terça-feira, 12 de abril de 2016

sensações

O vento sempre passa mais perto de você. Sorrateiro, ele conhece bem o encanto de suas curvas. A superfície de sua pele evoca o toque das mãos, os passos intensamente delicados dos lábios até chegar  aos teus. Suas palavras bem encaixadas, suas emoções encaixotadas, seus pensamentos distantes, perpassando entre os dedos de tantos, como borboletas em voo. Abstenho-me de conseguir qualquer feito que seja mais que seu sorriso, pois seu sorriso espontâneo revela a narrativa de seu corpo, de sua mente, de seu coração, diante dos encantos que a você são destinados. Fazer fluir seus sorrisos de uma boa palavra, uma bela flor, um verdadeiro gozo, um sabor especial, uma brisa, um caminhar de mãos dadas, um contemplar o luar compartilhado, o vislumbre do horizonte em tempos difíceis.

Vejo o pôr do sol. Sinto aquecer meu rosto. Fecho os olhos e imagino você ali. O corpo dobra sobre o móvel como uma flor se abre para o sol à medida em que a luz toca suas pétalas, ainda úmidas do orvalho. O momento marca profundamente sensações que acompanharão por toda a vida.

Os ponteiros espremem os passos. Você distraída em suas leituras desconexas, em suas notas de rodapé indecifráveis. Eu. Sentado à mesa para mais uma refeição. Para mais um momento a sós com minhas cicatrizes. Apenas quando olho no espelho vislumbro minha casa... Mas já nela não entro. Não sou bem-vindo. A língua livre. O corte de cada alimento, aumentando os pedaços, diminuindo nos tamanhos. A textura de cada fibra, o sabor de cada combinação. Bom mesmo é quando os abraços misturam os poros, mesclam os cheiros formulando um novo perfume. os lábios tocando seu rosto como um anúncio de querer mais. Os braços que apertam você como se não soltaria jamais, como se fosse o abraço da despedida, ou do reencontro. Quando acabar, lembre-se sempre de apagar as mensagens de seus poros, de sua memória, de seu futuro. Entretanto os ponteiros podem sucumbir aos passos e o futuro pode se tornar tão presente e tão forte.

Disse, mas não me deu ouvidos. Repito e não me deu um olhar. Fere-se a terra para colocar a semente. Decepa-se o caule para fazer a flor despertar um sorriso, estancar um choro. Deus criou um jardim e entregou uma flor para cada coração. Quem recebesse deveria cuidar, amar e valorizar. Alguns corações vislumbram a encantadora  flor que não receberam. De longe, tentam cuidar, amam e valorizam...

Ah, seu olhar transforma tudo o que toca, com cor e vida, tornando a paisagem um lugar mais aprazível, e o horizonte um mar de possibilidades.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

sopro

Assim como a brisa e o vento cortam sem ninguém ver; sangro e choro sem ninguém notar que meu sorriso é meu velório. Sucumbi ao labirinto do tempo diante de meus olhos, dentro de mim... e as linhas de Galeano embalam na noite meu sono:

"A ventania - Eduardo Galeano - Livro dos Abraços

Assovia o vento dentro de mim. Estou despido. Dono de nada, dono de ninguém, nem mesmo dono de minhas certezas, sou minha cara contra o vento, a contravento, e sou o vento que bate em minha cara."


Não sabia que existia negra rosa; tampouco que devastasse meu sossego esse sentimento, que me tira o fôlego fazendo me arrepiar, me da paz na madrugada ao tirar meu sono para me ninar. Eu ali no canto, na nota chamada silêncio, observo você, vislumbro os sonhos enquanto saboreio nuances da realidade.

Controle, é o que impuseram a ela. Atrofiada, lançou suas esperanças de felicidade em um recomeço do mesmo, em outro lugar. A poda pode tanto matar quanto fortalecer a planta.


Desconhecia a diversidade e beleza encantadora e peculiar da natureza do mesmo modo que não sabia dos seus efeitos sobre meus sentimentos ao longo do tempo. A maturação intensificou minha ridicularidade e pieguice nos versos, nos gestos, no gozo. Sou prisioneiro da liberdade de amar. Mas...

Aprisionado na leveza de escrever palavras que nem lidas serão e imaginar o nascer de um sol que não virá, não de olhos abertos, ele disfarça significados  no silêncio, ao som da chuva... Na esperança de que a vida continue surpreendente, mudando sempre até que ele se envolva finalmente no amor angelical...

