quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Farpas


Era um pássaro pousado no arame farpado. Era a esperança, o futuro ou o passado olhando o tempo. O cheiro do vento na terra molhada, o calor do sol alcançando entre as nuvens o rosto que se desgasta, se procura, não se estende. 


Há muito tempo deixei que fizessem de mim justamente o que nunca fui. Pois não há em mim totalidade, mas as partes que me foram possível manter ou reunir; enquanto estiver aqui.


Foi o meu olhar que bateu asas. Até sumir de minhas vistas; de olhos fechados acordo para outros pensamentos. 


As borboletas no meio do cinza da indústria das desilusões, tudo deixa uma cor de esperança neste dia tão triste tão denso e tão vivo. Vejo as árvores quietas e silenciosas, vejo o tempo observando os nossos erros. Vejo tudo o que acontece e me entristeço. Mas passo. Continuo a passar.


Então vem o estado matinal de contemplação, sentado vendo as linhas da realidade formando coisas diante dos meus olhos. Dentro de mim a inquietação agarrada à paz. Compreender os espinhos, sem esquecer da beleza da flor, da ternura das pétalas e do perfume sutil que em nós desperta todo o sentido de estar vivo.


Os filmes não  falaram sobre as dívidas com bancos, sobre a falta de tempo livre, sobre o peso do silêncio no peito. Não falaram sobre a velhice e as limitações do corpo. A cultura do desejo não preparou a sociedade para a frustração. Apenas instigou a figura do anti-herói e o espírito de constante revolta, até mesmo quando se conquista o objeto da revolta. 


Narrativas foram invertidas e as interpretações também. Assim como Éric Arthur Blair bem descreveu em 1984, a sociedade sucumbiu ao sistema que criou para viabilizar uma vida tranquila. As gerações então alternaram-se e a maturidade de agora não entende da memória de outrora. 


Chovia muito. O arame farpado balançava. Agora não eram pássaros, mas gotas pousadas, esperando pela queda. Não eram farpas, mas pensamentos suspensos. A chuva iria parar e assim os voos poderiam retornar.


terça-feira, 15 de novembro de 2022

acordes - do Gorilaz ao K-pop virtual


As tecnologias são desenvolvidas para facilitar a vida em sociedade. No entanto, esse facilitar geralmente está atrelado ao significado de dependência e escravização. Ou seja, a sociedade se torna escrava ou refém das tecnologias que cria para facilitar sua vida (faz lembrar o Wall-E), liberar mais tempo dentro das 24 horas do dia. São muitas as reflexões possíveis, nas mais diversas áreas da vida e também das profissões.  

Recentemente, com a girl band de K-pop Eternity acumulando milhões de visualizações online, o tema chama a atenção de maneira diferente (integração de inteligência artificial, do deepfake e das tecnologias de avatar). Não sei até quando as diretrizes éticas de Inteligência Artificial da União Europeia irão proteger as questões que tocam a humanidade. Uma banda estruturada por meio de inteligência artificial. Diferente do Gorilaz (que a banda ficava atrás da cortina e desenhos protagonizavam as canções. Gosto não se impõe e cada um tem seu repertório, suas afinidades, perfil de assimilação de mensagem e as devidas et cetera que compõem o respectivo padrão cultural.

A isenção do sofrimento (argumentada como uma das vantagens da inteligência artificial) e demais envolvimentos orgânicos no processo de criação cultural, muda a intensidade, reverberação, verdade e vivacidade das narrativas? A simulação é substituta eficaz em todos os sentidos? Sem falar na antiga e famigerada discussão sobre o que vem a ser real. Importante é estar atento, não ser omisso (alienado) ao consumir os produtos culturais e demais processos tecnológicos; a reflexão merece espaço, nem tudo pode passar no automatismo da vida da sociedade moderna.

-----

A noite entrega a madrugada com estrelas e também chuva. O gotejar remanescente marca o compasso de uma memória ainda acessível. Tão real, quanto ilusória. Todo mundo tem seu momento Sinatra. Vasculhe sua mente e encontrará alguma memória (nem que seja o filme dos Gremlins) em que uma canção de Sinatra ou de Erasmo ressoe.

