sábado, 30 de janeiro de 2010

“Eles atiram em cavalos, não atiram?”




PÍLULAS DE REALIDADE

Ler não somente as letras. Sentir o que lê sem dramatizar. Sentir o que vivencia, inclusive a dor. O corpo e suas sensibilidades. O cotidiano como pano de fundo central de um encontro de interpretações. Leituras de Passaporte – Fernando Bonassi – e Eles eram muitos cavalos – Luiz Ruffato.

O texto de Bonassi apresenta uma crueza e sensibilidade que permite dialogar com os muitos cavalos que não usam passaporte, mas são carimbados ao migrarem constantemente, bordando e transbordando na malha que nem sempre é humana, é urbana. Cavalos que migram inclusive dentro deles próprios. Deles; não seríamos nós cavalos? Possivelmente não. “Eles atiram em cavalos, não atiram?”.

Ao transitar pelo passaporte de Bonassi é possível perceber a crueza recorrente do ato complexo, e nem por isso sempre difícil, de relatar a realidade. Seja em “piercings” ou em vacas distraídas. Lúdico lúcido de um real acinzentado; ácido. A natureza morta de Bonassi é ótima e casa com o homônimo dos muitos cavalos (selados).

As verdades e mentiras suscitam aquilo que ninguém assume e adora sentir e experimentar. A sensibilidade apurada da mente garante o prazer pleno do corpo, no qual se inclui a mente. Mil e uma noites esvaem-se entre os poros de maridos e mulheres que se espreitam pelo tempo para não eternizarem-se nos trâmites dos supermercados. Tem dia que tudo tem “cara” de supermercado.

Somos lagartos infelizes, sonolentos e soberbos no planalto central, esticados ao sol, comendo a brisa que falta. “Vamos viver de brisa”.

Simples e complexos. Solitários, vivemos cada um uma realidade. A imagem que entra pelos nossos olhos passa pelo filtro do desprezo e do interesse próprio; sistema de relevância. Somos cavalos em uma infindável noite dos desesperados , na qual nosso passaporte não indica um destino, uma chegada, apenas partida.

A simplicidade de viver um novo momento que na verdade não é novo, é repetido. Sentir a mórbida natureza do cotidiano se apresentar todos os dias àqueles que teimam em não viver debaixo d’água.

Bonassi relata a crua imagem que os olhos capturam durante as andanças entre muitos cavalos, que teimam em povoar o mundo. Ruffato traz os relatos dos anônimos do cotidiano, cavalos fadados a pastarem entre seus sentimentos, suas idéias e seus “semelhantes”.

Os livros são como uma casa de espelhos. A imaginação e a percepção amparam os olhos e os guiam através dos diversos reflexos do famigerado real. Nos trâmites da leitura, sente-se a possibilidade de poder interpretar o que se chama de real sem ter como base os rótulos socialmente estabelecidos.

Bonassi nos dá pílulas e nos muitos cavalos de Ruffato encontramos o passaporte adequado para engolirmos e sermos engolidos pelas pílulas de realidade. Humor e sarcasmo. Sangue suor, sorriso e gozo. Bonassi e Ruffato e uma dose de madrugada. O travesseiro anseia uma mente que sempre borbulha.

Memórias de minhas putas tristes – Gabriel García Márquez




A tristeza era dele, que buscava um recomeço; se renovar no suor de um corpo jovem. Corpo que, na verdade, não trazia juventude, mas prazer e dor sob a fina superfície da inocência.

A humanidade encontrada por meio do famigerado amor. A ridicularidade de amar desfaz a experiência de anos. Um presente de aniversário, um hino de louvor à vida. A tristeza que só a sabedoria traz permite um limiar de esperança, no ano dos noventa anos de um ancião. O renascimento.

“Era enfim a vida real, com meu coração a salvo, e condenado a morrer de bom amor na agonia feliz de qualquer dia depois dos meus cem anos”.

Memória de Minhas Putas Tristes (Memoria de mis putas tristes) foi escrito em 2004 por Gabriel García Márquez e publicado em outubro do mesmo ano nos países de língua espanhola. No Brasil, foi publicado pela editora Record em 2005, com tradução de Eric Nepomuceno.

A obra narra a história de um nonagenário cronista e crítico musical que, em seu aniversário de 90 anos, pretende presentear a si mesmo com uma noite de amor louco com uma adolescente virgem. Porém, ao vê-la dormindo, não tem coragem de acordá-la e se apaixona por uma garota adormecida.