O que há de liberdade na vida além das incertezas? Fora do alcance das amarras do cotidiano, a liberdade do desejo, dos sentimentos e sonhos estão um passo atrás do olhar, do lado de dentro dos olhos, vislumbrando pela vitrine a realidade que quer transformar. Mas romper a membrana para sair pode significar perder a visão, ou mudar as cores das coisas. E quem diz que tudo deve ser da mesma maneira? e quem pode garantir que perder a visão é não enxergar? Apura-se os sentidos, eleva-se a outra dimensão o relacionamento com o que é real, o que é belo, o que nos faz gozar.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Busca por um doodle


O conflito de gerações é um eterno ciclo que apenas aumenta (tal qual o universo), recebendo de tempos em tempos novos ingredientes junto às gerações que passam a integrar este ciclo. O comportamento social se renova do mesmo, mas em plataformas diferentes. Se bem ou mal, o que importa são os desdobramentos possíveis das narrativas estabelecidas.


Gerações intercalam argumentos no diálogo multifacetado na definição de relevâncias. A representatividade de um indivíduo ou acontecimento anteriormente era notória pelo seu registro em enciclopedias, placas e monumentos. Entretanto, desde o enraizamento do Google na rotina de todos os usuários da Internet (quantas vezes acessa o site por dia ou usa um dos serviços da empresa?), os doodles passaram a marcar datas, acontecimentos e indivíduos; lembrando as pessoas o que aprenderam de relance, ou ensinando e instigando buscas àqueles que desconhecem o homenageado do dia. Esta é uma maneira sutil de direcionar o comportamento de buscas e interferir no agenda setting  (Mccombs e Shaw e a teoria do Agendamento) ou um exercício de resgatar ao cotidiano a história da humanidade, os fatos representativos e até os mais os mais pitorescos? Mais do que a resposta, vale o que acontece quando surge um novo doodle. Comentários e conversas em redes sociais digitais, bem como matérias na imprensa (Geral e de nicho). Surgem lembranças e novos conhecimentos sobre algo do passado ou do presente, e quem sabe o vislumbre de um futuro; sempre com bom humor, criatividade e até mesmo inovação ao retratar em uma imagem o assunto escolhido.

Afora esta estratégia, que também fortalece a imagem da empresa, surge na mente de usuários da web, mesmo que de forma quase imperceptível, um novo indicador de representatividade: se já foi um doodle da Google, é importante; merece uma busca. Se antes, seres humanos, buscavam a confirmação de sua existência no outro que estava ao seu lado, com a famigerada globalização ele passou a buscar esta afirmação de existência e utilidade social não apenas na aldeia local e global, mas sim junto a um sistema da web. Se o Smartphone tornou-se a extensão do corpo e vida dos indivíduos (para trabalhar, movimentar finanças, para lazer e etc. Estar sem seu aparelho, ou sem sinal é entrar em estado de aflição e vulnerabilidade), o ranking do Google e do Youtube passaram a ser o indicador de relevância da contemporaneidade. Não é raro pessoas "darem um Google" no próprio nome para ver o que surge, o quão representativo é seu perfil. Se antes alguns queriam ser dignos de serem lembrados em livros, estar com sua marca em uma calçada, seu busto em praças, nomes de ruas, dentre outras formas; agora intuitivamente, os indivíduos querem sua representatividade atestada por um mecanismo de busca (não a biblioteca, onde a representatividade das buscas tem mais resultado acadêmico), com resultados diversos, bem linkados e elencados; e quem sabe atingir o topo: virar um doodle da Google.

A busca é iminente. Entre as respostas, utilidade e futilidade. Versos de porta de banheiro público já perpetuavam ditos populares. tudo o que sobre desce, se cuspir pra cima... Neste ínterim, vale pensar, o que você tem produzido, ou disponibilizado na nuvem, considerando que após um tempo condensando, pode cair irremediavelmente sobre sua cabeças e de outros?

Publicado também na minha página no Obvious  http://obviousmag.org/rumos/



terça-feira, 29 de dezembro de 2015

relance do espelho

Gerações se sobrepõem atrás de um perfil de satisfação e relacionamento eficaz entre poder e prazer. Aspectos seculares do ser humano repetem-se simulando evolução, confundindo pluralidade com vanguarda, travestindo o mesmo com nova roupagem e apresentando-o  como novo.

