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domingo, 13 de junho de 2021

Asas versus ases




Uma boa ideia não morre ao tentar colocá-la no papel. Ela amadurece, ganha asas para conseguir alçar voos antes não imaginados. Ela se abre às possibilidades de ser complementada. Após o famigerado briefing e brainstorming, organizar as ideias em um planejamento é o que permite sucesso à iniciativa; ainda mais se envolver outros players.

Posto à mesa, como vinho aberto na taça para ter contato com o ar. Respirar. Harmonizar, aumentar o contato com o oxigênio para apurar o sabor e tornar a experiência da degustação ainda mais especial e completa. Assim a ideia, bem valorizada, organizada (não castrada), maturada.

No mercado, ao invés de despontar, as cabeças urram para sobreviver, tornar-se essencial não pela contribuição no processo evolutivo, mas pela dependência para manutenção de padrões das estruturas sociais estabelecidas. Compartilhar virou indicador numérico, afastando-se do real significado e potência do ato. Ao invés de dar asas à imaginação e também ao outro, as pessoas tentam se tornar o grandes "As" podendo ser tão lembrado como uma boa foto antiga ou como um papel térmico exposto ao sol. Precificar tudo, rotular experiências humanas como um produto de mercado tem consequências que extrapolam divãs e gerações. É preciso rever comportamentos sem busca por culpados, mas por soluções plausíveis. Façamos uma comunicação que dê vida às ideias. 



segunda-feira, 7 de junho de 2021

Dimensões atordoantes


O boomerang das narrativas. A comunicação, via mensagem, conduzindo o usuário que a conduz até o receptor (sendo ele outro detentor de mensagem e influência na ordem social) e voltando (vez por outra em um voo de borboleta). Conceber discursos (organizacionais ou não) tornou-se cada vez mais desafiador. Seja pelo aumento do índice de engajamento e inquietação do público, ou pela mudança do perfil das plataformas de transmissão das mensagens e padrão de composição e durabilidade das narrativas.  

A nem mais citada globalização atravessou as massas, impactou leituras de grupos sociais, integrou processos macro. Em seus desdobramentos, ou avanço, como queira, interferiu no padrão do indivíduo de constituir sua face social. Ou seja, tornou-se volúvel de acordo com o repertório que a todo o tempo é alterado com novas formas de se expressar, de receber conteúdo, de acessar. O "telefone sem fio" não é o cochicho de ouvido em ouvido, mas é wi-fi, reverbera sem controle. No ar, uma massa diversificada de significações, chovendo influência sobre a sociedade. Vai e volta indo para outro lugar. 

Sem subestimar seu público-alvo.  Essa deve ser não uma premissa institucional apenas, mas interiorizada em todos. A partir dela, pensa-se o objetivo da mensagem e segue o rito de sua produção. Vemos diversos aparatos modernos, muita publicidade arrojada, muita narrativa aparentemente de vanguarda, mas que em sua maioria, pré-julga o público e falha na premissa citada no início do parágrafo.

Lance sua narrativa






sábado, 20 de março de 2021

Dedos e ranhuras



À frente no túnel do tempo, deixando para trás tanta coisa que bate à face, seguindo no túnel do carpo, driblando artrite,  tendinite e a tenossinovite. Dedos doem sem grandes preocupações, fazem o indivíduo parar um pouco com o celular. A vida. A interação pelo dedo que digita, que passa postagens, que dá corações, palminhas e carinhas. Acompanhar a vida dos outros, as coisas dos outros, as coisas que inexistem e as que persistem. Fora das telas, corre outra realidade. Muito se fala sobre isso, mas é crucial, no intervalo entre inspirar e expirar, refletir sobre o que de fato importa. Sem a plástica de representar para alguém, ou até mesmo de dizer em voz alta; mas com a intensidade de absorver o que se pensa, revestir o olhar com a maturidade de ir além do padrão social. Cobramos tanto uns dos outros e até de nós mesmos. Amamos julgar e responsabilizar, mas afora isso, o que há?  As ranhuras da palma das mãos sempre estiveram ali, desde a infância; todavia, pouco a pouco foram sendo preenchidas de sentidos, de memórias e esquecimento.

Na dobra do horizonte, depois e antes e além das belas paisagens, das nuvens enigmáticas do céu, dos sons da natureza e dos alto-falantes. Afora toda imagem, todo argumento e explicação. Sem incitar euforia e desespero do caos, sem pairar junto à acomodação da alienação e automatismo; encontrar e vivenciar o instante em que se aprimore quem se é sem grandes elucubrações. 

Ler Retrato - de Cecília Meireles evoca um desses instantes. Não importa o que ela sentiu, pensou e intencionou quando escreveu (pois trata-se de uma imensidão que é dela), o olhar do leitor se apropria dos traços e dão a eles um significado particular, desencadeando reações pessoais, possibilitando transformações; perceptíveis ou não, marcantes.

 

sexta-feira, 5 de julho de 2019

Livros lançados


Neste mês, irei lançar em Coronel Fabriciano meus dois livros Aspargos e Pinhole - Cílios ao Vento (Editora Lura) e Cobogós (Editora Fontenele). Tratam-se de produções independentes, de baixa tiragem e sem patrocínio. O enredo das obras perpassa a interrelação entre as pessoas na busca por autoconhecimento transformação do olhar sobre a realidade. A ilustração da capa de Aspargos e Pinhole e Cílios ao vento é do artista Luciano Moreira Fonseca (Amigo, irmão, artista que muito admiro).
Há muito a escrita me persegue e me liberta. Há pouco tempo, amigos me instigaram e estimularam a publicar, mesmo que de forma independente, meus escritos. Decidi até participar de alguns concursos. Em 2017 e 2018 fui finalista no Prêmio SESI MG de Literatura. Sou jornalista especializado em sociologia política,  trabalho há 15 anos na área de comunicação corporativa da CENIBRA, tendo artigos publicados no site Observatório da Imprensa e Obvious Magazine, além de manter o blog Passo Comunicação.  Além dos livros publicados este ano, confesso ter mais um em produção...

Serviço;

Interessados em adquirir os livros podem solicitar via formulário disponível no blog www.passocomunicacao.blogspot.com ou pelas redes sociais.


Intitulada por Luciano Moreira Fonseca de : A insustentável leveza da sombra
Intitulada por Luciano Moreira Fonseca de:
O iluminado degradê da montanha de Odonatas




Cenário literário
Após anos de queda, o mercado de livros no Brasil registrou resultado positivo nos últimos dois anos, com um faturamento que subiu de R$ 1,6 bilhão para R$ 1,7 bilhão – ou 3,2% (considerando a inflação). Em 2015, havia recuado 7% e em 2016 queda de 9,2%.