Primeira obra de ficção do autor colombiano em dez anos, "Memória de Minhas Putas Tristes" desfia as lembranças de vida desse inesquecível e solitário personagem em mais um vigoroso livro de Gabriel García Márquez.

Agora que a conheceu, ele se vê à beira da morte. Mas não pela idade, e sim por amor. Sempre sublime, Gabriel García Márquez presenteia-nos com esta jóia narrativa repleta de sabedoria, memória e bom humor, que confere ainda mais brilho à sua genialidade literária.

Viver: O castigo de Dostoiévski



Tudo é psicológico, inclusive o dinheiro. Vida social é acomodação. As idéias são um campo vasto de realizações. Tudo o que manifestamos é, objetivamente ou subjetivamente, autobiográfico. Raskolnikov. Uma outra migalha de Dostoievski ; parou de estudar, faltou dinheiro.
Pensamentos transcendentais. Era um pouco mais do que os demais, pelo menos em articulação de pensamento. Extremamente analítico. A irmã iria casar por conveniência. Ele tinha amigos. Relacionava-se com eles por meio de frestas no muro que continha sua essência fechada e introspectiva em uma Rússia nublada.
Soberano dentre os vermes; era ele o germe da prosperidade derradeira em uma Rússia nublada. Matou a velha que trocava coisas por dinheiro. Era Lea uma agiota bondosa que destinava seu dinheiro a sedentos atores sociais falidos. Matou com machado. A moleira dura ao beijar a lâmina do machado goza um muco viscoso e rubro. Morte. O acaso e os impulsos físicos. Outra machadada outra moleira. A irmã da velha. Tempos nublados. O dinheiro. Psicológico, assim tudo é.
O corpo passa a não responder e a mente a responder e bater. Conflituosamente Rodka anda entre suas pernas e pensa nos passos que deu e nos que deveria dar. Entregar-se, usar do que roubara, embora tenha tido uma fuga invejável. Deveria levantar a pedra, rasgar o forro, pegar e usufruir os seus ganhos? O sangue na ponta do calçado ainda existia em sua mente perturbada por uma realidade cinza.
Rodka se assemelha do Sr. Meursault, do Estrangeiro de Camus. Ambos não se consideravam criminosos, mas sim as idéias e o meio. Mimetismo e conflitos. Há quem diga que seu crime foi ter se entregado e se considerado criminoso, ou ainda ter deslacrado a machadadas o corpo da anciã podre e rica. Seu castigo são suas idéias, sua doença, seus conflitos, a Sibéria. A salvação seria Sonia, a bíblia na cela, o trabalho forçado, a possibilidade de recondução à sociedade por meio da pena, da culpa, do trabalho. Sibéria.
Ainda na semelhança com Meursault de Camus, Rodka torna-se amigo do delegado. Os amigos aos poucos deduziam sua sina, sua trajetória, seu; crime. Antes de à tona putrefazer ainda mais a realidade de uma Rússia nublada, ele se entrega.
Conflito? Confuso? O mundo gira e nós parados cremos girar. Repetição? Todos são. Dilemas. Culpa. O ato visto à luz de padrões estabelecidos por uma sucessão de contextos, denuncia o erro. Assassinar por dinheiro ou para eximir do mundo uma alma sebosa?
Viver é o castigo em um mundo em que a Rússia nublada se expande e se instala também dentro de cada um. Viciados seja em jogo, seja em ar, seja em palavra, seja em qualquer coisa. A produzir e divagar para buscar suprir uma solidão e medo do silêncio de assumir que somos seres nublados. Contemos o sol, mas o embaçamos e escondemos por detrás de um discurso romântico. Discurso criado para entretenimento pelo pensamento moderno. O mesmo que criou sua maior utopia, sua superação, a pós-modernidade.

Mas aqui começa já uma nova história, a história da gradual renovação de um homem, a história do seu trânsito progressivo dum mundo para outro, do seu contato com outra realidade nova, completamente ignorada até ali. Isto poderia constituir o tema duma nova narrativa... mas a nossa presente narrativa termina aqui.

