quarta-feira, 20 de junho de 2018

o toque além da vírgula


Afundando bem devagar o pé na terra. Era o passo que formado pedia outro; sem concatenar o desespero, mas revelando um caminhar de suave sobriedade. Além da vírgula o toque, depois do texto, a percepção de uma aspecto abstrato no ar. É como se os fluxos das vidas dos outros e a nossa pudessem ser vistos, ouvidos, esquecidos num piscar de olhos.

encaixando-se nos dias
as arestas que sobram ferem
abertas feridas petrificam-se ao chão
o caminho pisado pela ternura
duro caminho
puro brilho
instável inevitável
à esperança a deriva encontra
repouso

segunda-feira, 7 de maio de 2018

accumbens



O epicentro da movimentação humana. Parte da área do cérebro responsável pelo sistema de recompensa, sensação de prazer. As obsessões e apatias humanas estão relacionadas a como está a saúde e utilização deste local em nosso cérebro. Biologicamente necessário para motivar o ser humano a exercer, pelo prazer, atividades que garantem a sobrevivência (comer, movimentar, reproduzir e etc).

Núcleo Accumbens; Durkhein adoraria passear conscientemente por ali, para traçar como a sociedade modula sistemas, comportamentos, padrões e paradigmas.Parafrasear a sociedade líquida de Bauman e o estandarte dos pernósticos sociais em ser engrenagem julgando-se serem a chave mestra desta grande trama.

A saciedade buscada incessantemente extrapola as necessidades de subsistência das pessoas e alcançam um patamar de tortura social que se perpetua no automatismo, se dissemina no mimetismo evolutivo do passar das gerações. No entanto, os tempos no tempo são um desafio no equilíbrio do conflito das gerações.

A sociedade incompreende a percepção de tempo do outro, estabelecendo assim julgamentos de "atraso", "adiantado", "na hora certa". O conflito de gerações poderia ser amenizado se cada qual compreender como percebe o tempo e como o outro o concebe para assim coexistir no espaço tempo, interagindo nas diversidades.

Refletir sobre os paradigmas é mais que romper para estabelecer outros, ou questionar para subverter o que rege as relações sociais. A Reflexão mencionada aqui evoca uma madura reestruturação do modo como lidamos com o ambiente interno e externo do indivíduo, e como estabelecer integrações entre os padrões e paradigmas sem impor, mas conciliar. A motivação reordenada a partir da reflexão madura pode ser útil para viabilizar a vida em um planeta onde recursos naturais têm sua disponibilidade comprometida, e a proporção de habitantes (mais de 7 bilhões) com o acesso e disponibilização de recursos preocupa. A famigerada evolução da profanada raça humana pode conter uma chave de retomada, um núcleo que se aprimorado, pode fazer do transcendental uma realidade. Seras tu Accumbens?

sexta-feira, 13 de abril de 2018

manifesta




A humanidade define os verbos que movem seus ventos. Os indivíduos repetem sozinhos tais verbos até sentirem-se seguros de os fazerem reverberar na sociedade. Agredir. Romper. Sacudir. Convencer. Obter. Amar.

Manifestar. O metro quadrado variável. Manifestantes tem um número, autoridades tem outro. As imagens revelam trupes, os ares confundem no vento os objetivos. Estilos, ideais, ideias. Tudo se defende, todos se ofendem. Um "demo" do processo democrático a cada esquina. As praças ocupadas, as redes sociais soterradas. O mundo tornou-se cansativo em um cenário de manifestações estruturadas como desfiles de escolas de samba. Depois que a banda passa fica a sujeira nas ruas, o cheiro da urina, os estilhaços, as manchas de tinta, de sangue, o custo (público ou privado) de se restabelecer o ritmo da sociedade até a próxima manifestação. A desordem das palavras, o desencontro das pessoas, o desencanto. Os sentimentos suprimidos a orelhas de livros, a recadinhos de um instante, um toque dos dedos na tela, um emoticon que esconde nosso rosto.

A manifestação muitas vezes ignora os caminhos efetivos e formais de provocar a mudança necessária, e invoca ânimos para evocar o caos numa estratégia de “resetar” o sistema contra o qual manifesta. Ansiamos atalhos, tal qual o lobo mal. Mas os protagonistas desconsideram o mar de variáveis para alcançar os objetivos por estes meios. Desconhecem um modo eficaz de caminhar pela burocracia da formalidade e assim provocar as mudanças. Assim, decidem então pela ruptura brusca, o restart a partir das manifestações, dos bloqueios, do caos. O diálogo da gritaria, para romper a apatia de quem não deseja tomar em mãos bandeiras. Engraçado, mas quando se verifica o quê financia o quê, percebe-se que nunca são os opostos a brigar, mas os aliados em tempos diferentes. As ranhuras da sociedade acobertam as conveniências das vozes e narrativas.

Em uma onda de manifestar a indignação sobre tudo, até sobre a nata do leite, esquivamos de manifestar o amor, o equilíbrio, a aceitação das diferenças e a busca por soluções cordiais aos intermináveis conflitos de interesses. Vasto o mundo é, mas o ponto que todos desejam ocupar cabe poucos; o poder de controle. O epicentro, precisamos aprender muito ainda...


é só agua




Precipitou dos céus sobre nossas cabeças, naquela manhã de poucas surpresas. Despencou de nossas certezas a chuva que marcava o ritmo dos pensamentos. Que momento sublime, poder apreciar a vida em movimento.

Seus contornos, seu fluxo e contrafluxo, seus tempos e temperaturas. As rimas duras que faz em enxurradas de desilusões, o sublime toque dos seus versos a inundar os poros de um novo mundo. "É só água", ressoam. "É só corpo", pensam. "É só matéria", atestam. Doutores em nada saber, tudo julgar.

Quando se para a olhar a paisagem, parado não se está, mas sim em movimento; indo e vindo com aquilo que o olhar toca. Apreciar um dia de sol, refrescar-se na introspecção de um dia nublado, libertar-se em dias de chuva. Revigorar-se nas madrugadas, seja acordado, ou sonhando. Perpassar as ranhuras do solo, das árvores, das mãos, dos rostos; tudo integrado, tudo disperso. A vida não se submete às rédeas que criamos, aos cabrestos que tentamos impor, aos ponteiros que buscamos marcar, aos murros que damos no vento. Ela escorre, toca, vai...


terça-feira, 27 de março de 2018

têmporas


O céu de sólido sol cede o palco para nuvens que alteram a iluminação sobre meu rosto, a temperatura sobre minha pele. O anúncio da chuva, pelo cheiro no ar, é a introdução de uma bela sinfonia natural do porvir. A chuva, instrumentada de todos os tons, toques e ternuras avança gradativamente. Trocadilhos traiçoeiros, têmporas a mercê das temporãs.

