A
hipótese do perfil de ocupação geográfica ou perfil cultural de uma nação, por
muito tempo foram utilizados para definir aspectos de pobreza e prosperidade;
estabelecendo parâmetros para avaliar o índice de fracasso de um povo. As
regularidades comportamentais que regem a forma de organização da sociedade estabelecem
seus padrões tendo como base o senso de preservação e sobrevivência. Padrões esses materializados por meio de
atitudes instintivas ou culturais.
Neste
ínterim, emergem na seara da filosofia social o darwinismo social e sua
interpretação da sociedade sob o viés das leis de evolução das espécies
biológicas, como instrumento de explicar a sociedade e suas transformações,
transições de paradigmas e padrões.
A organização social contemporânea impele ao
indivíduo um comportamento de egocentrismo. Para coexistir o ator social com
esse perfil precisa de público e referência, para então impor suas
singularidades, legitimando-as como objeto de consenso ou bem-estar social.
Importante considerar a etimologia; do latim medieval individuus (indivisível),
que é formado de in + dividuus. O vocábulo dividuus
vem de dividere
(dividir). O processo de formação de indivíduos compreende interferências da
sociedade, ou seja, depende das relações sociais e culturais (variando o grau
de intensidade), formando assim a identidade do ator social (VIEIRA, Rudson.
2016. http://passocomunicacao.blogspot.com.br/2016/12/individuus.html acessado em
28/06/2017).
O
efeito em cadeia da Revolução Industrial, responsável por parte do
desenvolvimento da sociologia nas ciências sociais, segue interferindo na
configuração social, impulsionado pela globalização. Avanços tecnológicos ditam
não apenas o comportamento social, mas principalmente os parâmetros de desenvolvimento
da nação e os respectivos mecanismos de controle da massa. "O motor das
transformações tecnológicas, em todos os segmentos da economia, era a inovação,
encabeçada por novos empreendedores e homens de negócios ávidos por aplicar
suas ideias" (ACEMOGLU E ROBINSON: 2012 P.40).
As desigualdades mundiais, todavia, não podem
ser explicadas pelo clima ou doenças, nem qualquer outra versão da hipótese
geográfica [...] A história demonstra a inexistência de ligações simples ou
duradouras entre clima ou geografia e êxito econômico. Por exemplo, não é
verdade que os trópicos tenham sido sempre mais pobres que as latitudes
temperadas. (ACEMOGLU E ROBINSON: 2012. P. 56 e 57).
Uma
observação sobre o Iluminismo (filosofia das luzes) e a intensa busca pela evolução
através do questionamento e percebe-se uma sociedade que é regida por alguns
mecanismos de controle como o medo, a dependência, o limite de acesso. Os
instrumentos reguladores desses mecanismos eram a espiritualidade, informação /
conhecimento e a sobrevivência.
Clifford
Geertz já bordou certa vez a respeito de como correntes teóricas que tentaram
perfilar o ser humano e seus costumes a partir de uma correlação com fatores
biológicos, psicológicos e sociais e também culturais, acabaram por definir uma
concepção estratigráfica, em busca das constantes universais. No entanto, a
sociologia, ao surgir e se fortalecer no século XVIII, consistiu em uma ciência
para descobrir as leis do progresso e desenvolvimento social além dos dogmas
pré-estabelecidos. Observar o indivíduo imerso e simultaneamente isolado das
constantes universais para ter então uma leitura apurada da realidade, paisagem
a qual marca a história da civilização.
Durkheim
buscou em sua abordagem sociológica fatiou a sociedade de forma a buscar um
entendimento a respeito do que constitui o fato social. A análise do movimento
de inércia social e rompimento do mesmo, levou Durkheim a correlacionar as
mudanças abruptas na rotina do indivíduo, ou a ausência de algum tipo de
mudança, resultava no colapso do indivíduo enquanto ser social, imputando a ele
um estado de apatia controlada, sucumbindo ao suicídio, físico ou social. Sua
leitura da sociedade a partir da Divisão do trabalho social, busca compreender
as responsabilidades e deveres de cada integrante do grupo, buscando conceber
uma sociedade que exista dentro e fora do indivíduo. O consenso, fiel da
balança de uma sociedade igualitária, almejado por Durkheim em sua concepção sociológica revelou-se uma
utopia uma vez que a história das nações revela um campo controverso. A visão
sociológica de Durkheim partindo das implicações e determinações individuais em
consonância com as construções sociais, busca delinear a organização da
sociedade, suas anomalias e seus rumos. A mensuração e atestado empírico de
suas observações acerca da sociedade, dava a Durkheim um panorama de como o
homem além de contribuir na formação da sociedade, ele também se constitui como
um produto dela.
