A organização social contemporânea impele ao
indivíduo um comportamento de egocentrismo. Para coexistir o ator social com
esse perfil precisa de público e referência, para então impor suas
singularidades, legitimando-as como objeto de consenso ou bem-estar social. Importante
considerar a etimologia; do latim medieval individuus (indivisível), que é
formado de in + dividuus. O vocábulo dividuus vem de dividere (dividir). O
processo de formação de indivíduos compreende interferências da sociedade, ou
seja, depende das relações sociais e culturais (variando o grau de
intensidade), formando assim a identidade do ator social.
A construção da realidade social passa pelo interesse.
Interesse constituído pelas vontades, necessidades individuais, e pelo consenso
coletivo subsequente. O sujeito está cada vez mais centralizado como ator
social individualizado, interferindo na Rede Social para apenas atender seus
objetivos, isso até mesmo quando demonstra nuances de altruísmo. Este aspecto
fica latente quando consideramos a leitura que Adorno faz do indivíduo em
sociedade, enquanto sujeito, onde por mais que submete-se a fluxos impostos por
uma liderança social, ele executa suas escolhas tendo como motivado os próprios
interesses, as respectivas singularidades.
A cultura de massa impõe um padrão cultural e um modus operandi da sociedade concebida
como um corpo, mas não consegue controlar totalmente os membros deste corpo,
sendo os indivíduos os referidos membros. Fato que aponta uma fragilidade e uma
força em toda organização social: um membro pode atrofiar o corpo social e
corromper a ordem imposta, mas para ser eficaz ele precisa de aliados, formando
assim um novo grupo, que precisará de regras gerais consensuais, estabelecendo
então um paradoxo, onde para atingir interesse de suas singularidades, o ator
social precisa tornar coletivo algo que é individual. O epicentro do conflito
neste caso não é o interesse, tampouco o individualismo, mas o controle. O que
antes era exercido pela força física, agora materializa-se nas entrelinhas de narrativas
midiáticas e na ressignificação dos padrões.
Cada sociedade/grupo social possui seus padrões de
saciedade e felicidade. O que outrora foi medido pela saúde, dentes, capacidade
física, passou a ser por meio da posse de bens materiais ou mecanismos de poder
(Mercado / Autoridade / Mídia / etc.). Assim, a construção da realidade social
ultrapassa os aspectos da singularidade do sujeito, pois está ligada à
interação dessas singularidades com a paisagem formada por oportunidades e
demandas.
A globalização estimulou a integração de padrões
territoriais de modo a possibilitar o diálogo de “tribos”, de suas demandas,
anseios e oportunidades de saciá-las além fronteiras; considerando demandas e
anseios nos aspectos culturais, econômicos, intelectuais, de subsistência e
desenvolvimento.
Neste ínterim, a arte e suas diversas concepções,
tornou-se instrumento essencial de manutenção dos padrões sociais; tanto para
reafirmar quanto para romper paradigmas e sobrepor dogmas. Desta forma, a noção
de identidade de um ator social depende de suas singularidades enquanto
indivíduo e de sua interação na paisagem social, perpassando pelas influências
em “si” dos produtos culturais que consome, acessa ou até mesmo reproduz. Isto
pode ser observado nas dinâmicas de apropriação e ocupação territorial e
interações consequentes, definindo regras e limites, espaço público e privado.
Portanto, percebe-se cada vez mais que identidades culturais volúveis e
segmentadas tomam lugar de destaque social ante as identidades culturais tradicionais,
fato que evoca mudança na maneira de transmitir a história a gerações futuras.
Faz-se então relevante analisar o “Agenda-Setting”
e suas reverberações na organização social, pois assim renovam-se identidades
culturais volúveis e respectivos relacionamentos descartáveis. Teoria formulada
por Maxwell McCombs e Donald Shaw, o Agenda-setting consiste na hipótese de que
a opinião pública considera mais importante em seus assuntos diários os temas
que são veiculados com maior destaque na imprensa; sendo que as notícias
veiculadas e o foco das narrativas são determinados conforme singularidades de
quem detém o controle dos veículos de comunicação ou até mesmo a setores de uma
sociedade.
Indivíduos ditos pós-modernos apresentam-se em
constante movimento em busca da identidade própria, seguindo tendências, outros
repetem a receita dos padrões culturais vigentes e há ainda os de vanguarda,
que se constituem solidamente, sendo ainda flexíveis evolutivamente e não
volúveis apenas pela efervescência da mudança.