sábado, 30 de janeiro de 2010

EGITO 430



Primeiro Ato - EXODO 12; 40, 42

Ancião de vestes brancas entra e senta em uma poltrona: Muitos pensam que um sonho se acaba com o acordar. Outros conseguem ver a possibilidade de realiza-los.

Ancião anda por trás de uma roda de crianças a brincar: Tenho que contar para vocês, contar o que muitos andam esquecendo. Não há erro em Deus. Existe amor e justiça. Os homens. Sempre os homens.

Escurece palco, crianças saem. Canhão de Luz sobre o Ancião.

Ancião: Estendi os olhos no horizonte e vi uma parreira linda. Ao me aproximar, percebi que as uvas eram deformadas, feias, de sabor amargo. O vinho? Esplêndido. Pessoas, muitas de trajetória feia, de ruína, com vidas deformadas, em que conceitos de família, união e felicidade foram destruídos sob a permissividade da modernidade e sepultados pela pós-modernidade. Mas o testemunho de vida dessas pessoas, a história que cada ruga conta, mesmo nas faces sem rugas, o exemplo de vida é esplêndido.

Cena de Fundo enquanto fala ancião [canto direito do palco]: Mulher idosa sentada em cadeira olha para frente pensativa. Entra mulher e se ajoelha aos pés da idosa que continua a olhar para frente. Abre luz âmbar e percebe-se que a idosa tem uma foto nas mãos.

Ancião: Já vi uma família de geração em geração colher uvas desgraçadas. Sem graça, sem vida, mas com suco. E do suco tiveram de se nutrir.

Cena de Fundo [canto esquerdo do palco]: Casal briga na frente do filho. Marido sai. Esposa vai para o telefone. Filho liga a TV.

Ancião: Este suco, minhas crianças [olha para platéia], é um testemunho que deveria ser entendido e disseminado. Assim, muitas deformações não existiriam, e o conceito original estabelecido por Deus seria respeitado e vivido. Seriam uvas adequadas, lindas, de sabor primoroso. E o suco? Vinho da melhor qualidade! Sabor dos Sabores. Posso dizer que é algo que o faz levar para o céu.

Cena de fundo [centro do palco]: Marido e mulher arrumam a casa enquanto a criança brinca. Casal está feliz. Família dança enquanto arruma as coisas. Tropeçam, Um levanta o outro, com um gesto de dança se agridem e se abraçam. Após arrumar a “casa”, sentam todos no sofá. Marido pega a Bíblia e mostra uma passagem.

Ancião caminha pelo palco olhando para a platéia [expressivo com as mãos]: Minhas crianças, “os ouvidos que escutam a repreensão da vida no meio dos sábios farão a sua morada”. “O sábio de coração será chamado prudente, e a doçura dos lábios aumentará o ensino”.

Para haver a libertação de Israel, foi preciso a morte de primogênitos. Para haver a salvação de todos, um primogênito venceu a morte e virá buscar... nos buscar.

Entra trilha suave: piano e violino

Cena de fundo [centro do palco]: Mulher e Homem apresentam e consagram a Deus o filho nascido. Casal dança com criança no colo. Dançam por todo o palco e cada vez que chegam a uma extremidade do palco, trocam a criança por outra maior [para indicar crescimento e passagem de tempo].

Locutor ou Ancião: Êxodo 13: 1, 13.

Então falou o senhor a Moisés, dizendo: Santifica-me todo primogênito, o que abrir a madre entre os filhos de Israel, de homens e de animais; porque é meu.
.... mas todo primogênito do homem entre teus filhos resgatarás.

Entra trilha forte: Tambores

Dança se interrompe. Atores estáticos. Ancião anda por eles. Olha. Toca cada um. Desce à platéia [luz acompanha], olha profundamente nos olhos de uma pessoa, continua a caminhar, toca algumas pessoas, escolhe uma. Volta com ela e sobe no palco. Mostra os pés da pessoa.

Desce trilha

Ancião acaricia os pés como um servo e fala olhando para eles: O caminho foi o mais longo, teve de ser assim, porque do contrário, ao ver a guerra, voltariam vocês para o Egito.

Ancião levanta e olha para frente: Sabe porque teve de ser tão longo, difícil e doloroso? Teve o homem o poder da escolha, poder limitado para obras extraordinárias, poder ilimitado para transformar a história da humanidade. Foi o que escolhemos fazer com nossa natureza que abriu nela rachaduras que fizeram entrar a dor. O caminho teve de se o mais longo para as escolhas não se precipitarem, mas mesmo assim, nos precipitamos ao esquecer o propósito disso tudo.

Ancião se movimenta pelo palco: Ando descalço pelo quente asfalto à procura de uma sombra. Apenas vejo as sombras das pirâmides que ajudamos a construir. Mas o amor transcende qualquer noção de existência humana, pois de Deus vem o amor. E o amor vi abraçado à esperança em um muro pintado naquela rua escaldante. No muro pude ler algo me fez acordar. Os versos falavam que enquanto nossas esperanças e fé em Cristo estiverem focadas nas realizações deste mundo, seremos os mais infelizes da existência. O propósito é maior, é Divino, e graças a Deus, é eterno.

