Lanço-me
leitura em braile
as ranhuras de teus lábios
com a língua.
Delineio teu corpo
com a boca,
aquecer teus vales
fazer florir orquídeas
exalar o perfume dos lírios
entrelaçar palavras
formando frases multifacetadas
de uma mesma narrativa
desenhar uma paisagem leve
sonhos encaixados à realidade
contemplação e tempo
que passa e leva-nos
nus
sós
...
sexta-feira, 29 de julho de 2016
quarta-feira, 20 de julho de 2016
Beija-flor
O clichê flor e beija-flor, a rima que atravessa poemas, fábulas e fotografias. Canções e emoções estruturadas no gesto natural de retirar da flor o néctar, deixar nela pouco de si (saliva) e prosseguir em um livre voo de precisão. A harmonia das asas no ritmo dos pensamentos; o tempo que transcorre as dimensões de um observador, de um semelhante, de si mesmo refletido no espelho d'água.
Suas aparições quase que sincronizadas. Seus olhares quase coincidências, evidências de uma harmonia que precede nossa percepção, nossa intenção e sentimento. A flor, com a textura de suas pétalas, os contornos de seus órgãos, a intensidade de seu perfume, a composição de seu encanto. O vento mensageiro indica a localização, o beija-flor encontra, reencontra e leva na sua liberdade o que o alimenta; o que o faz ser especialmente único; para ela, para si.
Seu voo tem pausas como as mais belas canções. Seu canto encanta pela sutileza. A presença dele em um jardim traz paz e admiriação. Se borboletas são flores com asas, o beija-flor se faz um poema em movimento, no jardim do secreto imaginário de cada um.
Semelhante a tantos; às vezes sinto falta de um tempo. Um tempo em que a brisa fazia mais efeito do que sentido. Muitos se sentem como Léolo, ou seu irmão. Assim é a vida tal como o tempo; ora imponente, ora sutil. Hora que passa, séculos que se sobrepõem, minutos sorrateiros, segundos que não cabem o sentimento que implode no peito.
quinta-feira, 14 de julho de 2016
Espório
Não percebia o peso das frases lançadas, pois o som no ambiente a fazia sentir o tempo em uma cadência especial. Era como se ela tivesse encontrado um espaço entre as membranas da realidade, onde a sanidade não a podia alcançar, tampouco os devaneios de um coração inquieto. E todo trapo, todo guardanapo com poemas e sorrisos virou uma canção de ninar, que toca intermitentemente durante o dia e na sublime madrugada.
Seus clichês caminhavam silenciosamente pelos becos de cidades históricas, pelas ruas movimentadas de seres impessoais, por trilhas que desaguavam no sossego e por rugas de sua infância. Atordoada pelas peculiaridades do ser humano, ela não se preocupava mais com as perguntas, ou com as respostas. Apenas se concentrava em como as reticências poderiam mudar sua vida. Mudança é algo constante, até mesmo no tédio. Entretanto, mudança não era o que cativava seus suspiros. As repetições das relações e passos humanos. Os ciclos não a perturbavam. Ela estava fascinada pela sutileza das flores; pela textura das pétalas, o contorno, o sabor do aroma e o potencial de encantamento.
Ela estava inerte na realidade. Como se encontrasse um lugar especial entremeio a tudo, interligado, intocável. Em um momento em que buscava nada, nem compreensão, nem paixão, nem dor ou gozo.
Era injusto ela não ter um abraço e um colo para ser recebida. Pior ainda era não se sentir bem no colo e braços que possuía. Ser ingenuamente meiga e espontaneamente cruel era sua credencial do amor.
quinta-feira, 7 de julho de 2016
ritmo
Sãos os passos, não as pegadas, que carregam um pouco do que somos. À beira do desfiladeiro, as pegadas dizem que irei voar, os passos fazem-me contornar as nuances do abismo, ouvindo o eco, sentindo a brisa insinuar a impossibilidade, tentar me empurrar ao eterno retorno das pegadas; mas não me pertence a volta, nem o voo, pois estou imerso nos rumos, sou refém e algoz dos passos. Meu corpo pulsa meu desejo de sucumbir às mazelas humanas e em ser o melhor de mim para os outros.