O ritmo da vida ao redor faz outro sentido aqui dentro. A relevância dos fatos, a dimensão dos impactos varia tudo conforme o respirar, o interagir e a paz.

Foi assim a palavra sem alça despencando do "auto" de minhas ideias, atravessando meus sentimentos em um papel que nem tinta absorve, nem olhares retém. Essa bula, este manual do que me resta na curva dos versos de rimas tão amargas. A maestria do toque suave da paisagem muda o gosto e o sabor. Especialmente belo o dia me toca com paz. O inspirar o ar fresco da manhã, ouvir a vida ao redor é como ser abraçado de um modo especial.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Fator Humano



O avanço tecnológico é irreversível e a dependência social às novas ferramentas e facilidades também. A energia das baterias e a cobertura de sinal são os limitadores. Na comunicação, as novas plataformas e softwares facilitam a navegação pelas narrativas, percepção de peso da imagem e temperatura de discussões, no entanto, a tecnologia ampara-se em algorítimos, em fórmulas condicionadas, de forma exata. O perfil analítico necessário para manutenção dos processos evoca uma sensibilidade que tempera o que chamamos de Bom Senso. Sendo o bom senso um dos determinantes para a tomada de decisões.

Afora as discussões sobre a singularidade da I. A., os novos experimentos e as modernas plataformas de interação em uso em algumas áreas, o lugar do ser humano ainda é garantido quando se refere a constituição da sociedade. Entretanto, levantamento da consultoria McKinsey, em uma pesquisa global, atesta que 62% dos executivos de empresas de grande porte assumem a necessidade de substituir mais de um quarto do quadro de funcionários até 2023 em decorrência da automação e digitalização dos processos de trabalho. Treinamento e requalificação de profissionais será o inevitável fôlego corporativo. Os parâmetros para mensurar resultados em comunicação e definir estratégias, novas ações e planos de contingência precisam ser repensados.

O fator humano, a maneira como a espécie interage e interfere na paisagem é crucial no estabelecimento e manutenção das relações. A transparência e ética são as velas para empresa e indivíduos navegarem no ciberespaço e compreenderem o fluxo de cada um nesta malha em expansão, que parece não ter fim, a não ser a pausa, via botão de desligar dos hardwares em nossas mesas, mãos e bolsos.



terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Salto Ressoar


Como conversar sem agredir e conseguir criar uma reverberação narrativa conjunta? Uma avalanche de estratégias e conceitos inundam as plataformas à disposição de emissores e receptores (que alternam papéis entre si), mas o efetivo resultado desta dinâmica ainda não é mensurado e verificado como desejado pelas partes. Periodicidade, recorrência e qualidade são apenas alguns dos aspectos a serem considerados.

As redes sociais digitais vivem entre a atrofia da superexposição de conteúdo, o abuso das entrelinhas via influencers, a iminência das brigas e desavenças e o abstrato gesto de postar e curtir. As plataformas tradicionais da geração pré-millennials surta entre a maturidade de narrar o factual sem a obrigação do furo e a inviabilidade financeira do modelo de negócios desatualizado. As antigas plataformas operam entre a atualização do sobrefôlego (em busca de adaptar-se à contemporaneidade). Antes de obter equilíbrio, faz-se preciso compreender o que é o fiel da balança no que concerne à comunicação.

Entremeio a esse complexo fluxo de mensagens, narrativas e negociações de versões e influência de hábitos sociais (foco das mensagens e narrativas), está a consolidação das agências especializadas em verificar a “veracidade” das notícias e dos agentes produtores (fact-checking). A comunicação intensificou o boato institucionalizando-o e evoluindo-o a ponto de sobrepor a verdade (talvez por ser mais atraente, impactante ou até mesmo plausível) criando fake News e fake makers formalizando consequentemente a profissão dos verificadores. Para proporcionar uma estrutura que inspire a confiança, as agências de verificação são auditadas quanto a imparcialidade (apartidarismo), transparência de fontes, política de trabalho, fonte de financiamento, divulgação de política pública de correções.

Se a estratégia de gerar notícias falsas vem de uma articulação egoísta de influenciar o comportamento social, o hábito de compartilhar as notícias questionáveis provém do anseio humano de reforçar suas opiniões ouvindo e fazendo ouvir apenas o que quer ou ainda alimentar “o espirito de confusão” interferindo em uma discussão ou linha de pensamento.


O momento evoca a maturação da significação da comunicação, deixando de ser tarefeira e indo além de se considerar estratégica. Reverberar ideias permitindo reflexão, ressoar a mensagem na palavra que salta ao olhar a paisagem, e não apenas o retrato social. Se um tempo atrás foi interessante generalizar e massificar mensagens em bloco (robotizando ou não), faz-se necessário personalizar as mensagens e tratamentos. Um atendimento personalizado em determinados casos sobrepõe a agilidade de um atendimento primário geral, impessoal. 

A interação deve trazer a liberdade do pensar e interagir, em um salto sobre paradigmas que ressoe um novo tempo. O diálogo entre as partes precisa alcançar uma transparência e sobriedade que não é fácil. Assim, muitas vezes o diálogo tem sido terceirizado (via entidades representativas, agentes de lobby, assessorias). Todavia, a conversa precisa acontecer. 

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sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

fusos



O desafio na comunicação corporativa perpassa o relacionamento da Tecnologia e o conflito de gerações. Sendo que um fator determinante deste cenário é a necessidade de lideranças participativas, que saibam administrar as diferentes gerações e conduzi-las a vivência das novas tecnologias.

Futuro da comunicação ou comunicação no futuro. O “agora, já passou”. O foco das ações de comunicação já não está nas plataformas (intensificada após a efervescência tecnológica), mas sim no conteúdo; esse faz a diferença e interfere na malha social. Todavia, é importante conceber, formatar e disseminar de forma assertiva o conteúdo, revendo os resultados esperados, não basta buscar audiência por audiência. O volume não mais sobrepõe à qualidade de absorção da mensagem e manifestação da interferência.

O público procura se envolver com marcas e narrativas que corroboram com seus valores e propósitos. No entanto, vivenciamos valores volúveis e propósitos líquidos. O cidadão tem se estruturado assim e ainda impõe uma demanda por fidelização que extrapola os padrões estabelecidos pelas marcas, forçando-as a uma metamorfose incessante.

Um breve olhar sobre a paisagem e percebemos que as espécies são movidas pela busca. Players de mercado, ou influencers, então estudam o perfil destas buscas e oferecem alternativas de desejo que não são o objeto inicial da busca, mas são colocadas como o foco principal, transformando assim a busca, induzindo o mercado. Trata-se do aprofundam, então do agenda setting. Além de pautar as reflexões, interferir nas buscas e objeto de desejo.

