Olhos cerrados florescem um novo dia.
quinta-feira, 31 de agosto de 2017
descalço
Olhos cerrados florescem um novo dia.
domingo, 20 de agosto de 2017
trilhas
Minas teus sons
ofícios das Gerais
Forjando na pele e nas veias
a história que a letra não traz
Alfabeto posto
escolha seus punhais
minhas cicatrizes estão no interior
De Minas
sábado, 5 de agosto de 2017
Classificados
Olhos abertos e placas para todos os lados. Dedos sujos de jornal. Fragmentos, frangalhos e faíscas. Vende-se o bom senso embrulhado em arrogância. Troca-se palavras por silêncio. Empresta-se virtudes. Procura-se amor, recompensa-se com intensidade. Doa-se clichês, de todos os tamanhos, para todos os momentos. Vende-se um coração de veias entupidas e emoções surreais; único dono e em bom estado de alienação. Vende-se a alma cansada de esperar o messias. Vende-se lábios silenciados pela dor da distância. Vende-se a alegria, aconchegada em uma caixinha sem tranca, sem tampa, sem laços. Aluga-se sonhos, recheados de possibilidades, cobertos de expectativas, contrato só de longo prazo. Vende-se poemas de amor, sem vírgulas, puro estrofe e verso. Procura-se felicidade plena, recompensa-se com cumplicidade. Aluga-se dignidade, embalada em plástico bolha. Aluga-se língua sem palavras. Doa-se lágrimas de olhos sem olhares, atende-se às madrugadas, gentileza chegar pelos ouvidos.
quarta-feira, 26 de julho de 2017
Relações Governamentais no mundo empresarial
(Parte do trabalho Sócio-Transcendência - A Sociologia Política como instrumento estruturante do Investimento Social Corporativo - da pós graduação em sociologia política)
As leis não definem e regulam uma sociedade, mas a sociedade
regula as leis. Enquanto se pensar o contrário, viveremos um tempo de excesso
de leis, escassez e ineficiência de cumprimento e de fiscalização. A atrofia dos órgãos públicos (em função do perfil robusto de burocracia, baixo índice de capacitação e de comprometimento de seus servidores, aliada a má gestão de alguns personagens) exige uma reconfiguração do posicionamento da iniciativa privada tanto no cenário social (como praticar a responsabilidade social), quanto no político (dialogando com os atores políticos em busca de uma responsabilização pública sobre as demandas sociais e também empresariais).
Neste sentido, as empresas deveriam estar atentas às respectivas estratégias
e estruturas de relações governamentais. Não amparada em propina, e o velho modo já condenado e vindo à tona no Brasil pelos recentes acontecimentos (Operação Lava Jato), mas na
legalização de um lobby como instrumento de diálogo e articulação de destinação
de políticas públicas e recursos em prol da comunidade. Assim, os profissionais devem dominar as técnicas de leitura de território, exercitar a percepção de tendências e correlações sociais, bem como atentar-se para as estratégias políticas e suas interferências nas comunidades de atuação da empresa. Se a equipe responsável pela atividade é própria ou terceirizada, isso depende do perfil de gestão da empresa. Talvez o recomendável seja uma equipe própria com suporte (via convênio) de uma associação com expetise e trânsito político.
Para isso, após ter uma leitura (diagnóstico) aprofundada do território (comunidades) que atua, é importante que as áreas de Relações Institucionais / Governamentais das empresas sigam algumas premissas básicas:
⁃ Conhecer a gestão financeira dos
municípios críticos (receitas e despesas). Ex: via Portal transparência, Lei de livre acesso à informação. Considerando municípios críticos aqueles de relacionamento mais delicado, que exigem mais atenção.
⁃ Conhecer linhas de investimento
público disponíveis. Convênios, emendas parlamentares, fundos, leis de
incentivo. Acompanhar a estrutura de gestão do Estado e da União no sentido de destinar recursos para as cidades.
⁃ Conhecer Atores políticos de
interferência e influência nos municípios críticos (Ex:Deputados Estaduais, Deputados Federais, Chefes de partido).
