sábado, 25 de março de 2023

nada normal



Quais os parâmetros da ingratidão? Tantas vezes, a apatia, ou o silêncio são tidos como ingratidão, sendo assim o estopim para um posicionamento e uma comunicação agressiva por parte do outro interlocutor. Por outro lado, os comentários ingratos, muitas vezes "pelas costas" do objeto da mensagem passam "batido" pelo crivo do bom senso, sob a bandeira de crítica construtiva. A comunicação interpessoal evoca uma maturidade salutar na interpretação da mensagem, do contexto, do que se conhece do repertório dos interlocutores e também o que se supõe como referencial dos mesmos. Comunicar é simples. A complexidade está ao redor da mensagem. 

Neste ínterim, tornar harmônico os ambientes de convivência das pessoas estabelece-se como uma tarefa cada vez mais utópica. A diversidade cultural do indivíduo, somado ao seu poder de influência imediata nos discursos e interpretações de mensagens (verdadeiras ou falsas, completas ou fragmentadas) dificultam as narrativas corporativas e desafiam as técnicas de gestão de pessoas. Então, novos conceitos comportamentais estabelecem o famigerado novo normal.

Novo abandono de emprego é a velha prática de "morcegar" (coitado do morcego). Impressionante as pessoas que perdem a oportunidade de somar no emprego ou no trabalho culpando quem está ao redor. Nem sempre os empecilhos estão no ambiente de trabalho e condições oferecidas pela empresa. Muitas vezes está no modo como o indivíduo vivencia os dias. Assim, este tipo de perfil contamina não apenas o ambiente profissional, mas fundamentalmente o pessoal.

Nada normal. A relva dedilhada, os cabelos cheirados de filhos antes de abençoá-los, o frescor da brisa que toca a face sem avisos, roubando quase um beijo, um flerte com o tempo. A gratidão por detalhes de um dia que aparenta ser comum. A apoteose do silêncio de ruídos naturais. Poros lacrados. Corpo pujante. 

sexta-feira, 24 de março de 2023

saber e sentir


Narrativas de uniformes transitam pelas telas, corredores e balcões. Comercializa-se interpretação, ação e reação. Tais narrativas estimulam uma demanda que não precisamos aumentando a probabilidade de sofrermos uma dor que não precisaríamos sentir.

Essas linguagens e códigos delineando o que entendemos ser realidade. Perdidos, encontramos aconchego no silêncio de um dia bom. As pessoas buscam pelo que tem sentido gritando argumentos absolutos, em uma configuração social falida.

Meu filho sorrindo ao dormir, sonhando com algo que o diverte e traz paz. É o mesmo que o desabrochar de uma flor, o cantar de um pássaro, o movimentar do vento no bambuzal. Beleza natural. Assim os raios de sol me encontraram pela manhã. As nuvens transitam sem compromisso com os formatos criados, os contrastes da paisagem. As páginas permitiram livre trânsito às palavras, e as letras se libertaram no processo de entrar pelos olhos e voltar para o papel. Respirar ficou mais fácil, quando o peso de certas narrativas ficou acorrentado nos argumentos atrofiados de quem nem em uma nota só samba. Entre o saber e o sentir; ir além.

Penso como a vida nos traz algumas nuances do porvir além dessa camada de rotinas. Nuances do que verdadeiramente importa. Mas quando vislumbramos isso, as rotinas nos puxam, nos prendem e nos conduzem. Vivencio narrativas que se entregam a ser tempestade de areia conceitual, diante dos curiosos olhares que sabem que existe uma algo mais.  No entanto, o peito treme. A respiração não aceita se encaixar no compasso natural. O corpo me avisa que irá sucumbir, pois a mente quer partir. O beija-flor me olha silenciosamente. Ele sabe.

sábado, 18 de março de 2023

lado outro



representação cultural é fantástica no modo como ao mesmo tempo informa, forma e conduz. São encantamentos, direcionados pelo desejo artístico e pelos fundamentos mercadológicos. 