É a terra entre meus dedos; sinto a textura do chão e a
temperatura do solo que não me aceita como semente, que me repele e impulsiona
a caminhar. E essa caminhada me liberta e aprisiona aos passos.
quarta-feira, 22 de junho de 2016
caminhos e percalços
Os raios de sol iluminam o rosto em uma manhã fria. O chão recebe passos que instintivamente caminham até a K-pax peculiarmente particular de cada um. Lugar onde pode-se entregar ao aconchego de se resguardar e até mesmo enfrentar as próprias aflições sem interferir no ambiente ao redor, fora de si. Entretanto a interação é inevitável, pois quando um corpo ocupa um espaço, ele o altera, mesmo que sutilmente.
Sensações delineiam as expectativas desde o início do dia. A liberdade de puxar o ar fresco da manhã o faz sentir vivo como um pássaro. O voar não lhe é um fardo, tampouco o gorjear sua sina e o semear uma prisão. As asas que perpassam o vento, dedilham no ar os sonhos mais tênues de um tempo que ainda não foi registrado. Ele beija a flor que o encanta.
Na construção da respectiva trajetória, perpassamos os fluxos dos outros, interferindo mesmo quando passamos por despercebidos. Andarilhos de interligações de um labirinto de fim desconhecido, nos movimentamos. Idas e voltas, transgressões de paredes, descoberta de novos corredores e sempre a mesma ideia de destino. Observando os caminhantes, percebemos o quanto somos, iguais, semelhantes, diferentes, únicos. Seja em um ponto de ônibus, na rua, ou escritório. Todos juntos em um espaço, todavia separados por infinitos. A mente em espaço e tempo diferentes, cada uma com a trilha sonora que lhe apraz. A interação de silêncios e de olhares vagos enquanto aguardam um certo agora, a próxima deixa.
Os fones de ouvido podem até agredir o tímpano e os cílios da cóclea, mas eles também nos protegem. Nos exime de interações indesejadas no cotidiano, nos protege enquanto sonhamos acordados com sonhos difíceis, mas não impossíveis (depende do tempo e do passo), nos abstém de ouvir argumentos que ferem ou que provocam repulsa; permitem trilha sonora instantânea nos simples momentos do dia a dia. De certa forma, são instrumentos de paz e de guerra, prisão e liberdade.
Vermelha*, esta noite a lua sangrou meus lamentos, minhas palavras silenciadas, meu choro estancado; e desdenhou do amor pujante de meu coração, latente em minha alma. Brilhante, ela iluminou o orvalho com a esperança de inquietude e caminhos diferentes.
*Lua de Morango, a cheia de Junho.
...
terça-feira, 21 de junho de 2016
esses tais mapas
Época do Aniversário da morte de C. Jung. Renovam-se discussões,
argumentos e conflitos sobre arranjos da psiquê; a desafiadora cartografia
mental. Todos têm a facilidade de tentar interpretar e inferir no mapa à sua
frente, mas fracassam na observância e manejo do próprio mapa. Há quem
mistifique as relações entre realidade, percepção e ação/manifestação, há quem
tente tornar raso e não razoável o entendimento sobre as nuances da identidade
humana. O tormento da Fé, quando a razão não cabe no momento, dominado pela
rima, conduzido pelo que se sente. A razão que não cabe no movimento.
Assustador, o contemporâneo seduz com agilidade e
superficialidade a nossa aptidão por preguiça em perceber e conceber as diversas
relações e respectivos desdobramentos da realidade. Uma realidade que se
apresenta em hiperlinks, em rede. A rede nos aprisiona ao revelar nossos
limites de transitoriedade e assimilação do todo a partir das partes e suas
conexões com a rede (realidade). Lemos apenas o rótulo dos produtos socioculturais, diante do esforço em coexistir e compreender, nos entregamos a automatismos que alimentam os fluxos sociais.