⁃ Articular captação e destinação
de recursos federais e estaduais para demandas dos municípios críticos. Verificar junto a Prefeitos e Presidente de Câmaras o fluxo de recursos para o município e promover o diálogo com os atores políticos, colocando a empresa ou instituto da empresa como interlocutor que reforça a demanda social cuja solução é pleiteada.
⁃ Simultaneamente a busca por recursos públicos, é fundamental que a empresa determine o que deseja obter de retorno de cada projeto que apoia (Retorno apenas de imagem? Geração de Renda para comunidade? Qual a meta de renda a ser gerada por família beneficiada? Qual o tempo de apoio? A empresa tem também que definir quanto (R$) está disposta a destinar ao Investimento Social Corporativo.
- Elaborar estratégia de atuação,
definindo perfil de investimento (social e de comunicação) correlacionado à
rentabilidade da Empresa (Faturamento,
lucro líquido, tributação).
⁃ Verificar perfil do investimento
social corporativo e de comunicação e o impacto ou interferência no Índice de
Sustentabilidade da Empresa (ISC).
A profissionalização das Relações Governamentais no cenário da iniciativa privada precisa ganhar aspectos sérios, com fluxos formalizados e estratégias bem traçadas para promoção da boa política, em prol do famigerado desenvolvimento integrado e justo.
segunda-feira, 24 de julho de 2017
rastro
Chegamos a um tempo em que o diálogo harmonioso deu lugar a uma troca de agressões. Quem se faz mais cruel, quem mais fere, esse sai como vencedor do ambiente, torna-se o imponente; contudo não percebe que mata um pouco do outro. Mata um pouco do outro. E a parte morta muda o ser profundamente. Gira-se a roda.
Posso sentir seu peso sobre mim. Consigo pressentir seus passos atrás dos meus, seu peso sobre meus ombros, suas mãos em meu pescoço, sua risada ansiando minha derrocada. Ainda assim persisto. Ainda assim continuo vivo atrás das retinas lacrimejantes. Com a pele fustigada de tanta agressão, com a memória falha de uma mente sobrecarregada, com a visão turva, com a cabeça que raramente não está dormente; ainda vivo. A leitura em braile da pele vê nas rugas a marca de um tempo. Outrossim, mesmo com as pessoas tropeçando nas minhas palavras, não compreendendo meus gestos e usando o que sou contra mim, sigo vivo. Posso sentir o cheiro do seu egoísmo, sua vontade em dissecar-me tornando-me um troféu na estante dos réus. Todavia, insisto. Perpasso meus sonhos entremeio a realidade. Desvencilhando-me dos desfiladeiros das pessoas que querem que o mundo seja segundo suas regras. No respirar gero frutos. Parte de mim que espalhada em gestos, em palavras e pessoas, infecta a vida de um novo olhar, um aroma que traz paz..
sábado, 15 de julho de 2017
alternância
Entre ter renovado o dia pelo mudar a perspectiva sobre a vida e permanecer no desalento das lamúrias cotidianas, alço voo sem amarras, mas não sem norte. A manutenção das vaidades que nos alimentam sucumbe a um novo pilar dessa sociedade líquida. A alternância; manifestada pela transição de paradigmas desse indecifrável Hilbert Hotel, do qual somos hóspedes, hospedeiros, expectadores e produto.
O uso e ocupação do território não pode ser analisado de forma rasa e inconsequente. Faz-se necessário uma leitura que compreenda o contexto social, as interferências no ordenamento que provém do meio e as que vêm do próprio indivíduo.
...
Já observou um casal jogando pingue-pongue pausadamente? No auge da idade da sabedoria, eles se divertem; sorriem em olhares de cumplicidade e um ritmo de raquetada que mais parece um dar as mãos. O ponto se estende, não se conta, o valor ali é outro. E ao lado, a mesa de sinuca recebe com a filosofia do silêncio o cavaleiro andante. Já viu um solitário jogando sinuca calmamente?
Os impactos de se estar vivo, grifados em anéis de crescimento da madeira, na floresta que ainda persiste, respira e nos integra. Encanta-me estar na Dinâmica da vida. Sendo um detalhe orgânico na malha complexa que forma a derme da realidade.