De acordo com a pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, lançada em 2016 pelo Instituto Pró-Livro, mais da metade da população brasileira se considera leitora, mas leem apenas 4,96 livros por ano. Deste total, 2,43 foram terminados e 2,53 foram lidos em partes. A pesquisa ainda apontou que 30% dos brasileiros nunca compraram um livro em toda a sua vida. No entanto, de acordo com a Pesquisa, verifica-se o crescimento do percentual da população leitora no Brasil para 56%, em face dos 50% apontados no estudo anterior.
Com a manutenção de uma série de feiras, seminários, fóruns e concursos literários no país, a produção nacional tem sido estimulada. Existem diversas plataformas de autopublicação, seja em formato impresso quanto e-book, assim como existem várias editoras dedicadas à viabilização da publicação de novos escritores, ou escritores independentes, com prestação de serviço de diagramação, arte final registro ISBN, impressão e até mesmo divulgação, sem exigir mínimo de exemplares.



quinta-feira, 4 de julho de 2019

dimensões



Turvo, o olhar resvala.
Ressoa dentro da rima
além da sina
selva de amar.

Fina camada da paz
intenso instante que se desfaz.
basta palavra sem asa
para turvar a retina.

O abuso sutil da beleza
fisga meu olhar em estrofes;
escorro no verso do encanto
embrenho-me em você ao lido ser.


Coração catavento. gira sol, gira lua. Tempo é tempo. Transitório, o pensamento sucumbe à arbitrariedade. Repetimos os mesmos sistemas.

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terça-feira, 18 de junho de 2019

A vista e o ponto


As pessoas olham para você e automaticamente criam significações segundo as premissas de Saussure, para determinar relevância, perfil e modo de se relacionar. Definem opiniões, mensagens chave, liberdades e também a expectativa. Esta última determina reações e influencia em todo o resto. A expectativa consiste no padrão de comportamento que a pessoa espera de você. Qualquer ação que não atenda a expectativa criada gera uma série de eventos que culminam por ressignificar você não apenas para quem o julga, mas também para o grupo social com o qual interage. Assim definem-se as paredes da meritocracia volúvel. Olhando bem; somos o mesmo. Do ponto de vista que olha, o lado da história que conta sempre busca consolidar a versão na qual tem razão; e assim conseguir mais adeptos e multiplicadores da versão, sobre pondo demais lados, estabelecendo uma verdade atemporal, ou seja, a do presente.

Ideias, a Ideia. Percebo que não é meu interesse que muda, mas é que a ideia habita em partes vários corpos, vários instantes. Eu a procuro em totalidade, em um derradeiro destino, sem grandes anunciações, sem até mesmo registros, mas a verdade de a encontrar e a ela me integrar.

Gradativamente percebo o derredor de forma diferente. Os valores, as crenças, as atitudes, as expectativas, as buscas... todo esse fluxo complexo que tece a base que sustenta a sociedade. Claro, enamoram-me os momentos de refrigério, os sorrisos, as gentilezas, a ternura das pessoas e gestos. Há equilíbrio no balanço que mantém em movimento o corpo social. Antes fosse um pensamento, ou talvez um sentimento, ou até mesmo sensação. Aspectos manipuláveis a partir de pontos de pressão, aspectos passíveis de sobreposição e silêncio. Mas não; uma ideia não pode ser silenciada, ela tem vida, pujante, tem uma energia, um fogo que arde continuamente, sem consumir. Não se trata de um surto, ou utopia. Mais fácil seria se o fosse.

Não compreendo ter e cuidar de um jardim que não se pode tocar, perpassar as folhagens, as flores, perfumes e cores. Ser a gota que escorre por pétalas, folhas, dorso e pende ao chão, penetra, nutre, evapotranspira, e volta a rondar o jardim no tempo de orvalho, com sutileza e brilho.

... entre mudar o ponto ou ajustar a vista...

terça-feira, 11 de junho de 2019

intervalo


Naquela interminável frase fria eu já não haviam mais palavras. Essa madrugada sem rima ou aconchego, esvaziou-me o olhar. Libertado das linhas do texto usual, percebo o entre-texto que transcende as plataformas e sucumbe a narrativa a um fluxo ilógico. Naquela madrugada fria, eu já estava sem. O sol evitou o horizonte, como a bela que desvia o olhar. Assim o dia sonolento se abateu sobre meus passos.

A porção acostumada. O metro quadrado. Afora todas as medidas translúcidas aferidas; se pouco, nos angustia, aconchega e sufoca; se extenso nos liberta, afasta e silencia; na morte a certa medida; na vida a medida que falta. O metro dobrado sobre o ermo céu, quadrado, o oco do humano. O Eco da ideia, o número que rima com o que paz traz ao ser acostumado com uma porção de realidade.

quarta-feira, 6 de março de 2019

Relâmpagos da narrativa



Desafio de comunicar e proporcionar a fluência dos processos sociais sem atravancar a retenção de mensagem, formação da consciência do cidadão e manutenção do caráter do indivíduo. É realmente necessário educar a comunidade sobre o negócio dos setores? Não há espaço para manipulação velada, mas esse processo de "educação" da comunidade não pode se estruturar sobre a premissa de ser apenas um defensor setorial.

Algumas variáveis devem entrar no escopo de análise de quem se propõe a atuar profissionalmente (defendendo setores e marcas) como agente de comunicação na contemporaneidade (Considerando que enquanto indivíduos atores sociais todos atuam naturalmente como agente de comunicação na sociedade).

- Excesso de informação
Amplificou-se o reverberar das narrativas dos indivíduos, aumentou o número de narradores com poder de manifestação, via fácil acesso a novas tecnologias e plataformas de comunicação. A Avalanche de informação sobrecarregou a sistema de relevância dos indivíduos. Dificultou a triagem. Qual informação é essencial? Diferencial? Irrelevante?

- Vulnerabilidade da intimidade
Com a intensificação dos fluxos de comunicação e exposição de pensamentos e acontecimentos pessoais, criou-se uma intimidade digital entre conhecidos, tornando vulnerável a intimidade do indivíduo e passível de interferências não com objetivo pessoal, mas talvez até setorial.

- Clamor natural por um propósito 
Soma-se aos desafios do mercado, a necessidade natural do indivíduo e também da coletividade, por um propósito. A reputação de um setor ou marca não passa por ser A MAIOR, A MELHOR, A MAIS TRANSPARENTE, mas sim ter um propósito que esteja em harmonia ou alinhado com os propósitos de um grupo (coletividade) e também do indivíduo (pessoal).

- Consistência e participação 
Neste sentido, as ações e narrativas precisam ter consistência e manifestar a participação efetiva do narrador na sociedade. Como ser que atua, interfere e sofre interferência. Integração.