Cores, sons, traços e movimentos. Combinações diversas escondem discursos e intenções à medida que retêm o olhar e geram até mesmo interpretações que divergem do cabresto. Ainda assim, para o organismo social se manter vivo, é elementar dar voz às manifestação culturais, mas sem a ingenuidade do "tudo pode".

Na parede, o ponteiro dos segundos se recusa a subir, tampouco descer. Na eterna tentativa, quase no nove, impede os demais de avançar das dez para as duas. Se tarde ou manhã já não importa. Entendo que sou o que acontece fora desse humano radar; o tempo medido. A flor de papaia que se esconde.

Qual o mérito que se espera alcançar? Luxo? Conforto? Audiência? Influência? É importante refletir sem necessidade de prestar contas aos outros. Uma reflexão sincera, com quem realmente interessa;  a pessoa que estará na cova ou na fornalha com você. Qual o legado e o propósito? Um busto na praça? Uma placa de rua, de auditório? Uma foto na estante? Uma memória? A lembrança embebida de qual sentimento? Dó, compaixão? Saudade? Orgulho? Vergonha? É importante não esquecer do peso das atitudes, dos significados, dos exemplos. É importante não se tornar escravo da reflexão. Equilibrar-se é um processo contínuo e não um porto seguro.

As narrativas em trama tecem uma realidade para cada par de olhos. Furos e remendos são por vezes desapercebidos. O que acontece no instante em que os olhos estão fechados ao piscar? Um paralelo universo sem olhares.

Um beija-flor sempre me visita nos momentos mais aleatórios da vida. Sempre é uma visita, pois seu voo não é igual, sua estadia perto de mim soa quase proposital. Ele me olha. Pousa. Voa.

sábado, 11 de março de 2023

estatísticas do absurdo



Infográficos no cardápio dão conta do quanto a sociedade adoece. A essência do ser humano espalhada em números que constatam contrastes, violências e esperança. Argumentos erguidos sobre recortes de planilhas. Assim, criam-se bases sólidas de narrativas que extraviam o pensamento individual e as atitudes coletivas. Estatísticas do absurdo amparam decisões para o bem e para o mal. Cada um estabelece o recorte dos dados que favoreça seu padrão de escolha e interpretação. 

As timelines estão abarrotadas então de versões da realidade que buscam soterrar o diferente, por meio da velha prática de desacreditar o outro. O que antes era apenas tática corporativa ou de política, instala-se cada vez mais nos lares. As pessoas estão gastando energia equivocadamente. Buscando resultado e respostas em locais errados, da maneira errada. Nesse nuvem de equívocos são gerados os fundamentos de uma nova geração. Assim, passa-se o tempo e estabelece-se como verdade fundamental. Paradigmas escorrem dessa forma em uma ampulheta interminável, que se reinicia continuamente.

Em tudo o que fui bom, as pessoas tencionaram até eu errar, por estresse extremo (e limitação),  e poderem atestar minha limitação e insuficiência. Com a suposta admiração, parceria e até mesmo dependência, mataram minhas virtudes quando confiei a elas um espaço que não deveria em minha vida. Quantos não foram os que deram com uma mão e me esbofetearam com a outra, para se exibir ao me ajudar, mas me rebaixar, mesmo eu não querendo me elevar sobre ninguém, mas pelo contrário. Sempre quis apenas viver meus dias em paz.

Uma criança aprendendo sobre os números nem imagina como eles não apenas estão presentes, como são ferramentas de manipular o que não se mede, e não se enumera. Se enamora; a vida. 

quinta-feira, 2 de março de 2023

Cálice derramado


Eram traços repetidos arranhando as paredes da garganta. As pétalas pela manhã tinham uma certa sutileza delicada de romper a aurora com perfume, cor e versos "impalavráveis", pois tem sentimento que de tão transcendental não se aceita entre o arranjo das letras. Ultrapassa a fronteira das ideias, embora não sejam indecifráveis. Perdoe a rima pobre sobre a tela surrada.

