quarta-feira, 20 de junho de 2018
o toque além da vírgula
Afundando bem devagar o pé na terra. Era o passo que formado pedia outro; sem concatenar o desespero, mas revelando um caminhar de suave sobriedade. Além da vírgula o toque, depois do texto, a percepção de uma aspecto abstrato no ar. É como se os fluxos das vidas dos outros e a nossa pudessem ser vistos, ouvidos, esquecidos num piscar de olhos.
encaixando-se nos dias
as arestas que sobram ferem
abertas feridas petrificam-se ao chão
o caminho pisado pela ternura
duro caminho
puro brilho
instável inevitável
à esperança a deriva encontra
repouso
segunda-feira, 7 de maio de 2018
accumbens
O epicentro da movimentação humana. Parte da área do cérebro responsável pelo sistema de recompensa, sensação de prazer. As obsessões e apatias humanas estão relacionadas a como está a saúde e utilização deste local em nosso cérebro. Biologicamente necessário para motivar o ser humano a exercer, pelo prazer, atividades que garantem a sobrevivência (comer, movimentar, reproduzir e etc).
Núcleo Accumbens; Durkhein adoraria passear conscientemente por ali, para traçar como a sociedade modula sistemas, comportamentos, padrões e paradigmas.Parafrasear a sociedade líquida de Bauman e o estandarte dos pernósticos sociais em ser engrenagem julgando-se serem a chave mestra desta grande trama.
A saciedade buscada incessantemente extrapola as necessidades de subsistência das pessoas e alcançam um patamar de tortura social que se perpetua no automatismo, se dissemina no mimetismo evolutivo do passar das gerações. No entanto, os tempos no tempo são um desafio no equilíbrio do conflito das gerações.
A sociedade incompreende a percepção de tempo do outro, estabelecendo assim julgamentos de "atraso", "adiantado", "na hora certa". O conflito de gerações poderia ser amenizado se cada qual compreender como percebe o tempo e como o outro o concebe para assim coexistir no espaço tempo, interagindo nas diversidades.
Refletir sobre os paradigmas é mais que romper para estabelecer outros, ou questionar para subverter o que rege as relações sociais. A Reflexão mencionada aqui evoca uma madura reestruturação do modo como lidamos com o ambiente interno e externo do indivíduo, e como estabelecer integrações entre os padrões e paradigmas sem impor, mas conciliar. A motivação reordenada a partir da reflexão madura pode ser útil para viabilizar a vida em um planeta onde recursos naturais têm sua disponibilidade comprometida, e a proporção de habitantes (mais de 7 bilhões) com o acesso e disponibilização de recursos preocupa. A famigerada evolução da profanada raça humana pode conter uma chave de retomada, um núcleo que se aprimorado, pode fazer do transcendental uma realidade. Seras tu Accumbens?
sexta-feira, 13 de abril de 2018
manifesta
A humanidade define os verbos que movem seus ventos. Os indivíduos repetem sozinhos tais verbos até sentirem-se seguros de os fazerem reverberar na sociedade. Agredir. Romper. Sacudir. Convencer. Obter. Amar.
Manifestar. O metro quadrado
variável. Manifestantes tem um número, autoridades tem outro. As imagens
revelam trupes, os ares confundem no vento os objetivos. Estilos, ideais, ideias. Tudo se defende, todos se ofendem. Um "demo" do processo democrático a cada esquina. As praças ocupadas, as redes sociais
soterradas. O mundo tornou-se cansativo em um cenário de manifestações
estruturadas como desfiles de escolas de samba. Depois que a banda passa fica a
sujeira nas ruas, o cheiro da urina, os estilhaços, as manchas de tinta, de sangue, o custo (público ou privado) de se restabelecer o ritmo da sociedade até a
próxima manifestação. A desordem das palavras, o desencontro das pessoas, o
desencanto. Os sentimentos suprimidos a orelhas de livros, a recadinhos de um
instante, um toque dos dedos na tela, um emoticon que esconde nosso rosto.
