segunda-feira, 5 de junho de 2023

contornos


Se o fiel da balança falasse, abalaria o que se entende por equilíbrio.

E o que há de ser tudo isso? Qual a dimensão do quando? O que faz aqui a me esgueirar; tempo? O que espera do meu suspiro nessa madrugada molhada? Não consegue ouvir minha dor entre a ausência dos trovões? Não há desculpa que nos alcance. Tampouco torpor que acalme os corações. Onde a palavra não chega, minhas silenciosas lágrimas quebram clichês e alimentam a esperança, que dentro, quieta, se preserva.

O esquecimento. Arma mais mortal que a palavra. Trancafiado no esquecimento, o sentimento grita sem ser ouvido. Se debate, sem ao menos se ferir. Nada sente no esquecimento; esse nevoeiro sem fim. Lembrar aquece, liberta. Se repete para envolver. Desejar encontrar e se envolver com o que se deseja. Um passeio desavisado pelas cidades de Marco Polo. Tudo elementarmente igual. Ciclo da paz, guerra, amor e dor. Igual, trocando elementos estéticos e emocionais e do tempo.

O canto da sereia, cúmulo das expectativas e frustrações. A frustração sistêmica cria uma cultura da falta institucionalizada. Assim, os utópicos discursos de liberdade nem sabem o que deveras desejam. As cidades do óbvio. Braços em ruas que conectam ao centro das perdidas emoções. Timelines soterradas, mentes travadas, operando na lentidão imaginando-se em pleno vigor. Sucumbem.

Escravos do on-line, os indivíduos perderam os limites do mimetismo da sobrevivência e convivência. Os pilares da sociedade possuem fissuras onde cresceu uma cadeia de ramos de argumentos que complicaram os conceitos, a compreensão e a esperança. Contornos. Ruas, situações, citações, corpos perecíveis; contornos.

Entre as letras e pontuações, sou o que silenciado se faz presente. Que some na história ao não contá-la, mas fazê-la. Sou a memória que meus filhos esquecem. Sou o gesto natural deles, involuntário, mas tão característico que os define únicos; meus.

E um dia, meus rastros serão texto quando em uma caminhada os decifrará em braile, nas minhas tortas linhas e traços; nas rugas de meu corpo, no simbolismo das pintas e tatuagens.

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