A sagacidade como busca dar conta de tudo (fluxo de informações e evoluções sociais e tecnológicas) fez com que a geração atual tropeçasse em situações simples, expondo assim sua fraqueza em lidar com a dor, frustração, e improvisação diante das adversidades. Por isso, resiliência se tornou ainda mais um diferencial na escala evolutiva da humanidade. De problemas domésticos, indisponibilidade de eletrônicos, até mesmo tarefas como cuidar da cria desde o nascimento tornaram-se entraves de uma geração de super-heróis e mulheres revolucionárias, de mercado. Falta equilíbrio, maturidade e menos preconceito. A desestabilização emocional dos homens (em eterna puberdade) e das mulheres (sem saber o que fazer ao sair da caverna) é tão evidente e patológica que tem sido tratada como algo comum na timeline da contemporaneidade.

Não sabem lidar com uma bomba de caixa d'água estragada, dias sem internet, momentos sem eletricidade, cuidar da roupa, da casa, da alimentação, cuidar de crianças, lidar com perfis profissionais divergentes,  administrar as finanças e a lista se expande a cada dia. A geração prefere delegar as atividades básicas operacionais e assim exercer seu poder de se entregar ao prazer de nada ter que fazer. Neste ínterim, escolhe a virtuose que lhe apraz, sem se preocupar com a "paisagem" mas apenas no seu momento de gozo nela. Entretanto, têm habilidade em terceirizar. Sabem pagar por serviços (inclusive de escolha) e produtos, para assim se preocuparem apenas com o foco de sua relação de interesse, poder e gozo.

O indivíduo precisa desaprender o que pensa ser e aprender a conviver em sociedade. Fala-se tanto em estabelecer limites, restringir acessos, bater ou não bater. Ninguém nos ensina a "ser social". (Não se trata de aprender a enquadrar uma selfie). O ser humano aprende a ser político na prática, absorvendo do meio a moral e determinando seus próprios valores. Com parâmetros intuitivos, ou referenciados via agenda setting, o indivíduo navega sem leme. As corporações e instituições professam conceitos emblemáticos (ética, compliance, segurança, qualidade de vida, responsabilidade social, sustentabilidade, investimento social privado, e etc.) que são os mesmos de outros tempos, mas agora com outra roupagem. A falta de atitude transformadora infelizmente também; alimentando assim a crítica, textos em perspectivas, as reflexões, bem como a demanda por mudanças. Neste cenário a resiliência brilha nos olhos de quem a tem.

Os produtos culturais encontrados transitam em reboots, remontagens, refilmagens e pouco de um olhar diferenciado que instiga o espectador, a plateia, a se re-ver como personagem com voz (nem que seja narrativa) e potencial de interferência na paisagem que por muito tempo apenas contempla, se torna (e se coloca como) vítima e algoz.

... publicado também em: http://obviousmag.org/rumos/2015/12/relance-do-espelho.html

sábado, 28 de novembro de 2015

Esse olhar


 

 

O rito da legitimidade das mensagens sofre pressão da diversidade dos meios e plataformas de comunicação. Os trâmites essenciais do processo de construção e disseminação de mensagens exigem agora não apenas habilidade para atuar em multimeios em tempo hábil (imediato), mas fundamentalmente em desacelerar um pouco a avalanche comunicacional e trabalhar a percepção sobre o que se quer dizer, a mensagem construída, as partes envolvidas, os repertórios destas partes (para tentar compreender a dinâmica de percepção), os desdobramentos de interpretação da mensagem e relacionamento com o processo de comunicação; tudo isso de forma perene e integrada à questão do tempo na contemporaneidade.

“A comunicação é a vítima desse progresso e é preciso desacelerar e realizar autorreflexão sobre ela”, com sabedoria se posiciona Dominique Wolton em entrevista à Comunicação Empresarial (Ed 95 - ABERJE 2015). Dentre os aspectos pertinentes a essa autorreflexão, na busca pela famigerada legitimidade, estão a linguagem, a percepção, o ritmo e os limites.