A manifestação muitas vezes ignora os
caminhos efetivos e formais de provocar a mudança necessária, e invoca ânimos
para evocar o caos numa estratégia de “resetar”
o sistema contra o qual manifesta. Ansiamos atalhos, tal qual o lobo mal. Mas os protagonistas desconsideram o mar de variáveis
para alcançar os objetivos por estes meios. Desconhecem um modo eficaz de
caminhar pela burocracia da formalidade e assim provocar as mudanças. Assim,
decidem então pela ruptura brusca, o restart a partir das manifestações, dos
bloqueios, do caos. O diálogo da gritaria, para romper a apatia de quem não deseja tomar em mãos bandeiras. Engraçado, mas quando se verifica o quê financia o quê, percebe-se que nunca são os opostos a brigar, mas os aliados em tempos diferentes. As ranhuras da sociedade acobertam as conveniências das vozes e narrativas.
Em uma onda de manifestar a indignação sobre tudo, até sobre a nata do leite, esquivamos de manifestar o amor, o equilíbrio, a aceitação das diferenças e a busca por soluções cordiais aos intermináveis conflitos de interesses. Vasto o mundo é, mas o ponto que todos desejam ocupar cabe poucos; o poder de controle. O epicentro, precisamos aprender muito ainda...
é só agua
Seus contornos, seu fluxo e contrafluxo, seus tempos e temperaturas. As rimas duras que faz em enxurradas de desilusões, o sublime toque dos seus versos a inundar os poros de um novo mundo. "É só água", ressoam. "É só corpo", pensam. "É só matéria", atestam. Doutores em nada saber, tudo julgar.
Quando se para a olhar a paisagem, parado não se está, mas sim em movimento; indo e vindo com aquilo que o olhar toca. Apreciar um dia de sol, refrescar-se na introspecção de um dia nublado, libertar-se em dias de chuva. Revigorar-se nas madrugadas, seja acordado, ou sonhando. Perpassar as ranhuras do solo, das árvores, das mãos, dos rostos; tudo integrado, tudo disperso. A vida não se submete às rédeas que criamos, aos cabrestos que tentamos impor, aos ponteiros que buscamos marcar, aos murros que damos no vento. Ela escorre, toca, vai...
terça-feira, 27 de março de 2018
têmporas
O céu de sólido sol cede o palco para nuvens que alteram a iluminação sobre meu rosto, a temperatura sobre minha pele. O anúncio da chuva, pelo cheiro no ar, é a introdução de uma bela sinfonia natural do porvir. A chuva, instrumentada de todos os tons, toques e ternuras avança gradativamente. Trocadilhos traiçoeiros, têmporas a mercê das temporãs.
O ritmo da vida ao redor faz outro sentido aqui dentro. A relevância dos fatos, a dimensão dos impactos varia tudo conforme o respirar, o interagir e a paz.
Foi assim a palavra sem alça despencando do "auto" de minhas ideias, atravessando meus sentimentos em um papel que nem tinta absorve, nem olhares retém. Essa bula, este manual do que me resta na curva dos versos de rimas tão amargas. A maestria do toque suave da paisagem muda o gosto e o sabor. Especialmente belo o dia me toca com paz. O inspirar o ar fresco da manhã, ouvir a vida ao redor é como ser abraçado de um modo especial.
segunda-feira, 29 de janeiro de 2018
Fator Humano
O avanço tecnológico é irreversível e a dependência social às novas ferramentas e facilidades também. A energia das baterias e a cobertura de sinal são os limitadores. Na comunicação, as novas plataformas e softwares facilitam a navegação pelas narrativas, percepção de peso da imagem e temperatura de discussões, no entanto, a tecnologia ampara-se em algorítimos, em fórmulas condicionadas, de forma exata. O perfil analítico necessário para manutenção dos processos evoca uma sensibilidade que tempera o que chamamos de Bom Senso. Sendo o bom senso um dos determinantes para a tomada de decisões.
Afora as discussões sobre a singularidade da I. A., os novos experimentos e as modernas plataformas de interação em uso em algumas áreas, o lugar do ser humano ainda é garantido quando se refere a constituição da sociedade. Entretanto, levantamento da consultoria McKinsey, em uma pesquisa global, atesta que 62% dos executivos de empresas de grande porte assumem a necessidade de substituir mais de um quarto do quadro de funcionários até 2023 em decorrência da automação e digitalização dos processos de trabalho. Treinamento e requalificação de profissionais será o inevitável fôlego corporativo. Os parâmetros para mensurar resultados em comunicação e definir estratégias, novas ações e planos de contingência precisam ser repensados.
