Quê mais? O balé das apurações e a sinfonia dos fatos
Há de se falar. Não há de negar. Quê mais precisa para perceber como
escorre o ser? O drama, a tragédia e a paisagem. Argumentos daqueles que
demasiadamente pensam sobre os sentimentos e desfrutam da brisa à face. O
código de interpretação da realidade que cada indivíduo opera é regido pelo
ego. Somos reféns de uma liberdade nossa que esperamos encontrar no outro.
Somos algozes do outro, imperceptivelmente, às vezes. De propósito.
Consigo ouvir o silêncio de um tempo. No instante de uma manhã, a
sociedade deixa o mundo fluir. Nem sempre. No sereno da madrugada, as pessoas
parecem adormecer, na brisa da tarde, os ruídos tornam-se intermitentes. Quando
a percepção se distancia das palavras e dos conceitos constituídos, a evolução
é o resultado.
A mídia se diverte com o desdobramento do eco de suas mensagens. Neste
cenário, articulações políticas e comerciais interferem de modo (às vezes)
sutil no comportamento social e na maneira do indivíduo interpretar os
comportamentos da sociedade. A mídia se diverte, pois vê o efeito de suas
ações, e regozija-se como detentora de um poder. Entretanto, ela é
indiretamente vítima das articulações, pois elas são base das mensagens
midiáticas.
As mensagens mais perspicazes atualmente (e sempre) são as que provocam
movimento e absorção ideológica, comprovada em discurso e comportamento. Um
exemplo, o balé econômico. Matérias constatam menos cheque sem fundos.
Crescente uso dos cartões. Aumento da inadimplência, restrição de crédito,
aumento de juros. Cai o consumo, aumenta-se o crédito, juros flexibilizados,
incentiva-se o consumo. E roda o próximo ato do balé. A qualidade de vida e dos
lugares determinadas pelo índice de segurança e exposição ao risco. A saúde, a
educação, os clichês da imprensa ao retratar as faltas, a esperança e as
perspectivas. O que mais pode ser feito? O que mais precisa ser lido? Novo ato.
A dança dos setores: fabricantes de eletroTudo, automóveis, móveis e imóveis.
Cada qual em defesa de seu lugar no palco. Matérias por todos os lados. Não há
mais um meio oficial. A banca não consegue ser a primeira página da formação de
opinião do indivíduo. Extrapoladas, as fronteiras são na verdade expandidas,
continuamente.
Uma apuração intensa e acessível sobre o tema é soterrada não pelos
escombros da recorrente inconsequência dos construtores, mas fica submersa à
vértebra quebrada. A dinâmica da imprensa não dita, menos ainda antecede, mas,
sobretudo repete o que acontece em escritórios, trânsito, lares, igrejas e
bares. Entre balés e sinfonias, onde paira a sintonia? Precisamos alternar
nosso modo de leitura e interpretação, bem como o de registrar ideias e ideais
no papel.
Passo.