A comunicação então deve estimular a convicção e não a repetição de mensagens e narrativas, mas sua multiplicação por absorção da mensagem e convicção do conteúdo. Neste processo, o lobby (que luta para ser devidamente regularizado) é uma estratégia de defesa transparente de temas chave na sociedade, assumindo um lado. Entretanto, o lobby tem sido depreciado em função dos maus lobistas. 

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) define o lobby como a comunicação oral ou escrita com uma autoridade pública para influenciar decisões políticas, administrativas e principalmente legislativas. Ampliando sua atuação na sociedade, o lobby é realizado pelas Relações Públicas, a partir da disseminação de narrativas setoriais.

Clientes então não podem ser vistos apenas como consumidores, mas sim cidadãos que se relacionam com mensagens e não com produtos ou objeto de resultados.


Pássaro verso
Pouso transcende
Voo ascende
Horizonte que dobra
O que ao vento passa
Beija a flor
Pássaro cor



sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

emissário


Torta ao vento, a palavra enraizada segue seu rumo. Teus lábios como pétala de uma flor capturam meus sentidos no silêncio, e o tempo me impõe a tormenta da espera, esperança. Sempre há um pouco de partida em cada espera.


O dia nos nasce com um modo de perceber que depende de diversos fatores. Mas hoje foi um dia que brilhava sem agredir as vistas, que aquecia sem incomodar e refrescava sem deixar os pelos do braço em riste. Envolvemos nossa mente em uma série de frustrações do outro e de si, e acreditamos um dia tropeçar na cura para tais mazelas. Por vezes recorrentes buscamos o que não precisamos. Criamos conceitos que não se aplicam ao nosso repertório e depois sofremos com eles. E ainda desejamos tropeçar na cura que cai do céu. O dia então nos embala no aconchego do tempo para sentirmos ao invés de apenas passar. Sobrepõem-se então todas as sensações e o texto perde a pontuação. O dia despido da manhã, lavado da tarde, se embrenha na noite. O dia nos adormece, na esperança sem norte, até o porvir que não se anuncia.

Ninguém é mais o mesmo. Este eterno clichê. 

Borboletas na janela
o vidro é a retina dos meus olhos
bloqueio natural para o que belo é

corpo em trânsito no elixir da vida
as rimas contornam os poros dela
certeza do rumo do acaso que é
destino

escorrem dos olhos

o que a chuva não faz escorrer das janelas
O mesmo é mais ninguém. Clichê eterno este.


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domingo, 31 de dezembro de 2017

espasmo






O amargo que percorre a língua encontra fim ao derramar na mente o pote de ideias em suspensão. O soluço não precede a rima ou soluciona o ocorrido. Ele causa a pausa. Da pausa o pulo, no pulo o sopro sem sofrimento. O corpo contorna as frases espalhadas na escuridão de um dia frio. O amargo então é o novo doce no repertório de sensações. A textura das frases, quando tocada, muda os sentidos transformando as palavras.

Observo como você manipula a carne. E a carne sucumbe aos seus gracejos, sem nem imaginar o processo de necrose em crescimento. A matéria se transforma, como qualquer outra no mundo, se rende a algum tipo de força... Não pisava nos astros distraída, se achava um novo sistema, independente, alimentando-se do derredor. Sábio foi o beija-flor que distanciou seu voo e desdobrou seu horizonte de forma a repousar sua paz na liberdade da distância.





quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Barato da vida


Foi o chão de encontro aos seus pés na manhã nublada de pensamentos espasmódicos. "Quão barato é uma vida..." A frase marcava o ritmo de suas passadas. Ver como era fácil retirar do bolso algumas notas e levar um animal de uma loja para casa. Na quase extinta banca de jornais e revistas percebe nas páginas como se mata por pouco, por um objeto, por orgulho travestido de honra e egoísmo envelopado em moral.  Assim como as plantas rompem o solo em busca do céu, crianças rompem o ventre e aumentam as estatísticas. O vento impõe na paisagem movimentos e sensações que despertam o corpo para um olhar de menos dor e cansaço, mas de esperança. Neste momento, o barato da vida se intensifica, atenua as lamentações de forma a fazer sucumbir os dogmas dos intelectuais. O valor. Peça chave nas relações humanas, determina também o perfil de interação com o ambiente. O valor que as coisas possuem, que difere do valor que colocamos nas coisas, o valor que buscamos acumular, o valor que dispomos para compartilhar. Valores imensuráveis, materiais, sociais, espirituais e de natureza que desconhecemos.

Não consigo ouvir meus pensamentos e encontrar neles a importância que um dia encontrei. Cabe saber se a importância que eu havia encontrado há tempos devia-se a imaturidade do infante apaixonado ou se existiu apenas naquela época, naquela faísca de brilhantismo que me empoderou a ansiar ser mais do que o reflexo, mas transformar com a refração.

Entretanto, o mergulho no horizonte sempre revela o que estava calado dentro.


segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

versos radiais

A teia dela estava consolidada ao canto, expandindo em seus versos radiais de forma a tocar o tempo. Que o vento não mais faça curva e desenhe a silhueta do seu corpo no meu escuro, interferindo na minha percepção do que passa, minha experiência com o que fica. Gotículas brilhavam em seus fios como sinalizadores de uma pista de voo. Impreciso; a lucidez de identificar a armadilha natural que a aproximação tornaria, que a contemplação instigaria. A primeira gota sobre a cabeça ilumina o cenário, a teia então torna-se apenas um risco, suspenso no vento, prestes a ser rompido, gerando outros fios.

Teia ao canto
desfiladeiro iminente
suntuosa escuridão

brilho que prende
nu vento que liberta
armadilha em um risco

Ateia o corpo
flamejante canto
que centro agora é

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

o que se quer



Uma análise ponderada sobre as ações de sustentabilidade (de todos os atores sociais) pontuadas pelo agenda setting, percebe-se que a multiplicidade envolve a todos em uma noção equivocada de transparência e responsabilização. As empresas não estão preocupadas com a atuação em localidades, as chamadas comunidades. Tampouco as consultorias por elas contratadas (visam lucro e reputação), ou as certificadoras que fiscalizam processos (visam reputação e ampliação de mercado controlado). Tudo é arquitetado para se obter uma licença social, uma aceitação de intervenção e presença de forma a controlar tensões e conflitos de interesses sem atrapalhar o fluxo do desenvolvimento econômico. A gestão pública não está interessada em primeiro plano na demanda da população, mas sim na manutenção do poder e para isso negocia benefícios, emendas, recursos, cargos e os rotula de ação social e estratégia. O atendimento popular é então apenas o efeito de retardo das articulações, o efeito colateral da defesa de interesses de quem está no poder. Assim, toda ação social contemporânea carrega um retrogosto de interesse financeiro, com tons aromáticos de vaidade (até mesmo misturado de altruísmo).