Era um pouco entre o que esperam de nós, o que realmente pensamos ser, o que damos conta de reconhecer e tantas outras variáveis que o espelho fica em silêncio, e nos cansamos de nos olhar.  As narrativas expostas sem pretensão de trono, ou de perpétua memória; apenas lampejos. Ninguém iria sobrepor a ninguém. Cada qual em sua constante. Cada um em paz com seus traços. Outra comunicação é possível. Dinheiro se empresta, ganha-se e perde-se. Sentimentos, sensações, vida, não. Status se alternam no compasso dos ponteiros. As narrativas podem fazer mais do que alimentar as vaidades, as métricas corporativas, as manobras políticas, as amarras da religiosidade. A reflexão  que se propõe é ir além do que há fora e embrenhar-se para dentro de si. Sinceramente e verdadeiramente.

Assenta-se na virada do vento sobre as árvores, tentando seguir com o olhar o voo de uma borboleta, enquanto o beija-flor, em silêncio, sem julgamento o observa. Instantes que escorrem por versos que sustentam olhares que não rimam, mas se apaixonam. Nem sempre lugar, tempo, palavras, silêncios e sentimentos estão em harmonia, em consonância. Quando acontece, ou quando reconhecemos o instante, chamamos de coincidência. Outrossim, quando constatamos o que seria ideal e nos ferimos no que pode ser considerado real, o infortúnio vira verso, música, filme, lágrima ou overdose de si mesmo. Indivíduos apropriando-se do contexto flamulando seu significante como o ponto absoluto.

Letreiros luminosos, views, curtidas, compartilhadas emoções com filtro. Julgamentos como milhos aos pombos em uma praça triste. A natureza selvagem de uma sociedade que não percebe que se atrofia. A vida que em off persiste e prevalece às narrativas não se permite às travas das mídias e aos dogmas da nova mentalidade social em que tudo pode "pois há de ser tudo da lei", regente da velha prática de impor padrões, delimitar o que é liberdade e minimizar as diversidades. A novilíngua de Eric Arthur Blair e tudo o que envolve lidar com as pessoas.

 

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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

nervuras


Ser uma pessoa melhor. Frase surrada no para-choque de um caminhão que tenta romper cascalho, terra, asfalto. O leva e traz de necessidades, atendendo as demandas salutares. O sol destaca contrastes que a lua alivia na madrugada.

Falhamos na missão de sermos melhores, mas obtemos contínuo êxito na tarefa de gerar esperança. Na suavidade de uma folha que se desprende do galho e plaina ao chão, aprendemos que é a esperança que move os dias e as relações entre as pessoas. 

A textura dos dias, das estradas. As folhas e suas nervuras, os rostos. Rugas rasgam a derme cravando no silêncio experiências. Ainda assim nos distraímos com a esperança, com as cores, rimas e sons. O beija-flor enigmático lança seu olhar e faz seu voo levando a lemniscata pelo vento em uma poesia sutil.

Ocupamos espaço e tempo com nossas narrativas que muitas vezes são releituras de instantes e até mesmo de outras narrativas.  Repetição, ou apenas repasse. No entanto, os objetivos e necessidades se renovam?

Era a foto não publicada da palavra não dita, do toque que arrancou suspiros mais sinceros e sublimes. Era possível sentir a leveza, a membrana, o peso. As pessoas lá fora. Fora. Era complicado. Ninguém enxergava o outro. Encontrar com quem conversar de forma sem amarras, sem o malhete, tornou-se tarefa rara. Entremeio a tanta narrativa elaborada por algoritmos e distribuídas por outros, tornou-se ainda mais difícil coexistir.

As cifras e cifrões passaram a delinear a sociedade que sucumbiu à atrofia, confundindo com liberdade. Sentados sobre narrativas que desconhecem origem e propósito, muitos arrotam uma autoria utópica de um argumento que corrói a vida com um sorriso. 