As plataformas de comunicação são meio (que às vezes tratado como fim), a interação e reação das pessoas é o objetivo que modula em essência, mas não em natureza. As narrativas devem compreender seu papel de tradução de conflito e convergência de "significantes" em uma mensagem outra, que vai além na paisagem, em busca de uma mensagem de amplo acesso e aceitação (não por imposição ou massificação).

A vanguarda na comunicação permanece o Santo Graal. Muitos empunham cálices, cruzes e projetam conceitos ao ar... afora os ciclos de clichês... há quem diga que o encontrar o almejado Graal da Comunicação e narrativa, se realiza no exercício e não no fim da busca.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

conteúdo da forma



Intermitente reflexão sobre os valores dos fluxos, das pessoas, das coisas, mergulha nosso olhar ao redor com um distanciamento enigmático. Um pedaço de papel, dinheiro, certidões, contratos, escrituras, endereços, contas, rendimentos. Números na rede, signos, símbolos dos nossos rótulos. Todavia ainda tudo permanece sendo o que é. Quando sopramos para fora das coisas o sentido que colocamos nelas, podemos perceber que elas são o que são.

Espaços, objetos, reputação, imagem, relacionamentos. Firmamos no horizonte nossos objetivos, por casa, carro, riquezas, relacionamento, sucessão de gozo e legado. Alternamos nosso tempo entre dedicação, confrontamento e descanso, até sucumbir aos últimos dias de vida. Flanqueamos estandartes dos propósitos, queremos mudar opiniões, olhares e gostos.

Se viva a planta está, consome nutrientes, rompe a terra, vive, floresce e morre. Perpetua-se no pólen que cede, na cor que pinta a paisagem, no verso que inspira o homem. Nasce vive morre homem. Interfere na paisagem  desejando assiná-la, rimando por às vezes assassiná-la. Contudo, belo é seu intervir quando pinta a paisagem, de modo a propiciá-la ainda mais bela ao próximo, mesmo sendo este, cego.


domingo, 30 de setembro de 2018

relva



Metade de mim é o que vento leva, 
quando pega meu olhar e afaga minha face.

Manhã de quase sono, quase frio a descoberto.
 Repentinamente a chuva desce
sutilmente sobre mim.

Suspenso no ar encontrava pouso
 nas intermitências da razão.


segunda-feira, 17 de setembro de 2018

O que fica do que se faz?






O fardo das rugas
a leveza dos gestos
beleza natural do que ao redor se esvai;
O que fica do que se faz?

Pulsa nos vibrantes olhares
transformações que além da brisa
as cores e movimentos da vida
cravam na alma.

Os sabores perpassam dificuldades
enquanto suspiros dissipam mazelas.
Sorrateiro,
o silêncio se assenta ao lado da paz

O que se faz do que fica?


quinta-feira, 6 de setembro de 2018

A narrativa bate à porta?




Para comunicar de forma mais efetiva as narrativas corporativas (ou não) é preciso conhecer melhor o indivíduo atual e seu sistema de relevância. Como entrar com a mensagem na casa dele, se não conhecemos o que ele chama de casa? O processo de estruturação da narrativa deve considerar a atualização de seu destino. Onde irá chegar e como irá entrar? A corrente de conceitos que o indivíduo opera é a chave para o êxito na construção das mensagens e relações.

Lugares resignificados. Lares reestruturados. Não mais casa de mãe e pai. Agora às vezes a casa é de muitos filhos, sem pais. Outras, só pais e pais, ou mães e mães. Grande parte, casa de avós, que criam netos como uma "segunda chamada (rodada)" dos filhos. Espaços que são lares, independentemente da nova configuração; a missão dos lugares é atender à mesma demanda: ser um lugar para o indivíduo no mundo. Se será de tormento, de aconchego; como será o aprendizado e para onde irão os caminhos não está prescrito em busca de praça pública.  Quando com fé mudamos o olhar sobre a vida, sobre a matéria que nos cerca, sobre os conceitos que nos  fazem, sobre os gestores que reverberamos no espaço, o peso, a leveza de ser, se transforma de maneira sutil, embora intensa. A vivência, cada vez mais é posta como diferencial, afora o conhecimento, a vivência. Sentimentos e sensações, misturar-se às texturas, sentir o frescor e movimento do ar. Sentir o amargo sem demagogia. Utilizar das plataformas de comunicação sem se tornar refém ou algoz. Importante atentar-se a se desdobrar em vivenciar tempo e espaço por outras perspectivas.

O lar às vezes está carregado no pulso com os smartwatch, ou nos bolsos com os smartphones. Segunda tela, telas urbanas, as novas ondas do rádio. As narrativas via streaming correm como cavalo sem rédeas, puro pêlo. Os criadores de narrativas corporativas se jogam a tentar domar, se não conseguem, tentam correr em paralelo... que corrida maluca. Investem em jovens pensando que a energia dará conta, mantêm os antigos na esperança de algo seguro para magnetizar esta busca por comunicar melhor. O conflito de gerações nunca foi tão exposto e necessário. A sociedade líquida precisa refletir sobre seu estado de transição. Assim, as organizações precisam dedicar-se mais a um perfil analítico que possibilite simultaneamente atuar em multiplataformas com narrativas bem estruturadas (não na euforia ou envelopamento de discursos), de forma a dialogar.

Uma avalanche de treinamentos tem instigado os líderes a integrarem-se ao conceito de uma sociedade (e não apenas indústria) 4.0; envolvendo-se com a vanguarda. Entretanto, só haverá resultado efetivo se as ações destes gestores se desdobrarem em uma mudança real de atitude e atuação.

Para proteger a reputação e imagem das respectivas organizações; as empresas querem mudar a postura, o modo de atuar, e também de comunicar, mas não planejam as ações para obter os resultados; anseiam os resultados imediatos e atropelam os processos. Todavia, a busca de uma nova postura tem possibilitado posicionamentos e relações promissoras. Há esperança.

terça-feira, 3 de julho de 2018

sangria



Era a sangria de um dia frio. Ele não sabia se o gosto do café era prosa ou verso. Bebia descomedido, em copos. Os acontecimentos ao redor não tinham corpos. Apenas fluxos.

"Eu vou comer realidades para cagar suas ilusões". Comer realidades; defecar suas ilusões. A congestão da alma ao tocar o espelho no balanço do vento que me revela. A sanidade de outrora agora convergira na atrocidade de palavras ácidas (será algo que comido foi?) e olhares ávidos por aconchego. A paz que excede o entendimento vem no alento que ultrapassa a rima. As pegadas da madrugada não deixam marcas, nem quando do céu desce orvalho, cobrindo-nos. Nus.

O que foram dedos entrelaçados de mãos cansadas, tornaram-se o monumento soterrado no canto da sala, onde nem as aranhas arquitetam.