Dostoievski – Vida e obra
Em uma Rússia conturbada, na cidade de Moscou, nasce Fiódor Mikháilovitch Dostoievski, em outubro de 1821, descendente de uma aristocrática família lituana, porém agora sem fortuna alguma. O pequeno Dostoievski cresce em meio à pobreza e a pessoas doentes; seu pai é médico em um sanatório para pobres em Moscou e é aí que reside a família.
A inesperada notícia do assassinato do pai, em 1839, pesa na consciência do jovem Fiódor, que tanto rezara para ver-se livre do pai déspota. Amargurado, angustiado pelo remorso, sentindo-se responsável por toda a miséria do ser humano, ele busca se redimir por meio da criação literária.
Em 1880 torna-se finalmente o ídolo de seus leitores, guia espiritual, exemplo de força e coragem, o “Escritor da Rússia” que retrata a alma do povo. Mas já não há tempo para vanglória. Num dia nevado de 1881, vítima de hemorragia, morre aos 60 anos Fiódor Mikháilovitch Dostoievski, consagrado até hoje como um dos mestres da literatura universal.

Cronologia
1821 – Em 30 de outubro, nasce Fiódor Mikháilovitch Dostoievski
1837 – Morre a mãe de Dostoievski. Transfere-se para escola de Engenharia Militar de São Petersburgo.
1839 – Seu pai é assassinado.
1841 – Inicia as obras Boris Godunov e Maria Stuart, mas não as conclui.
1843 – Passa a trabalhar na seção de Engenharia de São Petersburgo. Traduz Eugênia Grandet, de Balzac e Dom Carlos, de Schiller.
1844 – Demite-se do cargo público para dedicar-se à literatura.
1845 – Publica Pobre Gente.
1847 – Sofre crise de epilepsia. Sai segunda edição de Pobre Gente.
1848 – Publica O Duplo.
1849 – É preso e condenado à morte. Comutada a pena, parte para a Sibéria.
1854 – É incorporado como soldado raso em uma guarnição siberiana.
1857 – Casa-se com Maria Dimítrievna Issáievna.
1859 – Volta à São Petersburgo.
1861 – Publica Recordações da Casa dos Mortos. Funda o jornal O Tempo.
1862 – Viaja ao exterior com sua musa Polina Súslova.
1863 – Retorna à Rússia.
1864 – Funda o periódico A Época. Morrem sua esposa e seu irmão.
1867 – Casa-se com Ana Grigórievna. Publica Crime e Castigo.
1868 – Nasce a primeira filha. Publica O Idiota.
1869 – Nasce a segunda filha.
1871 – Publica Os Possessos
1874 – Publica O Adolescente e Diário de um Escritor.
1880 – Publica Os Irmãos Karamázovi
1881 – Morre em 28 de janeiro e é sepultado três dias depois, em São Petersburgo.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

POETAS DA DOR

 

POETAS DA DOR

 

Porque nenhum de nós vive para si. E nenhum de nós morre para si.

 

 

Até que o ultimo suspiro transcenda as lágrimas de sangue que o cérebro jorra. Madrugada. Os pensamentos são o gozo e a porrada. Desordenados, são o câncer orquestrada que leva à ruina. A apatia controlada de estar sozinho em sua doença, em suas concepções. Mesmo tendo alguém ao lado, mesmo dividindo o lençol, mesmo no meio da massa. Solidão.

 

A solidão e seu negrume, os pensamentos sem rédeas, como um cavalo selvagem agonizando, à espera de alguém para sacrificá-lo. Acompanhada, a solidão vem com o derradeiro suspiro do arrependimento. Traz nos braços a morte. O último gongo do relógio.

 

Alimenta-se do que corrói. A filosofia e os demais poetas da dor constataram o colapso do ser humano em demasia, se prendendo à matéria e tudo o que o raciocínio humano concebe e digere. Esquadrinha a realidade e como os diversos de Pessoa ser perdem e entram em colapso. Seja Caeiro, Reis, Soares, Campos, todos experimentaram do gosto da cor da morte.

 

Jostein Gaarder leva seu personagem a afirmar que não há duas pessoas iguais neste mundo. Em Irmãos Karamázov, Fiódor Dostoiévski, por meio de Ivan K. constata que é impossível sentir a dor do outro. Impossível saber o que o outro sente. Pode-se ao máximo imaginar como se aquela dor fosse sua. Imaginar como você sentiria algo semelhante. Neste caso verifica-se o isolamento do ser humano em sua inacessibilidade. Apenas a compaixão pode romper com este isolamento. Ao se destituir de si, da soberba do intelecto e procurar ver e sentir o outro.