A ansiedade por obter boa imagem faz de todos “lobos em pele de cordeiro” alternando-se entre ser a vítima e o carrasco. Faz-se necessário definir antes de agir qual o nível aceitável de hipocrisia ou transparência ao se estabelecer as relações. O mesmo deve ser definido no discurso propagado. A grande vítima por outro lado (comunidades), não apenas é lesada, mas também se faz algoz, em proporções devidas. Não está preocupada tanto assim com o próximo, mas essencialmente consigo mesmo, com sua subsistência e posteriormente com sua alavancada na qualidade de vida, rumo ao status de quem detém poder, ou pelo menos quem não sofre tanto com ele. A preocupação com o meio ambiente não é amor à natureza, mas interesse em manter viável o local em que vive e de onde retira recursos. Por muitas vezes é até uma submissão de subsistência a alguma crença. Outrossim, pessoas condenam a iniciativa privada ao mesmo tempo em que almejam um cargo dentro delas, para essencialmente repetir o que já é feito.

Chove dentro e fora. As mudanças existem. Encontrei em uma caminhada sem precedentes pessoas simples. Simplicidade que não se refere a posses, a vestuário ou vocabulário. Mas uma simplicidade de olhar a vida e tocar o outro. A maneira leve de perceber as coisas complexas da vida sem afetar-se em um processo destrutivo, ou filantrópico. Tampouco essas pessoas desejam divulgação de seus atos, nomes, imagem. Nem dinheiro, nem abraços. Não era condicional o que faziam. Suas necessidades eram supridas de outra forma. Não eram santos no sentido sacro, pois cada qual guardava suas imperfeições, mas talvez o eram no sentido da palavra, “separados” diferentes de um modo que todos podem ser.

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terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Negócios sociais e a atrofia do querer



Observando as atuais parcerias entre iniciativas privadas e entidades sociais percebe-se a tendência na criação de estruturas de Negócios Sociais (que difere de uma organização sem fins lucrativos pois deve buscar lucro moderado para expandir o alcance da empresa, melhorar o produto ou serviço sem tornar-se essencialmente comercial, tampouco desmembrar-se da missão social). Atividades tradicionais de arte ou subsistência cultural são então formatadas em um modelo básico de negócio para gerar trabalho e renda.

No entanto, a perenidade destes novos negócios sociais, forjados sob a tutela de associações, é comprometida uma vez que não foram devidamente trabalhados os aspectos de interesse e engajamento dos participantes. Pois para a iniciativa privada, no exercício de sua responsabilidade social, é mais interessante a criação de um negócio social, pois os conceitos agregam valor às marcas que o impulsionam, todavia, os integrantes contemplados de tais parcerias (a comunidade) querem que o negócio social transforme a vida deles de forma a mudar de maneira expressiva a condição de vida. Desejam ainda que o negócio social se torne um negócio comercial lucrativo, em pouco tempo. Assim, aos poucos, a constatação do paradoxo em que se encontram se desenlaça no abandono dos integrantes da iniciativa ou na retração do negócio social, tornando-o dependente de uma iniciativa privada ou pública como mantenedora.

O indivíduo oscila então entre os negócios sociais e a atrofia do querer. Os sonhos individuais devem então respeitar a peneira que iguala o poder social chamando-o de vocação cultural da comunidade e anseio social. Neste sentido, a iniciativa privada o afoga em uma série de treinamentos motivacionais e visitas a outros negócios sociais, para sensibilizar o indivíduo a ceder aos interesses, ou missão social do negócio. O foco da iniciativa privada é a uniformização social pelo negócio controlado conceitualmente e independente financeiramente sem tornar-se comercial por essência. O equilíbrio nestas relações talvez possa ser vislumbrado a partir de uma correta leitura do ambiente e respectivos interesses das partes envolvidas. Neste cenário proposto, a iniciativa privada deve se destituir do papel de déspota, o poder público e a comunidade do de vítima. A construção do diálogo necessário passa por um processo de atrofia do querer individual, para remodelar o que a parte dominante determina ser interesse coletivo. A reflexão sobre os interesses se faz necessária; antes do imediatismo da iniciativa privada em fazer parcerias (e mitigar conflitos sociais), das comunidades em ganhar dinheiro (mudar de vida) e do poder público de obter recursos e imagens (manutenção política).

Antes de firmar uma parceria, conhecer o espaço e seus personagens. Conflitar interesses e construir um objetivo consensual, estabelecendo então a missão social do novo negócio. O passo seguinte então é formatar o negócio e potencializá-lo no mercado. Após o suporte inicial, propiciar então a sustentabilidade financeira, econômica, operacional, ambiental e social do negócio. Estabelecendo a margem de lucro moderado como meta. Lucro este que prevê a remuneração de mercado para os participantes e investimento na expansão de mercado e melhoria de produto, sem ferir a missão.

Só então se inicia a execução do planejamento de divulgação do Negócio Social como fruto de sucesso da parceria entre a iniciativa privada e a comunidade. O que vemos hoje é o contrário; empresas afoitas a fechar parcerias com o foco em controlar um conflito social por meio da exacerbada divulgação de uma atuação local ou parceria firmada, sem considerar a verdadeira demanda e o modo efetivo de atender. A questão não é divulgar mais, mas sim fazer melhor as parcerias sociais. Quando as empresas e instituições (públicas e privadas) compreenderem isso, o cenário mudará significativamente e a divulgação ganhará mais forma pois o conteúdo é algo sólido e não filantropia mascarada de vanguarda social.

este assunto renderá mais por aqui...



segunda-feira, 13 de novembro de 2017

caixa


Esconda sua felicidade no seu sorriso. Não permita que toquem, que furtem ou que o soterrem.

Cambaleou e mesmo diante do contorcionismo para evitar a queda, sucumbiu. Tentei juntar os pedaços do cristal despedaçado e quanto mais tentava, mais me cortava. Os cortes, o sangue, as lágrimas. Varri então os cacos, acomodei-os em uma caixa. Identifiquei-a e a entreguei ao mercador dos cacos. 