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Pedro e Paulo - uni-vos pela barriga



A equipe  de Pedro não estava preparada para governar. Suas ideias puras estavam embebidas de imaturidade. Queriam por meio do choque de gestão, arrancar o joio, mesmo que isso representasse a morte de milhares de trigos. Pedro é governo de transição, o amor de cura após uma separação, é a quebra do paradigma mas não chega a ser um novo.

Paulo e sua turma já não merecem mais governar a sociedade. Tiveram a chance, avançaram muito e erraram miseravelmente ao sucumbir à vaidade e apropriação indevida, tendo como particular o que deveras é público. Ainda assim, não soube ser transparente ao responsabilizar os culpados, considerando inclusive o respectivo envolvimento.

O símbolo perdido estampado no peito. A sensação de pertencimento e proteção de uma nação, refletido no que simboliza seu território e sua cultura estava há tempos institucionalizado no entretenimento. A bandeira flamulava pelos esportes, e silenciada fora dos quartéis. Politicamente, virou símbolo de guerra e separação, e não união. Quando a massa está dividida, não há minoria, mas duas grandes partes. Assim, tem-se ilusão de injustiça em qualquer tipo de divisão. O estardalhaço de quem perde muitas vezes sobrepõe quem ganhou. Assim fica difícil não lamentar por uma sociedade a meio mastro.

Contudo, diante da caminhada de Pedro e Paulo, entre o que não merece mais ter acesso ao trono e o que não está preparado para se manter nele, escolher com visão de paisagem é necessário. Verificar os detalhes e observar as interconexões, a necessidade de diálogo. Um diálogo maduro. Se fosse possível, Pedro e Paulo deveriam ficar em casa, diante da impossibilidade, talvez se colocar ambos a governarem, como gêmeos siameses, a sobrevida seja maior do que apresenta a biologia, e a sociedade poderia sobreviver como Ronnie e Donnie Galyon. Unidos pela barriga, coexistindo um com ajuda (e fiscalização) do outro e de quem ao redor se disponibiliza para fazer dar certo.

domingo, 30 de outubro de 2022

a volta


Fiquei por um tempo admirado após o espanto com a repentina visita do beija-flor. Há muito não me visitava. Mesmo em um jardim sem flor, veio ele a me olhar. Olho no olho. Em quase choro recebi sua mensagem e paira dentro de mim a interpretação.

O andarilho e o caminhante, o eterno retorno de uma ida interminável. Considerando todos os aspectos; o colapso da sociedade está em se olhar no espelho.

Quando a tristeza nos invade como água sorrateira da chuva que cai devagar por toda a madrugada. Drásticas mudanças de pautas e de vento apontam como é volúvel tudo o que dissemos ser sólido. Quando essa tristeza vira lodo tapando os cantos da esperança e nos deixando sem o sorriso e a paz. A apatia controlada de um corpo cansado, de uma alma sem ilusões e desilusões se instaura. As disputas midiáticas, corporativas, sociais. Tantos argumentos, poucos abraços sinceros. As pessoas adoram extremos. Preferem apontar nossas falhas e limitações ao invés de motivar, ou elogiar e enaltecer qualidades. 

Tento. As pessoas não me escutam. Elas não querem o céu, ou a volta do messias. Querem a bonança aqui nesta vida e tempo. Nessa consciência. Nesse mundo. Entretanto, ninguém assume a própria hipocrisia. Continuam assassinando almas, alegrias. Tornando-se adultos cruéis. Estou cansado. Em mim tenho pujando os sentimentos; acalma-me a brisa e os colibris. De perto. De perto, poros são cobogós. Um buraco, uma passagem.

Solto laço ao vento

Soltas as mãos ao 

tempo trêmulo

Lábios cerrados

rostos ao vento.


