sábado, 22 de junho de 2024

Crises

Essas crises de ansiedade. Essa angústia que o corpo transforma em falta de ar, coração queimando, cabeça girando pensamentos colo uma metralhadora. Suor na palma das mãos, suor na sola dos pés. Ser multitarefas passa a ser um desafio, sendo que antes era tranquilo. Estou aprendendo a respirar, no respiro compreender de onde surgem essas tsunamis emocionais. Quando identifico algo, penso em como lidar com o ponto focal e assim partir para identificar o próximo. Algumas vezes, a crise acaba antes que eu possa identificar o segundo estopim. 

Nem toda palavra suporta o sentimento que ela conceitua. A dor é bonita enquanto é poético refletir sobre ela, mas verdadeiramente e cruelmente dói quando se sente. 


Envelheci. Esperando que o momento certo desse oportunidade ao jovem sonhador, risadinha, talentoso. Matei o jovem na espera, em escolhas decisivas, como se fossem preparatórias. Envelheci. Os versos roucos, cheio de rugas e feridas não encantam mais ninguém. Nem as flores, nem as borboletas, nem a enigmática gota de orvalho que fica quando se dissipa a cerração. Quantas mudas cravaram em meu peito o selo da infelicidade e humilhação? Seriam todas elas uma mesma, em uma só? Ideia.


Carne sobre ossos. Envelheceu minha carne sobre os ossos, e os próprios ossos. A fisionomia não é da mesma beleza que um dia tivera. Os neurônios pularam no precipício da alma. O que vem a ser esse humano que me encara no espelho? Qual a sua essência afora a carne sobre os ossos? 


A jornada. Os ciclos que se repetem. Agora entendo o corpo cansado do meu pai numa manhã de aniversário agradecendo e se perguntando quanto tempo ainda teria. Isso foi anos atrás. Somos prisioneiros do tempo. Vivemos ciclos, bons e ruins. Mas ciclos que se alternam no tempo, espaço e personagens. Somos prisioneiros do tempo, reféns das pessoas, das situações que criamos e das que nos permitimos estar ou que nos colocam, e reféns dos sentimentos.


Nunca falei tão abertamente sobre os sentimentos e questões elementares do meu caráter. Ao expor isso de maneira crua fiquei à mercê da maturidade e responsabilidade de uma mulher a saber como lidar com meu tesouro, enquanto o dela estava bem guardado comigo.


Escorro por mim mesmo. Em cada poro a incógnita do motivo pelo qual o corpo ainda persiste. Esse automatismo orgânico que não me deixa partir. Afora os que sofrem na carne e no espírito querendo ficar, com todo o respeito aos enfermos. Com todo respeito aos enfermos. A incógnita do tempo a conduzir as trajetórias, a chocar percursos, a mesclar caminhos; Essa dicotomia de ser generoso e cruel, e por muitas vezes parecer que nem está ali. 


Busquei aquele ideal de paz. Busquei a plena realização de um amor verdadeiro, aquele que preenche, instiga, cresce e caminha junto, aquele que é e não abandona, não mata mas é mais forte que a morte, que sobrevive à estabilidade. Encontrei a minha velhice, uma xícara de café e o fundo da minha taça de vinho.. contudo... O fim poético não é o prático, tampouco o real.


Falar amor é dizer seu nome. As duras conversas sobre a realidade nunca me foram tão transformadoras quanto agora. A ruptura nunca me foi tão clara e possível quanto agora. E esse agora, esse imponderável agora, traz variações de dores e gozos. Escolhas, orientações. Rumos nunca antes trilhados. O amor de um beija-flor por uma borboleta transcende o que se entende.



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