Passado está o tempo das encruzilhadas. Momento sutil onde todas as possibilidades estiveram pujantes, latentes, extremamente atrativas e com potencial de sucesso. Feita a escolha... o caminho continua e você apenas vê, numa paralela que se afasta em outra dimensão, aquilo que fora possibilidade e que agora é uma pintura viva na paisagem. O vento à face é um virar de páginas em que percebemos por um instante a sobriedade de seguir.

As ilusões diárias são nutridas para distrair o indivíduo continuamente e abstê-lo de refletir sobre sua passagem no tempo e não a passagem do tempo por ele. O automatismo que garante a fluência social é a trava para a evolução buscada.

Cada momento ruminado, na certeza de que se apressado ou lento tudo acontece, ou não. Assim, a caminhada, pensada e repensada no caminhar pode revelar que os rumos, os tempos, os fins, finais e inícios são apenas aspectos, pontos de referência em uma teia que vai além das três dimensões, do mecanismo de criar e sobrepor padrões; da dinâmica de gerar e se entrelaçar aos significantes.

A digestão das ideias, a congestão dos sentimentos. O sono aconselha o inquieto enquanto reorganiza os móveis dos questionamentos no salão dos ideais do amanhecer.



quinta-feira, 6 de julho de 2017

Organização Social - nuances



A hipótese do perfil de ocupação geográfica ou perfil cultural de uma nação, por muito tempo foram utilizados para definir aspectos de pobreza e prosperidade; estabelecendo parâmetros para avaliar o índice de fracasso de um povo. As regularidades comportamentais que regem a forma de organização da sociedade estabelecem seus padrões tendo como base o senso de preservação e sobrevivência.  Padrões esses materializados por meio de atitudes instintivas ou culturais.

Neste ínterim, emergem na seara da filosofia social o darwinismo social e sua interpretação da sociedade sob o viés das leis de evolução das espécies biológicas, como instrumento de explicar a sociedade e suas transformações, transições de paradigmas e padrões.


A organização social contemporânea impele ao indivíduo um comportamento de egocentrismo. Para coexistir o ator social com esse perfil precisa de público e referência, para então impor suas singularidades, legitimando-as como objeto de consenso ou bem-estar social. Importante considerar a etimologia; do latim medieval individuus (indivisível), que é formado de in + dividuus. O vocábulo dividuus vem de dividere (dividir). O processo de formação de indivíduos compreende interferências da sociedade, ou seja, depende das relações sociais e culturais (variando o grau de intensidade), formando assim a identidade do ator social (VIEIRA, Rudson. 2016. http://passocomunicacao.blogspot.com.br/2016/12/individuus.html acessado em 28/06/2017).


O efeito em cadeia da Revolução Industrial, responsável por parte do desenvolvimento da sociologia nas ciências sociais, segue interferindo na configuração social, impulsionado pela globalização. Avanços tecnológicos ditam não apenas o comportamento social, mas principalmente os parâmetros de desenvolvimento da nação e os respectivos mecanismos de controle da massa. "O motor das transformações tecnológicas, em todos os segmentos da economia, era a inovação, encabeçada por novos empreendedores e homens de negócios ávidos por aplicar suas ideias" (ACEMOGLU E ROBINSON: 2012 P.40).

As desigualdades mundiais, todavia, não podem ser explicadas pelo clima ou doenças, nem qualquer outra versão da hipótese geográfica [...] A história demonstra a inexistência de ligações simples ou duradouras entre clima ou geografia e êxito econômico. Por exemplo, não é verdade que os trópicos tenham sido sempre mais pobres que as latitudes temperadas. (ACEMOGLU E ROBINSON: 2012. P. 56 e 57).

Uma observação sobre o Iluminismo (filosofia das luzes) e a intensa busca pela evolução através do questionamento e percebe-se uma sociedade que é regida por alguns mecanismos de controle como o medo, a dependência, o limite de acesso. Os instrumentos reguladores desses mecanismos eram a espiritualidade, informação / conhecimento e a sobrevivência.

Clifford Geertz já bordou certa vez a respeito de como correntes teóricas que tentaram perfilar o ser humano e seus costumes a partir de uma correlação com fatores biológicos, psicológicos e sociais e também culturais, acabaram por definir uma concepção estratigráfica, em busca das constantes universais. No entanto, a sociologia, ao surgir e se fortalecer no século XVIII, consistiu em uma ciência para descobrir as leis do progresso e desenvolvimento social além dos dogmas pré-estabelecidos. Observar o indivíduo imerso e simultaneamente isolado das constantes universais para ter então uma leitura apurada da realidade, paisagem a qual marca a história da civilização.

Durkheim buscou em sua abordagem sociológica fatiou a sociedade de forma a buscar um entendimento a respeito do que constitui o fato social. A análise do movimento de inércia social e rompimento do mesmo, levou Durkheim a correlacionar as mudanças abruptas na rotina do indivíduo, ou a ausência de algum tipo de mudança, resultava no colapso do indivíduo enquanto ser social, imputando a ele um estado de apatia controlada, sucumbindo ao suicídio, físico ou social. Sua leitura da sociedade a partir da Divisão do trabalho social, busca compreender as responsabilidades e deveres de cada integrante do grupo, buscando conceber uma sociedade que exista dentro e fora do indivíduo. O consenso, fiel da balança de uma sociedade igualitária, almejado por Durkheim  em sua concepção sociológica revelou-se uma utopia uma vez que a história das nações revela um campo controverso. A visão sociológica de Durkheim partindo das implicações e determinações individuais em consonância com as construções sociais, busca delinear a organização da sociedade, suas anomalias e seus rumos. A mensuração e atestado empírico de suas observações acerca da sociedade, dava a Durkheim um panorama de como o homem além de contribuir na formação da sociedade, ele também se constitui como um produto dela.

Em sua obra, Durkheim aborda o Estado como órgão e o instrumento de uma nova sociabilidade, protegendo e regendo a sociedade rumo a um desenvolvimento. Considerando sua argumentação de que o indivíduo possui duas consciências (Individual e Coletiva) pode-se verificar pelo contexto social, que o populismo e neopopulismo atacam a consciência coletiva e a manipulam a partir de nuances percebidas de uma consciência individual adormecida.

Em Weber, sua abordagem sociológica tem ênfase na ação social. Creditando poder à conduta do grupo (social) sobre a do indivíduo. Sua sociologia compreensiva ou interpretativa busca compreender as ações do indivíduo como parte da constituição da realidade social. O motivo das ações, chamados Tipos Ideais, são os instrumentos de compreensão da realidade, mas em si não fazem parte dela. O sujeito social, como fruto da sociedade que o indivíduo contribui na construção, não pode ser compreendido em sua totalidade, tampouco a realidade. Embora caminhe sobre conceitos e percepções subjetivas, Weber propõe uma metodologia que consiga atingir de forma objetiva a leitura social sobre o indivíduo e sua formação enquanto sujeito social (produto da sociedade). Trata-se de uma ciência embasada na realidade, que não se restringe a padrões fixos dos fenômenos e do tipo ideal. Neste cenário, a finalidade das ações sobrepõe a relevância de suas consequências. A ação dos indivíduos é analisada de forma contextualizada, conforme recorte definido de parâmetro de análise.

