Não fantasia; mas a complexidade de um sentimento simples...
São os passos que anunciam o poema de uma noite úmida.
Meu silêncio perpassa os sonhos, sabores e aromas; perfumes das cores.
Meus olhares procuravam os seus,
sorrisos se encaixavam, toques se completam no horizonte.
Sua nuca, minha torre de marfim. Teus sons, gemidos ritmados, sentidos e sentimentos apurados.
Minhas mãos em seus cabelos, minha firmeza com sublime e intenso sentimento pelo seu dorso, sua cintura, montes e abismos; meu oasis.
Seus suspiros no meu respiro,
seu suor nos meus poros,
e o sabor de poesia na prosa de uma vida bela.
Olhares perpendiculares refratam meus sentimentos. Flores excepcionais perfumam a paisagem e presenteiam o olhar com cores delicadamente escolhidas. Suor extraviado, o corpo em movimento desagua nos sonhos, longe da rima, das mágoas de seus lençóis. Intocada pétala flutua pela praia deserta de pessoas, repleta de suspiros. Olhei no fundo dos olhos da miragem; desanuviou minha névoa. Protegida das fagulhas, o contraste te enaltece.
Personagens sem nome, roteiro sem fala. Diálogo clichê de corpos sem palavras. Ele gostava de pensar, tropeçava ao escrever. Ela não sabia o ler.
Era a ideia.
Sem corpo, com todos; sem voz.
Sempre audível, com textura, suor e abstrato.
ideia.
e a ideia, como pluma
complexa intensa,
repousa e paira
fantástica ideia,
permeia todo o ser que sou.
Dissipado pela instabilidade das sensações, o corpo é um barco à deriva. E o dia nasceu com a magia de sempre, a sutileza de ser magnífico desde os detalhes. Circulo por eles percebendo ser mais um, uma fagulha à beira do iminente incêndio transcendental. Aquele que não queima, mas aquece, purifica, faz arder as ideias de forma a impulsionar ações; atitudes calculadas. No limite do desejo, sonho e realidade. Fronteiras permeáveis. Onde um desagua no outro. Saliva. As incertezas não coexistem, quando as mãos se tocam ao acaso.
A paisagem é dinâmica aos olhos estáticos. O remanso da vida, a crueldade de instigar reação ao que há muito estava silenciado e posteriormente temperar com fel o silêncio dos sorrisos e olhares. Tocar por meio das palavras é tão fácil. Todas as palavras estão postas, basta colocá-las para dançar, ornamentá-las de possibilidades, submetê-las à sinfonia das frases, entrelinhas e sentidos, significados. O estouro dos significantes na noite dos desesperados. "They shoot in horses, doo't they?" Quando o desejo é mais do que impulso, uns chamam amor, outros versam loucura... eu sinto!
A contínua renovação das plataformas de
comunicação não significa evolução humana e dos processos de produção de
conteúdo, interpretação e desdobramentos possíveis. A tão proclamada vanguarda sucumbe não ao
ineditismo e novos padrões de percepção, mas à consolidação de paradigmas. Na
verdade, submetidas ao tempo de uso, as plataformas refletem a estagnação dos
usuários em expandir fronteiras do processo de comunicação. Reforçam aspectos
sociais e funcionam como uma lente de aumento nas atitudes dos indivíduos.
Um automatismo é percebido no perfil de
comportamento dos usuários. A manifestação pública é padronizada nas mídias
sociais, independente se elas (mídias) são específicas para assuntos
profissionais, pessoais, textos, fotos, e etc. O padrão de comportamento que
tornou cansativo e obsoleto o Orkut, tem sido verificado não apenas no
facebook, mas também no Linkedin e até mesmo no twitter e fóruns temáticos. A
infantilização de postagens, a agressividade da linguagem de mensagens
ideológicas, ou a avalanche de pílulas de auto-estima. Verifica-se mais um
processo de busca por audiência do que por aprimorar relacionamentos via
plataformas digitais.