Há contato no instante

há rima no silêncio

Solto no céu o olhar 

desce como chuva

e a madrugada nãos esconde o luar.

sábado, 1 de outubro de 2022

Nem sempre ganhar é melhor

O gozo da realização, a euforia do reconhecimento, o acesso liberado a regalias que só quem ganha alcança. O sabor do mérito, o perfume do legado que fica no ar. Os ensinamentos a serem repassados, a marca deixada na história, a paz do dever cumprido. Atributos apenas da vida dos vencedores? Ninguém ganha sempre e em tudo. Poder, riquezas vêm e vão, mas as pessoas, quando se perde, nunca mais; já diria o corvo. Nunca mais. Perde-se pessoas com a morte do corpo, perde-se todos os dias com a morte da essência, corpos vivos enchendo as multidões de indivíduos com ansiedade, nervosismo, espasmos de estresse, depressão, problemas com o peso, intrigas pessoais profundas de coisas tão corriqueiras. Um colapso do modelo social. Ou sua retroalimentação, para reiniciar ciclos.

O cenário então se configura com o excesso de narrativas que buscam consenso, aceitação e conciliação. Todavia, por estratégias diversas. Narrativas que causam inquietação e questionamento para reflexão; narrativas que causam confusão (essas geram insegurança e estimulam o desejo natural por se assegurar em um referencial); narrativas que geram apatia controlada (pasteurizando o pensamento individual, uma lobotomia social); narrativas de reação (instigando "escolhas", fruto da persuasão); narrativas de alienação pelo entretenimento; e tantas outras, cada qual com seu movimento padrão pelo tabuleiro da realidade. Se antes o planejamento da estruturação de uma narrativa podia demorar muitos copos de cafés, atualmente (há muito tempo) é preciso ser mais dinâmico no intervalo entre planejar e executar.

Paira entremeio a sociedade de maneira mais intensa o FOMO (Fear of missing out) e as narrativas corporativas só intensificam esse processo. O tempo; recorrente prisão e liberdade. Ser real como proposta do novo (2020) "bereal"?
Limitar o tempo de exposição das mensagens e às mensagens pode ser uma ação para não sobrecarregar "a nuvem" e sofrer com a chuva de multiplicidade e também de confusão. Não se trata de ganhar ou perder.


O que precisa e deve ser comunicado e que precisa e deve ser contemplado? E o que se deseja? Conhecer-se a ti mesmo é o exercício recorrente tão necessário e eficaz, que talvez seja uma recomendação latente para a saúde social dos indivíduos. 

Na elaboração das narrativas corporativas, todos devem fazer com mais cuidado, responsabilidade e agilidade; e claro, usar os cafés como prazer e não para contar do tempo que passa rsrsrs; seize the day, e aproveite a vida; "a poderosa peça continua e você pode contribuir com um verso".

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

artesanal


Fica um sabor de desilusão toda vez que os noticiários nos alcançam. Sempre que as frases estruturadas como ondas do mar arrebentam sobre nossas expectativas de um dia diferente.

Driblando tantos termos e analogias e tentando compreender os relacionamentos conduzidos via a comunicação corporativa. Rede Orgânica (viva) ou robotizada, industrializada? A contemporaneidade trouxe valor agregado ao artesanal. Desde as bebidas, doces e mídias sociais. O artesanal (orgânico) é mais pessoal, mais vivo e próximo no relacionamento. Assim, ganhou mais relevância. Visualmente, um perfil de rede social industrializado pode ser mais agradável ao olhar, sendo padronizado, com harmonia de cores e demais elementos. No entanto, não inspira ou instiga ao envolvimento, engajamento e à retenção da mensagem, tampouco integração com a narrativa.

Em tempos de tudo digital, padrão e robotizado via algoritmos, as pessoas sentem a necessidade de um relacionamento (e atendimentos) mais humanizados. O processo industrial, afora as incontáveis e fundamentais vantagens, traz também distanciamento e impessoalidade. O que em alguns setores, acaba sendo mais um obstáculo do que facilidade para exercer a atividade fim. Intercalar artes elaboradas, como fotos e vídeos (secos), tem uma conversa mais direta, sem rodeios e ter um conteúdo menos frio contribui para deixar o perfil mais próximo do usuário. Claro, é necessário ter alta performance na resposta a "direct" e posicionamento a respeito de comentários. A avaliação deve ser rápida, séria e as ações transparentes. Não se trata de se apoiar em invenções, e aqui não se propõe uma receita. É preciso compreender a missão, valores, princípios da organização e da sociedade. Além disso, também considerar a finalidade do relacionamento com os diversos públicos. Sem receita miojo. A solução está muito mais na dedicação e na sinceridade de fazer e trabalhar a comunicação. 