Cena de fundo: Criança, uns 12 anos de idade, vestida com roupa de “domingo” entra caminhando lá do fundo da platéia. Tira do bolso um vidrinho de fazer bolas de sabão e sopra bolas de sabão [Canhão de luz acompanha desde o início]. Sobe no palco e anda ao redor do ancião soprando bolas de sabão até o fim da fala. Menino vai para o fundo do palco [apaga luz]

Locutor ou Ancião:
O tempo que os filhos de Israel habitaram no Egito foi de quatrocentos e trinta anos. E aconteceu que, passados os quatrocentos e trinta anos, naquele mesmo dia, todos os exércitos do SENHOR saíram da terra do Egito.


Segundo Ato – Mais do que 40 graus. Quarenta anos no Deserto

Acende luz da platéia, Ancião sentado na primeira fileira fala: No deserto, Jesus passou 40 dias a se preparar. Foram 40 os dias que os espias vislumbraram a terra prometida. Porém, Israel passou 40 anos a aprender e se converter. No deserto, a temperatura é muita alta durante o dia e muito baixa durante a noite. A misericórdia como coluna de fogo à noite e nuvem durante o dia.

Quantas chances serão desperdiçadas? CHEGA! ... chega... Acordem queridos, pois quero compartilhar. [Apaga luz sobre o Ancião. Entra no palco a criança do final do primeiro ato]

Criança: E comeram os filhos de Israel maná quarenta anos, até que entraram em terra habitada. Deus alimentou o povo no deserto. O tempo que ficamos no deserto depende de nossas atitudes.

Cena de fundo [canto esquerdo do palco] cinco adultos, como viajantes, andam em círculos.

Criança anda na ponta do palco, gesticula, senta na beira do palco e depois se levanta: Números 13: 30. Quantos aqui agem como Calebe e Oséias, filho de Num, o qual chamado era por Moisés de Josué? Quem dentre os que me ouvem agem como Calebe e Josué? Dentre vocês estão os que se assemelham aos dez espias? Doze espias viram a promessa de Deus. Constataram com os olhos e com o toque que a promessa de Deus é verdadeira. Entretanto, dez fixaram o olhar na dificuldade, e mesmo tendo comprovado a veracidade da promessa de Deus, estavam dispostos a abrir mão da herança.

Criança anda até a platéia: Vocês estão dispostos a abrir mão de sua herança? Assim como a herança que nossos pais nos deixam, a herança da qual falo também foi adquirida com muito suor. Mas um suor especial, um suor feito de sangue. Sangue que foi derramado na cruz. Acha pouco? Acham pouco?

Criança anda pelo público e volta para o palco, pega uma Bíblia: Números 13:30. Faça também calar o povo. Chame todos a subir animosamente e possuir Canaã em herança.

Com a Bíblia nas mãos fala ao povo de maneira enérgica: E a resposta do Senhor será Números 14: 24.

“Porém o meu servo Calebe, porquanto nele houve outro espírito perseverou em seguir-me, eu o levarei à terra em que entrou, e a sua semente a possuirá em herança”.

Apaga luz

Terceiro Ato – Novo Céu e Nova Terra

Sentados um do lado do outro à beira do palco, Ancião e Criança conversam com uma Bíblia na mão.

Ancião: Está escrito aqui: Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida que está no meio do paraíso de Deus.

Criança folheia a Palavra e diz: Bem-aventurado aquele que lê e os que ouvem as palavras desta profecia e aguardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo.

Entra louvor – Lugar de Oração, de André Valadão - 3m38

Cena de fundo [entra adultos a dançar durante toda o louvor]

Entra louvor – Escolho te louvar – Mariana Valadão - 4m05

Cena no centro do palco [crianças dançam, depois entram os jovens e posteriormente adultos]

Criança e Ancião se levantam, uma mulher que está na platéia se levanta, vai até eles.

Mulher: O bom ânimo de cada dia, de cada luta, alcançou seu coração. Apocalipse 21.

E vi um novo céu e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e primeira terra passaram e o mar já não existe. E eu, João, vi a Santa Cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido. E ouvi uma grande voz do céu que dizia: Eis o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará e eles serão o seu povo e o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus.

E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor porque já as primeiras coisas são passadas. E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas.

Amém

Entra louvor – Amável Deus

Perseverança e Nova Identidade




Você acredita mesmo que há um ser superior, que se deu ao trabalho de criar um ser que se entrega a uma série de defeitos e semeia a desgraça com a semente da desobediência, regada com a soberba, adubada com a vaidade, vigiada pelo egoísmo? Crê ainda que esse ser superior ama o ser criado que para salvar o ser criado da ruína eterna entregou seu filho unigênito para remissão de TODOS os pecados?

Se, acredita neste amor que pode até ser chamado de sobrenatural, por sua natureza que transcende a limitada capacidade do ser humano de conceber sentimentos. Pois o ser humano quer gozo e suor, sorriso. Mesmo que custe sangue. Se, acredita neste amor, eu pergunto, seria capaz de negociá-lo? Venderia este amor por algo? Existe algo maior e melhor do que ser amado desta forma e ser ensinado a amar?