O fator humano, a maneira como a espécie interage e interfere na paisagem é crucial no estabelecimento e manutenção das relações. A transparência e ética são as velas para empresa e indivíduos navegarem no ciberespaço e compreenderem o fluxo de cada um nesta malha em expansão, que parece não ter fim, a não ser a pausa, via botão de desligar dos hardwares em nossas mesas, mãos e bolsos.
terça-feira, 23 de janeiro de 2018
Salto Ressoar
Como conversar sem agredir e
conseguir criar uma reverberação narrativa conjunta? Uma avalanche de
estratégias e conceitos inundam as plataformas à disposição de emissores e
receptores (que alternam papéis entre si), mas o efetivo resultado desta
dinâmica ainda não é mensurado e verificado como desejado pelas partes.
Periodicidade, recorrência e qualidade são apenas alguns dos aspectos a serem
considerados.
As redes sociais digitais vivem
entre a atrofia da superexposição de conteúdo, o abuso das entrelinhas via influencers, a iminência das brigas e
desavenças e o abstrato gesto de postar e curtir. As plataformas tradicionais
da geração pré-millennials surta entre
a maturidade de narrar o factual sem a obrigação do furo e a inviabilidade
financeira do modelo de negócios desatualizado. As antigas plataformas operam
entre a atualização do sobrefôlego
(em busca de adaptar-se à contemporaneidade). Antes de obter equilíbrio, faz-se preciso compreender o que é o fiel da balança no que concerne à comunicação.
Entremeio a esse complexo fluxo
de mensagens, narrativas e negociações de versões e influência de hábitos
sociais (foco das mensagens e narrativas), está a consolidação das agências
especializadas em verificar a “veracidade” das notícias e dos agentes produtores
(fact-checking). A comunicação
intensificou o boato institucionalizando-o e evoluindo-o a ponto de sobrepor a
verdade (talvez por ser mais atraente, impactante ou até mesmo plausível)
criando fake News e fake makers
formalizando consequentemente a profissão dos verificadores. Para proporcionar
uma estrutura que inspire a confiança, as agências de verificação são auditadas
quanto a imparcialidade (apartidarismo), transparência de fontes, política de
trabalho, fonte de financiamento, divulgação de política pública de correções.
Se a estratégia de gerar notícias
falsas vem de uma articulação egoísta de influenciar o comportamento social, o
hábito de compartilhar as notícias questionáveis provém do anseio humano de
reforçar suas opiniões ouvindo e fazendo ouvir apenas o que quer ou ainda
alimentar “o espirito de confusão” interferindo em uma discussão ou linha de
pensamento.
O momento evoca a maturação da
significação da comunicação, deixando de ser tarefeira e indo além de se
considerar estratégica. Reverberar ideias permitindo reflexão, ressoar a
mensagem na palavra que salta ao olhar a paisagem, e não apenas o retrato
social. Se um tempo atrás foi interessante generalizar e massificar mensagens
em bloco (robotizando ou não), faz-se necessário personalizar as mensagens e
tratamentos. Um atendimento personalizado em determinados casos sobrepõe a
agilidade de um atendimento primário geral, impessoal.
A interação deve trazer a liberdade do pensar e interagir, em um salto sobre paradigmas que ressoe um novo tempo. O diálogo entre as
partes precisa alcançar uma transparência e sobriedade que não é fácil. Assim,
muitas vezes o diálogo tem sido terceirizado (via entidades representativas,
agentes de lobby, assessorias). Todavia, a conversa precisa acontecer.
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sexta-feira, 12 de janeiro de 2018
fusos
O desafio na comunicação corporativa perpassa o relacionamento da Tecnologia e o conflito de gerações. Sendo que um fator determinante deste cenário é a necessidade de lideranças participativas, que saibam administrar as diferentes gerações e conduzi-las a vivência das novas tecnologias.
Futuro da comunicação ou
comunicação no futuro. O “agora, já passou”. O foco das ações de comunicação já
não está nas plataformas (intensificada após a efervescência tecnológica), mas
sim no conteúdo; esse faz a diferença e interfere na malha social. Todavia, é
importante conceber, formatar e disseminar de forma assertiva o conteúdo,
revendo os resultados esperados, não basta buscar audiência por audiência. O
volume não mais sobrepõe à qualidade de absorção da mensagem e manifestação da
interferência.
O público procura se envolver com
marcas e narrativas que corroboram com seus valores e propósitos. No entanto,
vivenciamos valores volúveis e propósitos líquidos. O cidadão tem se
estruturado assim e ainda impõe uma demanda por fidelização que extrapola os
padrões estabelecidos pelas marcas, forçando-as a uma metamorfose incessante.