Deixe ao tempo o que ao tempo designado é...

sábado, 4 de novembro de 2017

laço


Você é um pedaço do meu mundo
o pedaço no qual me aconchego
onde reside meu cheiro e alçam voo meus sonhos

nesse canto o silêncio cala o corpo
as estrelas iluminam os poros expostos
ilusões perdidas entrelaçam-se ao abismo da esperança
ainda assim floresce um novo dia

sábado, 28 de outubro de 2017

corpo


Quão fantástico movimento
corpo que cala o silêncio
traça no ar sentimento
sua dança é poesia
meus olhos o palco
coração plateia

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

curvas



Faz em mim curva o vento.
Vou me nu 
Invisível entre os ombros angustiados 


A metrópole permite lacunas dos fluxos cinzas do cotidiano. Possibilita a existência de espaços encantadores, onde um bom olhar pode ser degustado com café. Sublime, a música ambiente isola o som da cidade e harmoniza os sons das pessoas. O aroma de café me seduz e eleva a um ambiente onde não me conheço, me reconheço e me leio. Os sabores do café e do bom queijo a embalar essa silenciosa e solitária dança em uma tarde de brisa suave.

Um macchiato para o primeiro verso. Um chemex com grão na linha mais exótica para me debruçar e tocar a próxima estrofe.

Contorna-me o tempo 
enquanto palavras perpassam os poros

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

descalço



O coração caminha descalço no arcabouço de um dia sem ar. O suspiro esmura o tempo em busca de refrigério, mas o eco não há de libertar, apenas devolve distorcida a ferida de um pesado pensar.
Olhos cerrados florescem um novo dia.

domingo, 20 de agosto de 2017

trilhas

Minas teus sons
ofícios das Gerais 
Forjando na pele e nas veias
a história que a letra não traz

Alfabeto posto
escolha seus punhais
minhas cicatrizes estão no interior
De Minas 

sábado, 5 de agosto de 2017

Classificados


Olhos abertos e placas para todos os lados. Dedos sujos de jornal. Fragmentos, frangalhos e faíscas. Vende-se o bom senso embrulhado em arrogância. Troca-se palavras por silêncio. Empresta-se virtudes. Procura-se amor, recompensa-se com intensidade. Doa-se clichês, de todos os tamanhos, para todos os momentos. Vende-se um coração de veias entupidas e emoções surreais; único dono e em bom estado de alienação. Vende-se a alma cansada de esperar o messias. Vende-se lábios silenciados pela dor da distância. Vende-se a alegria, aconchegada em uma caixinha sem tranca, sem tampa, sem laços. Aluga-se sonhos, recheados de possibilidades, cobertos de expectativas, contrato só de longo prazo. Vende-se poemas de amor, sem vírgulas, puro estrofe e verso. Procura-se felicidade plena, recompensa-se com cumplicidade. Aluga-se dignidade, embalada em plástico bolha.  Aluga-se língua sem palavras. Doa-se lágrimas de olhos sem olhares, atende-se às madrugadas, gentileza chegar pelos ouvidos.





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quarta-feira, 26 de julho de 2017

Relações Governamentais no mundo empresarial


(Parte do trabalho Sócio-Transcendência - A Sociologia Política como instrumento estruturante do Investimento Social Corporativo - da pós graduação em sociologia política)

As leis não definem e regulam uma sociedade, mas a sociedade regula as leis. Enquanto se pensar o contrário, viveremos um tempo de excesso de leis, escassez e ineficiência de cumprimento e de fiscalização. A atrofia dos órgãos públicos (em função do perfil robusto de burocracia, baixo índice de capacitação e de comprometimento de seus servidores, aliada a má gestão de alguns personagens) exige uma reconfiguração do posicionamento da iniciativa privada tanto no cenário social (como praticar a responsabilidade social), quanto no político (dialogando com os atores políticos em busca de uma responsabilização pública sobre as demandas sociais e também empresariais).

Neste sentido, as empresas deveriam estar atentas às respectivas estratégias e estruturas de relações governamentais. Não amparada em propina, e o velho modo já condenado e vindo à tona no Brasil pelos recentes acontecimentos (Operação Lava Jato), mas na legalização de um lobby como instrumento de diálogo e articulação de destinação de políticas públicas e recursos em prol da comunidade. Assim, os profissionais devem dominar as técnicas de leitura de território, exercitar a percepção de tendências e correlações sociais, bem como atentar-se para as estratégias políticas e suas interferências nas comunidades de atuação da empresa. Se a equipe responsável pela atividade é própria ou terceirizada, isso depende do perfil de gestão da empresa. Talvez o recomendável seja uma equipe própria com suporte (via convênio) de uma associação com expetise e trânsito político.

Para isso, após ter uma leitura (diagnóstico) aprofundada do território (comunidades) que atua, é importante que as áreas de Relações Institucionais / Governamentais das empresas sigam algumas premissas básicas:

Conhecer a gestão financeira dos municípios críticos (receitas e despesas). Ex: via Portal transparência, Lei de livre acesso à informação. Considerando municípios críticos aqueles de relacionamento mais delicado, que exigem mais atenção.

Conhecer linhas de investimento público disponíveis. Convênios, emendas parlamentares, fundos, leis de incentivo. Acompanhar a estrutura de gestão do Estado e da União no sentido de destinar recursos para as cidades.

Conhecer Atores políticos de interferência e influência nos municípios críticos (Ex:Deputados Estaduais, Deputados Federais, Chefes de partido).

Articular captação e destinação de recursos federais e estaduais para demandas dos municípios críticos. Verificar junto a Prefeitos e Presidente de Câmaras o fluxo de recursos para o município e promover o diálogo com os atores políticos, colocando a empresa ou instituto da empresa como interlocutor que reforça a demanda social cuja solução é pleiteada.

 Simultaneamente a busca por recursos públicos, é fundamental que a empresa determine o que deseja obter de retorno de cada projeto que apoia (Retorno apenas de imagem? Geração de Renda para comunidade? Qual a meta de renda a ser gerada por família beneficiada? Qual o tempo de apoio? A empresa tem também que definir quanto (R$) está disposta a destinar ao Investimento Social Corporativo.

- Elaborar estratégia de atuação, definindo perfil de investimento (social e de comunicação) correlacionado à rentabilidade da Empresa  (Faturamento, lucro líquido, tributação).

Verificar perfil do investimento social corporativo e de comunicação e o impacto ou interferência no Índice de Sustentabilidade da Empresa (ISC).

A profissionalização das Relações Governamentais no cenário da iniciativa privada precisa ganhar aspectos sérios, com fluxos formalizados e estratégias bem traçadas para promoção da boa política, em prol do famigerado desenvolvimento integrado e justo.


segunda-feira, 24 de julho de 2017

rastro



Chegamos a um tempo em que o diálogo harmonioso deu lugar a uma troca de agressões. Quem se faz mais cruel, quem mais fere, esse sai como vencedor do ambiente, torna-se o imponente; contudo não percebe que mata um pouco do outro. Mata um pouco do outro. E a parte morta muda o ser profundamente. Gira-se a roda.