Se é capaz de negociar este amor, meu querido, vá para o inferno; a menos que assim como eu um dia fiz e reafirmo todos os dias, se arrependa de sua miserável série de escolhas que desenhou sua vida. Persevere na fé em Deus, independentemente do que possa acontecer. Mesmo que seu maior medo vire uma realidade em seus dias.

Houve na história de nossa existência quatro amigos. Rejeitaram se contaminar com a comida do rei impuro e foram honrados. Perseveraram na fé no verdadeiro Deus e foram colocados à prova. Foram levados a uma situação de mercado, para negociar a fé, não por prazeres, como muitos têm feito, mas pela sobrevivência.

Daniel, Misael, Hananias e Azarias. Por defenderem o amor sobrenatural, um foi jogado a cova com leões ferozes e famintos. Leões que não o fizeram mal algum. Os outros três, foram lançados em uma fornalha e não se queimaram, e dentro dela, tiveram a presença do anjo de Deus, semelhante ao filho dos deuses.

Impostos em negociação do amor de Deus, eles foram diretos, foram firmes ao responder para Nabucodonosor. Que o Deus a quem serviam o livrariam da fornalha e da mão do rei. E mesmo que isso não fosse da vontade de Deus, eles não serviriam aos deuses do rei e nem a estátua que o rei mandou fazer.

Eles deixaram claro que mesmo que mesmo que o amor sobrenatural não lhes trouxesse o livramento, eles não iriam abrir mão dele. Ainda assim o rei os jogou na fornalha e viu a Glória de Deus se manifestar.

É assim, mesmo dentro de tribulações (fornalha) que pareçam ser sobrenaturais (aquecida sete vezes mais do que o normal) o surpreendente de Deus se faz presente (e o aspecto do quarto homem na fornalha é semelhante ao filho dos deuses). E o que há de maravilhoso é que depois de sair da tribulação (fornalha) não haverá vestígio algum em você, pois não será consumido (nem cheiro de fogo tinha passado por eles).

Leia Daniel capítulo 3 e não quebre a aliança que Deus fez co você. Aliança de Amor. Amor que transcende ao que você pensa. Toda promessa deve ser cumprida. Toda aliança deve ser honrada. Todas as possibilidades devem ser buscadas diante de Deus. Ele nos ajuda a cumprir nossa parte da Aliança. Não negocie o amor de Deus. Persevere mesmo nas dificuldades.

Identidade trocada

Qual o seu rótulo na sociedade. É o rótulo que agrada a Deus? Ou você é conhecido como o ladrão esperto, o descolado que “come” todas e bebe até cair, a que mais “teve” homens, o que transgride as regras, o rico, pão-duro, coração de pedra, corno manso, bobo, cordeirinho, lobo, 171, miserável, mestre, cobiçado, desejada, conveniente, leal e tantos outros...

Qual era seu rótulo original? Quando você saiu do ventre da sua mãe, quando deixou de ser um rascunho neste mundo. Quem trocou sua identidade, que profanou sua construção? Seus pais? Amigos, sociedade? Líderes impuros? Deus?

A Bíblia revela muitas trocas de nomes. Muitas resultaram em mudança de personalidade outras não. Foi Deus quem mudou seu nome, como ele fez com Jacó, que se tornou Israel? Como fez com Abrão que se tornou Abraão? Como irá fazer com os salvos, com os que perseverarem e não negociarem o amor de Deus.

Ap 2:17 diz que “Ao que vencer darei eu a comer do maná escondido e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe”.

Muitas vezes, permitimos que mudem nosso nome, nosso rótulo na sociedade. Permitimos que coloquem um nome de desonra. Muitas vezes, as pessoas acabam por confirmar este novo nome com seus atos, se perdem na dança da desgraça, fazem como o porco que volta para a lama e o cachorro que volta para lamber do próprio vômito.

Mas existem também os que independentemente do nome honram a Deus. Homens como Daniel, Misael, Hananias e Azarias. Mesmo quando o rei Nabucodonosor mudou o nome deles segundo significados que adoravam deuses pagãos, os quatro permaneceram fiéis ao Deus verdadeiro (Dn 1:6, 7 e 19). E todos foram honrados pela perseverança, todos foram preservados e agraciados de muitas bênção por não terem negociado o amor de Deus, mas por terem exaltado o como é imensurável e impagável o amor de Deus. Mesmo que tentem mudar seu nome para ver se te corrompem, ou te envergonhem, saiba não é isso que Deus tem para você.

É fácil negociar o amor de Deus por um emprego, por bens, para ter prazer, experimentar diversas situações, pessoas e objetos. Ainda mais fácil é negociar pela sobrevivência, para saciar o corpo que pede por alimento, roupa e conforto. Para não ser excluído de um grupo social, para não ser executado em locais ainda mais repressores.

Não negocie o amor de Deus e os propósitos dele para a sua vida. A felicidade e alegria provêm de Deus. O melhor para sua vida apenas Deus pode dar. E o melhor; Deus não é Deus de confusão e ele sabe o que você precisa antes de pedir, conhece o seu íntimo. Confia nele e converse com ele. Se o fizer de coração ele responderá.

A palavra de Deus é exata ao dizer que em tudo o que fizer, quer comais, bebais ou fazeis outra qualquer coisa, que seja TUDO para a Glória de Deus. Encontre em Deus sua identidade.

