quarta-feira, 6 de março de 2019

Relâmpagos da narrativa



Desafio de comunicar e proporcionar a fluência dos processos sociais sem atravancar a retenção de mensagem, formação da consciência do cidadão e manutenção do caráter do indivíduo. É realmente necessário educar a comunidade sobre o negócio dos setores? Não há espaço para manipulação velada, mas esse processo de "educação" da comunidade não pode se estruturar sobre a premissa de ser apenas um defensor setorial.

Algumas variáveis devem entrar no escopo de análise de quem se propõe a atuar profissionalmente (defendendo setores e marcas) como agente de comunicação na contemporaneidade (Considerando que enquanto indivíduos atores sociais todos atuam naturalmente como agente de comunicação na sociedade).

- Excesso de informação
Amplificou-se o reverberar das narrativas dos indivíduos, aumentou o número de narradores com poder de manifestação, via fácil acesso a novas tecnologias e plataformas de comunicação. A Avalanche de informação sobrecarregou a sistema de relevância dos indivíduos. Dificultou a triagem. Qual informação é essencial? Diferencial? Irrelevante?

- Vulnerabilidade da intimidade
Com a intensificação dos fluxos de comunicação e exposição de pensamentos e acontecimentos pessoais, criou-se uma intimidade digital entre conhecidos, tornando vulnerável a intimidade do indivíduo e passível de interferências não com objetivo pessoal, mas talvez até setorial.

- Clamor natural por um propósito 
Soma-se aos desafios do mercado, a necessidade natural do indivíduo e também da coletividade, por um propósito. A reputação de um setor ou marca não passa por ser A MAIOR, A MELHOR, A MAIS TRANSPARENTE, mas sim ter um propósito que esteja em harmonia ou alinhado com os propósitos de um grupo (coletividade) e também do indivíduo (pessoal).

- Consistência e participação 
Neste sentido, as ações e narrativas precisam ter consistência e manifestar a participação efetiva do narrador na sociedade. Como ser que atua, interfere e sofre interferência. Integração.

As plataformas de comunicação são meio (que às vezes tratado como fim), a interação e reação das pessoas é o objetivo que modula em essência, mas não em natureza. As narrativas devem compreender seu papel de tradução de conflito e convergência de "significantes" em uma mensagem outra, que vai além na paisagem, em busca de uma mensagem de amplo acesso e aceitação (não por imposição ou massificação).

A vanguarda na comunicação permanece o Santo Graal. Muitos empunham cálices, cruzes e projetam conceitos ao ar... afora os ciclos de clichês... há quem diga que o encontrar o almejado Graal da Comunicação e narrativa, se realiza no exercício e não no fim da busca.

sexta-feira, 1 de março de 2019

Des - perdida


Caminhava distraído pela manhã. O canário pousou repentinamente na minha frente, sorriu e alçou voo. Assim minha manhã, dentro de mim, teve ainda mais leveza e paz. Um amigo recitou "vamos nos perder no tempo", como um lamento, sem perceber que se mudasse o olhar sobre a frase, a vida seria outra... e a borboleta gasta pelos errantes voos sinceros fez pouso em minha janela, paralisou e depois levou meu olhar, e nas asas fez ressoar um "vamos nos perder no tempo"

Vamos nos perder no tempo, um aviso, uma promessa
Vamos nus, perder no tempo, prelúdio da liberdade
vamos nos perder no tempo, um convite, a viver a vida
vamos nos perder no tempo, a constatação do horizonte distante que brota dentro de nós....


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

O presente iminente no futuro que se almeja




A construção da realidade social passa pelo interesse. Interesse constituído pelas vontades, necessidades individuais, e pelo consenso coletivo subsequente. O sujeito está cada vez mais centralizado como ator social individualizado, interferindo na Rede Social para apenas atender seus objetivos, isso até mesmo quando demonstra nuances de altruísmo. Este aspecto fica latente quando consideramos a leitura que Adorno faz do indivíduo em sociedade, enquanto sujeito, onde por mais que se submete a fluxos impostos por uma liderança social, ele executa suas escolhas tendo como motivado os próprios interesses, as respectivas singularidades. Neste cenário de impulsionamento do individualismo na sociedade, é importante também refletir sobre a construção de sentido, sobre as mensagens que disseminam consolidam e derrubam padrões culturais.

Para as Empresas atuarem de forma satisfatória no mercado, é preciso perceber e conhecer a mutante configuração social, os mecanismos de interferência e a maneira de interagir. A viabilidade do negócio depende da versatilidade dos gestores das organizações.