O respeito é o mito na
interação nas redes sociais digitais. A frequente imposição de versões dá o tom
de um diálogo que mais parece um monólogo diante do abismo do que uma roda
virtual de conversa. Este processo, tão repudiado pelos usuários, é o que os
representa. Após orkutizarem o bate papo da praça, a interação no o ICQ,
no MSN, no Face, a maioria segue com a massa para o próximo hospedeiro,
tornando obsoleta a plataforma antiga. Neste ínterim, o Google Plus ainda é um
território não contaminado pelo automatismo social, e, portanto, tem
possibilitado mais leveza e fluência à interação com temas específicos; por
enquanto.
Cada vez mais, acredito
que a vanguarda do fazer comunicação está em revisitar os primórdios, resgatar
a essência da comunicação no ato de conceber sentido, significado, mensagem e
interação; ao invés de se entregar às possibilidades superficiais das novas
tecnologias e novas redes. É preciso um mergulho profundo, potencializar as
plataformas e possibilitar mais respiro do que sufoco ao ser humano, suas
tradições, valores, ideologias e sonhos. Talvez esta seja a pauta em constante
renovação, capaz de mudar o reflexo que temos apresentado.
Com seu modo de se impor, de me olhar do alto, de me iluminar, a lua conduz até si meu olhar. Notas musicais passam a ter um especial sentido. Frases sem palavras tocam intensamente, fazendo do corpo um instrumento. Momento nenhum pedi a sensibilidade, o humor e o romantismo. Não solicitei as palavras, as percepções nem outro aspecto. O porquê não me revelado foi. Mas, sempre mas, regurgitamos sinais de pontuação, de sonho, angústia e amor. Chega de doces, quero teu abraço; chega de sorrisos, quero teus beijos, intensos, delicados, ousados, contínuos. Chega de anseios, quero futuros nossos no presente. Cale meus versos com seus poros nus meus.
E o tempo me escapa pelos poros. Recluso, renovo a verdade num silêncio, renovo o personagem para o externo social.
Ambições sinceras mantêm o sangue circulando pelos sonhos. Durante a trajetória, toda relação acontece por interesse. Todo brilhantismo é pautado pelo plágio. Toda declaração de amor é substanciada pelo clichê, pela vontade de realizar e alcançar uma projeção. Todo conflito poderia ser evitado, mas o sangue e a dor sobrepõem a paz e calmaria. Toda palavra poderia ser contida. Mas o discurso de impacto e uma discussão silenciada com uma frase fatal alimenta o ego.
Todo sofrimento é único e paradoxalmente o maior do mundo. Todo poema carrega algo que não está nos versos. Os dias possibilitam bem mais do que percebemos e menos do que esperamos. Todo umbigo é o centro do mundo; e o mundo deveria ser chamado de tempo. Textos carregados de mesmas palavras, porta-retratos recheados das mesmas histórias.
Tão universalmente pessoais, as músicas são o refrigério de quem sente, a fuga de frases silenciosas; e o sentimento... Ah, é aquele filme instigante o qual não vimos o final, ou não lembramos.
Não sei se nova é a narrativa, a linguagem jornalística, o
olhar, ou ainda assim o tempo. Antes o ideal era a câmera não tremer e as
frases serem bem concatenadas. Agora tentam vender realidade viva. Algo que
pulsa incontrolavelmente. Tanta espontaneidade que chega a parecer um
espetáculo de dança contemporânea. O imprevisível é parte do enredo, está no
script do espetáculo midiático.
A inquietação é premissa para a evolução. Nesse sentido, os
programas de TV têm buscado inovar na maneira de narrar e de fidelizar o
público. Seja por meio dos milhares de “cozinha com fulano” que tentam
sofisticar, naturalizar, ou tornar rústico o ato de preparar alimentos e se
relacionar com eles; ou nos programas de esporte que tentar levar adrenalina
aos pilotos de tablets e controles remotos, lembrando até da metalinguagem de
programas como A Liga e Profissão repórter. A linha entre o interessante,
eficaz e o cansativo é tênue. É preciso destreza para caminhar sobre ela.