Após definir a mensagem e o público, é necessário refletir sobre a linguagem a ser estabelecida na narrativa, seu formato, plataforma e peculiaridades. Atentar ao ritmo de transmissão de mensagem e os limites de desdobramento (esses praticamente inexistentes). A partir disso, deve-se observar e até mesmo (resguardando a distância de observação do outro de Clifford Gertz) interagir com a percepção do outro para assim aperfeiçoar o processo de comunicação, redefinindo os ritmos da narrativa (incluindo a linguagem), limites de reverberação do conteúdo e a legitimidade de suas interpretações (atrelando vínculo com a fonte oficial do conteúdo).

O tempo inevitavelmente passa e isso não deve ser angustiante, mas argumento e espaço ideal para transformações e aperfeiçoamento, não em busca de perfeição, mas da perenidade do processo de comunicação, possibilitando inquietude, questionamento, diálogo, consenso e a liberdade de pensar e conviver. Neste sentido, o passar do tempo incita-nos a trabalhar esse olhar; esse olhar a realidade, olhar os sentimentos, espaços, pessoas e sentidos e assim narrar (em gestos e palavras) nossa experiência enquanto organismo vivo em interação social.

 


Esse seu olhar trincado, esse órgão fustigado pelo que pensa ser realidade. Suas palavras cheias de significados e escassas de sentidos tornam todo jardim um labirinto, onde os pés se ocupam com espinhos e a mente se liberta com os pássaros.







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terça-feira, 27 de outubro de 2015

espaços sentidos



A intensidade dos fluxos contemporâneos evoca reflexão. Metal, plástico, palavras e concreto armado sobre cabeças, sob pés. Recursos humanos e naturais na luta por um futuro aprazível. Cidades atrofiadas, campos mal utilizados. A sociedade tropeça em sua essência na busca por uma sustentável leveza de ser.

Pensar o querer geral e ser racional de Immanuel Kant e também perceber a relação dos seres com os espaços a partir do interesse e suas vertentes diversas. Os indivíduos com objetivos específicos, interesses pessoais se tornam seres sociais. Os seres sociais buscam estabelecer um ordenamento embasado no interesse coletivo. Todavia, o interesse coletivo é por muitas vezes uma roupagem aceitável do Interesse Dominante. Ou seja, um indivíduo articula seu interesse pessoal de forma a viabilizá-lo como o interesse de um ser social com potencial de se transformar em interesse coletivo. Por persuasão, submissão ou identificação para alcançar fins pessoais, outros seres sociais tornam-se adeptos do interesse proposto tornando-o Coletivo. Quando analisado em profundidade, este interesse nada mais é do que o interesse dominante não de um grupo, mas de um ser com poder articulador às vezes imperceptível em sua ação, mas evidente em suas consequências.

O significado de um espaço vai além de sua finalidade. O que um espaço representa para o grupo social e para um indivíduo diz menos sobre a estrutura e mais sobre quem com ele se relaciona. Inspiramos e expiramos sentimentos e sentidos, atribuindo significado às pessoas e espaços com os quais nos relacionamos com o passar do tempo. Neste sentido, quando passamos novamente por um local, é como se passássemos os olhos em um hipertexto construído essencialmente com partes de nós. Os links (de nossas experiências, mecânicas, orgânicas, superficiais ou não com aquele lugar) despertam novos olhares ou antigas sensações. Para isso, o tempo é quem determina o grau de envolvimento no momento da releitura dos espaços. Tempo de exposição, tempo de disponibilidade, tempo da lembrança e da memória. E a maneira como acessamos esses links interfere na dinâmica constituição do nosso caráter e na determinação das escolhas do presente.

A partir deste olhar, podemos conceber os espaços também como organismos vivos, erguidos e sustentados na multiplicidade de ser. A relação com ele vai além da simplicidade de definir se é público ou privado. Na dimensão de nosso relacionamento com ele, ora concebemos o espaço como privado (nossas percepções, sentidos, interesses e significados) e como público (finalidade operacional, interesse coletivo ou estrutural do local). Um local carrega em si apenas sua matéria estrutural ou também guarda os significados que os indivíduos a ele atribuem? Os significados estão em nós e são disseminados pela linguagem que utilizamos para representar os espaços? Refletir sobre esses aspectos pode contribuir para uma madura percepção dos indivíduos quanto à organização social, bem como a construção, uso e ocupação dos espaços. Trata-se de um vislumbre de um horizonte onde existam comportamentos além de La Belle Verte (filme de Coline Serreau - 1996). Talvez dessa forma, a famigerada sustentabilidade possa deixar de ser discurso e se consolidar como um retrato da vanguarda. Esta última materializada a partir de um novo olhar sobre organização espacial e suas possibilidades diante da demanda humana por subsistir e evoluir.