O presente é imediato. A iminência corrente do futuro almejado pelas pessoas e organizações. O Planejamento estratégico é fundamental para a perenidade das entidades. Maurício Fernandes Pereira (2010) discorre em Planejamento Estratégico (teorias, modelos e processos) a premissa de Platão para desempenhar as atividades em ordem de prioridade (Belo / bom / verdadeiro / útil). Parafraseando-o podemos perceber que é o belo é o Ideal; o bom o máximo possível; o verdadeiro é o possível mediano; o útil é o básico. Em sua obra ele discorre das alternâncias dos modelos de construção dos Planejamentos ao longo dos anos e revoluções sociais, passando pela industrialização e culminando nas correntes do Século XXI e as Escolas de formação de estratégia: Empreendedora, Cognitiva, de Aprendizado, do Poder, Cultural, Ambiental. Sendo que nenhuma é melhor ou pior, mas são rumos que podem ser seguidos, seja ele pelo viés da Concepção; Formal; Analítico; Visionário; Processo Mental; Emergente; Negociação; Coletivo; Reativo ou de Transformação.

Antes de formular seu planejamento estratégico a organização deve compreender que está num rio pensando nas águas que virão, mas se molhado pelas águas que se foram e constantemente se vão. Diante deste paradoxo, é preciso verificar qual o propósito geral e específico da organização, sua competência para executar, disposição de investir nas ações necessárias e versatilidade para rever posicionamento e evoluir diante de possíveis intempéries.

A definição de um plano estratégico eficaz considera a resiliência e a flexibilização do olhar a configuração social contemporânea e as tendências. Neste cenário, a inquietação social (baseada na curiosidade) é essencial para tencionar paradigmas e adequar perfis em prol de licenças sociais. 


Ciente de qual o respectivo propósito, a empresa terá concebido o resultado esperado, mas deve ter bem definido qual o lastro desse resultado, para quem ele será destinado e até quando. A vida em sociedade (seja público ou privado) baseia-se na interação de pessoas. Pessoas que atuam como Indivíduos e Atores Sociais.

Elaborar, gerir um planejamento estratégico é conduzir um processo de pessoas; trabalhar potencialidades e limitações. Afora as plataformas tecnológicas, a dimensão humana é o diferencial de uma empresa. Enquanto teóricos discorrem sobre a criatividade ser inato (Fustier e Fustier 1985 / Bono 2000/ Abraham Maslow), outros a apontam como um diferencial de ocasião (Szent-Gyorgyi). O poder criativo da coletividade depende de como as pessoas são trabalhadas individualmente. Como a cultura da organização de alinha à do indivíduo e como o seu potencial criativo é recebido no ambiente da gestão estratégica. Uma ideia para conceber-se criativa e maturar em inovação precisa de tempo e espaço. É preciso exercício, capacitação; e um equilíbrio entre liberdade e autonomia. Para criar e inovar é preciso expandir fronteiras, mudar o modelo mental firmado em paradigmas e manter-se na constante busca pela vanguarda perene.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

licenças




Cada vez mais em voga, a interação dos atores sociais modelou-se como fator essencial no modelo de negócios das empresas. Não há espaço para apenas filantropismo ou discursos bem estruturados de publicidade de atuação social, de Responsabilidade Social. O novo modelo das sociedades e da viabilidade dos negócios exige que haja um Investimento Social Corporativo bem planejado, justificado e efetivo. O desdobramento das ações, mais que a publicidade do fato, deve promover influências positivas na configuração social da comunidade contemplada.

Seja por meio de conflitos operacionais e políticos com as comunidades, seja por meio da imposição de órgãos certificadores, as empresas se atualizaram no que concerne à interação social, tendo a ciência de que não há como subestimar a opinião pública. Os players passaram a perceber (de forma gradual) que não basta ter licença operacional e ambiental para uma empresa operar, é fundamental uma licença social, uma aceitação por parte da comunidade afetada, da interferência dos processos da empresa no ritmo e na paisagem regional. Este é um fator determinante para a imagem e reputação organizacional. Mas esta aceitação não é imposta, é conquistada (e não de forma soberana) e requer constante manutenção. Trata-se de uma chancela volúvel, que exige sabedoria além de técnica para perceber, analisar, interagir e comunicar.

E para compreender o que vem a ser a licença social a que se propõe obter, é interessante saber o que significa e como estão presentes os demais atores da sociedade como os Negócios Sociais (que difere de uma organização sem fins lucrativos, pois deve buscar lucro moderado para expandir o alcance da empresa, melhorar o produto ou serviço sem tornar-se essencialmente comercial, tampouco desmembrar-se da missão social).