Atrocidades da história humana aconteceram não apenas pela alienação em uma ideologia e intencionalidade de ser cruel com seus semelhantes e divergentes. Mas pode-se perceber que adventos como o holocausto, submissão a regimes ditatoriais, aceitação de um determinado sistema político e organização social se dá por meio do que vulgarmente se chama de efeito manada. Trata-se da Conformidade Social. O comportamento de obediência ao grupo dominante.

Cada sociedade funciona com um conjunto de regras econômicas e políticas criadas e aplicadas pelo Estado e pelos cidadãos em conjunto. As instituições econômicas dão forma aos incentivos econômicos: incentivos para buscar mais educação, para poupar e investir, para inovar e adotar novas tecnologias, e assim por diante. É o processo político que determina a que instituições econômicas as pessoas viverão submetidas, e são as instituições políticas que ditam como funciona esse processo. Por exemplo, são as instituições políticas de uma nação que estabelecem a capacidade dos cidadãos de controlar os políticos e influenciar seu comportamento – o que, por sua vez, define se os políticos serão agentes dos cidadãos, ainda que imperfeitos, ou se terão a possibilidade de abusar do poder que lhes foi confiado, ou que usurparam, para fazer fortuna e agir em benefício próprio, em detrimento dos cidadãos. As instituições políticas incluem Constituições escritas − mas não se limitam a elas − e o fato de a sociedade ser uma democracia. Compreendem o poder e a capacidade do Estado de regular e governar a sociedade. É igualmente necessário considerar de forma mais ampla os fatores que determinam como o poder político se distribui na sociedade, sobretudo a capacidade de diferentes grupos de agir coletivamente em busca de seus objetivos ou impedir outros de atingirem os seus. (ACEMOGLU E ROBINSON. 2012. P.50)

O marxismo e sua divisão de classes como mecanismo de análise social e definição de parâmetros das relações sociais estabeleceu uma nova vertente na sociologia. Com argumentos focados na divisão do trabalho e a valorização do produto e do modo de produção, bem como da força de trabalho, o marxismo buscava um equilíbrio entre as classes sociais a partir da entropia, conflito e posterior harmonia, que, no entanto, revelou-se como tendência a inversão dos papéis; uma vez que o empoderamento do trabalhador e sua libertação dos padrões de produção controladores, o faz se tornar um novo empregador, porventura, sem a devida capacitação, mas apenas o estímulo. Este fato, impulsionado sem a devida estruturação de mudança, impacta no mercado, afetando lucros, sistemas de produção e de consumo, interferindo na sociedade de forma negativa.
O Comunismo implantado foi uma ideologia deturpada, focada no embate privado x público. Marx defendia não o fim da propriedade privada, mas o fim da propriedade burguesa; defendia que o homem livre teria mais tempo para ser do que para ter. Para isso, ele defendia 10 medidas para concretização de uma sociedade comunista, a ser estruturada gradativamente.  Contudo, a burguesia quer manter as coisas como estão, o proletariado  quer deixar de ser proletariado sem ter claramente definido o que deveria se tornar. O cálculo da mais valia oscila conforme o volume do capital, que varia de acordo com o perfil de modernização do processo de produção, que por sua vez depende do apetite a investimento da burguesia, controle e aceitação junto ao proletariado.
A cultura de massa, então consolidada e difundida pela Escola de Frankfurt abordou uma teoria crítica da sociedade onde o todo era analisado a partir de recortes específicos, condicionados a experimentos comportamentais, para se compreender os mecanismos da opinião pública, sua formação, representação e controle.

A sociologia é multifacetada. Seja no viés do Funcionalismo, Neofuncionalismo, Fenomenologia, Estruturalismo, Etnometodologia, Hermenêutica, Sociologia da Ação, Individualismo Metodológico; todas ideias surgidas diante de um colapso, crise do pensamento sociológico na contemporaneidade. O pluralismo das novas sociologias ampara-se na historicidade das nações como ferramenta de leitura da sociedade, cada uma com suas especificidades. Contudo, este amparo na historicidade gera um historicismo que considera as ações dos indivíduos dentro do contexto social. Importante considerar também a sociologia Figuracional, de Norbert Elias, onde as consequências ou resultados não almejados, decorrente das relações sociais, são o instrumento de análise e trabalho.

O individualismo, onde a sociedade é atendida pelo indivíduo, sendo ela a consequência da existência e interação dos indivíduos, busca compreender a sociedade a partir do contratualismo, esse estruturado em tradições e valores. Assim, o indivíduo se constitui sujeito social, cria e interfere na sociedade. Na visão do holismo metodológico, o fato social ganha relevância como instrumento que interfere, exercendo coersão sobre os indivíduos. Assim, o ser seria modelado pela sociedade, que já teria sua própria regra de coexistência.
Em um cenário plural de análises sociológicas da sociedade, a oposição entre nível de recorte (macro ou micro) polariza-se entre o coletivismo metodológico (holismo) praticado por Durkheim e Marx, com análise macro dos adventos sociais, relações sociais e constituição dos indivíduos. Esta análise norteia-se pela compreensão das coletividades e suas correlações com o indivíduo. De outro lado, o individualismo metodológico, onde a realidade é interpretada a partir do repertório individual, sob perspectivas restritas de cada indivíduo não enquanto sujeito social (integrado à coletividade), mas em separado.
Nas análises macro, é importante considerar as interferências das tradições e dos valores sociais sobre o sujeito. As tradições (coletividades consensuais consolidadas pela historicidade), mesmo dotadas de valores e mecanismos de controle, não determinam em plenitude o comportamento dos indivíduos. Martins (2008. P 205.) aborda como a tradição e valores diferenciam-se na interação com o indivíduo e constituição de seu comportamento.

A sociologia conduzida pelo viés que transite entre o macro e micro (considerando o número de indivíduos envolvidos nas respectivas análises) seria o ideal para traçar estratégias de intervenção e evolução a partir da leitura aprofundada do território e das relações inerentes. Neste sentido, as análises dos elementos em uma dimensão micro não devem significar uma leitura reducionista, mas sim mais detalhada do que vem a delinear o indivíduo, seu comportamento e respectivos desdobramentos, de forma a interagir com as análises macro para recriar as estruturas sociais possibilitando melhor significação da sociedade.

