos

Quando releio esse, relembro a intensidade de Brissac e sua inquietação com tudo o que se faz urbano e humano.