Em seu modus operandi, a mídia
surpreende como uma pastilha efervescente em um copo com água.
Rumores sobre sobreposição de narradores e técnicas
narrativas, obsolência de plataformas de comunicação
e o surgimento de uma nova cultura de consumo. Tudo mais e do mesmo.
A recém lançada, e
na imprensa divulgada, obra de Eli Pariser (O Filtro invisível:
o que a internet está escondendo de você) atenta para
uma sutil censura aos olhos da liberdade. Na mídia
convencional, o filtro já existe constituído por visões
de pauteiros profissionais e cifras mantenedoras. Na internet, o
filtro é mecânico/ matemático, pautado por
estratégias de estímulo ao consumo direto. Contra o ato
passivo de ignorar manchetes surge a demanda por uma curiosidade e
disposição para navegar na rede e confrontar
narrativas. “Na bolha dos filtros, a situação é
diferente. Nem chegamos a enxergar as coisas que não nos
interessam” alerta Pariser. É preciso um novo leitor diante
do colapso conceitual da dinâmica Tempo x necessidade +
Capacidade Crítica. Apenas compreender que a vigente liberdade
de expressão e transparência apresenta-se por uma
superfície conceitual turva é que o indivíduo
conseguirá vislumbrar uma direção sóbria
para suas decisões como cidadão.
Além disso, é
importante considerar a rentabilidade dos veículos. Como
garantir investimento financeiro em mídia digital e como
manter tantos títulos impressos; ainda mais agora com a
crescente segmentação da mídia impressa?
Consumidores são educados a mudar o perfil de consumo e a
pagar pelo conteúdo digital. Todavia, todo processo de
formação de público é moroso e com
falhas.
Nesse ínterim, o processo
de produção de conteúdo é permanente.
Análises do pesquisador David Abrahamson apontam brechas entre
a estrutura e continuidade das mídias digitais e das
impressas. Perante o público, o jornalismo impresso se manterá
como referência; a segmentação editorial deve
garantir a profundidade das coberturas sem tornar o público
uma célula alienada e isolada do corpo social. Ou seja, mesmo
ao se especializar em um tema, o veículo deve relacionar o
conteúdo com a multiplicidade social e contextualizar o
indivíduo entremeio ao turbilhão de informações
e demanda por decisões. Para vivenciar esse desafio, a
tecnologia é paradoxalmente um aliado do jornalismo, pois
instiga o profissional à melhoria e não à cômoda
e boêmica posição soberana na sociedade. Embora
muitos estejam aos tropeços inventando moda.
Enquanto as revistas mergulham na
segmentação e distribuição otimizada, os
impressos enxugam redações, atualizam projetos gráficos
(Em Minas Gerais, o último foi o Hoje em Dia, que copiou
formato do O Tempo e buscou leveza tipográfica e mais
disponibilização de conteúdo) e se relacionam
cada vez mais com o meio digital como plataforma complementar à
impressa, vinculada. O sucesso não pode ser mensurado de
imediato. A reação inicial do consumidor amadurece
junto a persistência do veículo e a disponibilidade de
informações.
Nesse momento, iniciamos o ciclo
de intensificação das pautas políticas, com os
óbvios candidatos corruptos panfletando uma imagem turva de
confiança. O clichê nos é fatal. Há pão
e há circo. A zona boêmia é então
transferida para as prefeituras e câmaras, e o cidadão
exala o ópio da indignação, topless, cartazes e
votos equivocados nas urnas.
O Processo de comunicação
(emissor – mensagem – receptor) se renova sobre o mesmo mito:
padrões estéticos de produção e de
consumo. O jornalismo precisa se posicionar como um circuito aberto.
Deve induzir reflexão e às vezes conduzir, mas não
entregar pronto, pois é falho ao se enxergar como premissa da
opinião pública e detentor da versão oficial dos
fatos. Fatos tais que são cada vez menos exatos, em virtude da
avalanche de interpretações que agora podem ser
postadas e transportadas por diversas mídias; em casa, nos
bolsos, ruas, painéis, fachadas, escritórios e até
mesmo naquela antiga conversa de esquina, beira da calçada ou
mesa de bar, ao gosto do bom gosto.
A liberdade social é
manifestada então na mídia sob uma película
opaca, chamada transparência, fabricada na cabeça de
Assessores de Comunicação, Redatores desavisados, e
também pela população da esperteza e repetição.
A viabilidade de qualquer mídia está em sua
representatividade e relevância. Para encontrar o que vale a
pena consumir, o leitor deve driblar os filtros programados e
confrontar narrativas, regurgitar informação e
transformar o que absorveu em algo produtivo para o que vem depois.
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