Salmo 34:8

“Eles atiram em cavalos, não atiram?”




PÍLULAS DE REALIDADE

Ler não somente as letras. Sentir o que lê sem dramatizar. Sentir o que vivencia, inclusive a dor. O corpo e suas sensibilidades. O cotidiano como pano de fundo central de um encontro de interpretações. Leituras de Passaporte – Fernando Bonassi – e Eles eram muitos cavalos – Luiz Ruffato.

O texto de Bonassi apresenta uma crueza e sensibilidade que permite dialogar com os muitos cavalos que não usam passaporte, mas são carimbados ao migrarem constantemente, bordando e transbordando na malha que nem sempre é humana, é urbana. Cavalos que migram inclusive dentro deles próprios. Deles; não seríamos nós cavalos? Possivelmente não. “Eles atiram em cavalos, não atiram?”.

Ao transitar pelo passaporte de Bonassi é possível perceber a crueza recorrente do ato complexo, e nem por isso sempre difícil, de relatar a realidade. Seja em “piercings” ou em vacas distraídas. Lúdico lúcido de um real acinzentado; ácido. A natureza morta de Bonassi é ótima e casa com o homônimo dos muitos cavalos (selados).

As verdades e mentiras suscitam aquilo que ninguém assume e adora sentir e experimentar. A sensibilidade apurada da mente garante o prazer pleno do corpo, no qual se inclui a mente. Mil e uma noites esvaem-se entre os poros de maridos e mulheres que se espreitam pelo tempo para não eternizarem-se nos trâmites dos supermercados. Tem dia que tudo tem “cara” de supermercado.

Somos lagartos infelizes, sonolentos e soberbos no planalto central, esticados ao sol, comendo a brisa que falta. “Vamos viver de brisa”.

Simples e complexos. Solitários, vivemos cada um uma realidade. A imagem que entra pelos nossos olhos passa pelo filtro do desprezo e do interesse próprio; sistema de relevância. Somos cavalos em uma infindável noite dos desesperados , na qual nosso passaporte não indica um destino, uma chegada, apenas partida.

A simplicidade de viver um novo momento que na verdade não é novo, é repetido. Sentir a mórbida natureza do cotidiano se apresentar todos os dias àqueles que teimam em não viver debaixo d’água.

Bonassi relata a crua imagem que os olhos capturam durante as andanças entre muitos cavalos, que teimam em povoar o mundo. Ruffato traz os relatos dos anônimos do cotidiano, cavalos fadados a pastarem entre seus sentimentos, suas idéias e seus “semelhantes”.

Os livros são como uma casa de espelhos. A imaginação e a percepção amparam os olhos e os guiam através dos diversos reflexos do famigerado real. Nos trâmites da leitura, sente-se a possibilidade de poder interpretar o que se chama de real sem ter como base os rótulos socialmente estabelecidos.

Bonassi nos dá pílulas e nos muitos cavalos de Ruffato encontramos o passaporte adequado para engolirmos e sermos engolidos pelas pílulas de realidade. Humor e sarcasmo. Sangue suor, sorriso e gozo. Bonassi e Ruffato e uma dose de madrugada. O travesseiro anseia uma mente que sempre borbulha.

Memórias de minhas putas tristes – Gabriel García Márquez




A tristeza era dele, que buscava um recomeço; se renovar no suor de um corpo jovem. Corpo que, na verdade, não trazia juventude, mas prazer e dor sob a fina superfície da inocência.

A humanidade encontrada por meio do famigerado amor. A ridicularidade de amar desfaz a experiência de anos. Um presente de aniversário, um hino de louvor à vida. A tristeza que só a sabedoria traz permite um limiar de esperança, no ano dos noventa anos de um ancião. O renascimento.

“Era enfim a vida real, com meu coração a salvo, e condenado a morrer de bom amor na agonia feliz de qualquer dia depois dos meus cem anos”.

Memória de Minhas Putas Tristes (Memoria de mis putas tristes) foi escrito em 2004 por Gabriel García Márquez e publicado em outubro do mesmo ano nos países de língua espanhola. No Brasil, foi publicado pela editora Record em 2005, com tradução de Eric Nepomuceno.

A obra narra a história de um nonagenário cronista e crítico musical que, em seu aniversário de 90 anos, pretende presentear a si mesmo com uma noite de amor louco com uma adolescente virgem. Porém, ao vê-la dormindo, não tem coragem de acordá-la e se apaixona por uma garota adormecida.

Primeira obra de ficção do autor colombiano em dez anos, "Memória de Minhas Putas Tristes" desfia as lembranças de vida desse inesquecível e solitário personagem em mais um vigoroso livro de Gabriel García Márquez.

Agora que a conheceu, ele se vê à beira da morte. Mas não pela idade, e sim por amor. Sempre sublime, Gabriel García Márquez presenteia-nos com esta jóia narrativa repleta de sabedoria, memória e bom humor, que confere ainda mais brilho à sua genialidade literária.