Posso sentir seu peso sobre mim. Consigo pressentir seus passos atrás dos meus, seu peso sobre meus ombros, suas mãos em meu pescoço, sua risada ansiando minha derrocada. Ainda assim persisto. Ainda assim continuo vivo atrás das retinas lacrimejantes. Com a pele fustigada de tanta agressão, com a memória falha de uma mente sobrecarregada, com a visão turva, com a cabeça que raramente não está dormente; ainda vivo. A leitura em braile da pele vê nas rugas a marca de um tempo. Outrossim, mesmo com as pessoas tropeçando nas minhas palavras, não compreendendo meus gestos e usando o que sou contra mim, sigo vivo. Posso sentir o cheiro do seu egoísmo, sua vontade em dissecar-me tornando-me um troféu na estante dos réus. Todavia, insisto. Perpasso meus sonhos entremeio a realidade. Desvencilhando-me dos desfiladeiros das pessoas que querem que o mundo seja segundo suas regras. No respirar gero frutos. Parte de mim que espalhada em gestos, em palavras e pessoas, infecta a vida de um novo olhar, um aroma que traz paz.. 




sábado, 15 de julho de 2017

alternância




Entre ter renovado o dia pelo mudar a perspectiva sobre a vida e permanecer no desalento das lamúrias cotidianas, alço voo sem amarras, mas não sem norte. A manutenção das vaidades que nos alimentam sucumbe a um novo pilar dessa sociedade líquida. A alternância; manifestada pela transição de paradigmas desse indecifrável Hilbert Hotel, do qual somos hóspedes, hospedeiros, expectadores e produto.

O uso e ocupação do território não pode ser analisado de forma rasa e inconsequente. Faz-se necessário uma leitura que compreenda o contexto social, as interferências no ordenamento que provém do meio e as que vêm do próprio indivíduo.

...

Já observou um casal jogando pingue-pongue pausadamente? No auge da idade da sabedoria, eles se divertem; sorriem em olhares de cumplicidade e um ritmo de raquetada que mais parece um dar as mãos. O ponto se estende, não se conta, o valor ali é outro. E ao lado, a mesa de sinuca recebe com a filosofia do silêncio o cavaleiro andante. Já viu um solitário jogando sinuca calmamente? 

Os impactos de se estar vivo, grifados em anéis de crescimento da madeira, na floresta que ainda persiste, respira e nos integra. Encanta-me estar na Dinâmica da vida. Sendo um detalhe orgânico na malha complexa que forma a derme da realidade.

Qual sua melhor face ao espelho? Aquela em que você se olha nos olhos e se reconhece.

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Clarifício


desliza um dia novo,
e a luz caminha pelas curvas 
desfazendo os desfiladeiros da paz;
do pouso ao voo, o alvoroço do silêncio.


quinta-feira, 6 de julho de 2017

Organização Social - nuances



A hipótese do perfil de ocupação geográfica ou perfil cultural de uma nação, por muito tempo foram utilizados para definir aspectos de pobreza e prosperidade; estabelecendo parâmetros para avaliar o índice de fracasso de um povo. As regularidades comportamentais que regem a forma de organização da sociedade estabelecem seus padrões tendo como base o senso de preservação e sobrevivência.  Padrões esses materializados por meio de atitudes instintivas ou culturais.

Neste ínterim, emergem na seara da filosofia social o darwinismo social e sua interpretação da sociedade sob o viés das leis de evolução das espécies biológicas, como instrumento de explicar a sociedade e suas transformações, transições de paradigmas e padrões.


A organização social contemporânea impele ao indivíduo um comportamento de egocentrismo. Para coexistir o ator social com esse perfil precisa de público e referência, para então impor suas singularidades, legitimando-as como objeto de consenso ou bem-estar social. Importante considerar a etimologia; do latim medieval individuus (indivisível), que é formado de in + dividuus. O vocábulo dividuus vem de dividere (dividir). O processo de formação de indivíduos compreende interferências da sociedade, ou seja, depende das relações sociais e culturais (variando o grau de intensidade), formando assim a identidade do ator social (VIEIRA, Rudson. 2016. http://passocomunicacao.blogspot.com.br/2016/12/individuus.html acessado em 28/06/2017).


O efeito em cadeia da Revolução Industrial, responsável por parte do desenvolvimento da sociologia nas ciências sociais, segue interferindo na configuração social, impulsionado pela globalização. Avanços tecnológicos ditam não apenas o comportamento social, mas principalmente os parâmetros de desenvolvimento da nação e os respectivos mecanismos de controle da massa. "O motor das transformações tecnológicas, em todos os segmentos da economia, era a inovação, encabeçada por novos empreendedores e homens de negócios ávidos por aplicar suas ideias" (ACEMOGLU E ROBINSON: 2012 P.40).

As desigualdades mundiais, todavia, não podem ser explicadas pelo clima ou doenças, nem qualquer outra versão da hipótese geográfica [...] A história demonstra a inexistência de ligações simples ou duradouras entre clima ou geografia e êxito econômico. Por exemplo, não é verdade que os trópicos tenham sido sempre mais pobres que as latitudes temperadas. (ACEMOGLU E ROBINSON: 2012. P. 56 e 57).

Uma observação sobre o Iluminismo (filosofia das luzes) e a intensa busca pela evolução através do questionamento e percebe-se uma sociedade que é regida por alguns mecanismos de controle como o medo, a dependência, o limite de acesso. Os instrumentos reguladores desses mecanismos eram a espiritualidade, informação / conhecimento e a sobrevivência.

Clifford Geertz já bordou certa vez a respeito de como correntes teóricas que tentaram perfilar o ser humano e seus costumes a partir de uma correlação com fatores biológicos, psicológicos e sociais e também culturais, acabaram por definir uma concepção estratigráfica, em busca das constantes universais. No entanto, a sociologia, ao surgir e se fortalecer no século XVIII, consistiu em uma ciência para descobrir as leis do progresso e desenvolvimento social além dos dogmas pré-estabelecidos. Observar o indivíduo imerso e simultaneamente isolado das constantes universais para ter então uma leitura apurada da realidade, paisagem a qual marca a história da civilização.

Durkheim buscou em sua abordagem sociológica fatiou a sociedade de forma a buscar um entendimento a respeito do que constitui o fato social. A análise do movimento de inércia social e rompimento do mesmo, levou Durkheim a correlacionar as mudanças abruptas na rotina do indivíduo, ou a ausência de algum tipo de mudança, resultava no colapso do indivíduo enquanto ser social, imputando a ele um estado de apatia controlada, sucumbindo ao suicídio, físico ou social. Sua leitura da sociedade a partir da Divisão do trabalho social, busca compreender as responsabilidades e deveres de cada integrante do grupo, buscando conceber uma sociedade que exista dentro e fora do indivíduo. O consenso, fiel da balança de uma sociedade igualitária, almejado por Durkheim  em sua concepção sociológica revelou-se uma utopia uma vez que a história das nações revela um campo controverso. A visão sociológica de Durkheim partindo das implicações e determinações individuais em consonância com as construções sociais, busca delinear a organização da sociedade, suas anomalias e seus rumos. A mensuração e atestado empírico de suas observações acerca da sociedade, dava a Durkheim um panorama de como o homem além de contribuir na formação da sociedade, ele também se constitui como um produto dela.

