terça-feira, 13 de junho de 2023

o lugar errante


Doces distrações e leves enganos na dança com o tempo, em dias soturnos ou ensolaradas manhãs. Entre os sim's e os nãos; entre as expectativas e os pensamentos cotidianos, individuais. Somos. De trás para frente e dentro somos. Repetição do que sempre foi, no entanto, traídos ou protegidos pelas lacunas da memória.

O reflexo no espelho me passa uma mensagem do que já fui, não sou mais e me tornei. Como as cidades que se desfazem e refazem na esperança de revitalizar alguma essência que seja.

O lugar errante. Dentro de nós ou onde os pés pisam descalços no pensamento. A consciência como ponteiro do relógio. Não para a percepção do tempo. O que me tornei? Do que observei e fiz toda a vida. O que sou em mim e no outro? A fé acalma e guia, mas o pensamento, a consciência é o ponteiro sem volta.

Sempre emblemático, ele voltou. 

Plantei flores, coloquei néctar no recipiente. Ele que antes, sem eu ter nada a oferecer, apareceu aqui, me olhou e partiu, agora voltou sem se espantar comigo, chegou perto. A visita do beija-flor sempre me foi especial. Sempre. Desde a infância, ainda mais agora.

Dias desleais. O trovador firmou além de sua existência. Fico pensando no que pode significar e no que  faz a diferença. Futilidades e sutilezas. Gente ferindo gente por poder. Imagem e reputação. Renovam esses ciclos covardes, enquanto boas almas se vão; no cansaço de lutar mais, na ingenuidade da frustração, na loucura, desespero e entrega. 

Assombrado por argumentos, caminho de mãos dadas com o silêncio. Consigo ainda ver estrelas no céu. Mesmo que sejam cristais; ainda brilham.

Sempre há o que varrer. Sempre há o que lavar. O que olhar, pensar e sentir. Não se para, mesmo parado. Isso é parte da magia sutil da vida. Perceber seu momento no instante. Perceba seu momento no instante. Seu lugar é tamanho no mundo, no agora.

Em um espontâneo encontro, subi para o gramado para tomar sol. Lá estava o beija-flor, bebendo seu néctar, sem se assustar com minha presença. Minhas ideias, meus sentimentos, então em harmonia, estavam no lugar certo. Meu corpo, meu compasso, não sei na época certa, se existe isso de época certa, mas no meu errante lugar, onde coexisto.


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