segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Entre fibras musculares


Somos a sociedade da carne; para comer, se abster e para se relacionar. Sonâmbulos, erguemos civilizações, com breve consciência da aparência do real. Nosso desejo move-se para saciar ou punir a carne, destrinchar o que se faz frágil e expor as vísceras do corpo social. Nos embrenhamos entre as fibras musculares com ideologias que alteram o corpo social sem compreender profundamente os desdobramentos das ações, escolhas e consequências.

Nossa saliva, ácida, por muitas vezes ao invés de apaziguar, reverbera pelo espaço como um chicote de fogo, castigando a carne, abrindo feridas que iriam fechar, fazendo rio do que antes eram córregos de sangue, dor e lamento. Manejamos com imaturidade nossas angústias sem perceber como as rugas marcam em braile nossa história no corpo.

Quando observado por dentro, alguns possuem mais do que carne. É possível encontrar flores entremeio ao emaranhando de espinhos, e até mesmo perfume, quando a espessa fumaça da realidade tenta entupir a veia dos ideais.

Precisamos então escolher não apenas as palavras, mas o tom da narrativa e vislumbrar a tendência de desdobramento e criação de significantes que a mensagem irá gerar. Não podemos ser reféns dos automatismos e tampouco se aconchegar nesta zona de conforto. Devemos nos portar como o andarilho de Nietzsche. Ao invés do destino a caminhada renovada. Ao invés do ponto final, a vírgula, amarrada às reticências.




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