Qual sua melhor face ao espelho? Aquela em que você se olha nos olhos e se reconhece.
sexta-feira, 7 de julho de 2017
Clarifício
desliza um dia novo,
e a luz caminha pelas curvas
desfazendo os desfiladeiros da paz;
do pouso ao voo, o alvoroço do silêncio.
quinta-feira, 6 de julho de 2017
Organização Social - nuances
A
hipótese do perfil de ocupação geográfica ou perfil cultural de uma nação, por
muito tempo foram utilizados para definir aspectos de pobreza e prosperidade;
estabelecendo parâmetros para avaliar o índice de fracasso de um povo. As
regularidades comportamentais que regem a forma de organização da sociedade estabelecem
seus padrões tendo como base o senso de preservação e sobrevivência. Padrões esses materializados por meio de
atitudes instintivas ou culturais.
Neste
ínterim, emergem na seara da filosofia social o darwinismo social e sua
interpretação da sociedade sob o viés das leis de evolução das espécies
biológicas, como instrumento de explicar a sociedade e suas transformações,
transições de paradigmas e padrões.
A organização social contemporânea impele ao
indivíduo um comportamento de egocentrismo. Para coexistir o ator social com
esse perfil precisa de público e referência, para então impor suas
singularidades, legitimando-as como objeto de consenso ou bem-estar social.
Importante considerar a etimologia; do latim medieval individuus (indivisível),
que é formado de in + dividuus. O vocábulo dividuus
vem de dividere
(dividir). O processo de formação de indivíduos compreende interferências da
sociedade, ou seja, depende das relações sociais e culturais (variando o grau
de intensidade), formando assim a identidade do ator social (VIEIRA, Rudson.
2016. http://passocomunicacao.blogspot.com.br/2016/12/individuus.html acessado em
28/06/2017).
O
efeito em cadeia da Revolução Industrial, responsável por parte do
desenvolvimento da sociologia nas ciências sociais, segue interferindo na
configuração social, impulsionado pela globalização. Avanços tecnológicos ditam
não apenas o comportamento social, mas principalmente os parâmetros de desenvolvimento
da nação e os respectivos mecanismos de controle da massa. "O motor das
transformações tecnológicas, em todos os segmentos da economia, era a inovação,
encabeçada por novos empreendedores e homens de negócios ávidos por aplicar
suas ideias" (ACEMOGLU E ROBINSON: 2012 P.40).
As desigualdades mundiais, todavia, não podem
ser explicadas pelo clima ou doenças, nem qualquer outra versão da hipótese
geográfica [...] A história demonstra a inexistência de ligações simples ou
duradouras entre clima ou geografia e êxito econômico. Por exemplo, não é
verdade que os trópicos tenham sido sempre mais pobres que as latitudes
temperadas. (ACEMOGLU E ROBINSON: 2012. P. 56 e 57).
Uma
observação sobre o Iluminismo (filosofia das luzes) e a intensa busca pela evolução
através do questionamento e percebe-se uma sociedade que é regida por alguns
mecanismos de controle como o medo, a dependência, o limite de acesso. Os
instrumentos reguladores desses mecanismos eram a espiritualidade, informação /
conhecimento e a sobrevivência.
Clifford
Geertz já bordou certa vez a respeito de como correntes teóricas que tentaram
perfilar o ser humano e seus costumes a partir de uma correlação com fatores
biológicos, psicológicos e sociais e também culturais, acabaram por definir uma
concepção estratigráfica, em busca das constantes universais. No entanto, a
sociologia, ao surgir e se fortalecer no século XVIII, consistiu em uma ciência
para descobrir as leis do progresso e desenvolvimento social além dos dogmas
pré-estabelecidos. Observar o indivíduo imerso e simultaneamente isolado das
constantes universais para ter então uma leitura apurada da realidade, paisagem
a qual marca a história da civilização.