Publicado também na minha página em:
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sábado, 3 de outubro de 2015

sabor


Boquiaberta lembrança de uma degustação simples, porém crucial para continuar vivo e não apenas respirando. Se o amor se escondesse em um sabor, talvez seria chocolate ou creme de amêndoas. Pertencer ao sabor à medida que a língua se envolve, e a saliva inunda de desejo a boca. Pertencer ao sabor que não cabe em palavras; espressões do que realmente somos, sentimentos e sensações desdobradas em um suspiro, um gemido. Se são seus lábios ou se é um brigadeiro tradicional, ou de café, cabe à mente ditar ao coração o sabor que a língua sente.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Conflitos Corporativos



As estratégias e as diretrizes para identificar, conhecer e tratar os conflitos sociais que afetam o ambiente corporativo são várias, no entanto, enquanto empresas e instituições buscam por receitas para padronizar ações de tratativas (na maioria das vezes alicerçadas no viés jurídico), os conflitos passam constantemente por mutação não em sua essência, mas na forma de se hospedar e interferir no cotidiano.

Neste sentido, na busca por resguardar o patrimônio, não vale mais aquela máxima do "abafar o caso", extirpar com ações agressivas o assunto e sua reverberação na tentativa de silenciar e não tratar o conflito em suas causas.
A premissa básica para a gestão de conflitos é ter técnicas definidas para Identificar, lidar e minimizar a situação. Neste sentido, é fundamental considerar os aspectos de Intensidade / Características / Contexto; Metodologia, Mensuração e monitoramento (de aspectos e impactos).

É fundamental compreender o universo do conflito. Seguindo uma visão de paisagem, é necessário observar o todo e os detalhes, interrelacionando-os, compondo assim a paisagem. Dentre os aspectos relevantes estão:

- Identidade Cultural dos envolvidos

- Vocação Socioeconômica da região e dos envolvidos

- Perfil de financiamento das ações e grupos de conflito

- Interesse da iniciativa privada (geral e local)

- Interesse / tendência do Poder Público (Estado / Município)

- Perfil político da sociedade civil (comportamento)

- Demanda legítima da sociedade (quais são)

- Apetite a risco dos atores envolvidos no conflito (Ações Admitidas e Custo das ações)

Quando os conflitos entre comunidades e instituições estiverem amparados em uma demanda social legítima, as soluções efetivas deverão contemplar o envolvimento da Instituição com os problemas  estruturais da sociedade e para isso é fundamental estabelecer diretriz específica para o assunto.

No manejo do apetite a risco das instituições é necessário lucidez na execução dos planos de ação. Quando acontecer, a internalização de custos ambientais e sociais deve seguir um planejamento estratégico que não comprometa a rentabilidade do empreendimento, por mais que interfira no Plano de Negócios da instituição.

A diversidade cultural que compõe cada indivíduo é premissa para a oscilação entre harmonia e conflito em diversas esferas. Trata-se de uma dinâmica que começa em si (o indivíduo consigo) e expande à medida que ele se sociabiliza. Na interação entre sociedade civil organizada e iniciativa privada, a dinâmica (harmonia x conflito) é potencializada pelos interesses e necessidades de todos os envolvidos. Desta forma, mesmo que tenha impacto pontual, restrito e localizado, um conflito nunca deverá ser abordado de forma simplista. Mesmo que ele possa ser resolvido por ações simples, é necessário compreender e se integrar à complexidade que o envolve e os possíveis desdobramentos.
 
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segunda-feira, 21 de setembro de 2015

traço

O caminho do traço revela nuances de uma face que há muito tempo o espelho não via. Espasmos de sentimentos silenciados sobressaem sobre as flores sob os raios solares. O jardim é o texto, as pegadas o rastro de uma escrita de amor e cumplicidade.
 