Neste ínterim, a busca por consolidação de pilares como referência de
interpretação da realidade e do que se passa em termos de significado e
significante na mente do indivíduo é algo que atravanca a reflexão, uma vez que
as pessoas se atêm às fontes e não ao conteúdo. Estacionam a argumentação e os
conflitos em determinar as fontes oficiais (Carl ou Sigmund? Dentre outros embates), os argumentos da verdade, e assim
gastam energia em aspectos periféricos, enquanto o epicentro da identidade
humana e reverberações subsequentes não recebem a mesma atenção.
Assim, acredito ser interessante ir além do eco à beira do abismo e da imagem no espelho. As interfaces de nossa identidade devem ser vivenciadas e questionadas considerando os parâmetros do tempo, da significação coletiva, da absorção individual, da constituição do sistema de relevância de cada um e suas diversas interações no sistema social. "Navegar é preciso. Viver não é preciso [...] Viver não é necessário; o que é necessário é criar.", Fernando Pessoa.
segunda-feira, 30 de maio de 2016
Bias tão nossas
Tantas são elas, que controlam nosso corpo, delineiam no
horizonte o alcance de nossos braços, o ritmo dos passos e a ousadia dos olhares.
Fazem morada no indivíduo a ponto de se confundir com a identidade de quem as
possui, ou por elas são possuídos. Entrelaçados a elas buscamos aprimorar o reflexo
do espelho sem nos ferir gravemente com os cacos. Bias, tão nossas. Bias nada
fofas que dão medo "Medo que dá medo do medo que dá".
As ruas e noticiários têm sido pautados pelas nossas fobias. Lampejos
de virtudes, de harmonização social até incitam certo frescor no olhar, mas, no
entanto, nossas fobias nos pautam. Seria bom se fosse para refletirmos sobre
como vivenciar e transpor as intempéries das fobias; mas o que vemos é o
registro das consequências de medos maturados em seres despreparados. Pessoas
queimadas, corpos mutilados, redes sociais congestionadas, diálogos
violentados, matriz energética estagnada, ciclistas, motociclistas, pedestres e
motoristas em vias de guerra, guerra urbana, umbigos gritam em palanques,
cidadania encarcerada, relacionamentos dilacerados por um utópico e cruel bem
comum, que não vem.
Percebemos a fobia como a expressiva materialização da
angústia de um medo; vemos o empoderamento de uma castração psicológica que
porventura pode estar em segundo plano na mente do indivíduo, mas que é base
para as atitudes quase que automáticas; com consequências que transformam não
apenas a identidade e caráter de seu possuidor, mas que reverberam no ambiente e
em seu respectivo equilíbrio.
As atitudes provindas delas são recorrentemente um instinto
de autopreservação que muitas vezes gera agressão ao próximo. Esse medo de que
sua identidade e seus valores percam espaço na organização social, de forma a
ter supostamente corrompidas suas virtudes, diminuídas suas articulações
políticas e sociais, faz com que o indivíduo rejeite a diferença, obstrua o
caminho da diversidade, e levante o estandarte de uma moderna inquisição, onde
a intolerância grita e pune contra o outro, contra o plural. Mas a existência
do diferente não pressupõe que seja soterrado ou exterminado o outro, na
verdade se trata de uma flexibilização de perspectivas. Há espaço e tempo para
todos.
"Tienen miedo del amor y no saber amar / Tienen miedo de
la sombra y miedo de la luz / Tienen miedo de pedir y miedo de callar / Miedo
que da miedo del miedo que da (Miedo - Lenine - composição: Pedro
Guerra/Lenine/Robney Assis)"
Dalgalarrondo (2006 - apud Mira y López 1964) apresenta o
medo como uma alteração dos aspectos emocionais que desencadeia em escalas até
a sua inativação, tomando determinada proporção até que o indivíduo alcance estabilidade.