Desta forma, a metodologia para compreender o universos societário, o que e como o constitui e os rumos possíveis e intervenções necessárias, não deve estacionar seu modus operandi em uma única vertente, mas na integração e correlação das abordagens (mesmo as de caráter oposicionista) para então se construir uma versão do entendimento social que seja aplicável á paisagem de forma dinâmica, orgânica, viva. O paradoxo dessa hipótese e respectiva dualidade é portanto o caminho acessível da compreensão das relações dos indivíduos com o contexto social e de que forma as interações alteram tanto os indivíduos, seus comportamentos enquanto sujeitos sociais e a própria sociedade.



 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACEMOGLU E ROBINSON, Daron e James A. Por que as nações fracassam: as origens do poder, da prosperidade e da pobreza. Tradução Cristiana Serra. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.

DURKHEIM, Émile. Lições de Sociologia – a Moral, o Direito e o Estado, 1969 - Editora da Universidade de São Paulo, 2ª edição.

FERREIRA, Roberto Martins. Popper e os dilemas da sociologia. São Paulo: Annablume; Fapesp, 2008

GEERTZ, Clifford: A interpretação das Culturas. Rio De Janeiro: Ed Guanabara, 1989.


(VIEIRA, Rudson. Individuus. 2016. Disponível em http://passocomunicacao.blogspot.com.br/2016/12/individuus.html acessado em 28/06/2017).

domingo, 18 de junho de 2017

poça passo peço



A iminência de um passo. A gota formada desce pelo ar sem mira, sem esperança alguma, sem qualquer pensamento sobre passado presente e futuro. Sem preocupar-se com o estado em que se encontra, sem ao menos ter ciência de sua pureza. Cai, repousa na face de quem o céu observa na esperança de ser refrigerado, corpo e alma. Durante uma caminhada o automatismo mantém em movimento o corpo enquanto a mente se liberta para buscar soluções, rumos, tempo. “A falta de alternativas clarifica maravilhosamente a mente.(Henry Kissinger)". Uma mente clarificada, sem as névoas do dia a dia, permite perceber a vida, o ambiente ao derredor, de uma forma diferente. Entre as formas de tocar, a mais intensa é o olhar. Suas camadas, suas cores e seus versos. Não melhor ou pior, mas diferente. Seu doce vai além da formiga que chama ao vento.

Assim o tempo se embrenha no vento e dobra sobre os poros, escorre pelo olhar, mantém-se tempo, vento. O ruminar memórias de estrangeiros, os passos de Marco Polo revelando invisíveis curvas que dobram conceitos. O segredo das pisadas não está na direção. Se te escrevo me descrevo, me embrenho e ainda respiro.

Esse laço desfeito sobre nossas cabeças que solta-nos ao ar em uma queda onde a liberdade é o tormento de distanciar-se do que se deseja. Você não compreende o que é fazer da palavra um punho fechado a esmagar o coração no peito, comprimindo suas batidas, espremendo o que corre nas veias.
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Plenamente belo, o beija-flor perpassa os fios do vento carregando em si o pólem da esperança, o sabor do verso de amor. Antes de pousar, o beijo, o momento delicado de reverter a física a favor de um instante. Meu olhar encontrou repouso no seu voo. Os ambientes passavam e entravam dentro de mim.

domingo, 7 de maio de 2017

Raspas



O apagar as luzes da sala de teatro é abrir uma nova dimensão dentro de nós. Somos, na plateia, um novo personagem na trama. Os conceitos se transformam no silêncio. Vivenciamos ao mesmo tempo o personagem que somos e a persona que assistimos. Não era o que se esperava, pois o que esperava era o que ali não haveria naquelas circunstâncias. O tremor, as sirenes, os suspiros. As paredes não abraçam, não contêm nem libertam. Deveria estender mais o olhar para perceber dobrar ao longe de sua face o frescor de um novo dia. Deveria ter atentado para os detalhes da crueldade dos olhos que brilhavam no escuro. A sanidade encontrada na desilusão.

O pouso do beija-flor e seu voo. Antecede a flor. Rompe o broto o solo úmido. Fere a terra para crescer, busca a luz sem alçar um olhar, estende seus ramos, firma-se no horizonte. Entre brisa, orvalho, pleno sol, chuva, luz. Entre folhas, floresce. Começa então seu outro momento, à espera de um beijo. O corpo que se curva ao vento, reconhece seus membros, aprende a voar. Aprende a se apaixonar.

Áspero, sua suavidade desanuviou na textura de suas lembranças. Assim, ela  seguiu sem sentir seus dedos se entrelaçarem na mão de quem puramente a ama. Flor. Escolheu o luxo, e as mentiras, abraçou a conveniência, o ensaio ao invés do pleno ato. Despetalada. Cozia suas memórias alinhavando com suas dores. Mas o bom ator sabe que não há atuação dentro da própria mente. O corpo é o próprio texto para quem sabe ler em braile. O Corpo manifesta o que as falas do personagem não conseguem transmitir. A luz é uma narrativa à parte (como em Urgente da Luna Lunera). O tempo é diretor, regente, é argumento, é personagem.

Quando confiança perdeu as palavras, me calo, me castro, me rompo em simplicidade uma vez que meu aberto universo não repousa em conceitos cotidianos. A medida da beleza submetida ao rigor de um outro olhar, perpassa o coração e faz mais uma vez florir. Não é o prédio que está caindo. O beija-flor alça seu olhar, renova seu voo, transforma-se no silêncio, esse anjo.

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quarta-feira, 19 de abril de 2017

eis



Eis que não sabias a profundidade do verso. Manipulava sentimentos calada. Tampouco percebias o envolver da rima. O tempo atravessava nós enquanto atravessado era. Rimas, essas quinas afiadas, esses desfiladeiros que não revelam o porvir, mas nos faz cativados pela nova sensação. A liberdade balbuciada na madrugada em um olhar, a lua.

A transformação acontece quando se renova paradigmas. Ela se instala quando há consenso. O consenso vem da divergência e processo de diálogo. A aceitação sem consenso é submissão. Submissão é diferente de se submeter, aqui, a submissão é uma aceitação imposta e não construída. As relações sociais, seja institucionalizadas ou não, precisam conceber além da mudança de leitura de cenário (público - privado - compartilhado - emissor de discursos - uso e ocupação do espaço) o processo de reorganização social a partir da entropia, da divergência em ampla concepção, onde a sociedade participa e o Estado se reformula não segundo objetivos de grupos dominantes, mas essencialmente sob o viés do consenso (obtido de forma complexa, dinâmica e nunca permanente). A sociedade é volúvel, e tudo o que a constitui assim se faz na contemporaneidade (talvez em função do efeito do emponderamento social junto ao fácil acesso a plataformas de comunicação e mecanismos de poder), assim não há Lei e Estado soberano de configuração permanente.