Dentre as várias tentativas, algumas são bem interessantes
(mas não inovadoras). O Mundo segundo os Brasileiros, produção independente (produtora
holandesa/argentina - Eyeworks) disponível em canal no Youtube e transmitido
pela Rede Bandeirantes, há 5 temporadas (desde 2011) apresenta a narrativa pelo
viés de quem vive o espaço e transmite a própria impressão a respeito do lugar,
do tempo, da história, das referências.
Um texto praticamente documental estilo história oral, aquela
conversa informal de quem quer contar suas experiências em um novo território. Trata-se
se um formato sem protagonistas fixos; alterna-se os narradores, guiando com a
câmera, nos contando histórias oficiais e impressões de estrangeiros
andarilhos. Baseada no original argentinoClase turista: el mundo según los argentinos, a série é dinâmica e
perpassa desde os principais pontos turísticos a pontos pouco conhecidos do
globo.
Cidades invisíveis erguem-se à medida que significados são
repassados ao espectador. Forçando um pouco as vistas, dá para imaginar o Marco
Polo contemporâneo revelando as nuances das cidades, ou o estrangeiro de Camus
andando pelo mundo, contaminando-o e sendo contaminado por ele. E como
brasileiro é um povo espalhado pelo planeta, matéria-prima não falta ao
programa.
Iniciativas
assim precisam se alastrar pela TV aberta, mas essencialmente necessitam estar
alinhadas com o conteúdo multimídia, considerando o comportamento de consumo de
informação e a disponibilidade dos meios; expandindo assim a acessibilidade ao
conteúdo, novos campos para reflexão e seu desdobramento. Publicado também no Observatório da Imprensa http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed844_novas_()_narrativas_jornalisticas
A verdade que nos aflige não cabe na narrativa de um fato. As
minúcias de uma apuração, que podem determinar o rumo das interpretações
subsequentes, não estão evidentes nas curtas linhas. Menos ainda nas fotos e
respectivas legendas. Quando os textos trazem declarações de autoridades então,
o pandemônio dos dados é assustador. Seja em cenários de crises ou durante
eleições, as declarações das fontes oficiais nem sempre contribuem para o
indivíduo estar informado, mas de modo recorrente atrofia a percepção pública
com elementos confusos, interferindo na narrativa.
Iniciativas como a do da organização argentina
"Chequeado" (Site que verifica a legitimidade dos discursos de
autoridades), estabelecem-se como mais uma estratégica para não absorvermos
"opiniões" traduzidas em informações pseudo-isentas. Em essência, o serviço prestado por eles é o modus
operandi que todo leitor deveria ter (principalmente e não somente, durante
eleições e posicionamentos oficiais): cruzar informações do discurso com
matérias já divulgadas e com dados disponíveis nos canais de transparência.
Cabe ao leitor, antes de confiar, buscar resquícios dos fatos e confrontar
versões. Sempre. Embora seja um processo cansativo (considerando o ritmo de
vida), é ainda o menos ineficiente.
Nesse percurso, o leitor perceberá como muitos conteúdos são
replicados em diversos veículos de comunicação. A ocorrência é tanto fruto do
compartilhamento (autorizado ou não) de conteúdo, quanto o resultado de uma
assessoria de imprensa com interferência em massa. Sobre o compartilhamento de
conteúdo, interessante o que aconteceu com jornais de seis países da Europa. Fizeram
parceria para promover a troca de conteúdo e pesquisas em comum entre
eles na denominada Aliança Europeia de Jornais Líderes (Leading European
Newspaper Alliance). Acredito ser uma estratégia interessante para otimizar
recursos (reduzir custos de produção), mas sua operacionalização não pode
engessar a narrativa em apenas uma direção. Funcionaria no Brasil tanto com
veículos pequenos quanto com os grandes? De forma quase que underground alguns repórteres
compartilham pautas, ou premissas de pautas e fontes, em um processo mais de
negociação de informações do que de enriquecimento de narrativa e redução de
custo de produção.