Neste ínterim, a comunicação feita de forma adequada é o diferencial para tratar de temas polêmicos sem estardalhaço e sem propagandismo, mas com sobriedade, transparência e tempo hábil. Ao invés de consolidar midiaticamente conceitos e multiplicá-los, é fundamental tornar efetivas as ações de interação social e seus desdobramentos correlatos. Antes de fazer reverberar mensagens em grandes planos de mídia, é fundamental uma dedicação maior e intensa na construção das mensagens e sua devida formatação. Este é um dos gargalos do mercado da comunicação contemporânea: no afã do imediatismo, alimenta-se o propagandismo de ações nas diversas plataformas disponíveis, em busca de audiência, mas não de retenção de mensagem e transformação. 

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

conteúdo da forma



Intermitente reflexão sobre os valores dos fluxos, das pessoas, das coisas, mergulha nosso olhar ao redor com um distanciamento enigmático. Um pedaço de papel, dinheiro, certidões, contratos, escrituras, endereços, contas, rendimentos. Números na rede, signos, símbolos dos nossos rótulos. Todavia ainda tudo permanece sendo o que é. Quando sopramos para fora das coisas o sentido que colocamos nelas, podemos perceber que elas são o que são.

Espaços, objetos, reputação, imagem, relacionamentos. Firmamos no horizonte nossos objetivos, por casa, carro, riquezas, relacionamento, sucessão de gozo e legado. Alternamos nosso tempo entre dedicação, confrontamento e descanso, até sucumbir aos últimos dias de vida. Flanqueamos estandartes dos propósitos, queremos mudar opiniões, olhares e gostos.

Se viva a planta está, consome nutrientes, rompe a terra, vive, floresce e morre. Perpetua-se no pólen que cede, na cor que pinta a paisagem, no verso que inspira o homem. Nasce vive morre homem. Interfere na paisagem  desejando assiná-la, rimando por às vezes assassiná-la. Contudo, belo é seu intervir quando pinta a paisagem, de modo a propiciá-la ainda mais bela ao próximo, mesmo sendo este, cego.


quarta-feira, 21 de novembro de 2018

mandala



Bandeira dai-me
ideologia era
tempo que passa
rugas da tragédia

                                            Canto que rima
                                         ensina a sina
                                           assina a cisma
                                              do conto da vida

                                         Era o tempo
                                         era e não era
                                         o que se espera
                                         quando se faz esperar

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Espaço como experiência


A criação de significados e significantes (individuais e coletivos) opera os mecanismos de reputação que equilibram os fluxos sociais.  Desorientado, o indivíduo em um mundo globalizado busca por referência em seu repertório e ao redor, para lidar com a nova configuração do pacto social. Uma globalização de recursos, de potenciais, de demandas e das mazelas; que gerou integração e sobreposição de culturas e mercados. Integrou-se assim os fluxos de apropriação territorial e estruturação dos padrões sociais, reverberando nos processos de comunicação.

No entanto, o âmbito das decisões pertence a uma microrrede (escala local) e a distribuição / padronização destas decisões transcorrem por uma macrorrede (escala global). Neste cenário, faz-se necessário compreender o espaço dos fluxos e o espaço dos lugares, para assim entender como atuar (interagir e influenciar).

A estrutura do emissor - mensagem  - receptor - significante ganhou complexidade sob o aspecto do tempo, uma vez que os receptores são emissores em potencial. narradores e consumidores, sem necessidade de um meio oficial. A multiplicidade de plataformas, linguagens e audiência mudaram a paisagem. Cada indivíduo é um epicentro social de interação (estrutura e fluxos em rede). Neste ínterim, a evolução e desenvolvimento  geram e alimentam a crise constituindo um movimento em onda. O movimento em onda do sistema trouxe uma nova configuração social de empoderamento e desequilíbrio.

Uma paradoxo pode ser observado. A Sociedade busca no dia a dia mais comodidade [espaço para crescer] - Desenvolve tecnologias, muda forma, comportamento e conteúdo das narrativas [empodera o consumo / crédito / poder - nova sociedade] - Gera crescimento, Desorientação e Dívida [instaura crise] = A Sociedade busca no dia a dia mais comunidade [mudança - renovação de ciclo].

Assim, a relação dos indivíduos com o tempo e espaço deixa de ser apenas algo na dimensão física. Antes de conceituar os espaços como público ou privado, é importante olhar tanto de longe (visão de paisagem) quanto de perto. Conforme discorre Manuel Castells em sua obra (Sociedade em Rede), a percepção do indivíduo sobre espaço e tempo alcança a dimensão da experiência, da vivência. Estrutura e função conforme as redes.