Essa leitura concebe seis fases de acordo com a intensidade e abrangência: 1.
Prudência; 2. Cautela; 3. Alarme; 4. Ansiedade; 5. Pânico (medo intenso); 6.
Terror (medo intensíssimo). Sendo assim, as fobias podem ser encaradas como medos
exorbitantes, descomunais, desproporcionais, atrofiadores. O contato com o
objeto de fobia estabelece crise, com profunda inquietação e ansiedade por
parte de quem possui a fobia. Neste instante de pânico não há lugar para a
razão e sobriedade, mas apenas o raciocínio lógico de se livrar do objeto da
fobia, seja impondo distância, fugindo, ou agredindo, tentando extirpar da
existência. Neste sentido, é possível estabelecer uma relação preliminar: Fobia
– Julgamento (da situação) – Punição (do objeto que causa fobia). Essa punição
é materializada na intolerância.
A matéria de capa da Revista Puc Minas (Intolerância – Profunda reflexão sobre atitudes hostis e desrespeitosas
que têm marcado o mundo contemporâneo. Ed 13 – 2016) apresenta de maneira
contundente como “nossas bias” têm interferido na sociedade por meio de uma
intolerância enraizada, que abrange aspectos religiosos, políticos, sexuais e
raciais. Intolerância essa verificada em gestos, em vocabulários, conceitos
visuais, e ordenamento social, estabelecendo-se como fator cultural. No contra-fluxo
das atrocidades humanas está o processo de renúncia e denúncia. Denúncia por
meio de multiplataformas (oficiais ou não) e renúncia (por meio de movimentos
de contracultura) a um padrão de comportamento que só nos distancia do
famigerado mundo melhor.
O que seu medo te impulsiona? No que ele te castra? Como ele
torneia sua personalidade? Medo ou fobia de insetos, de situações, de ambientes,
de sensações, de cheiros, materiais, de sons e até mesmo de sabores. Uma breve
pesquisa na internet e você encontra listas de fobias (cada um que até impressiona
existir). Contudo, assustador é observar e presenciar como os desdobramentos do
medo da diferença, o medo de não controlar e sim ser parte integrante de um
grupo social, traçam a realidade. Desdobramentos que podemos resumir em fobia
de pessoas. Homofobia, Heterofobia, Transfobia, Politicofobia e polifobias
possíveis. Bias traiçoeiras, desde o modo como se instalam na sociedade, até a
estratégia de disseminação e ideais para contaminação de novos adeptos. Que as
fobias recorrentemente trabalhadas no agenda
setting possam nos provocar a uma efetiva melhoria, a partir de pensamentos
consonantes para aceitação do plural, contribuindo para uma evolução continuada
do modo de perceber a vida e se integrar à paisagem, relacionando uns com os
outros sem se perder em utopias, mais ainda assim permitindo sonhos que
libertem-nos das bias e elas de nós.
Publicado também em: http://obviousmag.org/rumos/2016/05/bias-tao-nossas.html
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segunda-feira, 23 de maio de 2016
Entrelaços
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Entre os homens lealdade é uma moeda de troca; simpatia é o forro da mesa onde esperanças são estraçalhadas. O mercado de trabalho é voraz. Desassossego. As mentiras despencam silenciosamente, apenas com um suave assovio. Resíduos no chão tornam o caminhar cuidadoso, para não tropeçar, para não perfurar os pés. O impacto assola a alma, entretanto, mantém esteticamente sadias as relações humanas. That’s life Blue Eyes; again. O Ego rege os homens com o chicote da competição, as esporas da vaidade, o chapéu do sucesso (levado pelo vento forte).