Durkheim
buscou em sua abordagem sociológica fatiou a sociedade de forma a buscar um
entendimento a respeito do que constitui o fato social. A análise do movimento
de inércia social e rompimento do mesmo, levou Durkheim a correlacionar as
mudanças abruptas na rotina do indivíduo, ou a ausência de algum tipo de
mudança, resultava no colapso do indivíduo enquanto ser social, imputando a ele
um estado de apatia controlada, sucumbindo ao suicídio, físico ou social. Sua
leitura da sociedade a partir da Divisão do trabalho social, busca compreender
as responsabilidades e deveres de cada integrante do grupo, buscando conceber
uma sociedade que exista dentro e fora do indivíduo. O consenso, fiel da
balança de uma sociedade igualitária, almejado por Durkheim em sua concepção sociológica revelou-se uma
utopia uma vez que a história das nações revela um campo controverso. A visão
sociológica de Durkheim partindo das implicações e determinações individuais em
consonância com as construções sociais, busca delinear a organização da
sociedade, suas anomalias e seus rumos. A mensuração e atestado empírico de
suas observações acerca da sociedade, dava a Durkheim um panorama de como o
homem além de contribuir na formação da sociedade, ele também se constitui como
um produto dela.
Em
sua obra, Durkheim aborda o Estado como órgão e o instrumento de uma nova
sociabilidade, protegendo e regendo a sociedade rumo a um desenvolvimento.
Considerando sua argumentação de que o indivíduo possui duas consciências
(Individual e Coletiva) pode-se verificar pelo contexto social, que o populismo
e neopopulismo atacam a consciência coletiva e a manipulam a partir de nuances
percebidas de uma consciência individual adormecida.
Em
Weber, sua abordagem sociológica tem ênfase na ação social. Creditando poder à
conduta do grupo (social) sobre a do indivíduo. Sua sociologia compreensiva ou
interpretativa busca compreender as ações do indivíduo como parte da
constituição da realidade social. O motivo das ações, chamados Tipos Ideais,
são os instrumentos de compreensão da realidade, mas em si não fazem parte
dela. O sujeito social, como fruto da sociedade que o indivíduo contribui na
construção, não pode ser compreendido em sua totalidade, tampouco a realidade.
Embora caminhe sobre conceitos e percepções subjetivas, Weber propõe uma
metodologia que consiga atingir de forma objetiva a leitura social sobre o
indivíduo e sua formação enquanto sujeito social (produto da sociedade).
Trata-se de uma ciência embasada na realidade, que não se restringe a padrões
fixos dos fenômenos e do tipo ideal. Neste cenário, a finalidade das ações
sobrepõe a relevância de suas consequências. A ação dos indivíduos é analisada
de forma contextualizada, conforme recorte definido de parâmetro de análise.
Atrocidades
da história humana aconteceram não apenas pela alienação em uma ideologia e
intencionalidade de ser cruel com seus semelhantes e divergentes. Mas pode-se
perceber que adventos como o holocausto, submissão a regimes ditatoriais,
aceitação de um determinado sistema político e organização social se dá por
meio do que vulgarmente se chama de efeito
manada. Trata-se da Conformidade Social. O comportamento de obediência ao
grupo dominante.
Cada sociedade funciona com um conjunto de
regras econômicas e políticas criadas e aplicadas pelo Estado e pelos cidadãos
em conjunto. As instituições econômicas dão forma aos incentivos econômicos:
incentivos para buscar mais educação, para poupar e investir, para inovar e
adotar novas tecnologias, e assim por diante. É o processo político que
determina a que instituições econômicas as pessoas viverão submetidas, e são as
instituições políticas que ditam como funciona esse processo. Por exemplo, são
as instituições políticas de uma nação que estabelecem a capacidade dos
cidadãos de controlar os políticos e influenciar seu comportamento – o que, por
sua vez, define se os políticos serão agentes dos cidadãos, ainda que
imperfeitos, ou se terão a possibilidade de abusar do poder que lhes foi
confiado, ou que usurparam, para fazer fortuna e agir em benefício próprio, em
detrimento dos cidadãos. As instituições políticas incluem Constituições
escritas − mas não se limitam a elas − e o fato de a sociedade ser uma
democracia. Compreendem o poder e a capacidade do Estado de regular e governar
a sociedade. É igualmente necessário considerar de forma mais ampla os fatores
que determinam como o poder político se distribui na sociedade, sobretudo a
capacidade de diferentes grupos de agir coletivamente em busca de seus
objetivos ou impedir outros de atingirem os seus. (ACEMOGLU E ROBINSON. 2012.