 

Friederich Wilhelm Nietzsche afirma que a compaixão enfraquece o homem. E que homens fracos atravancam o fluir da existência. Declara que é possível identificar o cristianismo como a religião da compaixão. A religião que enfraquece o indivíduo.

 

Importante lembrar que para fluir a existência e os relacionamentos dos seres humanos entre si e com os demais seres e objetos existentes, é necessário que o indivíduo (que não se divide) seja também grupo, coletivo. Para ser coletivo, social, ele precisa ver o outro e entender. Para realizar isso com eficiência e eficácia, é preciso a compaixão. É necessário abrir mão da soberba do saber e sentir. Não ver sua dor como se fosse a maior (segundo Ivan Karamázov sua dor parece ser a maior, porque ela é sua e você não tem como sentir a do outro. A do outro, por sua vez, é maior para ele.), não ver suas qualidades e potencial como o superior da raça. É fundamental se enfraquecer, como diria Wilhelm N. e ter compaixão. Mas um certo Jesus Cristo orientou que devemos ter compaixão uns com os outros. E amar o próximo como nos amamos.

 

Jesus pede para não nos acomodarmos a corrente social. Segundo Clifford Gertz e Ruth Benedict, a vida social é estabelecida por acomodação. Identificação e acomodação dos indivíduos a padrões moralmente concebidos por conveniência do grupo controle. A intelectualidade determina que aqueles que não se encaixam a esta vida social, são estrangeiros errantes, são os estrangeiros de Albert Camus, ou os andarilhos de Nietzsche; onde não importa o destino apenas a caminhada que não cessa, mas se renova. Devemos seguir para o alvo que é Cristo e não cair no estranhamento da autodestruição.

 

Heidger e Wilhelm e suas concepções de que devemos ser fiéis à terra e a tudo o que nela há, assim como Alberto Caeiro, de Pessoa. Pensavam estes que nada haveria de existir de maior ou fora daquilo que a mente humana pode conceber e provar materialmente nesta terra. Entregue às divagações, a vida seria então um processo degenerativo. Sendo assim, a trajetória do ser humano, desde o nascimento, seria a caminhada para a desgraça maior.

Apenas é fundamental lembrar da família. Dessa forma, seriam desnecessárias as famílias, os relacionamentos, as ordens sociais. Os seres humanos poderiam ser concebidos em fábricas. E não haveria cabimento ter carinho ou qualquer outro sentimento pela prole. Ela deveria, até mesmo, servir de alimento ou banco de órgãos caso os seres pensantes nascidos anteriormente necessitassem. Homem lobo do homem. O que é sua família?

 

Nietzsche chamou a moral cristã de moral escrava, mas a liberdade aclamada por ele, onde o pensar livre se ancora nas amarras da amargura, na mente que perde os valores e alimenta o vazio que fica com divagações que aceleram o processo degenerativo do ser.

 

Manuel de Barros alega ser preciso desaprender para aprendermos, Nietzsche defende uma revalorização de todos os valores, repousando seu ceticismo no caricato niilismo. Então emerge o colapso. Não apenas o colapso das instituições humanas, mas também da família: um projeto de Deus que o homem não tem honrado.

 

De acordo com Émile Durkein, o suicídio propriamente dito e o suicídio social ocorre em duas distintas situações: quando o indivíduo passa por alguma mudança ou série intensa de acontecimentos e na ausência deles. A avalanche provocada pela desistência do pensar e buscar pode levar ao colapso, bem como a desenfreada entrega aos pensamentos cancerígenos, amparada na falta de valores. Pois a revalorização sugerida destituiria o valor de Deus, da família, do Certo e Errado, de diversas entidades, instituições e conceitos.

 

A madrugada empurra os poetas da dor a ejacularem sua dor, manifestarem sua angústia muitas vezes assistida com incompreensão por quem está ao lado. A solidão das ideias conduz seu interlocutor à desgraça que ele cultivara em um jardim secreto, dentro de seu cérebro, onde poeticamente chama de coração, de alma. Não se entorpeça com a imagem da cobra que come o próprio rabo, nem busque ver o que sobrará desta fúnebre refeição ocultista.