Entremeio a variedade de discursos, interpretações de ideias e relatos de acontecimentos, sempre existem aqueles que fazem jus à finalidade de sua produção. Encontrá-los é um desafio cada vez maior. Relatos. O umbigo fala. Todos. Corrompemos o bom silêncio. Tornamos ébrias as palavras. O clichê é verdadeiro. Os questionamentos movimentam a sociedade, aperfeiçoa. Questionar é inquietar-se, manter acesa a chama. Todavia, qual o combustível? Há fogo em sarça que não se consome. Eterno.
Entre tremores, temores e reflexões. Rosas e algodão. A espinha dorsal permeia algo. Ser tocado pela leveza dos significados, significantes e coisas. Independente das pessoas e das lagartas. O som do bater de asas de borboletas cravadas na pele. Embora muitas vezes “a razão” seja um pingente utilizado ao pescoço e visualizado por nós pelo espelho, hoje um salto de roupa na piscina é o suspiro da sanidade. “A Roseira já deu rosa, e a rosa que ganhei...”.
Sabes o homem o que ele deseja. Entretanto vive ele com o que escolheu ou com o que aceitou? Com sentimentos que ultrapassam o tempo, duração e lógica persisto por não saber ser outro senão este que se alimenta do que é. Sensibilidade e certa ingenuidade, outrora crueldade. Apenas mais um tijolo no muro, ou na fundação de uma ponte.
Impressiona como a constatação de um instante nos faz compreender os ciclos. A alternância do compasso de cada um em seus ciclos (amorosos, profissionais, existenciais) é o que desenha a paisagem contemporânea de desejos, relações, encontros e colisões. Todos estamos inseridos em ciclos. Seja enquanto ser social, integrado a um sistema de relacionamento coletivo ou enquanto indivíduo, em seu aspecto peculiar e introspectivo. Buscar compreender o compasso de nossos ciclos e as possibilidades de movimentos e harmonização pode apurar melhor o nosso vivenciar. A maneira como atingimos o apogeu (em um ciclo) de um sentimento, de um sonho, de uma esperança, determina como serão dilacerados os olhares de quem ama (não de quem é amado).
Fustigado por ter de aceitar uma lógica que me deixa com partes sobrando, sem encaixe, percebo-me mutilado e não lapidado. Pode-se perceber parte da sensibilidade se ressecar, formando uma crosta de palavras das quais desconheço o significado e os efeitos, apenas as sensações e sentimentos que lanço sobre elas. Essa nova camada torna-se a base dos argumentos do ser que se integra à sociedade dos choques de ombros e fluxos de mensagens. Contudo o indivíduo permanece indivisível.
Entrelaçado, o poema se expande, se integra e se confunde com os passos pela realidade, ameniza os percalços de um entorno de leitura fria, de corações de batimentos rasos, e lábios de algozes apáticos. Resignado em um silêncio que não grita, mas sobretudo canta, o ser contínua vivo, pujante dentro de um instante que é perene.
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sexta-feira, 13 de maio de 2016
rsrsrsrsrsrss
Desde a primeira vista, algo aconteceu .... será que entendi errado?
Visualiza e ignora. Olha altivo e ignora. Quando sua risada desce como ácido sobre mim, não reconheço seu rosto; não sei quem vive em meu reflexo. Mesmo tendo firme as volúveis convicções, sou soterrado por palavras que nem ao menos fazem algum sentido. São estruturas ocas de um suspiro transviado. Exposto, parece que entendi errado. Será? Intenso, implodi no silêncio o gesto. O controverso sabor amargo me encanta, fascina e me atordoa. O dissabor de uma constatação, o golpe de uma frase encaixada onde não deveria estar. Arestas que arranham os sonhos deixando-os fustigados, sangrando esperança em um dia tão lindo, em que as cores parecem cantar a quem por elas passa. O tempo passa; ao passo do tempo as perspectivas se alternam. Mãos dadas no horizonte a envelhecer. Dadas mãos juntas a aquecer mais do que lembranças.