Viver: O castigo de Dostoiévski



Tudo é psicológico, inclusive o dinheiro. Vida social é acomodação. As idéias são um campo vasto de realizações. Tudo o que manifestamos é, objetivamente ou subjetivamente, autobiográfico. Raskolnikov. Uma outra migalha de Dostoievski ; parou de estudar, faltou dinheiro.
Pensamentos transcendentais. Era um pouco mais do que os demais, pelo menos em articulação de pensamento. Extremamente analítico. A irmã iria casar por conveniência. Ele tinha amigos. Relacionava-se com eles por meio de frestas no muro que continha sua essência fechada e introspectiva em uma Rússia nublada.
Soberano dentre os vermes; era ele o germe da prosperidade derradeira em uma Rússia nublada. Matou a velha que trocava coisas por dinheiro. Era Lea uma agiota bondosa que destinava seu dinheiro a sedentos atores sociais falidos. Matou com machado. A moleira dura ao beijar a lâmina do machado goza um muco viscoso e rubro. Morte. O acaso e os impulsos físicos. Outra machadada outra moleira. A irmã da velha. Tempos nublados. O dinheiro. Psicológico, assim tudo é.
O corpo passa a não responder e a mente a responder e bater. Conflituosamente Rodka anda entre suas pernas e pensa nos passos que deu e nos que deveria dar. Entregar-se, usar do que roubara, embora tenha tido uma fuga invejável. Deveria levantar a pedra, rasgar o forro, pegar e usufruir os seus ganhos? O sangue na ponta do calçado ainda existia em sua mente perturbada por uma realidade cinza.
Rodka se assemelha do Sr. Meursault, do Estrangeiro de Camus. Ambos não se consideravam criminosos, mas sim as idéias e o meio. Mimetismo e conflitos. Há quem diga que seu crime foi ter se entregado e se considerado criminoso, ou ainda ter deslacrado a machadadas o corpo da anciã podre e rica. Seu castigo são suas idéias, sua doença, seus conflitos, a Sibéria. A salvação seria Sonia, a bíblia na cela, o trabalho forçado, a possibilidade de recondução à sociedade por meio da pena, da culpa, do trabalho. Sibéria.
Ainda na semelhança com Meursault de Camus, Rodka torna-se amigo do delegado. Os amigos aos poucos deduziam sua sina, sua trajetória, seu; crime. Antes de à tona putrefazer ainda mais a realidade de uma Rússia nublada, ele se entrega.
Conflito? Confuso? O mundo gira e nós parados cremos girar. Repetição? Todos são. Dilemas. Culpa. O ato visto à luz de padrões estabelecidos por uma sucessão de contextos, denuncia o erro. Assassinar por dinheiro ou para eximir do mundo uma alma sebosa?
Viver é o castigo em um mundo em que a Rússia nublada se expande e se instala também dentro de cada um. Viciados seja em jogo, seja em ar, seja em palavra, seja em qualquer coisa. A produzir e divagar para buscar suprir uma solidão e medo do silêncio de assumir que somos seres nublados. Contemos o sol, mas o embaçamos e escondemos por detrás de um discurso romântico. Discurso criado para entretenimento pelo pensamento moderno. O mesmo que criou sua maior utopia, sua superação, a pós-modernidade.

Mas aqui começa já uma nova história, a história da gradual renovação de um homem, a história do seu trânsito progressivo dum mundo para outro, do seu contato com outra realidade nova, completamente ignorada até ali. Isto poderia constituir o tema duma nova narrativa... mas a nossa presente narrativa termina aqui.

Dostoievski – Vida e obra
Em uma Rússia conturbada, na cidade de Moscou, nasce Fiódor Mikháilovitch Dostoievski, em outubro de 1821, descendente de uma aristocrática família lituana, porém agora sem fortuna alguma. O pequeno Dostoievski cresce em meio à pobreza e a pessoas doentes; seu pai é médico em um sanatório para pobres em Moscou e é aí que reside a família.
A inesperada notícia do assassinato do pai, em 1839, pesa na consciência do jovem Fiódor, que tanto rezara para ver-se livre do pai déspota. Amargurado, angustiado pelo remorso, sentindo-se responsável por toda a miséria do ser humano, ele busca se redimir por meio da criação literária.
Em 1880 torna-se finalmente o ídolo de seus leitores, guia espiritual, exemplo de força e coragem, o “Escritor da Rússia” que retrata a alma do povo. Mas já não há tempo para vanglória. Num dia nevado de 1881, vítima de hemorragia, morre aos 60 anos Fiódor Mikháilovitch Dostoievski, consagrado até hoje como um dos mestres da literatura universal.