Em
sua obra, Durkheim aborda o Estado como órgão e o instrumento de uma nova
sociabilidade, protegendo e regendo a sociedade rumo a um desenvolvimento.
Considerando sua argumentação de que o indivíduo possui duas consciências
(Individual e Coletiva) pode-se verificar pelo contexto social, que o populismo
e neopopulismo atacam a consciência coletiva e a manipulam a partir de nuances
percebidas de uma consciência individual adormecida.
Em
Weber, sua abordagem sociológica tem ênfase na ação social. Creditando poder à
conduta do grupo (social) sobre a do indivíduo. Sua sociologia compreensiva ou
interpretativa busca compreender as ações do indivíduo como parte da
constituição da realidade social. O motivo das ações, chamados Tipos Ideais,
são os instrumentos de compreensão da realidade, mas em si não fazem parte
dela. O sujeito social, como fruto da sociedade que o indivíduo contribui na
construção, não pode ser compreendido em sua totalidade, tampouco a realidade.
Embora caminhe sobre conceitos e percepções subjetivas, Weber propõe uma
metodologia que consiga atingir de forma objetiva a leitura social sobre o
indivíduo e sua formação enquanto sujeito social (produto da sociedade).
Trata-se de uma ciência embasada na realidade, que não se restringe a padrões
fixos dos fenômenos e do tipo ideal. Neste cenário, a finalidade das ações
sobrepõe a relevância de suas consequências. A ação dos indivíduos é analisada
de forma contextualizada, conforme recorte definido de parâmetro de análise.
Atrocidades
da história humana aconteceram não apenas pela alienação em uma ideologia e
intencionalidade de ser cruel com seus semelhantes e divergentes. Mas pode-se
perceber que adventos como o holocausto, submissão a regimes ditatoriais,
aceitação de um determinado sistema político e organização social se dá por
meio do que vulgarmente se chama de efeito
manada. Trata-se da Conformidade Social. O comportamento de obediência ao
grupo dominante.
Cada sociedade funciona com um conjunto de
regras econômicas e políticas criadas e aplicadas pelo Estado e pelos cidadãos
em conjunto. As instituições econômicas dão forma aos incentivos econômicos:
incentivos para buscar mais educação, para poupar e investir, para inovar e
adotar novas tecnologias, e assim por diante. É o processo político que
determina a que instituições econômicas as pessoas viverão submetidas, e são as
instituições políticas que ditam como funciona esse processo. Por exemplo, são
as instituições políticas de uma nação que estabelecem a capacidade dos
cidadãos de controlar os políticos e influenciar seu comportamento – o que, por
sua vez, define se os políticos serão agentes dos cidadãos, ainda que
imperfeitos, ou se terão a possibilidade de abusar do poder que lhes foi
confiado, ou que usurparam, para fazer fortuna e agir em benefício próprio, em
detrimento dos cidadãos. As instituições políticas incluem Constituições
escritas − mas não se limitam a elas − e o fato de a sociedade ser uma
democracia. Compreendem o poder e a capacidade do Estado de regular e governar
a sociedade. É igualmente necessário considerar de forma mais ampla os fatores
que determinam como o poder político se distribui na sociedade, sobretudo a
capacidade de diferentes grupos de agir coletivamente em busca de seus
objetivos ou impedir outros de atingirem os seus. (ACEMOGLU E ROBINSON. 2012.
P.50)
O
marxismo e sua divisão de classes como mecanismo de análise social e definição
de parâmetros das relações sociais estabeleceu uma nova vertente na sociologia.
Com argumentos focados na divisão do trabalho e a valorização do produto e do
modo de produção, bem como da força de trabalho, o marxismo buscava um
equilíbrio entre as classes sociais a partir da entropia, conflito e posterior
harmonia, que, no entanto, revelou-se como tendência a inversão dos papéis; uma
vez que o empoderamento do trabalhador e sua libertação dos padrões de produção
controladores, o faz se tornar um novo empregador, porventura, sem a devida
capacitação, mas apenas o estímulo. Este fato, impulsionado sem a devida
estruturação de mudança, impacta no mercado, afetando lucros, sistemas de
produção e de consumo, interferindo na sociedade de forma negativa.
O
Comunismo implantado foi uma ideologia deturpada, focada no embate privado x
público. Marx defendia não o fim da propriedade privada, mas o fim da
propriedade burguesa; defendia que o homem livre teria mais tempo para ser do
que para ter. Para isso, ele defendia 10 medidas para concretização de uma
sociedade comunista, a ser estruturada gradativamente. Contudo, a burguesia quer manter as coisas
como estão, o proletariado quer deixar
de ser proletariado sem ter claramente definido o que deveria se tornar. O
cálculo da mais valia oscila conforme o volume do capital, que varia de acordo
com o perfil de modernização do processo de produção, que por sua vez depende
do apetite a investimento da burguesia, controle e aceitação junto ao
proletariado.