 

O Dedo Torto, personagem do filme A excêntrica família de Antônia, retrata o ser que encontrou o colapso mental e físico de Durkein. Seu suicídio primeiro foi social, exilado em sua biblioteca. Depois materializou-se nas amarguras de seu ventre, de suas palavras. Finalmente, findou-se em uma carta de letras tortas e no pescoço estrangulado em uma corda.

 

Entre linhas subliminares, entre discursos escrachados, na apatia controlada dos relacionamentos, os poetas da dor manifestam o colapso do ser, do sentir, do existir. Ele é um passo. Um passo para a desgraça maior. É a comprovação do pensamento da revalorização e suas consequências.

 

O que sabe o homem de seus caminhos, se na verdade eles são direcionados por Deus. O pensamento de Deus não pode o homem esquadrinhar. Eis aí uma aflição do pensador humano. Não ter a capacidade de esquadrinhar o pensamento de Deus. O ser humano não reconhece inteligência digna (equivalente ou superior à sua) a um ser se estes não raciocinar conforme o modo humano.

 

O Enigma de Kasper Hauser (e seu curioso nome no idioma original) brinca ao levantar a hipótese de uma maça sentir e pensar e até mesmo agir. Há seitas que alegam as plantas sentirem dor e assimilarem sentimentos. Tudo pensamento defecado em divagações errantes.

 

Um tal de Arthur Schopenhauer afirma que " o saber humano se espalha para todos os lados, a perder de vista, de modo que nenhum indivíduo pode saber sequer a milésima parte daquilo que é digno de ser sabido".

 

Poesias que apenas destroem. Palavras da demolição em um coração que clama por amor. Um amor e um sentido que satisfaça. Mas pede em lágrimas secretas, e pede errado, pede para quem não pode dar alívio e sentido à vida. Pede ao acaso, busca nos homens, revela-se em poemas sombrios. Sombrios como tem se tornado o interior do poeta em questão.

 

O povo perece por falta de conhecimento. Falta sabedoria para lidar com as informações adquiridas. A Sabedoria vem daquele que deu a Salomão sabedoria. George Orwell e sua fazenda de porcos, e seu futuro em 1984. A ignorância como porta à felicidade. A verdade como a chave para a felicidade. Mas dói ao abrir. Dói. É a dor da liberdade.

 

Injusto traduzir em palavras um sentimento. Arthur Schopenhauer constatou como o ato de traduzir gera perdas. Seja traduzir obras, letras ou sentimentos e pensamentos. A perda no processo aumenta cada vez mais, pois depende do repertório do espectador. Mas existe alguém que vê o que está em secreto. Que sabe o que você precisa mesmo antes de pedir.

 

Perdido em algum lugar na zona de tiroteio entre reconhecimento e poder. A vontade e representação do poeta da dor se manifesta na repulsa. Repulsa da realidade que vive, repulsa das responsabilidades que tem que assumir. Repulsa que se manifesta por meio de uma apatia. Uma apatia controlada pelo vazio. O vazio que o impulsiona a divagar pelas madrugadas, pela escuridão das ideias.

Do que adianta voar com asas artificiais, limitadas, e ainda assim voar em rebeldia,  morrendo no oceano. Ícaro.  Melhor seria o labirinto? Dédalos. Arthur Schopenhauer diz que a peruca é o símbolo mais apropriado para o erudito puro. Trata-se de homens que adornam a cabeça com uma rica massa de cabelo alheio porque carecem os cabelos próprios.

 

Onde estão teus cabelos? O que fez deles? Enquanto é tempo. Entreis pela porta estreita. Porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela. E porque é estreita a porta e apertado O Caminho que leva a vida, e poucos há que a encontrem. Apenas os que o fazem em espírito e verdade.

 

De sua masmorra, construída por restos mortos de seus sonhos, o Poeta da dor joga suas trançadas palavras em busca de um príncipe que o satisfaça e o liberte da pedra que comprime seu peito. Lá embaixo, afogado em seu reflexo o príncipe paira o olhar como um narciso a ignorar o eco das palavras do poeta. Mas o poeta, por onde olha, vê seu rosto desfigurado na figura do escritor, do leitor e do carrasco. Mas o alívio não está onde tens olhado ó poeta. Assim como eu, perceba a porta que deve abrir, a porta pela qual deve passar e o caminho pelo qual deve levar os que ama. Ama. Ligue-se à fonte de amor. Este sentimento que é injustiçado pelas palavras, pois nem todas as belas palavras e construções e conjecturas podem revelar o que vem a ser o amor. Ame. Ame. Conheça ti a ti mesmo e encontre a semelhança do seu criador pulsando em você.