P.50)
O
marxismo e sua divisão de classes como mecanismo de análise social e definição
de parâmetros das relações sociais estabeleceu uma nova vertente na sociologia.
Com argumentos focados na divisão do trabalho e a valorização do produto e do
modo de produção, bem como da força de trabalho, o marxismo buscava um
equilíbrio entre as classes sociais a partir da entropia, conflito e posterior
harmonia, que, no entanto, revelou-se como tendência a inversão dos papéis; uma
vez que o empoderamento do trabalhador e sua libertação dos padrões de produção
controladores, o faz se tornar um novo empregador, porventura, sem a devida
capacitação, mas apenas o estímulo. Este fato, impulsionado sem a devida
estruturação de mudança, impacta no mercado, afetando lucros, sistemas de
produção e de consumo, interferindo na sociedade de forma negativa.
O
Comunismo implantado foi uma ideologia deturpada, focada no embate privado x
público. Marx defendia não o fim da propriedade privada, mas o fim da
propriedade burguesa; defendia que o homem livre teria mais tempo para ser do
que para ter. Para isso, ele defendia 10 medidas para concretização de uma
sociedade comunista, a ser estruturada gradativamente. Contudo, a burguesia quer manter as coisas
como estão, o proletariado quer deixar
de ser proletariado sem ter claramente definido o que deveria se tornar. O
cálculo da mais valia oscila conforme o volume do capital, que varia de acordo
com o perfil de modernização do processo de produção, que por sua vez depende
do apetite a investimento da burguesia, controle e aceitação junto ao
proletariado.
A
cultura de massa, então consolidada e difundida pela Escola de Frankfurt
abordou uma teoria crítica da sociedade onde o todo era analisado a partir de
recortes específicos, condicionados a experimentos comportamentais, para se
compreender os mecanismos da opinião pública, sua formação, representação e
controle.
A
sociologia é multifacetada. Seja no viés do Funcionalismo, Neofuncionalismo,
Fenomenologia, Estruturalismo, Etnometodologia, Hermenêutica, Sociologia da
Ação, Individualismo Metodológico; todas ideias surgidas diante de um colapso,
crise do pensamento sociológico na contemporaneidade. O pluralismo das novas
sociologias ampara-se na historicidade das nações como ferramenta de leitura da
sociedade, cada uma com suas especificidades. Contudo, este amparo na
historicidade gera um historicismo que considera as ações dos indivíduos dentro
do contexto social. Importante considerar também a sociologia Figuracional, de
Norbert Elias, onde as consequências ou resultados não almejados, decorrente
das relações sociais, são o instrumento de análise e trabalho.
O
individualismo, onde a sociedade é atendida pelo indivíduo, sendo ela a
consequência da existência e interação dos indivíduos, busca compreender a
sociedade a partir do contratualismo, esse estruturado em tradições e valores.
Assim, o indivíduo se constitui sujeito social, cria e interfere na sociedade.
Na visão do holismo metodológico, o fato social ganha relevância como
instrumento que interfere, exercendo coersão sobre os indivíduos. Assim, o ser
seria modelado pela sociedade, que já teria sua própria regra de coexistência.
Em
um cenário plural de análises sociológicas da sociedade, a oposição entre nível
de recorte (macro ou micro) polariza-se entre o coletivismo metodológico
(holismo) praticado por Durkheim e Marx, com análise macro dos adventos
sociais, relações sociais e constituição dos indivíduos. Esta análise
norteia-se pela compreensão das coletividades e suas correlações com o
indivíduo. De outro lado, o individualismo metodológico, onde a realidade é
interpretada a partir do repertório individual, sob perspectivas restritas de
cada indivíduo não enquanto sujeito social (integrado à coletividade), mas em
separado.