Acompanhando a ideia do espaço enquanto experiência, tem-se o espaço dos fluxos como algo na dimensão do Poder / Relações Sociais / Transição de paradigmas / Ambiente do Ator Social. Os espaços dos lugares configuram-se onde há Significante Cultural / Ambiente do Indivíduo.

A partir desta renovada leitura sobre os aspectos contemporâneos de organização social, pode-se  obter uma visualização mais apurada da territorialidade e com isso construir de forma mais assertiva as estratégias de atuação enquanto ator (ser) social de forma a proteger-se enquanto indivíduo.



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domingo, 30 de setembro de 2018

relva



Metade de mim é o que vento leva, 
quando pega meu olhar e afaga minha face.

Manhã de quase sono, quase frio a descoberto.
 Repentinamente a chuva desce
sutilmente sobre mim.

Suspenso no ar encontrava pouso
 nas intermitências da razão.


segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Colibri



Contorções e espasmos. Desdobra-se sobre mim ó território das possibilidades e instantes. Então, o próximo movimento é de uma paz sem conceitos. O papel desconhecia o peso que a pena suportava de minhas mãos emocionadas. Tão natural a emissão dos traços, que não havia a ansiedade de prever formas ou sentidos. O texto não absorvia a intensidade das palavras que de tão pessoas, revelavam-se comuns, com a mesma importância de qualquer uma.

Era uma relação diferente agora com o que marcava o tempo e o que o tempo marcava. Os traços no reflexo do espelho eram menos poéticos e mais expressionistas. Permitiam a leitura do tato, harmonizada com uma degustação de ideias sem pressa.

O relógio marcava 10:10. Os ponteiros de hora e minutos não se moviam. Mantinham-se como um pássaro em voo pleno. Se tentasse forçar eles se moverem, eles se limitavam ao mesmo quadrante. Se por um acaso acionava-se o mecanismo, voltava para a outra posição, ficava parado em 10:10. O ponteiro dos segundos intermitentemente se movimentava entre os segundos 14 e 15. Às vezes parava na marcação de 15 segundos. Estava instaurada outra relação com o tempo. Ele nem passava, e passava; compasso percebido e marcado nem era.

Anjos na memória, inundando o ser de vida; anjo no espelho, tomando decisões sem vícios. Anjo nos ombros, marcando para o porvir, um pouco do que jaz no ser mente, corpo. Asas sóbrias de um voo sombrio. O voo que solta ao vento a pena, que como caneta se atreve a tocar a paisagem. Sem bando, sem estridente canto, sem gaiolas, sem gaiolas. Afora as ilusões de bebedouros artificiais, erguidos como um suspiro na cinzenta metrópole de paisagem deturpada. Sobrevive o pássaro cor.

Neste instante o olhar possibilitou sobrepor o passado no presente sem arquitetar frustrações de futuro, mas deliciar-se com a formação de uma paisagem sensitiva, dentro. Momento de frescor sem vento, de sorriso sem sons e de suspiros sem versos em origamis.

Permita-se ao toque simples na pele. Que é toque e toca. Sem expectativas, sem conceitos elaborados, sem ... mas com tudo. O tempo que passa sem registro, mas que deixa marcas em nossa pele, em nossas mentes, interfere o nosso modo de olhar. Os ponteiros em eterno voo continuam a polinizar reflexões que além do papel e travesseiros, dos travessos sorrisos e faceiros gestos, travessias, continuam.

Quis de cortinas abertas ver o horizonte para me alimentar de paz. Suas asas perfazem no ar um caminho que o tempo não compreende; que o olhar não acompanha. Seu voo sem bando, seu canto quase mudo, as transformações do seu existir transcendem qualquer estrofe. Pássaro cor, o encantar denso do silêncio salutar.

Pássaro verso
Pouso transcende
Voo ascende
Horizonte que dobra
O que ao vento passa
Beija a flor
Pássaro cor



O que fica do que se faz?






O fardo das rugas
a leveza dos gestos
beleza natural do que ao redor se esvai;
O que fica do que se faz?

Pulsa nos vibrantes olhares
transformações que além da brisa
as cores e movimentos da vida
cravam na alma.

Os sabores perpassam dificuldades
enquanto suspiros dissipam mazelas.
Sorrateiro,
o silêncio se assenta ao lado da paz

O que se faz do que fica?