Ainda há céu e jardim para os colibris.



segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

imagens



Criadas pelos mais diversos ângulos. Perspectivas tensionadas não mais apenas em lentes de robustas mas na imensidão de lentes de smartphones. Nos designers, o uso exacerbado de banco de imagens faz algo engraçado acontecer: imagens repetidas em campanhas de segmentos e público diferentes, e em tempos diferentes. Agora, dentre as mais diversas aplicabilidades, as ferramentas de construção de imagens por meio de inteligência artificial instrumentalizam mentes criativas com a facilidade de criar imagens base necessárias em criações. São tantos que surgem, como o DALL-E, Stable Diffusion,  Midjourney, Craiyon e Nightcafe Studio. Daqui a pouco, cada vez será vivenciado a artificialização do conteúdo. Bem argumentado em artigo de Altair Hoppe. Desdobrando esse raciocínio, podemos dizer que o algoritmo então deverá rever critérios de distribuição para favorecer o que é orgânico, realmente capturado por lentes controladas por humanos.

Estamos em uma moderna torre de Babel. As pessoas não se entendem, nem se esforçam para. Quando o fazem, é com a motivação equivocada. A narrativa adentra em um aspecto que se assenta no eterno retorno a uma questão elementar: o que é real?

Os laços no céu com o vento se contorcendo. Panos rubros, brancos e azuis. O corpo entre as curvas do tecido erguido, se mantém firme em manobras delicadas. Ela dança no ar. O violino, o piano, o ar que abraça e conduz o olhar para aquela que para o tempo, enquanto paira no ar. Puro encanto de luz, sombra, contorno dos sons dentro do meu olhar. 


Imagem feita pelo DALL-E
Imagem feita pelo DALL-E


segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

conhecer



Imagem e reputação constituem o brasão de uma comunicação corporativa que busca se renovar e se manter em tempos tão volúveis dos significados e significantes da sociedade. A construção e defesa vão além dos comportamentos dos indivíduos, mas essencialmente em qual e como a mensagem circula pela sociedade. 

Sua empresa precisa ser conhecida por todos? Seus produtos precisam estar em todos os lugares? Ou ela tem um público específico, um potencial de atendimento limitado? Conhecer sua marca, as entranhas dos processos de produção ou estruturação dos serviços permite que você defina, a partir do plano de negócios, o perfil que a comunicação deve ter, o ritmo, a linguagem, as plataformas utilizadas, o orçamento de custeio e o potencial de investimento. Afora isso, é tentar copiar os colegas de outros setores, outras mídias, com outros perfis e até mesmo em realidades paralelas.

O reconhecimento do indivíduo precisa do ambiente externo para validar o interno. Na comunicação, a marca precisa ser exposta e reconhecida (sua mensagem e seu significado) mas apenas para seu público-alvo. É um raciocínio obviamente lógico, mas que em tempos de modernidade exacerbada, muitos procuram uma audiência que não suporta, que não agrega e que desconstrói a imagem e a reputação da marca. Neste cenário, a análise dos dados e a famigerada mensuração de performance de comunicação exige técnica, visão apropriada a respeito de todo o contexto, para assim melhor orientar os clientes e posicionar a marca.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

escorreu



E o que vem a ser o propósito? Se esquivar da essência com a distração de observar o outro? Entregar-se ao ócio, ou apatia em relação às demais pessoas e perceber que é cativado ou pela dor, ou pela posse e vivência de situações e objetos prazerosos? Ter dinheiro, vivenciar o que o dinheiro possibilita.

Na criação de filhos, a criação de templates para fantasias sua boa imagem externa de bom pai e mãe? Nos escondemos todo o tempo, nos esquivamos do que é essencial para fazer saltar aos olhos os elos dos algoritmos que criamos para termos mais tempo para ser, do que ter.

No desespero de proteger nossa hipocrisia, machucamos quem dissemos tanto amar. macucamos e nos isolamos. Embora fiquemos comovidos com enredos apaixonantes de união, aproximação e valorização do outro.

Não sabemos o que fazer com o tédio e imputamos a ele a perdição, a atrofia dos sentimentos, a individualização. Somos seres banais se julgando donos de verdades, de julgamentos, de condenações.  Não enxergamos, não mesmo, nossas interferências na vida das outras pessoas. Não controlamos, de forma alguma, a maneira como vão interpretar e reverberar nossas palavras, nossos gestos.