Nas
análises macro, é importante considerar as interferências das tradições e dos
valores sociais sobre o sujeito. As tradições (coletividades consensuais
consolidadas pela historicidade), mesmo dotadas de valores e mecanismos de
controle, não determinam em plenitude o comportamento dos indivíduos. Martins
(2008. P 205.) aborda como a tradição e valores diferenciam-se na interação com
o indivíduo e constituição de seu comportamento.
A
sociologia conduzida pelo viés que transite entre o macro e micro (considerando
o número de indivíduos envolvidos nas respectivas análises) seria o ideal para
traçar estratégias de intervenção e evolução a partir da leitura aprofundada do
território e das relações inerentes. Neste sentido, as análises dos elementos
em uma dimensão micro não devem significar uma leitura reducionista, mas sim
mais detalhada do que vem a delinear o indivíduo, seu comportamento e
respectivos desdobramentos, de forma a interagir com as análises macro para
recriar as estruturas sociais possibilitando melhor significação da sociedade.
Desta
forma, a metodologia para compreender o universos societário, o que e como o
constitui e os rumos possíveis e intervenções necessárias, não deve estacionar
seu modus operandi em uma única
vertente, mas na integração e correlação das abordagens (mesmo as de caráter
oposicionista) para então se construir uma versão do entendimento social que
seja aplicável á paisagem de forma dinâmica, orgânica, viva. O paradoxo dessa
hipótese e respectiva dualidade é portanto o caminho acessível da compreensão
das relações dos indivíduos com o contexto social e de que forma as interações
alteram tanto os indivíduos, seus comportamentos enquanto sujeitos sociais e a própria
sociedade.
ACEMOGLU E ROBINSON, Daron e James A.
Por que as nações fracassam: as origens do poder, da prosperidade e da pobreza.
Tradução Cristiana Serra. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
DURKHEIM, Émile. Lições de Sociologia
– a Moral, o Direito e o Estado, 1969 - Editora da Universidade de São Paulo,
2ª edição.
FERREIRA, Roberto Martins. Popper e os
dilemas da sociologia. São Paulo: Annablume; Fapesp, 2008
GEERTZ, Clifford: A interpretação das
Culturas. Rio De Janeiro: Ed Guanabara, 1989.
(VIEIRA, Rudson. Individuus. 2016.
Disponível em http://passocomunicacao.blogspot.com.br/2016/12/individuus.html
acessado em 28/06/2017).
sexta-feira, 30 de junho de 2017
iminente precipício
As mudanças das lideranças sociais ocasionam uma onda de interferências na organização social de forma a abalar conceitos até então tradicionais na sociedade.
Uma sociedade que anseia institivamente pela modernidade e evolução não pode comprometer a essência que defende: o elixir da humanidade. No entanto, percebe-se um movimento cada vez mais alienante da raça humano no que concerne aos objetivos da humanidade e como constituir uma sociedade que os defenda. A leitura de Bauman sobre uma sociedade líquida, de uma modernidade volúvel, onde tudo passa e nada permanece, nem mesmo os conceitos, é um exemplo disso. “Esquecemos o amor, a amizade, os sentimentos, o trabalho bem feito. O que se consome, o que se compra, são apenas sedativos morais que tranquilizam seus escrúpulos éticos”. Zygmunt Bauman.
"Atirei um limão n'água / E fiquei vendo na margem" Carlos Drummond de Andrade. As lideranças sociais, com suas atitudes focadas em objetivos restritos geram um fato social que reverbera além do escopo da atitude em si, mas torna-se interrelação com as atitudes da sociedade. O efeito em ondas propicia o rompimento dos paradigmas e constituição de novos.