Cronologia
1821 – Em 30 de outubro, nasce Fiódor Mikháilovitch Dostoievski
1837 – Morre a mãe de Dostoievski. Transfere-se para escola de Engenharia Militar de São Petersburgo.
1839 – Seu pai é assassinado.
1841 – Inicia as obras Boris Godunov e Maria Stuart, mas não as conclui.
1843 – Passa a trabalhar na seção de Engenharia de São Petersburgo. Traduz Eugênia Grandet, de Balzac e Dom Carlos, de Schiller.
1844 – Demite-se do cargo público para dedicar-se à literatura.
1845 – Publica Pobre Gente.
1847 – Sofre crise de epilepsia. Sai segunda edição de Pobre Gente.
1848 – Publica O Duplo.
1849 – É preso e condenado à morte. Comutada a pena, parte para a Sibéria.
1854 – É incorporado como soldado raso em uma guarnição siberiana.
1857 – Casa-se com Maria Dimítrievna Issáievna.
1859 – Volta à São Petersburgo.
1861 – Publica Recordações da Casa dos Mortos. Funda o jornal O Tempo.
1862 – Viaja ao exterior com sua musa Polina Súslova.
1863 – Retorna à Rússia.
1864 – Funda o periódico A Época. Morrem sua esposa e seu irmão.
1867 – Casa-se com Ana Grigórievna. Publica Crime e Castigo.
1868 – Nasce a primeira filha. Publica O Idiota.
1869 – Nasce a segunda filha.
1871 – Publica Os Possessos
1874 – Publica O Adolescente e Diário de um Escritor.
1880 – Publica Os Irmãos Karamázovi
1881 – Morre em 28 de janeiro e é sepultado três dias depois, em São Petersburgo.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

POETAS DA DOR

 

POETAS DA DOR

 

Porque nenhum de nós vive para si. E nenhum de nós morre para si.

 

 

Até que o ultimo suspiro transcenda as lágrimas de sangue que o cérebro jorra. Madrugada. Os pensamentos são o gozo e a porrada. Desordenados, são o câncer orquestrada que leva à ruina. A apatia controlada de estar sozinho em sua doença, em suas concepções. Mesmo tendo alguém ao lado, mesmo dividindo o lençol, mesmo no meio da massa. Solidão.

 

A solidão e seu negrume, os pensamentos sem rédeas, como um cavalo selvagem agonizando, à espera de alguém para sacrificá-lo. Acompanhada, a solidão vem com o derradeiro suspiro do arrependimento. Traz nos braços a morte. O último gongo do relógio.

 

Alimenta-se do que corrói. A filosofia e os demais poetas da dor constataram o colapso do ser humano em demasia, se prendendo à matéria e tudo o que o raciocínio humano concebe e digere. Esquadrinha a realidade e como os diversos de Pessoa ser perdem e entram em colapso. Seja Caeiro, Reis, Soares, Campos, todos experimentaram do gosto da cor da morte.

 

Jostein Gaarder leva seu personagem a afirmar que não há duas pessoas iguais neste mundo. Em Irmãos Karamázov, Fiódor Dostoiévski, por meio de Ivan K. constata que é impossível sentir a dor do outro. Impossível saber o que o outro sente. Pode-se ao máximo imaginar como se aquela dor fosse sua. Imaginar como você sentiria algo semelhante. Neste caso verifica-se o isolamento do ser humano em sua inacessibilidade. Apenas a compaixão pode romper com este isolamento. Ao se destituir de si, da soberba do intelecto e procurar ver e sentir o outro.

 

Friederich Wilhelm Nietzsche afirma que a compaixão enfraquece o homem. E que homens fracos atravancam o fluir da existência. Declara que é possível identificar o cristianismo como a religião da compaixão. A religião que enfraquece o indivíduo.

 

Importante lembrar que para fluir a existência e os relacionamentos dos seres humanos entre si e com os demais seres e objetos existentes, é necessário que o indivíduo (que não se divide) seja também grupo, coletivo. Para ser coletivo, social, ele precisa ver o outro e entender. Para realizar isso com eficiência e eficácia, é preciso a compaixão. É necessário abrir mão da soberba do saber e sentir. Não ver sua dor como se fosse a maior (segundo Ivan Karamázov sua dor parece ser a maior, porque ela é sua e você não tem como sentir a do outro. A do outro, por sua vez, é maior para ele.), não ver suas qualidades e potencial como o superior da raça. É fundamental se enfraquecer, como diria Wilhelm N. e ter compaixão. Mas um certo Jesus Cristo orientou que devemos ter compaixão uns com os outros. E amar o próximo como nos amamos.

 

Jesus pede para não nos acomodarmos a corrente social. Segundo Clifford Gertz e Ruth Benedict, a vida social é estabelecida por acomodação. Identificação e acomodação dos indivíduos a padrões moralmente concebidos por conveniência do grupo controle. A intelectualidade determina que aqueles que não se encaixam a esta vida social, são estrangeiros errantes, são os estrangeiros de Albert Camus, ou os andarilhos de Nietzsche; onde não importa o destino apenas a caminhada que não cessa, mas se renova. Devemos seguir para o alvo que é Cristo e não cair no estranhamento da autodestruição.

 

Heidger e Wilhelm e suas concepções de que devemos ser fiéis à terra e a tudo o que nela há, assim como Alberto Caeiro, de Pessoa. Pensavam estes que nada haveria de existir de maior ou fora daquilo que a mente humana pode conceber e provar materialmente nesta terra. Entregue às divagações, a vida seria então um processo degenerativo. Sendo assim, a trajetória do ser humano, desde o nascimento, seria a caminhada para a desgraça maior.

Apenas é fundamental lembrar da família. Dessa forma, seriam desnecessárias as famílias, os relacionamentos, as ordens sociais. Os seres humanos poderiam ser concebidos em fábricas. E não haveria cabimento ter carinho ou qualquer outro sentimento pela prole. Ela deveria, até mesmo, servir de alimento ou banco de órgãos caso os seres pensantes nascidos anteriormente necessitassem. Homem lobo do homem. O que é sua família?