 

"Eis que estou a porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua  casa e com ele cearei e ele comigo. Ap 2: 20".

 

 

 

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Amor e Semelhança




Permita-se a um simples exercício. Reduza o significado de amor em uma palavra. Entenda individualmente o significado; o que é o amor. O amor não foi inventado: ele é.

Colocamos muitas vezes sonhos humanos sobre a vontade de Deus. Condicionamos a obra de Deus, o chamado, o “ide” de acordo com os sonhos humanos (Bens materiais, casamento, filhos, emprego, dívidas e etc.)

Formados do pó da terra, fomos chamados à semelhança. (Gn 1: 26 e 27)

Um anjo quis ser semelhante ao altíssimo. Para isso, desejou elevar seu trono acima das estrelas do céu (Is 14: 13 e14). Caiu, pois não é assim. Do pó da terra Deus fez um ser à sua semelhança. O diferencial não é a aparência, ou onde se instala o ser, mas no interior. Aquela massa de barro tornou-se alma vivente, ser humano, após receber em suas narinas o espírito soprado por Deus. O Homem não soube desfrutar da liberdade e semelhança junto de Deus. O Homem pecou, caiu.

Após a queda, a busca pela presença de Deus, a conversão, regeneração, transformação e santificação são passos para se atingir a estatura de varão perfeito (Ef 4:13), voltando à semelhança com Deus, conforme o segundo Adão, tudo para honra e glória de Deus; pois ELE não divide sua glória. Ser semelhante a Deus não para própria honra (a semente da soberba), mas para glorificar a Deus.

As pessoas complicam o evangelho. Deturpam a mensagem de Cristo. O ser humano se perde entre seus desejos, suas vontades, suas carências e a sua verdadeira necessidade. Sempre, sua verdadeira necessidade é tida como o menos importante, um estilo alternativo de vida, uma simples conduta. A verdadeira necessidade é salvação, é arrepender-se (Rm 3:23); entender e viver consciente de que precisa de Deus e foi formado para glorificar a Deus.

Ao perceber que fomos formados para glorificar a Deus, que nada merecemos e muito pouco sabemos, nada praticamente em sua plenitude, o amor de Deus nos constrange (2Co 5:14).

Suprema expressão da lealdade, o amor é forte como a morte (Ct 8: 6), é entrega (Jo 3: 16 / Jo 15: 13). Não sabemos se é amor ou ódio o que nos espera (Ec 9). O amor excede a todo entendimento (Ef 3:19).

Pela nossa salvação, Jesus fez tudo (2Pe 3:9). Reforça que devemos amar a Deus sobre todas as coisas (Jo 14:21). Ordena-nos a amar uns aos outros (Mc 12: 28 – 31), permanecer no amor (Jo 15: 9), amar os inimigos (MT 5: 44), e amor seja não fingido, pois Deus, justo juiz, sonda e prova os corações (Jr 17: 9 e 10). Deus é amor (1Jo 4: 8 a 16)

terça-feira, 26 de abril de 1983

Faíscas

Faíscas pontuaram minha trajetória. Como a de muitos, de tragédia e gozo. Canções anunciaram num apartamento a ruptura antes mesmo do primeiro infante ser gerado. Letras consolidaram a ruína passo a passo, até o presente recebido, o carro, o beijo, bala de prata, o pássaro negro e o vampiro.

Paixão e Amor ressurgem encarnados. Anos depois, canções renovam caminhadas por jardins, por praças da cidade das águas (CXB) e findam com os passos entre os bambus no Rio que continua lindo... Canções pontuam a miragem na cidade da ponte DNA de concreto, da encantadora miragem, admirável oasis que por ter tanta semelhança, fez-se longe, fora do alcance, não fui digno dela.

O tempo e o vento tomam-me de súbito. Canções atravessam o peito e acordam o sentimento já calado a tempos. Canções não me revelam o futuro, mas são a trilha que me embala.

Minha sanidade está nos meus sentimentos. Meus sentimentos sabem de mim mais do que eu imagino ser. As pessoas gostam e gozam ao julgar. Mas não mais me machuco com isso. Embora esmagado nas frases de todos ao redor, não me encaixo em uma só palavra... mas talvez quem sabe em um sinal de pontuação