A
cultura de massa, então consolidada e difundida pela Escola de Frankfurt
abordou uma teoria crítica da sociedade onde o todo era analisado a partir de
recortes específicos, condicionados a experimentos comportamentais, para se
compreender os mecanismos da opinião pública, sua formação, representação e
controle.
A
sociologia é multifacetada. Seja no viés do Funcionalismo, Neofuncionalismo,
Fenomenologia, Estruturalismo, Etnometodologia, Hermenêutica, Sociologia da
Ação, Individualismo Metodológico; todas ideias surgidas diante de um colapso,
crise do pensamento sociológico na contemporaneidade. O pluralismo das novas
sociologias ampara-se na historicidade das nações como ferramenta de leitura da
sociedade, cada uma com suas especificidades. Contudo, este amparo na
historicidade gera um historicismo que considera as ações dos indivíduos dentro
do contexto social. Importante considerar também a sociologia Figuracional, de
Norbert Elias, onde as consequências ou resultados não almejados, decorrente
das relações sociais, são o instrumento de análise e trabalho.
O
individualismo, onde a sociedade é atendida pelo indivíduo, sendo ela a
consequência da existência e interação dos indivíduos, busca compreender a
sociedade a partir do contratualismo, esse estruturado em tradições e valores.
Assim, o indivíduo se constitui sujeito social, cria e interfere na sociedade.
Na visão do holismo metodológico, o fato social ganha relevância como
instrumento que interfere, exercendo coersão sobre os indivíduos. Assim, o ser
seria modelado pela sociedade, que já teria sua própria regra de coexistência.
Em
um cenário plural de análises sociológicas da sociedade, a oposição entre nível
de recorte (macro ou micro) polariza-se entre o coletivismo metodológico
(holismo) praticado por Durkheim e Marx, com análise macro dos adventos
sociais, relações sociais e constituição dos indivíduos. Esta análise
norteia-se pela compreensão das coletividades e suas correlações com o
indivíduo. De outro lado, o individualismo metodológico, onde a realidade é
interpretada a partir do repertório individual, sob perspectivas restritas de
cada indivíduo não enquanto sujeito social (integrado à coletividade), mas em
separado.
Nas
análises macro, é importante considerar as interferências das tradições e dos
valores sociais sobre o sujeito. As tradições (coletividades consensuais
consolidadas pela historicidade), mesmo dotadas de valores e mecanismos de
controle, não determinam em plenitude o comportamento dos indivíduos. Martins
(2008. P 205.) aborda como a tradição e valores diferenciam-se na interação com
o indivíduo e constituição de seu comportamento.
A
sociologia conduzida pelo viés que transite entre o macro e micro (considerando
o número de indivíduos envolvidos nas respectivas análises) seria o ideal para
traçar estratégias de intervenção e evolução a partir da leitura aprofundada do
território e das relações inerentes. Neste sentido, as análises dos elementos
em uma dimensão micro não devem significar uma leitura reducionista, mas sim
mais detalhada do que vem a delinear o indivíduo, seu comportamento e
respectivos desdobramentos, de forma a interagir com as análises macro para
recriar as estruturas sociais possibilitando melhor significação da sociedade.
Desta
forma, a metodologia para compreender o universos societário, o que e como o
constitui e os rumos possíveis e intervenções necessárias, não deve estacionar
seu modus operandi em uma única
vertente, mas na integração e correlação das abordagens (mesmo as de caráter
oposicionista) para então se construir uma versão do entendimento social que
seja aplicável á paisagem de forma dinâmica, orgânica, viva. O paradoxo dessa
hipótese e respectiva dualidade é portanto o caminho acessível da compreensão
das relações dos indivíduos com o contexto social e de que forma as interações
alteram tanto os indivíduos, seus comportamentos enquanto sujeitos sociais e a própria
sociedade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACEMOGLU E ROBINSON, Daron e James A.
Por que as nações fracassam: as origens do poder, da prosperidade e da pobreza.
Tradução Cristiana Serra. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
DURKHEIM, Émile. Lições de Sociologia
– a Moral, o Direito e o Estado, 1969 - Editora da Universidade de São Paulo,
2ª edição.
FERREIRA, Roberto Martins. Popper e os
dilemas da sociologia. São Paulo: Annablume; Fapesp, 2008
GEERTZ, Clifford: A interpretação das
Culturas. Rio De Janeiro: Ed Guanabara, 1989.
(VIEIRA, Rudson. Individuus. 2016.
Disponível em http://passocomunicacao.blogspot.com.br/2016/12/individuus.html
acessado em 28/06/2017).