quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Soro - 6 ml


 O corpo pesado, o sorriso dificilmente reluzia em sua face, pois a maneira como as pessoas ao redor o tratavam foi pouco a pouco sufocando-o, ferindo-o no silêncio dos dias comuns. As lembranças batiam nas paredes e só depois de o ferir, desfazem-se como bolhas de sabão.


  • Hoje a tristeza me alcançou. Cansa. A insistência das pessoas em manter abertas as feridas dos outros, simplesmente para estampar um falso sorriso social. Tanto sentimento conturbado, tanta sensação que precisa de freio, de silêncio, de tempo; mas esse já não passa. Parece ter sido enterrado.


A terra desmorona, escorre como leite com achocolatado. Desfaz a fina malha asfáltica, desce com sonhos, frustrações, dívidas, suor, concreto armado. Desfaz o que parecia ser duradouro, abre uma cratera na percepção da realidade, na consciência da vulnerabilidade da vida, das posses, dos status. Desmorona a terra e a chuva não para. Ele observou a paisagem mudar de longe. Ali, perto, tudo permanecia; até mesmo a chuva.

Sua tristeza não era compaixão, tampouco desdém. Ele se desdobrou durante anos, dispersando no universo uma energia para tornar o ambiente mais sereno. No entanto, agora, ele apenas seguia a canção, como tantos dizem. Entretanto, ninguém fala sobre o que fica e o que vem, quando a canção acaba.


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