O modelamento político não é sólido, tampouco o contrato social e o pacto social. Se tudo que é sólido se desfaz no ar, como disse uma vez Marx; tudo o que está no ar será em algum momento absorvido por nossas narinas, interiorizado e posteriormente externalizado em algum paradigma social... assim nem a liquidez de Bauman permanecerá por muito tempo, uma vez que estamos em uma era transitiva. O porvir descortinará o que há além dos clichês sociológicos e antropológicos. Ele nos apresentará a vanguarda que ainda não versamos sobre.

Há uma iminente necessidade de se compreender a ruptura do pacto e do contrato social. Fato que evoca uma revisão dos mesmos, pois isso gera oscilação do equilíbrio social, revisão de valores e definição de novos padrões sociais (morais e etc).

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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

ao passar


Quando passar por mim, não me deixe seus poemas. Esses versos de quinas afiadas que rasgam o que toca. Quando me tocar, leve mais que meu perfume, deixe mais que seu sabor. Não permita que o suor das minhas ideias mudem seu gosto, outrossim misture-se. Seja.

Quanto tempo leva o tempo ninguém sabe ao certo. Mas o vento que passa deixa mais do que se leva. A leveza de um olhar, a doçura de uma voz, a força de um amor que sobrepõe lógica, regras e rimas.

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Ouço os pássaros ocupando a faixa no ar que lhe pertencem para comunicar. Ocupo meu lugar na rima, com os olhos voltados ao vento que afaga minha face, que sussurra em meu ouvido que algo partira, em todos os sentidos.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Novomesmo



Se todas as possibilidades na ordem e relação das forças já não estivessem esgotadas, não teria passado ainda nenhuma infinidade. Justamente porque isto tem de ser, não há mais nenhuma possibilidade nova e é necessário que tudo já tenha estado aí, inúmeras vezes. (Friedrich Wilhelm Nietzsche) .

Felicidade. Satisfação. O ser humano vive em busca disso. A sensação de estar satisfeito com a vida independentemente das circunstâncias, ser feliz. Para alcançar este estado, as pessoas definem os meios, muitos até o fim. O ser humano então pode ser compreendido como um animal que se move pelo interesse. Coloniza territórios e grupos socioculturais. Entretanto necessita de limites / fronteiras, físicas e psíquicas; do muro, portões, grades, paredes, até mesmo a roupa no corpo e uma ideia na cabeça.

A organização de um povo em sociedade busca viabilizar os fluxos entre demandas e anseios. Entretanto, a mão forte de um interesse muitas vezes sobrepõe os fluxos, desencadeando em conflito social. O Conflito social é o ponto de tensão para reorganização de uma sociedade e seus parâmetros de desenvolvimento e gestão. O pensamento político para ser eficiente deve conceber de forma madura o conceito de público, privado e compartilhado. Aplicando assim técnicas de gestão por resultados e equilíbrio orçamentário (como a iniciativa privada) tendo como beneficiário a opinião pública e o povo representado. Assim, a entropia gerada pelo conflito social viabiliza a ordem social. O sistema democrático é ineficaz em garantir satisfação do povo; ainda “amador” o sistema estaciona em uma entropia que mantém alguns fluxos definidos e conceitos e regras divergentes.

Neste cenário, instaura-se o populismo (em sua versão remodelada ou original) como mecanismo de gestão de uma massa que prefere o desenvolvimento estável e acesso a poder de consumo do que a democracia (fato recentemente constatado em pesquisa da Organização das Nações Unidas (ONU) e do Estudo eleitoral Brasileiro (ESEB), mostrando que 62% da população estão insatisfeitas com a democracia e abriria mão da mesma por estabilidade econômica e social.).

Percebe-se assim que a sociedade não sabe o que fazer com a liberdade e poder que o processo democrático concede ao sujeito. O sistema político gera insatisfação, todavia a burocracia para a participação popular faz com que as pessoas fiquem estagnadas no trono da reclamação sem agir por meio dos mecanismos democráticos de pressão à gestão pública. O governo populista (do Estado Novo ao Golpe Militar) é marcado por aspectos como o carisma, a demagogia, o assistencialismo, principalmente em relação aos trabalhadores. Revolvendo-se a memória popular constata-se: No Brasil, o líder populista de relevância foi Getúlio Vargas (1930 – 1945/ 1951 – 1954), tendo a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) como maior legado, que formaliza na mão do Estado os direitos do trabalhador. A execução da famigerada política do pão e circo representa bem essa estratégia de governo que busca dar à população a ideia de confiabilidade, proteção, direitos garantidos e atendimento dos anseios coletivos e individuais. As ações populistas independem dos governos de direita ou de esquerda (em lados opostos, épocas diferentes, mas populistas: Getúlio, João Goulart e Leonel Brizola, Jânio Quadros, Carlos Lacerda, Ademar de Barros, Juscelino Kubitschek), mas amparam-se em personagens políticos e desdobramentos do respectivo modelo de gestão. Entretanto, é possível perceber uma incoerência no que tange a algumas práticas arbitrárias, que demonstram um progresso pautado pelo autoritarismo e supressão de direitos civis (disfarçada de proteção da tradição popular). A aparente inclusão social populista de certa forma alimentava a demanda que se propunha atender, em um processo alienante de promessas de construção de uma nação promissora, e pequenas ações efetivas.

A população durante muito tempo não soube identificar que estava sendo imersa em um sistema de configuração política alienante. Eleito era quem se destacava em carisma, ações assistenciais, demagogia e não em histórico e experiência política. Partidos políticos e programa de governo não eram decisivos no processo eleitoral.

"Mesmo dando a ideia de que os líderes populistas fossem “irresistíveis” não podemos deixar de dizer que certos grupos políticos também fizeram forte oposição a esses líderes nacionais. O crescimento populacional brasileiro e a abertura dos novos desafios conviviam com a polarização da política internacional, que dividiu as nações do mundo entre o capitalismo e o comunismo. Desta forma, grupos ultra-conservadores e setores de esquerda encontravam-se em pontos longínquos do cenário conciliador do fenômeno populista brasileiro. Comunas” e “reaças” eram representantes de uma tensão política que colocou, nesse mesmo período, a democracia em xeque. A ascensão da Revolução Cubana, em 1959, trouxe medo e esperança a diferentes grupos da nossa sociedade. Ao mesmo tempo, grupos militares instituíram a urgência de uma intervenção política que impedisse a formação de um governo socialista no Brasil. Viveu-se em uma economia que sabia muito bem promover a prosperidade e aumentar a miséria. Foi nesse momento que, durante o Governo de João Goulart (1961 – 1964), os movimentos pró e anti-revolucionários eclodiram no país. A urgência de reformas sociais viveu em conflito com o interesse do capital internacional. Em um cenário tenso e cercado de contradições, os militares chegaram ao poder instaurando um governo ferrenhamente centralizador. Em 1964, o estado de direitos perdeu forças sem ao menos confirmar se vivemos, de fato, uma democracia "(Rainer SOUSA).

