A verdade que nos aflige não cabe na narrativa de um fato. As
minúcias de uma apuração, que podem determinar o rumo das interpretações
subsequentes, não estão evidentes nas curtas linhas. Menos ainda nas fotos e
respectivas legendas. Quando os textos trazem declarações de autoridades então,
o pandemônio dos dados é assustador. Seja em cenários de crises ou durante
eleições, as declarações das fontes oficiais nem sempre contribuem para o
indivíduo estar informado, mas de modo recorrente atrofia a percepção pública
com elementos confusos, interferindo na narrativa.
Iniciativas como a do da organização argentina
"Chequeado" (Site que verifica a legitimidade dos discursos de
autoridades), estabelecem-se como mais uma estratégica para não absorvermos
"opiniões" traduzidas em informações pseudo-isentas. Em essência, o serviço prestado por eles é o modus
operandi que todo leitor deveria ter (principalmente e não somente, durante
eleições e posicionamentos oficiais): cruzar informações do discurso com
matérias já divulgadas e com dados disponíveis nos canais de transparência.
Cabe ao leitor, antes de confiar, buscar resquícios dos fatos e confrontar
versões. Sempre. Embora seja um processo cansativo (considerando o ritmo de
vida), é ainda o menos ineficiente.
Nesse percurso, o leitor perceberá como muitos conteúdos são
replicados em diversos veículos de comunicação. A ocorrência é tanto fruto do
compartilhamento (autorizado ou não) de conteúdo, quanto o resultado de uma
assessoria de imprensa com interferência em massa. Sobre o compartilhamento de
conteúdo, interessante o que aconteceu com jornais de seis países da Europa. Fizeram
parceria para promover a troca de conteúdo e pesquisas em comum entre
eles na denominada Aliança Europeia de Jornais Líderes (Leading European
Newspaper Alliance). Acredito ser uma estratégia interessante para otimizar
recursos (reduzir custos de produção), mas sua operacionalização não pode
engessar a narrativa em apenas uma direção. Funcionaria no Brasil tanto com
veículos pequenos quanto com os grandes? De forma quase que underground alguns repórteres
compartilham pautas, ou premissas de pautas e fontes, em um processo mais de
negociação de informações do que de enriquecimento de narrativa e redução de
custo de produção.
No universo paralelo, o Governo Federal insiste e nos
bastidores tenta afinar o argumento para estabelecer regras para o
funcionamento da mídia; a famigerada regulamentação da imprensa. Antes
de implantar uma ação de controle para promover a responsabilidade narrativa
aos veículos e interferir no que ainda há de liberdade, é importante consolidar
os dados emitidos em declarações oficiais e o objetivo específico das
respectivas atitudes. Não apenas disseminar informações e controlar o processo
de produção, mas essencialmente possibilitar rastreabilidade aos dados, para
que qualquer um possa verificar a legitimidade da informação de discursos de
fontes oficiais e a narrativa construída pela Imprensa.
Publicado também no Observatório da Imprensa - http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed842_disseminar_e_verificar
e o que não cabe no fio do olhar
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