Neste cenário, a resiliência tornou-se a bandeira dos que ousam refletir sobre a organização social, seus fluxos, rumos e desdobramentos. A mudança impele ao ser humano uma reflexão acerca de suas fragilidades e potencialidades, revendo desejo, vontade e representação. A desistência ou grito de colapso, o suicídio (seja ele físico, moral ou social), é fruto da apatia controlada da realidade onde nada acontece com o indivíduo, sem expectativas, sem perspectivas favoráveis, e também quando há o caos e intensa pressão, um turbilhão de acontecimentos que impelem o indivíduo a perder suas perspectivas de solução e expectativas de tranquilidade. Em sua obra o suicídio, Durkheim analisa como o suicídio além de sua implicação imediata (interferência na vida do indivíduo e respectivo círculo de convivência e relevância), mas observa as ocorrências de forma a correlacionar com o contexto social e os acontecimentos contemporâneos que moldam o organismo social. Para compreender este fato social, suicídio, é fundamental então analisar tudo o que originou o evento e quais os fins a que serve, considerando também os devidos desdobramentos na paisagem social.
Fronteiras do pensamento e da organização da sociedade são de forma recorrente expandidas e não rompidas. Neste sentido, ao observar como os padrões culturais sofrem mudanças com o passar de gerações, percebe-se como é real a leitura de Kuhn sobre os paradigmas. Sua concepção de que um paradigma termina com a constituição de um novo paradigma, tendo a Revolução científica como um instrumento de transição entre paradigmas, é importante para compreendermos como um fato social se torna relevante para a história, sendo um marco na trajetória social de um povo.
Contudo, Clifford Geertz já afirmou que “pode ser que nas particularidades dos povos sejam encontradas algumas revelações mais instrutivas sobre o que é genericamente humano” (GEERTZ 1989). Ou seja, um olhar atento aos momentos de entropia pode fazer com que percebamos as mudanças e marcos na evolução do coletivo e também do individual, possibilitando uma leitura do que vem a ser o ser enquanto indivíduo e enquanto sujeito social. O pensamento crítico estimulado pelo Iluminismo como forma de evolução da humanidade, por exemplo, contribuiu para que fosse instituído um processo de entropia social, com tudo aquilo que é sólido se desfazendo no ar dos questionamentos. Percebeu-se naquele tempo que um aparente rompimento estava acontecendo nos moldes convencionais de interpretação da realidade. No entanto, posteriormente ao período supracitado, pode-se verificar que as revoluções estabelecem-se como ponte, momento de transição entre paradigmas.
segunda-feira, 26 de junho de 2017
copronarrativa
Orgânico divã, o corpo traduz nossa relação com o mundo exterior de forma tão subliminar quanto escrachada. Quando se fala ou passa por algo e logo vem aquela sensação de náusea, materializada no vômito ou diarreia, trata-se do corpo manifestando sua rejeição e tentando lidar com as emoções ou palavras não digeridas. Seguindo o raciocínio, uma pessoa que tem nojo dos respectivos excrementos, que se limpa com nojo e nem olha a merda que fez antes de descarta-la, essa pessoa geralmente é do tipo que na vida social não reconhece as "merdas sociais" que faz, não corrige seus erros, não assume suas falhas, mas ou as esconde, ou transfere a responsabilidade para outras pessoas ou situações. Olhe ao redor, vai constatar gente assim mais perto do que imagina, em cargos altos nas empresas, em governos, destaque em famílias.
Engraçado ainda pensar na constituição dos banheiros públicos. Dos primórdios antros de doenças das casas de banho e banheiros coletivos da Roma antiga, atualmente os banheiros tem certa higiene (depende muito do local) e privacidade (quando há cubículos, ou mictórios individuais). Mas é curioso como te leva a fazer algo que é natural, mas tão íntimo que você não faz perto da família, mas sim perto de estranhos. Seja usar a latrina, escovar os dentes, cortar os pelos do nariz. Uma intimidade momentânea, uma cumplicidade superficial, de dividir odores e ruídos, fluidos e alívios; mazelas. Mas a integração acaba com o bater da porta. A sociedade de gestos mecânicos, de interações técnicas para facilitar processos individuais, em espaços coletivos. O mesmo acontece em metrõs, ônibus e etc... onde há aglomeração.
Fato é que muitos se comportam socialmente como anciãos, à beira da senilidade. Fazem merda, não reconhecem, culpam os outros e ainda esperam que alguém os limpe.
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