Quando tentamos ficar fora desse padrão velado como liberdade, sofremos por entender estarmos deslocados. Não somos dessa rua, estamos de passagem; entretanto não controlamos nem o piscar dos olhos.

O que vem a ser esse famigerado ao peito. Que nos faz guerrear, plantar e incendiar. Romper a alvura em versos e rasgas as mágoas ao travesseiro de um lugar de paredes úmidas, de lençóis suados e de um eco ensurdecedor.

O que está atrás de tanto brilho. Tanta imagem clichê, tanta angústia e tanta euforia clichê? O que há de se revelar? As narrativas são como a pipoca no cinema. Nos racham os lábios. Comemos até sem fome. Sem perceber o gesto. Apenas repetindo. Reencontrar a inocência da infância. Mas é lá que está também o início desse se perder na contemplação.

Lembro da criança de pés descalços, no intervalo das brincadeiras, olhando o céu, ou o gramado, ou um buraco no muro, ou uma trilha de formigas. Atordoado como que deslocado. Era tão intenso estes instantes, que ele não consegui a compreender. Sua cabeça não desligava, parecia mais um cavalo selvagem fazendo hipóteses de tudo ao redor, olhando do específico ao geral, construindo argumentos no silêncio, alimentando uma coragem que enfrenta até mesmo a dor.

Então vinha a bola, o pique, os raios, a terra, tampinhas, figurinhas, poste, banho jantar, brinquedos, televisão e cama.  Perdeu a conta de quantos circuitos fechados, e também dos dias bons pela simplicidade. Mas eles passam. Assim como o vento do guardador de rebanhos. 

sábado, 7 de janeiro de 2023

Contra tempos


Ele sabia. Um minuto Durden. A perfeita contemplação do instante. Quando o nada circunda o tudo e as escolhas não aquecem mais o silêncio. Estou a ermo no tempo entendendo ser uma engrenagem dentre tantas. Movimento-me, perco só dentes e ainda assim me movo. Algumas lembranças tenho vergonha de ter até mesmo sozinho. Outras, gostaria de compartilhar com uma pessoa, que entendesse. O minuto passa.
 As cenas se sobrepões em um roteiro mais do que caleidoscópico, mas fabuloso de tão real.

Impiedosa, a chuva cai sem consciência. Apenas cai. Escorre e faz barulho. Lava e arrasta. Nutre e encharca. Os versos em concreto armado, as esperanças e as garantias de uma segurança que até a água, sem aviso prévio, leva.


A foto está no ângulo certo? Com a iluminação do impacto? Na perspectiva da emoção? Ela está exposta o suficiente? Ou perder-se-á como tantos instantes não contemplados da maneira que verdadeiramente o aproveita. O minuto às vezes esconde outro.


Tantas narrativas, desespero e paz. Tornei-me minha pior versão controlada. Raivoso como um cachorro amarrado, grunhindo como um animal ferido, barulhento como um trovão sem chuva, sem raio. Consigo ainda lembrar, desanuviando essa realidade, de quando eu fui um infante agradável, curioso e risonho. Tute.  Tão distante. Deixei que matassem uma parte de mim que tanto eu gostava. Deixei que matassem. Permiti que controlassem o que não deveria ter controle. Tornei-me refém do desespero seguro de quem maneja a vida com receitas, com o malhete social, com o que não cabe em mim. 


O piscar dos olhos lança mais que cílios ao vento. A estratégia não é confundir, mas revelar que a lógica não se opera pelos padrões estabelecidos a consenso. Ela é do indivíduo e não da massa. 


Cachoeira barulhenta de tantos olhares silenciosos. Nossas dores vão nas águas com as paixões. Às margens, amores-perfeitos florescem e então sabemos o que fica. Quanto tempo dentro do tempo. Passaram-me décadas dentro de um ano. Pensamos escolher e programar os dias, mas não é assim. Os dias nos escolhem, se colocam diante de nós e nos assistem.


Um minuto Durden, ele se permitiu viver de outra forma.