 

Nietzsche chamou a moral cristã de moral escrava, mas a liberdade aclamada por ele, onde o pensar livre se ancora nas amarras da amargura, na mente que perde os valores e alimenta o vazio que fica com divagações que aceleram o processo degenerativo do ser.

 

Manuel de Barros alega ser preciso desaprender para aprendermos, Nietzsche defende uma revalorização de todos os valores, repousando seu ceticismo no caricato niilismo. Então emerge o colapso. Não apenas o colapso das instituições humanas, mas também da família: um projeto de Deus que o homem não tem honrado.

 

De acordo com Émile Durkein, o suicídio propriamente dito e o suicídio social ocorre em duas distintas situações: quando o indivíduo passa por alguma mudança ou série intensa de acontecimentos e na ausência deles. A avalanche provocada pela desistência do pensar e buscar pode levar ao colapso, bem como a desenfreada entrega aos pensamentos cancerígenos, amparada na falta de valores. Pois a revalorização sugerida destituiria o valor de Deus, da família, do Certo e Errado, de diversas entidades, instituições e conceitos.

 

A madrugada empurra os poetas da dor a ejacularem sua dor, manifestarem sua angústia muitas vezes assistida com incompreensão por quem está ao lado. A solidão das ideias conduz seu interlocutor à desgraça que ele cultivara em um jardim secreto, dentro de seu cérebro, onde poeticamente chama de coração, de alma. Não se entorpeça com a imagem da cobra que come o próprio rabo, nem busque ver o que sobrará desta fúnebre refeição ocultista.

 

O Dedo Torto, personagem do filme A excêntrica família de Antônia, retrata o ser que encontrou o colapso mental e físico de Durkein. Seu suicídio primeiro foi social, exilado em sua biblioteca. Depois materializou-se nas amarguras de seu ventre, de suas palavras. Finalmente, findou-se em uma carta de letras tortas e no pescoço estrangulado em uma corda.

 

Entre linhas subliminares, entre discursos escrachados, na apatia controlada dos relacionamentos, os poetas da dor manifestam o colapso do ser, do sentir, do existir. Ele é um passo. Um passo para a desgraça maior. É a comprovação do pensamento da revalorização e suas consequências.

 

O que sabe o homem de seus caminhos, se na verdade eles são direcionados por Deus. O pensamento de Deus não pode o homem esquadrinhar. Eis aí uma aflição do pensador humano. Não ter a capacidade de esquadrinhar o pensamento de Deus. O ser humano não reconhece inteligência digna (equivalente ou superior à sua) a um ser se estes não raciocinar conforme o modo humano.

 

O Enigma de Kasper Hauser (e seu curioso nome no idioma original) brinca ao levantar a hipótese de uma maça sentir e pensar e até mesmo agir. Há seitas que alegam as plantas sentirem dor e assimilarem sentimentos. Tudo pensamento defecado em divagações errantes.

 

Um tal de Arthur Schopenhauer afirma que " o saber humano se espalha para todos os lados, a perder de vista, de modo que nenhum indivíduo pode saber sequer a milésima parte daquilo que é digno de ser sabido".

 

Poesias que apenas destroem. Palavras da demolição em um coração que clama por amor. Um amor e um sentido que satisfaça. Mas pede em lágrimas secretas, e pede errado, pede para quem não pode dar alívio e sentido à vida. Pede ao acaso, busca nos homens, revela-se em poemas sombrios. Sombrios como tem se tornado o interior do poeta em questão.

 

O povo perece por falta de conhecimento. Falta sabedoria para lidar com as informações adquiridas. A Sabedoria vem daquele que deu a Salomão sabedoria. George Orwell e sua fazenda de porcos, e seu futuro em 1984. A ignorância como porta à felicidade. A verdade como a chave para a felicidade. Mas dói ao abrir. Dói. É a dor da liberdade.

 

Injusto traduzir em palavras um sentimento. Arthur Schopenhauer constatou como o ato de traduzir gera perdas. Seja traduzir obras, letras ou sentimentos e pensamentos. A perda no processo aumenta cada vez mais, pois depende do repertório do espectador. Mas existe alguém que vê o que está em secreto. Que sabe o que você precisa mesmo antes de pedir.

 

Perdido em algum lugar na zona de tiroteio entre reconhecimento e poder. A vontade e representação do poeta da dor se manifesta na repulsa. Repulsa da realidade que vive, repulsa das responsabilidades que tem que assumir. Repulsa que se manifesta por meio de uma apatia. Uma apatia controlada pelo vazio. O vazio que o impulsiona a divagar pelas madrugadas, pela escuridão das ideias.

Do que adianta voar com asas artificiais, limitadas, e ainda assim voar em rebeldia,  morrendo no oceano. Ícaro.  Melhor seria o labirinto? Dédalos. Arthur Schopenhauer diz que a peruca é o símbolo mais apropriado para o erudito puro. Trata-se de homens que adornam a cabeça com uma rica massa de cabelo alheio porque carecem os cabelos próprios.

 

Onde estão teus cabelos? O que fez deles? Enquanto é tempo. Entreis pela porta estreita. Porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela. E porque é estreita a porta e apertado O Caminho que leva a vida, e poucos há que a encontrem. Apenas os que o fazem em espírito e verdade.