Um breve olhar sobre a paisagem e
percebemos que as espécies são movidas pela busca. Players de mercado, ou influencers,
então estudam o perfil destas buscas e oferecem alternativas de desejo que não
são o objeto inicial da busca, mas são colocadas como o foco principal,
transformando assim a busca, induzindo o mercado. Trata-se do aprofundam, então
do agenda setting. Além de pautar as
reflexões, interferir nas buscas e objeto de desejo.
A comunicação então deve
estimular a convicção e não a repetição de mensagens e narrativas, mas sua
multiplicação por absorção da mensagem e convicção do conteúdo. Neste processo,
o lobby (que luta para ser devidamente regularizado) é uma estratégia de defesa
transparente de temas chave na sociedade, assumindo um lado. Entretanto, o
lobby tem sido depreciado em função dos maus lobistas.
A Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) define o lobby como a comunicação
oral ou escrita com uma autoridade pública para influenciar decisões políticas,
administrativas e principalmente legislativas. Ampliando sua atuação na sociedade,
o lobby é realizado pelas Relações Públicas, a partir da disseminação de
narrativas setoriais.
Clientes então não podem ser
vistos apenas como consumidores, mas sim cidadãos que se relacionam com
mensagens e não com produtos ou objeto de resultados.
Pássaro verso
Pouso transcende
Voo ascende
Horizonte que dobra
O que ao vento passa
Beija a flor
Pássaro cor
sexta-feira, 5 de janeiro de 2018
emissário
Torta ao vento, a palavra enraizada segue seu rumo. Teus lábios como pétala de uma flor capturam meus sentidos no silêncio, e o tempo me impõe a tormenta da espera, esperança. Sempre há um pouco de partida em cada espera.
O dia nos nasce com um modo de perceber que depende de
diversos fatores. Mas hoje foi um dia que brilhava sem agredir as vistas, que
aquecia sem incomodar e refrescava sem deixar os pelos do braço em riste.
Envolvemos nossa mente em uma série de frustrações do outro e de si, e
acreditamos um dia tropeçar na cura para tais mazelas. Por vezes recorrentes
buscamos o que não precisamos. Criamos conceitos que não se aplicam ao nosso
repertório e depois sofremos com eles. E ainda desejamos tropeçar na cura que
cai do céu. O dia então nos embala no aconchego do tempo para sentirmos ao
invés de apenas passar. Sobrepõem-se então todas as sensações e o texto perde a
pontuação. O dia despido da manhã, lavado da tarde, se embrenha na noite. O dia
nos adormece, na esperança sem norte, até o porvir que não se anuncia.
Ninguém é mais o mesmo. Este eterno clichê.
Borboletas na janela
o vidro é a retina dos meus olhos
bloqueio natural para o que belo é
corpo em trânsito no elixir da vida
as rimas contornam os poros dela
certeza do rumo do acaso que é
destino
escorrem dos olhos
o que a chuva não faz escorrer das janelas
O mesmo é mais ninguém. Clichê eterno este.
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Ninguém é mais o mesmo. Este eterno clichê.
Borboletas na janela
o vidro é a retina dos meus olhos
bloqueio natural para o que belo é
corpo em trânsito no elixir da vida
as rimas contornam os poros dela
certeza do rumo do acaso que é
destino
escorrem dos olhos
o que a chuva não faz escorrer das janelas
O mesmo é mais ninguém. Clichê eterno este.
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domingo, 31 de dezembro de 2017
espasmo
O amargo que percorre a língua encontra fim ao derramar na mente o pote de ideias em suspensão. O soluço não precede a rima ou soluciona o ocorrido. Ele causa a pausa. Da pausa o pulo, no pulo o sopro sem sofrimento. O corpo contorna as frases espalhadas na escuridão de um dia frio. O amargo então é o novo doce no repertório de sensações. A textura das frases, quando tocada, muda os sentidos transformando as palavras.
Observo como você manipula a carne. E a carne sucumbe aos seus gracejos, sem nem imaginar o processo de necrose em crescimento. A matéria se transforma, como qualquer outra no mundo, se rende a algum tipo de força... Não pisava nos astros distraída, se achava um novo sistema, independente, alimentando-se do derredor. Sábio foi o beija-flor que distanciou seu voo e desdobrou seu horizonte de forma a repousar sua paz na liberdade da distância.
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