Em sua obra, Durkheim aborda o Estado como órgão e o instrumento de uma nova sociabilidade, protegendo e regendo a sociedade rumo a um desenvolvimento. Considerando sua argumentação de que o indivíduo possui duas consciências (Individual e Coletiva) pode-se verificar pelo contexto social, que o populismo e neopopulismo atacam a consciência coletiva e a manipulam a partir de nuances percebidas de uma consciência individual adormecida.

Em Weber, sua abordagem sociológica tem ênfase na ação social. Creditando poder à conduta do grupo (social) sobre a do indivíduo. Sua sociologia compreensiva ou interpretativa busca compreender as ações do indivíduo como parte da constituição da realidade social. O motivo das ações, chamados Tipos Ideais, são os instrumentos de compreensão da realidade, mas em si não fazem parte dela. O sujeito social, como fruto da sociedade que o indivíduo contribui na construção, não pode ser compreendido em sua totalidade, tampouco a realidade. Embora caminhe sobre conceitos e percepções subjetivas, Weber propõe uma metodologia que consiga atingir de forma objetiva a leitura social sobre o indivíduo e sua formação enquanto sujeito social (produto da sociedade). Trata-se de uma ciência embasada na realidade, que não se restringe a padrões fixos dos fenômenos e do tipo ideal. Neste cenário, a finalidade das ações sobrepõe a relevância de suas consequências. A ação dos indivíduos é analisada de forma contextualizada, conforme recorte definido de parâmetro de análise.

Atrocidades da história humana aconteceram não apenas pela alienação em uma ideologia e intencionalidade de ser cruel com seus semelhantes e divergentes. Mas pode-se perceber que adventos como o holocausto, submissão a regimes ditatoriais, aceitação de um determinado sistema político e organização social se dá por meio do que vulgarmente se chama de efeito manada. Trata-se da Conformidade Social. O comportamento de obediência ao grupo dominante.

Cada sociedade funciona com um conjunto de regras econômicas e políticas criadas e aplicadas pelo Estado e pelos cidadãos em conjunto. As instituições econômicas dão forma aos incentivos econômicos: incentivos para buscar mais educação, para poupar e investir, para inovar e adotar novas tecnologias, e assim por diante. É o processo político que determina a que instituições econômicas as pessoas viverão submetidas, e são as instituições políticas que ditam como funciona esse processo. Por exemplo, são as instituições políticas de uma nação que estabelecem a capacidade dos cidadãos de controlar os políticos e influenciar seu comportamento – o que, por sua vez, define se os políticos serão agentes dos cidadãos, ainda que imperfeitos, ou se terão a possibilidade de abusar do poder que lhes foi confiado, ou que usurparam, para fazer fortuna e agir em benefício próprio, em detrimento dos cidadãos. As instituições políticas incluem Constituições escritas − mas não se limitam a elas − e o fato de a sociedade ser uma democracia. Compreendem o poder e a capacidade do Estado de regular e governar a sociedade. É igualmente necessário considerar de forma mais ampla os fatores que determinam como o poder político se distribui na sociedade, sobretudo a capacidade de diferentes grupos de agir coletivamente em busca de seus objetivos ou impedir outros de atingirem os seus. (ACEMOGLU E ROBINSON. 2012. P.50)

O marxismo e sua divisão de classes como mecanismo de análise social e definição de parâmetros das relações sociais estabeleceu uma nova vertente na sociologia. Com argumentos focados na divisão do trabalho e a valorização do produto e do modo de produção, bem como da força de trabalho, o marxismo buscava um equilíbrio entre as classes sociais a partir da entropia, conflito e posterior harmonia, que, no entanto, revelou-se como tendência a inversão dos papéis; uma vez que o empoderamento do trabalhador e sua libertação dos padrões de produção controladores, o faz se tornar um novo empregador, porventura, sem a devida capacitação, mas apenas o estímulo. Este fato, impulsionado sem a devida estruturação de mudança, impacta no mercado, afetando lucros, sistemas de produção e de consumo, interferindo na sociedade de forma negativa.
O Comunismo implantado foi uma ideologia deturpada, focada no embate privado x público. Marx defendia não o fim da propriedade privada, mas o fim da propriedade burguesa; defendia que o homem livre teria mais tempo para ser do que para ter. Para isso, ele defendia 10 medidas para concretização de uma sociedade comunista, a ser estruturada gradativamente.  Contudo, a burguesia quer manter as coisas como estão, o proletariado  quer deixar de ser proletariado sem ter claramente definido o que deveria se tornar. O cálculo da mais valia oscila conforme o volume do capital, que varia de acordo com o perfil de modernização do processo de produção, que por sua vez depende do apetite a investimento da burguesia, controle e aceitação junto ao proletariado.
A cultura de massa, então consolidada e difundida pela Escola de Frankfurt abordou uma teoria crítica da sociedade onde o todo era analisado a partir de recortes específicos, condicionados a experimentos comportamentais, para se compreender os mecanismos da opinião pública, sua formação, representação e controle.

A sociologia é multifacetada. Seja no viés do Funcionalismo, Neofuncionalismo, Fenomenologia, Estruturalismo, Etnometodologia, Hermenêutica, Sociologia da Ação, Individualismo Metodológico; todas ideias surgidas diante de um colapso, crise do pensamento sociológico na contemporaneidade. O pluralismo das novas sociologias ampara-se na historicidade das nações como ferramenta de leitura da sociedade, cada uma com suas especificidades. Contudo, este amparo na historicidade gera um historicismo que considera as ações dos indivíduos dentro do contexto social. Importante considerar também a sociologia Figuracional, de Norbert Elias, onde as consequências ou resultados não almejados, decorrente das relações sociais, são o instrumento de análise e trabalho.