 

De sua masmorra, construída por restos mortos de seus sonhos, o Poeta da dor joga suas trançadas palavras em busca de um príncipe que o satisfaça e o liberte da pedra que comprime seu peito. Lá embaixo, afogado em seu reflexo o príncipe paira o olhar como um narciso a ignorar o eco das palavras do poeta. Mas o poeta, por onde olha, vê seu rosto desfigurado na figura do escritor, do leitor e do carrasco. Mas o alívio não está onde tens olhado ó poeta. Assim como eu, perceba a porta que deve abrir, a porta pela qual deve passar e o caminho pelo qual deve levar os que ama. Ama. Ligue-se à fonte de amor. Este sentimento que é injustiçado pelas palavras, pois nem todas as belas palavras e construções e conjecturas podem revelar o que vem a ser o amor. Ame. Ame. Conheça ti a ti mesmo e encontre a semelhança do seu criador pulsando em você.

 

"Eis que estou a porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua  casa e com ele cearei e ele comigo. Ap 2: 20".

 

 

 

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Amor e Semelhança




Permita-se a um simples exercício. Reduza o significado de amor em uma palavra. Entenda individualmente o significado; o que é o amor. O amor não foi inventado: ele é.

Colocamos muitas vezes sonhos humanos sobre a vontade de Deus. Condicionamos a obra de Deus, o chamado, o “ide” de acordo com os sonhos humanos (Bens materiais, casamento, filhos, emprego, dívidas e etc.)

Formados do pó da terra, fomos chamados à semelhança. (Gn 1: 26 e 27)

Um anjo quis ser semelhante ao altíssimo. Para isso, desejou elevar seu trono acima das estrelas do céu (Is 14: 13 e14). Caiu, pois não é assim. Do pó da terra Deus fez um ser à sua semelhança. O diferencial não é a aparência, ou onde se instala o ser, mas no interior. Aquela massa de barro tornou-se alma vivente, ser humano, após receber em suas narinas o espírito soprado por Deus. O Homem não soube desfrutar da liberdade e semelhança junto de Deus. O Homem pecou, caiu.

Após a queda, a busca pela presença de Deus, a conversão, regeneração, transformação e santificação são passos para se atingir a estatura de varão perfeito (Ef 4:13), voltando à semelhança com Deus, conforme o segundo Adão, tudo para honra e glória de Deus; pois ELE não divide sua glória. Ser semelhante a Deus não para própria honra (a semente da soberba), mas para glorificar a Deus.

As pessoas complicam o evangelho. Deturpam a mensagem de Cristo. O ser humano se perde entre seus desejos, suas vontades, suas carências e a sua verdadeira necessidade. Sempre, sua verdadeira necessidade é tida como o menos importante, um estilo alternativo de vida, uma simples conduta. A verdadeira necessidade é salvação, é arrepender-se (Rm 3:23); entender e viver consciente de que precisa de Deus e foi formado para glorificar a Deus.

Ao perceber que fomos formados para glorificar a Deus, que nada merecemos e muito pouco sabemos, nada praticamente em sua plenitude, o amor de Deus nos constrange (2Co 5:14).

Suprema expressão da lealdade, o amor é forte como a morte (Ct 8: 6), é entrega (Jo 3: 16 / Jo 15: 13). Não sabemos se é amor ou ódio o que nos espera (Ec 9). O amor excede a todo entendimento (Ef 3:19).

Pela nossa salvação, Jesus fez tudo (2Pe 3:9). Reforça que devemos amar a Deus sobre todas as coisas (Jo 14:21). Ordena-nos a amar uns aos outros (Mc 12: 28 – 31), permanecer no amor (Jo 15: 9), amar os inimigos (MT 5: 44), e amor seja não fingido, pois Deus, justo juiz, sonda e prova os corações (Jr 17: 9 e 10). Deus é amor (1Jo 4: 8 a 16)

terça-feira, 26 de abril de 1983

Faíscas

Faíscas pontuaram minha trajetória. Como a de muitos, de tragédia e gozo. Canções anunciaram num apartamento a ruptura antes mesmo do primeiro infante ser gerado. Letras consolidaram a ruína passo a passo, até o presente recebido, o carro, o beijo, bala de prata, o pássaro negro e o vampiro.

Paixão e Amor ressurgem encarnados. Anos depois, canções renovam caminhadas por jardins, por praças da cidade das águas (CXB) e findam com os passos entre os bambus no Rio que continua lindo... Canções pontuam a miragem na cidade da ponte DNA de concreto, da encantadora miragem, admirável oasis que por ter tanta semelhança, fez-se longe, fora do alcance, não fui digno dela.

O tempo e o vento tomam-me de súbito. Canções atravessam o peito e acordam o sentimento já calado a tempos. Canções não me revelam o futuro, mas são a trilha que me embala.

Minha sanidade está nos meus sentimentos. Meus sentimentos sabem de mim mais do que eu imagino ser. As pessoas gostam e gozam ao julgar. Mas não mais me machuco com isso. Embora esmagado nas frases de todos ao redor, não me encaixo em uma só palavra... mas talvez quem sabe em um sinal de pontuação