Sua face rompe a brisa com uma interrogação. Seu silêncio deixa escapar as reticências... Sublime silhueta do desespero. Sua presença é o agravo das impossibilidades, mas é bela de uma forma limpa, distante. Admirável é sua face rompendo o ar, perfumando meios olhos, dissipando o perfume da solidão. O desdém se estabelece como propulsor de atitudes de conquista ou de estrangulamento. Você balbucia o precipício sem perceber que apenas repete o eco, luz de uma estrela morta. Assim a narrativa, como um rio, muda seu curso.

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O laço é a rima
o traço corrompe o branco e com o risco purifica a vista,
 delineia meus sonhos no silêncio.
O desfecho no texto que não lido se foi,
sobraram rosas e perfume.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

pontuação;


Quanto mais meios, mais fins. Argumentos, desabafos e narrativas do porvir. Entre imagens que gritam e textos que silenciam: a vanguarda é o insistente "nunca será" que ecoa entre nós.

Assimilação é o diferencial de mercado. Todos produzem todos consomem. Quantos assimilam? Narrativas pulsam onde quer que o cidadão se volte. Sob este aspecto, tudo nos é novo e acessível, mas não necessariamente necessário. Ao se perder em acessar tudo quanto se pode, o cidadão fica na superfície de tudo, ao invés de mergulhar em algo que faça para ele alguma diferença, nem que seja nele mesmo.

O indivíduo que conseguir selecionar e organizar (cada um com seu senso e método)as narrativas que consome e produz, e posteriormente assimila o que é, a partir do que consome, interage e cria, então ocupará (às vezes sem perceber) um lugar especial na organização social, pois seu potencial de interferência no grupo social será mais apurado, uma etapa à frente do automatismo reinante.  Além disso, ele terá uma percepção mais intensa sobre suas experiências e sobre as perspectivas da vida.

A ruptura de tudo aquilo que se esconde corrói nossa alma de forma a contaminar a paisagem com nosso olhar. Isso é o que se propõe mas, inalterado, o ambiente é sutilmente acrescido de sentidos que passam desapercebido. Reféns; de nossos semelhantes, de nossas escolhas e pensamentos. Ninguém há de libertar ninguém. A hipocrisia impera até mesmo na face daqueles altruístas afogados em compaixão. Bandeiraram o Cristo ao invés de vivê-lo. Fazem com uma mão e divulgam com todo o corpo. Pintam arco-íris de ideologias, professam uma tradicional família e massacram valores básicos ao pé do ouvido.

Rompeu o solo a raiz que me sangra. As palavras saem nuas, sem sentido algum alfaiatado. Com suas formas espontâneas e inocentes, suas arestas e seu suor. Já não caibo mais nos clichês que tanto me alimentaram. Narrativas me encantam pela manhã e me conduzem para cama a noite. Quando a amargura entorpece ao coração, cabe à língua dar ou não vazão. E quando o refrigério vem, como um momento de gravidade, você hesita em sobrepor mãos; pois os lábios ressecam, tosse, a pupila dilata naquele quarto escuro; e a tela que brilha fustiga o tempo lá fora. A liberdade que expande e que nos aprisiona, tudo é tão simples e intenso.

Eu não voltei a escrever, pois não consigo respirar. Nunca parei de inspirar e pirar expiração enquanto não conseguem ler. Todos enxergam as frases, sem perceber o que o texto é. Gentileza é poesia, muito mais que verso. E a fé, a fortaleza que nos faz perceber o brilho e o sabor da vida que nos rodeia, que nos entrega e integra. Cansado, com uma paz que não cabe, com os dias que a guiar não veio. Ah, guiar não veio. Nunca virá.

A dimensão do não ser. Tudo está nas nuvens, a internet é o Big Brother (de Arthur Blair) e a grande biblioteca (o backup de nossa arrogância), mas quando chove não encontro mais a gota que eu evaporei. Doce tempo, amargas minhas lembranças de um futuro tão terno. Não há esboço para você e pra mim. Simples assim. Qual é o nosso traço? O que podemos assimilar?

O animal que sou nesse zoológico de trocadilhos. O termo que sou no texto que não escrevo. O tropeço e a pedra no clichê do poeta, no traço no muro, na rima no silêncio.

Tenho sede de paisagens. Tenho sede das suas paisagens, completou o menino que permanece calado.
E o quanto se assimila pode ser o que distancia a mensagem do meio; o significado do indivíduo.
A vírgula me para, o tempo me volta...

Veja também: http://obviousmag.org/rumos/