quinta-feira, 6 de junho de 2024

Imponderável

Como posso conceber que novamente, após 21 anos, me coloco em uma exposição à flor da pele assim. Como posso conceber a possibilidade de todos meus defeitos e limitações virem à tona novamente, postos nos lençóis, na mesa das refeições, nas cenas de créditos dos filmes. Como minhas lágrimas, suspiros e poros irão ser interpretados. Como tanta pergunta martela minha cabeça sem nem ao menos uma interrogação. Que certeza é essa que contorna meu coração, toma conta da minha mente. me enche de medo, na mesma medida em que me dá paz, e me rasga o sorriso. Quais os efeitos deste futuro, o que guarda e oque me aguarda? Como imaginar que mais uma vez, as canções iriam tocar profundamente o que já estava escondido. O estado de sufocamento, alienação e humilhação foi abalado pela possibilidade, pela esperança de existir verdadeiramente o que até então pensei ser apenas uma ideia. Pensei ser apenas uma ideia e por isso não encontrava em uma pessoa, mas apenas pairava por instantes e depois sumia. até então, como o verso, eu ainda não havia encontrado pelo que procurava, mas tinha me acomodado ao que se apresentava. uma farsa, um pernóstico, um anjo, colocaram tantos rótulos que não conseguem ver o que há dentro. E assim obstruíram também minha visão. tanto que errei, tanto que desejo não lembrar. E o preço talvez seja não compreender por completo quem sou. até que ponto chegamos. até onde irá essa caminhada e o que me aguarda neste imponderável futuro feito da morte e nascimento dos "agoras". Não se trata de ser pessimista ou de ser egoísta. É sobre ser humano, sincero consigo mesmo, mas à mercê do que a sociedade faz com o que sou. A crueldade me assombra, aí me recolho e ergo personagens. 

Deus permitiria com qual propósito? Que brilhem as lâmpadas para meus pés e que iluminem meu caminho. Meu corpo treme. Pulsa. A mente repousa  E a simples ideia da perda do que nunca se teve, cria um abismo na alma. Como da última vez. A navalha da realidade me dilacera. Não encontro a porta de saída. Ergo minhas frustrações sobre os ombros, e deixo cair pelos olhos os resquícios de esperança. Então, meu brilho não ilumina meus passos, meu sorriso não preenche uma fresta. O dia acaba, e eu também. Quanta dor imputastes a mim. Eu, amaldiçoado pelo tempo, inocentado pelo sentimento e pelas canções, pelos versos, pelas narrativas de cinema. absolvido em minha insignificância. Não há paz. Nunca haverá. A dor se apropriou de tudo o que me foi belo. Então me despedi e me despi de mim mesmo.

cansei;

não precisa de rima

traço e ponto acima

a sina do sofrer se perpetua

o amor não vinga

na vida daquele em que só dor habita

bacon, café, ovos e street spirit


e ainda há flor e borboleta para o beija-flor sem jardim.



Nenhum comentário:

Postar um comentário