No universo paralelo, o Governo Federal insiste e nos
bastidores tenta afinar o argumento para estabelecer regras para o
funcionamento da mídia; a famigerada regulamentação da imprensa. Antes
de implantar uma ação de controle para promover a responsabilidade narrativa
aos veículos e interferir no que ainda há de liberdade, é importante consolidar
os dados emitidos em declarações oficiais e o objetivo específico das
respectivas atitudes. Não apenas disseminar informações e controlar o processo
de produção, mas essencialmente possibilitar rastreabilidade aos dados, para
que qualquer um possa verificar a legitimidade da informação de discursos de
fontes oficiais e a narrativa construída pela Imprensa.
Então choveu, e chuvas sempre trazem mais do que água e levam mais do que parece. Lacrado em mim, no silêncio, um sonho e uma verdade. Apenas o tempo certo pode abrir, ou eternizar o silêncio.
Somos preciosistas ou conceituais demais. O jornalismo puro sangue, assim
como o ser humano puro sangue, é figura de um folclore de um tempo sem
parâmetros de referência, onde tudo o que surgia, rompia paradigmas e se
estabelecia como o novo, a referência. O "sangue" do jornalismo
funciona como um rio rumo ao mar. No caminho, ao longo do tempo, recebe
interferências de seus afluentes, e também das condições geográficas do
trajeto. E nesta narrativa, um rio sem afluentes não sobrevive às crises hídricas.
A mutação que encontramos
atualmente nas redações é fruto do turbilhão tecnológico (que torna mais ágil o
acesso, produção e disponibilização de conteúdo), juntamente com a alteração do
modelo econômico (fôlego financeiro dos veículos). Percebemos a intensificação
de jornalistas nas assessorias de comunicação, o surgimento de veículos
segmentados (vários para cada assunto) e as tentativas de negociação financeira
de conteúdo.
Entretanto, as faculdades
entregam focas ao mercado e o mercado cada vez mais sufoca os profissionais.
Trocadilhos infames são instantâneos diante de uma realidade cada vez mais
clichê. Recentemente (janeiro) O jornal O Estado de Minas, promoveu um corte em
seu quadro de funcionários (11 jornalistas). A TV Bahia (março) mais 37 profissionais.
O Estadão (fevereiro) mais de 10. IstoÉ Gente é fechada e Editora Três demite
20% das redações. A conta pelo país só cresce; parece acompanhar a evolução das
demissões no setor industrial. Trata-se de uma questão econômica e
administrativa do país ou uma estrutura atrofiada dos veículos?
Muito se fala da estrutura das
narrativas (que tem se distanciado de um tal "puro sangue"), das
interferências causadas pelo repertório que se sobrepõe e o tempo de dedicação
que se esvai. No entanto, é preciso analisar todos os aspectos que compõem a
produção da narrativa. A infraestrutura (condições das redações) e a
psicológica (a relação entre pressão e produção, estresse, capacidade de
percepção, fôlego em apurar e narrar, dentre outros).
O contexto social pede outro
modelo de narrativa ou ele soterrou o modelo ideal de apurar e narrar, sem se
perder nas facilidades da modernidade e forca dos bolsos? Mas do que respostas
definitivas, o fazer jornalismo deve prezar pela continuidade, inquietude em
questionar e versatilidade em propor reflexões que podem ou não serem
respostas. Dessa forma, ao invés de cair no arcabouço político e empresarial, o
jornalista consegue tornar mais perceptível a essência de fatos polêmicos que
ganham apelidos de mensalão, petrolão, dossiê multicolorido, e tantos outros. A
busca pelo jornalismo puro sangue está em saber fazer uma transfusão
periodicamente, sem esquecer-se de também doar e às vezes até sangrar. A
interação social, a sobreposição de versões, percepções e tempo aprimoram o DNA
do jornalista (e do indivíduo) para a sobrevivência e não para ser uma obra de
Dali.