O individualismo, onde a sociedade é atendida pelo indivíduo, sendo ela a consequência da existência e interação dos indivíduos, busca compreender a sociedade a partir do contratualismo, esse estruturado em tradições e valores. Assim, o indivíduo se constitui sujeito social, cria e interfere na sociedade. Na visão do holismo metodológico, o fato social ganha relevância como instrumento que interfere, exercendo coersão sobre os indivíduos. Assim, o ser seria modelado pela sociedade, que já teria sua própria regra de coexistência.
Em um cenário plural de análises sociológicas da sociedade, a oposição entre nível de recorte (macro ou micro) polariza-se entre o coletivismo metodológico (holismo) praticado por Durkheim e Marx, com análise macro dos adventos sociais, relações sociais e constituição dos indivíduos. Esta análise norteia-se pela compreensão das coletividades e suas correlações com o indivíduo. De outro lado, o individualismo metodológico, onde a realidade é interpretada a partir do repertório individual, sob perspectivas restritas de cada indivíduo não enquanto sujeito social (integrado à coletividade), mas em separado.
Nas análises macro, é importante considerar as interferências das tradições e dos valores sociais sobre o sujeito. As tradições (coletividades consensuais consolidadas pela historicidade), mesmo dotadas de valores e mecanismos de controle, não determinam em plenitude o comportamento dos indivíduos. Martins (2008. P 205.) aborda como a tradição e valores diferenciam-se na interação com o indivíduo e constituição de seu comportamento.

A sociologia conduzida pelo viés que transite entre o macro e micro (considerando o número de indivíduos envolvidos nas respectivas análises) seria o ideal para traçar estratégias de intervenção e evolução a partir da leitura aprofundada do território e das relações inerentes. Neste sentido, as análises dos elementos em uma dimensão micro não devem significar uma leitura reducionista, mas sim mais detalhada do que vem a delinear o indivíduo, seu comportamento e respectivos desdobramentos, de forma a interagir com as análises macro para recriar as estruturas sociais possibilitando melhor significação da sociedade.

Desta forma, a metodologia para compreender o universos societário, o que e como o constitui e os rumos possíveis e intervenções necessárias, não deve estacionar seu modus operandi em uma única vertente, mas na integração e correlação das abordagens (mesmo as de caráter oposicionista) para então se construir uma versão do entendimento social que seja aplicável á paisagem de forma dinâmica, orgânica, viva. O paradoxo dessa hipótese e respectiva dualidade é portanto o caminho acessível da compreensão das relações dos indivíduos com o contexto social e de que forma as interações alteram tanto os indivíduos, seus comportamentos enquanto sujeitos sociais e a própria sociedade.



 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACEMOGLU E ROBINSON, Daron e James A. Por que as nações fracassam: as origens do poder, da prosperidade e da pobreza. Tradução Cristiana Serra. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.

DURKHEIM, Émile. Lições de Sociologia – a Moral, o Direito e o Estado, 1969 - Editora da Universidade de São Paulo, 2ª edição.

FERREIRA, Roberto Martins. Popper e os dilemas da sociologia. São Paulo: Annablume; Fapesp, 2008

GEERTZ, Clifford: A interpretação das Culturas. Rio De Janeiro: Ed Guanabara, 1989.


(VIEIRA, Rudson. Individuus. 2016. Disponível em http://passocomunicacao.blogspot.com.br/2016/12/individuus.html acessado em 28/06/2017).

sexta-feira, 30 de junho de 2017

iminente precipício



As mudanças das lideranças sociais ocasionam uma onda de interferências na organização social de forma a abalar conceitos até então tradicionais na sociedade.
Uma sociedade que anseia institivamente pela modernidade e evolução não pode comprometer a essência que defende: o elixir da humanidade.  No entanto, percebe-se um movimento cada vez mais alienante da raça humano no que concerne aos objetivos da humanidade e como constituir uma sociedade que os defenda. A leitura de Bauman sobre uma sociedade líquida, de uma modernidade volúvel, onde tudo passa e nada permanece, nem mesmo os conceitos, é um exemplo disso. “Esquecemos o amor, a amizade, os sentimentos, o trabalho bem feito. O que se consome, o que se compra, são apenas sedativos morais que tranquilizam seus escrúpulos éticos”. Zygmunt Bauman.
"Atirei um limão n'água / E fiquei vendo na margem" Carlos Drummond de Andrade. As lideranças sociais, com suas atitudes focadas em objetivos restritos geram um fato social que reverbera além do escopo da atitude em si, mas torna-se interrelação com as atitudes da sociedade. O efeito em ondas propicia o rompimento dos paradigmas e constituição de novos.
Neste cenário, a resiliência tornou-se a bandeira dos que ousam refletir sobre a organização social, seus fluxos, rumos e desdobramentos. A mudança impele ao ser humano uma reflexão acerca de suas fragilidades e potencialidades, revendo desejo, vontade e representação. A desistência ou grito de colapso, o suicídio (seja ele físico, moral ou social), é fruto da apatia controlada da realidade onde nada acontece com o indivíduo, sem expectativas, sem perspectivas favoráveis, e também quando há o caos e intensa pressão, um turbilhão de acontecimentos que impelem o indivíduo a perder suas perspectivas de solução e expectativas de tranquilidade. Em sua obra o suicídio, Durkheim analisa como o suicídio além de sua implicação imediata (interferência na vida do indivíduo e respectivo círculo de convivência e relevância), mas observa as ocorrências de forma a correlacionar com o contexto social e os acontecimentos contemporâneos que moldam o organismo social. Para compreender este fato social, suicídio, é fundamental então analisar tudo o que originou o evento e quais os fins a que serve, considerando também os devidos desdobramentos na paisagem social.
Fronteiras do pensamento e da organização da sociedade são de forma recorrente expandidas e não rompidas. Neste sentido, ao observar como os padrões culturais sofrem mudanças com o passar de gerações, percebe-se como é real a leitura de Kuhn sobre os paradigmas. Sua concepção de que um paradigma termina com a constituição de um novo paradigma, tendo a Revolução científica como um instrumento de transição entre paradigmas, é importante para compreendermos como um fato social se torna relevante para a história, sendo um marco na trajetória social de um povo.
Contudo, Clifford Geertz já afirmou que “pode ser que nas particularidades dos povos sejam encontradas algumas revelações mais instrutivas sobre o que é genericamente humano” (GEERTZ 1989). Ou seja, um olhar atento aos momentos de entropia pode fazer com que percebamos as mudanças e marcos na evolução do coletivo e também do individual, possibilitando uma leitura do que vem a ser o ser enquanto indivíduo e enquanto sujeito social. O pensamento crítico estimulado pelo Iluminismo como forma de evolução da humanidade, por exemplo, contribuiu para que fosse instituído um processo de entropia social, com tudo aquilo que é sólido se desfazendo no ar dos questionamentos. Percebeu-se naquele tempo que um aparente rompimento estava acontecendo nos moldes convencionais de interpretação da realidade. No entanto, posteriormente ao período supracitado, pode-se verificar que as revoluções estabelecem-se como ponte, momento de transição entre paradigmas.