A fria tela de um celular, tv ou tablet não se compara ao frescor da madrugada que recebe meus sonhos... o toque suave do lençol sobre seu corpo tampouco se assemelha à textura do encontro de nossos poros entremeio ao toque do lençol sob nossos corpos. Sonho intenso que além de perfume traz as flores, pétalas, espinhos e continuidade, na cumplicidade de sentir renovar o sentimento que nos alimenta o olhar. A respiração que busca ar em seu ritmo de querer mais. os cabelos, as curvas, os encaixes e suspiros.O seu contorcer, o tremor que percorre suas planícies, planaltos e vales... ser lida como merece, sempre e não apenas em um instante. Toda vez que leio seus rsrsrsrs imagino o canto de sua boca receber um doce sorriso faceiro. Daqueles que escondem mais do que revelam. Daqueles que revelam sentimentos e sensações, seus pensamentos mais íntimos, particulares. Aquele faceiro sorriso que manda na brisa sua impressão de um mundo inteiro. Traduções que penso nunca obter, essas dos seus sorrisos de canto de boca, a me encantar além da rima, a delinear um divino sentimento.
Sentado ao seu lado, podia desfrutar da pele viva e linda, do olhar de entrega, da doce voz, das frases bem elaboradas, dos argumentos interessantes, dos anseios e olhares sobre a vida, do sorriso que me castiga ao dominar minhas reações. Percebo-me de volta aos primórdios, à primeira infância, na fase oral, com vontade de morder, de gravar-me em você. Vontade de sentir suas unhas cravarem em minhas costas o elixir da humanidade. Esse sentimento quase antropofágico representa a entrega, desejo, paixão, manifestada em um gesto primário de se integrar ao desejado. Esse integrar-se inspira o amor que poucos experimentam.
“Se ‘você é tão café’ é um elogio; ‘você é tão cappuccino’ chega a ser indecente. Imagina com chantilly e raspas de chocolate meio amargo” E Deus rege o tempo, nos tempera, nos prepara, nos ensina.
Imagina uma pêra. Madura, suculenta. Lábios se aproximam, respiração muda, boca entreaberta revela os dentes, o prenúncio de uma mordida. Dentes a cravar na pêra que sucumbe seu delicioso caldo entre os lábios que a devoram com intensidade, com entrega. A respiração levemente quente entre teus vales, a boca que flerta com o oásis que sem saber já pressente que está prestes a jorrar, e o corpo treme. Novas fronteiras.
As mãos entrelaçadas são muito mais do que química, vai além do presente; tem se firmado ao longo do tempo como algo que amadurece, se faz perene, com morada no sempre.
O nobre metal que vence as provações, reluz e simboliza o sentimento que não fica para trás, mas continua, cresce. Afora toda demagogia, reles poesia e declarações superficiais, ele sobrevive. Mesmo que não se materialize como a sociedade está acostumada, ou concebe moralmente. "Pássaros criados numa gaiola acreditam que voar é uma doença” Alejandro Jodorowsky. Como disse um anjo: "ou não sabem ou tem medo de tentar".
Dentro de um carro, outra dimensão se faz possível; uma onde não é necessário explicar o que se sente e dar satisfação ao outros lacrando-se em infelicidade. Anos atrás... Dentro de um carro minha perna toca a sua, meu olhar encontra o seu, seus lábios entreabertos parecem balbuciar algo, a chama interior, ou o beijo. Eu pergunto o que foi, você responde “NADA” e aquele nada adormeceu até que o tempo nos levasse novamente àquela dimensão. Dentro do carro, minha mão tocou a sua. Despertou algo que não se acabou com o tempo, mas se aprimorou. Cresceu! O tempo que levará os passos para alcançar os sonhos difíceis não sei, mas me entrego a eles, reconhecendo-me como alguém que não sabe o futuro, mas é intenso ao viver, sentir e sonhar.