O sociólogo Francisco Weffort defende que o populismo atua de duas formas ambíguas: como estilo de governo com interesse em atender pressões (demandas) populares e como política de massa forjando a ideologia de governo de forma autoritária. Neste contexto, o Chefe de Estado se confunde com o próprio estado sob o qual a massa se submete sem poder de questionamento ou interferência. O líder se faz protetor e algoz do povo. Este sistema no Brasil pode ser verificado até o fim da década de 70, mas a variação desse sistema, o novo populismo desencadeado a partir de 1980 carrega a essência e apenas varia nas plataformas de execução e controle do populismo.

O neopopulismo (1980) veio com o limiar da Globalização e flexibilização das fronteiras. Neste período, a privatização tão criticada, que surgiu como estratégia para redução da dívida pública, aponta incoerência do comportamento social. Esse último acreditava que o desenvolvimento econômico sobrepõe opinião e direitos sociais. O Neopopulismo, aliado a um neoliberalismo, gerou polêmica a adesão gradativa no país, com pontos de absorção espontânea pelo mercado investidor. No entanto, os diversos casos de corrupção do alto escalão da Nova República, envolvendo diversos patamares do Governo, aliada à frustração social das promessas de governo do então Presidente Mauricinho (Collor), fez com que Collor fosse afastado em 1992. Um marco em 1994 (Plano Real de Fernando Henrique Cardoso) e derrocada em 1998 (Instabilidade econômica e social de FHC). Diante deste cenário, faz-se relevante considerar o pensamento de Durkheim a respeito da adaptação do indivíduo ao meio diante dos fatos sociais (e suas características concernentes a Generalidade (padrão comportamental e de pensamentos comuns), Exterioridade (Fato intrínseco no indivíduo) Coercitividade (obrigação, papel social do indivíduo). Em sociedade, o indivíduo enquanto sujeito se mobiliza por ideologia (imposta ou trabalhada via agenda setting* ) e assim estabelece grupos sociais. As interferências desses grupos na organização social levaram o Estado a se reorganizar, saindo de uma posição ditatorial, para uma postura dita neoliberal, instituindo um neopopulismo.

Em sua obra, Durkheim aborda o Estado como órgão e o instrumento de uma nova sociabilidade, protegendo e regendo a sociedade rumo a um desenvolvimento. Considerando sua argumentação de que o indivíduo possui duas consciências (Individual e Coletiva) pode-se verificar pelo contexto social, que o populismo e neopopulismo atacam a consciência coletiva e a manipulam a partir de nuances percebidas de uma consciência individual adormecida.

Neste cenário, importante considerar as leituras de sociedade que fazia Zygmunt Bauman, com a sociedade da liquidez. O ser luta para ser humano em um cenário de valores e conceitos flutuantes, não perenes. A pressão por constantes mudanças favorece a cultura do esquecimento, onde tudo o que deveria permanecer e gerar marcos no desenvolvimento humano se liquefaz. A tecnologia neste contexto é um facilitador que superficializa a reflexão humana e seus padrões culturais. Paira no ar uma sensação de desconhecimento e fragilidade.

Contudo, o neopopulismo utiliza instrumentos que estabelecem na comunidade uma falsa sensação de liberdade e poder. O empoderamento e engajamento tão recorrente em discursos contemporâneos. No entanto, a consciência individual dos sujeitos parece chegar a um ponto de tensão, fato que evoca interferências na consciência coletiva e desdobra na divisão social do trabalho, com remodelamento dos papéis, mantendo a vanguarda em uma incógnita. O que farão os governos para conduzir a massa; quais as novas estratégias ou modelo? O que farão os sujeitos sociais enquanto indivíduos? Qual a configuração social do provir?

Referências:
NIETZSCHE. Obras Incompletas – Coleção Os Pensadores: seleção de textos de Gérard Lebrun; tradução e notas de Rubens Rodrigues Torres Filho; posfácio de Antônio Cândido – 3ª edição. São Paulo: Abril Cultural, 1983. p: 387 a 397.

SOUSA, Rainer Gonçalves. "O regime liberal populista"; Brasil Escola. Disponível em www.brasilescola.uol.com.br/historiab/o-regime-liberal-populista.htm. Acesso em 19 de janeiro de 2017

DURKHEIM, Émile. Lições de Sociologia – a Moral, o Direito e o Estado, 1969 - Editora da Universidade de São Paulo, 2ª edição.

*Teoria formulada por Maxwell McCombs e Donald Shaw, o Agenda-setting consiste na hipótese de que a opinião pública considera mais importante em seus assuntos diários os temas que são veiculados com maior destaque na imprensa; sendo que as notícias veiculadas e o foco das narrativas são determinados conforme singularidades de quem detém o controle dos veículos de comunicação ou até mesmo a setores de uma sociedade.

Publicado também em minha página no © obvious: http://obviousmag.org/rumos/2017/01/novo-do-mesmo.html#ixzz4WZxxHk8Q


segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

(P) isca




Imagens diversas de um cotidiano que encanta e cansa apresentam nuances diferentes da personalidade humana e sobretudo uma característica comum: busca por reconhecimento.

- [ ] Não a famigerada procura por fama, mas a essencial busca por um olhar do outro que valide o comportamento e a vida de um indivíduo. Fotos nas redes sociais, notas em diários, conversas com desconhecidos na fila, no ônibus, no mercado; a dinâmica de entrosamento no bancos de igrejas, de escolas, o refeitório de empresas, os olhares de elevador. O ser humano e a busca pela validação de sua existência. Nesse processo, fere, é ferido, transforma seus objetivos em escudos de uma fragilidade de olhar a paisagem, e ignorar sua beleza ao insistentemente tentar registrá-la. A melindrosa caminhada pela superfície de dentro, essa terceira margem do rio que nos fazemos, crendo em um desaguar no horizonte.

As perguntas impulsionam. "Desejo, necessidade, vontade e representação", o humano a lutar assim para obter reconhecimento. Reconhecer-se além da imagem invertida no espelho, das fotos e traços. Reconhecer-se além da significação de seus gestos. Estar em sociedade, em saciedade e não na miséria (emocional, física ou espiritual). Conhecer limites e fronteiras, sem deixar de compreender os aspectos da flexibilização (famigerado bom senso). Participar da paisagem, sabendo que para haver centro, há margem. No entanto, quando há fluxo social que promova integração de direitos, deveres e acessos centro e margem são apenas pontos de referência oscilantes, conforme instante e viés que se observa tais fluxos. 

A caverna nunca foi tão grande e multifacetada, e as sombras nunca fascinaram tanto o olhar como agora. Onde paira a liberdade? Aprender novamente a conhecer e reconhecer. Sendo.