quarta-feira, 3 de agosto de 2022

pertencimento

Fala-se muito em jargões das profissões e os que marcam a sociedade. As narrativas corporativas buscam aumentar a retenção de mensagem, absorção e incorporação de cultura organizacional e multiplicação de mensagem. Para isso, brindes, palestras, metas, mimos, desafios, desafetos e cobranças. Após a cortina de fumaça e do uso de todos os aparatos de tecnologia, de treinamento e desenvolvimento, o que é orgânico ainda inspira mais veracidade.

Dar voz aos sujeitos ao invés do modelo títere de interação. Em uma campanha interna de comunicação, ao utilizar os funcionários para serem porta-voz e rosto da mensagem, a empresa potencializa na equipe o aspecto do pertencimento, desdobrando em contribuição nos demais atributos corporativos supracitados.

Mas isso não é novidade. Muitos já fazem, até mesmo para otimizar custos. O diferente é simples. No bastidor, na construção da mensagem, ouvir não apenas o interlocutor, mas o mensageiro. Diversos roteiros de cinema se tornaram primorosos quando os atores puderam contribuir. É preciso estar preparado para um processo de integração. Sair um pouco dos muros conceituais, das vaidades de crachás, da prisão dos ponteiros. Permita-se a duas atitudes simples: Observar e Dialogar.

Com o devido amadurecimento, o diálogo de pré-produção e produção enriquece não apenas a mensagem mas todo o processo. Sugestões simples de posicionamento de câmera, alteração de uma fala, entonação, postura corporal, olhar, vocabulário, figurino, passando até mesmo pelo briefing de como o público-alvo absorve determinado conteúdo. Ouvir e dar vazão aos ruídos do processo de comunicação, participar com os demais atores da ação de comunicação, são atitudes e escolhas que interferem positivamente e efetivamente. Pertencer é estar vivo, se envolver.












sexta-feira, 29 de julho de 2022

era

Era tempo, rima e vento.
Na porta de tantos olhares, a dimensão pela qual não atravessei.

Foi instante,
feito de rima e tempo.
Na ponta dos dedos, precipício da língua.

O que mergulha nos abstratos absurdos, feitos da poesia sem quina da minha vida.

-

#Seguimos Diversificar o material, as narrativas de uma cultura organizacional que amadurece e mostra resiliência ao transitar pelo conflito de gerações sem perder sua essência e sem descaracterizar sua atividade fim. Desta forma a área de comunicação se desdobra entre equilibrar o famigerado orçamento, o hiperestímulo das novas tecnologias, a capacidade técnica dos funcionários, o perfil de retenção de mensagem do público-alvo e a cobrança contínua dos clientes. A busca por um "algo mais" não deve ser apenas para receber elogios. A comunicação corporativa deve servir ao propósito da atividade fim da empresa e respectivos desdobramentos correlacionados. 






domingo, 3 de julho de 2022

chuva




Rompeu as nuvens e desceu formosa sobre os telhados anunciando a chegada, ou a passagem. Atenuou os tons do céu e escorreu versos por toda a parte. Refrescou os olhares cansados. Transportou-me além das linhas e dos ponteiros. O pó desceu os contornos do corpo molhado. A poeira voltou para o chão. Os poros inundados e o pensamento não estava mais ali.

Facilidade é não se confinar às palavras, mas contornar as letras escorrendo sem sentido, com pujante sentimento de estar vivo.

Levou ao tempo o que precisou levar. Se era chuva, lágrima ou clichê pouco importa o que pelos olhos saiu. Argumentos aquecidos, envelhecidos; compartilhados como um segredo alta noite, à porta dos ouvidos, com acesso aos poros.