Suas mensagens, suas fotos. Guardo como recomenda Antônio Cícero (não escondendo, mas olhando e admirando). Todavia, os seus rsrsrs me perseguem nas madrugadas, nas manhãs e tardes onde meu silêncio contemplativo da natureza rompe-se com meu sorriso de canto de boca ao lembrar do seu.... rsrssrsrsrs
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quarta-feira, 11 de maio de 2016
Fantástica fábrica de ilusões
Os aspectos que nos fazem humanos, orgulhosos do que vemos no reflexo do espelho d´água, hora ou outra se contrastam com nuances de nossa vergonha, peculiaridades de uma personalidade que buscamos aprimorar.
O referido aprimoramento nem sempre tem o mesmo ritmo e intensidade que poderia provocar uma efetiva mudança, no entanto já se estabelece como um suspiro da esperança. Suspiro que reverbera e ganha força em narrativas que perpassam gerações.
Assistir, re-assistir e assistir outra vez a Fantástica Fábrica de Chocolate (1970 e 2005) deixa um sabor de quero mais na boca, aquela pequena e intensa fisgadinha no final da língua, onde fica o sabor do "quero mais". Desperta o desejo de revisitar nossos valores, os personagens que assumimos no convívio social e nossa relação com o prazer.
Em 1970, a narrativa mostrava o valor referencial da família como base para buscar melhores condições de vida, em contraplano com o egoísmo e dissimulação presente no ser humano. A história corre sem explicar muito sobre passado e futuro, sem dar detalhes da origem familiar de Wonka e sem especificar demais as mazelas vividas pela família de Charlie, tampouco os desdobramentos após ganhar o prêmio. Durante o filme, a honestidade de Charlie e dos outros é testada não apenas para conseguir um produto secreto, mas especificamente atacando as fraquezas e prazeres individuais.
Em 2005, percebe-se foco maior sobre história e valor da família tendo que especificar origem e futuro, estabelecendo e resgatando referenciais morais, abordando temas como redenção entre pai e filho, fortalecimento de elos verdadeiros de amizade, de contato humano, de resgate da essência, mostrando inclusive os desdobramentos após Charlie vencer. Na trajetória, o contraplano à ambição dos personagens pela posse desenfreada, pelo transpor limites estabelecendo as próprias regras (pautadas na arrogância egocêntrica).
Após subir os créditos, além das canções das duas versões, ressoa um pensamento sobre como podemos nos encontrar entremeio ao turbilhão de informações, demandas, sonhos e realidade da contemporaneidade. Como aperfeiçoar o ser humano que somos a ponto de contribuir para as relações sociais e principalmente com aquela sensação de satisfação que tanto buscamos antes da última piscada do dia.
A cada mordida em um chocolate (impossível não comer após ver e pensar no filme) a língua se envolve com um sabor que não se adequa a palavra alguma, assim como o ser humano em sua totalidade não se adequa a nenhum rótulo ou regra. A transitoriedade da personalidade humana sobre o tempo e contexto social revela a esperança de que algo não necessariamente novo possa ser efetivo instrumento de evolução, de mudança. Talvez seja a premissa para perenidade de sonhos e vidas, outrora pode se tornar argumento de ilusões que mantém funcionando os pulmões.
Sobre:
Willy Wonka and the Chocolate Factory (pt-br: A fantástica fábrica de chocolate / pt: A maravilhosa história de Charlie) é um filme musical dirigido por Mel Stuart e lançado em 1971, estrelando Gene Wilder no papel de Willy Wonka. A história é baseada no livro infantil Charlie and the Chocolate Factory de Roald Dahl (autor também de Matilda), publicado em 1964, contando a história de como Charlie Bucket encontra um "Bilhete Dourado" e visita a Fábrica de Chocolates Wonka com outras quatro crianças. Em julho de 2005 estreou a versão de Tim Burton, com Johnny Depp no papel de Willy.
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